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terça-feira, 5 de março de 2013

PROCURA-SE DEUS.



Em pleno século 21, a humanidade continua tentando conciliar fé e razão. Mas será que algum dia a ciência terá condições de provar que foi mesmo Deus (ou alguma outra entidade superior) quem criou o Universo e determinou os rumos da evolução?

Rodrigo Cavalcante


O zoólogo Richard Dawkins e o paleontólogo Simon Conway Morris têm muito em comum: lecionam nas mais prestigiadas universidades da Grã-Bretanha (Dawkins em Oxford e Morris em Cambridge) e compartilham opiniões e crenças científicas quando o tema é a origem da vida. Para ambos, a riqueza da biosfera na Terra é explicada mais do que satisfatoriamente pela teoria da seleção natural, de Charles Darwin. Os dois também concordam que, caso a história do nosso planeta pudesse ser reproduzida em outro lugar, a evolução provavelmente seguiria um rumo bem parecido ao observado por aqui, inclusive com o aparecimento de animais de sangue quente, como nós.

Num encontro realizado na Universidade de Cambridge em outubro, porém, eles protagonizaram um novo round de um debate que divide a humanidade desde que o mundo é mundo: Deus existe? Morris, cristão convicto, afirmou na palestra promovida pela Fundação John Templeton (cuja missão é “explorar as fronteiras entre teologia e ciência”) que a “misteriosa habilidade” da natureza para convergir em criaturas morais e adoráveis como os seres humanos é uma prova de que o processo evolutivo é obra de Deus.

Já o agnóstico Dawkins disse que o poder criativo da evolução reforçou sua convicção de que vivemos num mundo puramente material. O debate entre Dawkins e Morris, como já foi dito, não é novo, longe disso. De um lado, é óbvio que sempre haverá bilhões de pessoas que acreditam em Deus. Ao mesmo tempo, dificilmente vamos viver para comprovar Sua existência (ou inexistência). Entender alguns laços que unem ciência e religião e mostrar como essa relação vem mudando ao longo dos tempos é o tema desta reportagem.

Durante muitos séculos, Deus (e só Ele) foi apresentado como o principal responsável pelo sucesso da aventura humana sobre o planeta – nas artes, nos livros, nas escolas e nas igrejas. Até que a ciência começou a mostrar que isso não era necessariamente verdade. Na década de 1860, a teoria da seleção natural e da evolução das espécies, de Charles Darwin, lançou as primeiras dúvidas consistentes acerca da influência divina sobre a ordem da vida na Terra.

Com o passar dos anos, mais e mais pesquisadores passaram a defender que o destino da humanidade era abandonar gradativamente a fé e a religião em nome da crença em explicações “objetivas” para os fenômenos naturais. “No fim do século 19, os cientistas acreditavam estar muito próximos de uma descricão completa e definitiva do Universo”, escreveu o físico britânico Stephen Hawking.

No século 20, Nietzsche, Marx, Freud, Sartre e outros chegaram a apostar na “morte” de Deus e no início de uma “era da razão”. Não é preciso ser um especialista para saber que esse triunfo não se concretizou. Ao contrário. O que se observa hoje é uma revalorização da fé, inclusive entre os cientistas, como Simon Morris.

“Ao longo da história, a relação do homem com o sagrado tem se mostrado um traço extremamente persistente”, diz Oswaldo Giacoia Júnior, professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. “Nos regimes socialistas em que a religião era proibida as pessoas substituíam a fé por uma ideologia.”

Cabe, então, à ciência provar a existência de Deus?
O paleontólogo americano Stephen Jay Gould acredita que nenhuma teoria (nem mesmo a da evolução) pode ser vista como uma ameaça às crenças religiosas, “porque essas duas grandes ferramentas da compreensão humana trabalham de forma complementar, e não oposta: a ciência para explicar os fenômenos naturais e a religião como pilar dos valores éticos e da busca por um sentido espiritual para a vida”. É por pensar assim que ele sempre se colocou do lado dos pesquisadores que são contra misturar ciência com religião.


Quem é Deus?

O cabelo e a barba grisalhos denunciam a idade, mas o corpo é forte e musculoso. Os traços da face transmitem a autoridade de quem não hesitará em agir sobre o mundo caso seja necessário. Para bilhões de ocidentais, a pintura de Michelangelo no teto da capela Sistina, no Vaticano, é a síntese perfeita de Iavé, o Deus bíblico, aquele que “criou tudo em 6 dias”. Como diz o escritor americano e ex-jesuíta Jack Miles, autor de Deus, uma Biografia, mesmo quem não acredita continua moldando seu caráter por influência dessa imagem.

Miles faz uma análise surpreendente da Bíblia, ao tratar de Deus como um personagem literário. O resultado é que, como protagonista do livro mais influente da história, Iavé revela uma personalidade que oscila bastante em relação à sua criação – como no momento em que ordena o dilúvio, para tentar “consertar” tudo.

Mas esse Deus é apenas uma entre inúmeras concepções de divindades. Não há sequer consenso em torno do número de deuses. Para mais de 750 milhões de hindus, existem centenas deles, como Brahma, Shiva e Krishna, para ficar nos mais conhecidos. Em rituais xamânicos de origem indígena, os deuses incorporam até em plantas e animais. E para mais de 350 milhões de seguidores do budismo, não há sequer uma divindade a cultuar – apenas Buda, um homem que atingiu a iluminação e virou guia espiritual. Como, então, a ciência pode encontrar Deus?

