sexta-feira, 29 de abril de 2011

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA EM SOLÂNEA, PARAÍBA

EU VI.

Testemunho vivo ocular da história.

Em Solânea, (Pb), minha cidade natal, nos fins da década de 50, chegou um padre da Igreja Católica Brasileira. Promoveu palestra e rezou missa. O padre local da Igreja Católica Apostólica Romana, José Fidelis, ficou enciumado.

Domingo, dia da Santa Missa, havia duas celebrações: uma as 7 horas onde participavam os residentes na cidade e a outra missa era rezada as 10 horas, para atender a população rural.

A igreja lotava na missa das 10 horas, chegava gente de todos os recantos do município: a pé, a cavalo, em cima de jumentos ou caminhões que transportavam num só compartimento feirantes e mercadorias. Pessoas humildes, de pouca instrução mas muito tementes a Deus.

O tema da pregação recaiu sobre o padre da Igreja Católica Brasileira, insultos foram ditos. O padre da Igreja Católica Brasileira foi chamado de apóstata, infiel e até de Satanás.

A intolerância religiosa não para por aí. Do altar mor da Igreja o padre Zé Fidelis exorta seus fiéis a expulsar o herege da cidade, era necessário e de uma urgência urgentíssima antes que Deus derramasse a sua maldição sobre a cidade.

Finda a missa, os humildes cristãos tementes e obedientes a Deus saíram com ódio no coração.

Alguém gritou: – o padre de Satanás está com o prefeito visitando uma obra em construção.

A turba enfurecida saiu em correria da igreja, atravessaram a rua Celso Cirne sem olhar o trânsito, um velho quase fora atropelado por um veículo, velhas caíram na praça, os mais jovens pisotearam os mais velhos e assim chegaram a construção do grupo escolar, todos com os ânimos acirrados. Encontraram só o prefeito, o padre da Igreja Brasileira conseguiu escapar pulando muros e refugiando-se na casa de Jófile, um simpatizante.

Em Guarabira (Pb) onde vivi minha adolescência, tive a oportunidade de ver outra demonstração de intolerância religiosa. A Igreja Batista foi apedrejada por cristãos católicos, incitados por Frei Damião, inimigo ferrenho dos protestantes.

Um grupo de protestantes voltava para as suas casas depois de assistir ao culto. Por infelicidade, encontraram no caminho Frei Damião e seus fiés seguidores, o confronto foi inevitável.

“Os católicos começaram a nos atirar pedras, cinco pessoas saíram feridas, levei duas pedradas na cabeça e vi o sangue tingir minha camisa” disse-me o pai de um amigo que era evangélico.

Sou contrário às ofensas ou falar coisas que magoe pessoas sem motivo. Mas fico intrigado e espantado com o privilégio desproporcional da religião em nossa sociedade dita laica.

Se um líder estudantil encorajasse um grupo de estudantes a destruir escolas públicas e apedrejar os professores motivados pela má qualidade do ensino, nós o chamaríamos de louco, psicopata, monstro e outros adjetivos que qualificasse esse absurdo e pediríamos inclusive, a sua prisão. Mas quando é um frade da ordem dos Capuchinhos – pasmem. -  Os guarabirenses mandaram construir com o dinheiro suado pago por nós através dos impostos, uma estátua de 34 metros de altura, com 750 toneladas de cimento e aço, no alto da Serra da Jurema,  para adorá-lo.


Como disse o físico americano e prêmio Nobel Steven Weinberg - “A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, teríamos pessoas boas fazendo coisas boas e pessoas ruins fazendo coisas ruins. Mas, para que as pessoas boas façam coisas ruins, é preciso a religião.”

Estava certo Blaise Pascal quando disse algo parecido: - “Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa".


João Pessoa, 29 de abril de 2011.



terça-feira, 26 de abril de 2011

XÔ SATANÁS!

XÔ SATANÁS!





Antes de falarmos deste irreverente personagem da história religiosa, é bem nos reportarmos a origem e significado do seu nome. Demônio vem do grego “DAIMON” que quer dizer espírito ou gênio. “SATANÁS” quer dizer inimigo ou opositor. “ belzebu” significa “deus das moscas” uma entidade das religiões pagãs.



Sócrates referia-se a uma companhia espiritual dizendo que consultava seu demônio. As escrituras bíblicas fazem referências ao demônio, a satanás, de forma genérica, representando todo aquele que é mau e que se coloca na posição de opositor. Jesus chamou Pedro de satanás, não querendo dizer que ele fosse o próprio, mas sim que naquele momento ele se punha em tal posição.



