Mostrando postagens com marcador crença perigos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crença perigos. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Crenças e seus Perigos

Vant Vaz




De uma vez por todas acredito que alguns não estão entendendo exatamente a gravidade do que está acontecendo no Brasil em relação às ideologias, sejam religiosas, sejam políticas. Modelo do que já vem acontecendo em outros países, principalmente EUA, desde fins do Século 19.

Vou tentar mostrar um pouco do que é perceptível e que se pode detectar quando paramos seriamente para profundas reflexões sobre o assunto. Evitarei termos técnicos e não quero propor análises acadêmicas e não me valerei do endosso das pesquisas que já revelam algumas realidades que para a maioria se esconde, ou não é compreendida.

Começo em relação às crenças, ou da maioria delas, já que existem as que defendem o respeito e a tolerância por outras formas de ver o mundo. Não vou, portanto generalizar, mas tratarei da parte que largamente predomina e é assustadora.

Quando por exemplo vemos no Brasil que as pessoas são respeitadas, avaliadas e endossadas mais por suas ideias e crenças do que por suas ações e honestidade. Em um país como nosso em que uma pessoa que se assume gay, que é ateu ou cético, ou que diz não ter religião ou professar outra crença que não seja cristã jamais são aceitos na esfera política, jamais ganhariam eleições para Prefeito, Governador e Presidente da República mesmo que fossem pessoas habilitadas, preparadas, honestas e idôneas. Onde por acaso se fosse permitido decidir que tipo de moralidade e religiosidade deveriam ser seguidos pelo povo brasileiro e tornado Lei levando-se em conta o que povo gostaria, com certeza teríamos pena de morte, redução de maioridade penal, perseguição e punição dos homossexuais, ensino do cristianismo em todas as escolas (a briga seria mais por que tipo de cristianismo) num retorcimento dos valores humanos e da democracia que seria exatamente o apelo da grande maioria por uma teocracia ao invés de entenderem que liberdade tem a ver mais com o princípio da reciprocidade e respeito às diferenças, desde que estas não causem danos aos outros.

Quando vemos pessoas esbaforidas gritando valores e regras morais e atacando outras formas de viver e ver o mundo que não coincidam ou entrem em acordo com suas crenças, que ao invés de cultivar a aproximação entre as pessoas, as afasta e as faz rebanho, grupos fechados, que adoecem as pessoas e cultivam o medo, ou às promessas de redenção, cura, prosperidade que não exigem nada mais do que compromisso com sua fé e sua cotidiana participação em igrejas e templos, enriquecendo patrimônios de instituições religiosas e de seus líderes a partir das doações e dízimos dos fiéis. Quando faço esta crítica quero deixar claro que não ajo por preconceito, pois quero mesmo compartilhar este mundo com pessoas das mais diversas culturas e crenças, não estaria nem mesmo escrevendo isso aqui se não fosse este avanço de ideias que remontam a Idade Média.

Quando uma crença se apoia que a redenção de toda a humanidade virá do fogo no fim dos tempos, de um julgamento a partir da seleção de pessoas que irão ser salvas e que só o mundo por vir importa, com certeza poderá fazer com que as pessoas esqueçam-se de seu papel neste mundo, já que para elas este mundo está perdido. Justamente por isso não existem movimentos religiosos de larga escala pedindo e clamando por justiça social, educação, saúde, cuidados ambientais, proteção da vida e da natureza, ou contestam os políticos e os governos. Elas na verdade até desejam isso, pelo menos é o que parece quando as ouvimos com suas profecias e citações bíblicas, que o fim será glorioso e algo que os faria felizes. Como alguém poderia ser feliz e desejar o dia do Juízo Final? Não confiaria jamais em pessoas que pensam assim e assumissem lideranças.

Na verdade tais crenças reforçam o status quo dos governos (mesmo em regimes de opressão e ditadura) e seus líderes exortam os seus seguidores a não se envolverem e tomarem partido. Apenas quando lançam seus candidatos. Alguém sabe por que, por exemplo, as instituições religiosas são isentas de impostos se acumulam bens e riquezas, pagam seus funcionários e não são fiscalizadas? Sim, é verdade, são mesmo importantes aliadas dos governos e do Estado. Além da questão do voto, haveria também a importância da manutenção da ordem, do silêncio e infelizmente de ‘manter ovelhas’ apaziguadas diante dos lobos. Sim, ideias e crenças podem fazer isso, ideias e crenças podem inclusive fazer com que grupos inteiros se suicidem ou promovam chacinas a mando de seus líderes. Assim como difundir ideias histéricas e preconceituosas contra outras pessoas e grupos.

Não se trata, como quer fazer parecer alguns, de “liberdade de expressão” e nem muito menos é inofensivo o que alguns líderes religiosos pregam. Assim como ninguém quer discriminar os que de pronto discriminam. Tais pessoas podem, infelizmente, dizerem o que quiserem em suas casas e templos, mas na medida em que queiram impor isso ao mundo, que queiram modelar a moralidade de todo um país e do mundo a partir de um livro que existe há milênios e que hoje não exatamente aceito por todos, assim como cabe à dúvida de sua veracidade, vejo como um perigo para a liberdade logo adiante. Além disso, tentam se valer de discursos pseudocientíficos para ilustrar seus argumentos, mas combatem a ciência que entra em contradição com suas cosmogonias e teologia. No entanto, para seus fins, a ciência não é esquecida ou escanteada, de fato nunca puderam contestar a eficácia da mesma. Mas querem que as pessoas não aprendam ciência e filosofia, estimulam a ignorância. Porque provavelmente a ciência e a filosofia ameaçam as verdades teológicas.

Porque me incomodo com isso? Porque não gosto de ser enquadrado, não gosto de ser odiado, perseguido, julgado injustamente e nem muito menos quero ser obrigado a todo canto que eu vou a ver e ouvir estas pessoas, nas ruas, nas escolas, universidades, televisão, rádio, está em tudo que é lugar. Quanto às primeiras partes, sei que não será possível mudar, mas a segunda sim, porque também vivo neste mundo, pago impostos e quero ir e vir tranquilamente sem ter uma legião de fanáticos no meu pé. Não gosto deste tipo de “amor” que para mim parece hipócrita e se assemelha com o ódio, pois para mim quem acredita que uma pessoa só é boa por acreditar em Jesus, é um tolo e infelizmente está longe da verdade.

Nem mesmo toda a riqueza e opulência satisfazem os que seguem esta cartilha da indústria religiosa, eles querem se meter em tudo, querem dominar tudo. Para mim, perdoem-me os que neles acreditam, caso exista o mal, seriam estes os apóstolos do diabo.

Sinceramente, acreditar em algo deve ser respeitado, ter crenças poderia ser algo menos ofensivo, mas ao questionar aquilo que fere a ideia de liberdade de outra pessoa, respeito que deveria ser igual para todas elas, deve ser algo que devemos todos fazer.


Vant Vaz

Coletivo Tribo Éthnos

Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)