Acontece que as pessoas criaram a personalidade de “satanás”. Aquela ultrapassada e mitológica figura, que é vermelho, chifrudo, vive embaixo da terra, fede a enxofre e está sempre medindo força com Deus.



Este super diabo, é quase tão poderoso quanto Deus, ele está em todo lugar ao mesmo tempo (onipresente) e sabe tudo da vida de todo mundo (onisciente), e é quase onipotente, sendo capaz de realizar as mais inteligentes proezas. Por que será que Deus deu tanto poder a este ser que é mau, e não deu o mesmo poder a alguém que é bom. Já pensou o que uma irmã Dulce, uma Madre Tereza, teria feito com os poderes atribuídos ao diabo? Deve ser muito chato para o diabo esta sua vida, em que a milhares de anos ele é sempre derrotado, já pensou se ele se cansar desta vida de vilão? Será que o diabo não é inteligente o suficiente para se arrepender? E porque não, ele também é filho de Deus, ou não foi Deus quem o fez?


Mas na cabeça dos homens não há espaço para esta idéia, os fanáticos querem que exista sempre o tal do diabo para receber a culpa dos nossos defeitos e das imperfeições humanas. E o homem ainda se coloca na posição de vítima! Não, o diabo é quem é vítima do homem, e se ele existisse, eu teria pena dele. Coitado.


O satanás também tem sido o grande vendedor das correntes religiosas oportunistas; que usam o medo do demônio como o maior atrativo para as suas religiões. Eles deveriam ser mais gratos com aquele que é o maior responsável pela grande freqüência em suas igrejas, é bem verdade que as pessoas correm para lá mais por temor ao diabo do que por amor a Deus. São como crianças assustadas com medo do bicho papão.



“Xô satanás, xô satanás, você está amarrado!” são as berrantes palavras que escutamos no espetáculo do seu exorcismo, espetáculo que lota as igrejas de pessoas que querem assistir a sensacional guerra entre o bem e o mau; guerra em que o bem sai sempre “vitorioso”, alimentando a fantasia das mentalidades infantis, que enquanto expulsam o diabo, esquecem de expulsar o mal de seus corações, a inveja, o preconceito e o fanatismo.



“Xô satanás, xô satanás” mas o infeliz sempre volta para ser expulso e derrotado. Ele não me parece tal inteligente.



E o diabo espera por nós para queimarmos no fogo do inferno eterno. Quem procurar saber do significado da palavra “eterno” no aramaico (dialeto do hebraico), falado por Jesus, saberá que o significado desta palavra é duplo, ela pode querer dizer também, algo que não sabemos o fim (mas que existe o fim), ou estado imanente (pertencente) à alma, desta formal o sofrimento espiritual existe, mas não quer dizer que ele não tenha fim, sua duração é desconhecida, mas ele não é eterno.



Qual seria a finalidade de uma alma sofrendo eternamente sem possibilidades de perdão? E reparação? Se Deus é onipresente, ele está também no inferno, e vê o sofrimento daqueles que foram condenados. Será que Deus é um sádico que vive a contemplar este espetáculo de dor sem se comover? Não, nada disso, este é o Deus da mentalidade mesquinha e egoísta dos homens, conceituação antropomórfica. O Deus que é o pai do filho pródigo, o Deus que diz: não perdoa só sete, mas setenta vezes sete; o Deus que promete: nenhuma das ovelhas do meu rebanho se perderá; este Deus sempre dá uma nova oportunidade, desde que nos reconheçamos em erro, que nos arrependamos e queiramos repará-los. Não é a morte do corpo que o impedirá de perdoar. Ele pode perdoar mesmo depois da morte, pois a morte não é maior que o perdão de Deus.



Outro fato interessante é que este diabo sempre foi amigo do progresso, do bem estar tecnológico e das ciências. Não se trouxe nenhuma nova idéia, não se descobriu nada de novo, sem que tenha sido atribuído à façanha do diabo. Galileu Galilei, Giordano Bruno, João Huss, Darwin, etc. foram considerados endemoniados, só que eles estavam com a razão e hoje as religiões se desculpam por seus erros.



Então viva ao diabo! Este maravilhoso amigo da ciência (médica e tecnológica) e da verdade. Vamos descobrir que nosso verdadeiro inimigo não está fora de nós, mas dentro de nós mesmos, são os nossos defeitos, vamos lutar pela transformação íntima para que dias melhores reinem sobre a terra!. BRENO HENRIQUE DE SOUSA.