Apesar disso, os estudiosos sabem que há algo em comum entre essas crenças. Sem exceção, elas acreditam que há uma ordem, uma espécie de propósito (ou, se você preferir, sentido) no Universo. Nenhuma religião trabalha com o pressuposto de que o acaso e a indiferença regem as nossas vidas. Curiosamente, foi a busca por essa ordem que acabou impulsionando o avanço da própria ciência.


Da geometria ao acaso

No século 18, a maioria dos filósofos e cientistas acreditava piamente que a humanidade estava prestes a decifrar (integral e definitivamente) a ordem do Cosmos. Na época, havia motivos de sobra para tamanho otimismo: fazia mais de 100 anos que Isaac Newton publicara Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, considerada até hoje a obra mais importante da história da física. Nela, Newton não apenas descreveu como os corpos se deslocam no espaço e no tempo, mas desenvolveu a complexa matemática necessária para analisar esses movimentos.

Segundo essa teoria, as leis do Universo eram estáveis e previsíveis, como se tivessem sido projetadas por um craque da geometria. Em 1794, o escritor, poeta e artista plástico inglês William Blake resumiu essa idéia ao desenhar Deus (um velho barbudo, como o de Michelangelo) criando o mundo com um compasso na mão. “A metáfora do Deus geômetra deriva da velha idéia platônica de um Universo dualista, em que há a necessidade de existir uma ordem, mas continua influenciando a ciência até hoje”, diz o brasileiro Marcelo Gleiser, autor de O Fim da Terra e do Céu e professor de física e astronomia da Faculdade de Dartmouth, nos EUA.

A imagem de Deus, nesse sentido, era perfeitamente compatível com a visão científica do mundo da época. Os problemas só surgiam quando alguém tentava juntar as mais recentes descobertas da ciência com a história bíblica da Criação. Afinal, o estudo das camadas geológicas que formaram a Terra já provava que nosso planeta tinha milhões de anos – e não 5 mil, de acordo com os cálculos de Santo Agostinho. Mas bastava esquecer “detalhes” como esse para que todos fossem dormir felizes, conscientes de que o Universo tinha sido mesmo obra do Criador. Até que...

Se havia uma ordem no Universo, nada mais natural que ela comandasse todas as forças da natureza. E o homem, é claro, era visto como o exemplo máximo da perfeição da vida sobre a Terra. Mas Charles Darwin apresentou sua teoria sobre a seleção natural das espécies e colocou em xeque a idéia de que Deus era o responsável por tudo isso que está aí. Vale lembrar que Darwin nunca disse que o homem descendia dos macacos – apenas que homens e macacos eram parentes evolutivos com um ancestral comum (os paleantropólogos estimam, hoje, que esse “tataravô” viveu em algum momento entre 4 milhões e 6 milhões de anos atrás).

Ainda assim, muita gente não aceitou a idéia de que as espécies vivas, incluindo a nossa, possam ter se desenvolvido graças apenas à seleção natural, tendo evoluído quase por acaso em meio a tantas outras espécies. O fato é que o estudo da história da vida em nosso planeta comprovou que, durante milhões de anos, outras espécies reinaram por aqui sem que houvesse nenhuma necessidade da existência dos homens. Como bem resume o cientista americano Carl Sagan no seriado de televisão Cosmos, recentemente relançado em DVD pela super, se a história do Universo fosse condensada em apenas um ano, o aparecimento da espécie humana teria ocorrido nos últimos instantes do dia 31 de dezembro.

E o avanço da física deixou claro que, se o Universo fosse um relógio, nem sequer o tempo marcado por ele seria preciso. Em 1905, Albert Einstein publicou seu estudo da Teoria da Relatividade que, resumidamente, pôs fim à idéia de tempo absoluto. A estabilidade perfeita das leis de Newton começou a se despedaçar para sempre. Logo em seguida, o estudo da mecânica quântica revelou que não é possível sequer prever a posição exata de partículas subatômicas, obrigando os cientistas a se contentar em trabalhar com probabilidades.

Apesar de ter ajudado a destruir a velha noção de ordem no espaço e no tempo, Einstein acreditava cegamente que a natureza funcionava (ou deveria funcionar) segundo regras bem definidas – e não de maneira aleatória, como num grande jogo de azar. Numa carta para o físico Max Born, Einstein escreveu: “Você crê em um Deus que joga dados e eu, na lei e na ordem absolutas.” Se para um cientista como Albert Einstein não era fácil lidar com o acaso e o caos, imagine para os que acreditam na religião.

Do ponto de vista da física pura, porém, é importante ressaltar que todo esse papo de criação do Universo tem pouca (ou nenhuma) importância. Não fosse pela descoberta da teoria do big-bang (segundo a qual ele surgiu após uma grande explosão), nem sequer haveria a necessidade de provar que houve uma “hora zero”, afinal o tempo e o espaço são mesmo relativos, não é mesmo?

Curiosamente, o big-bang passou a ser considerado por muitos fiéis a “evidência científica” de que a Bíblia está certa ao descrever o “início de tudo”. Talvez para tentar explicar a incompatibilidade existente entre a física das partículas subatômicas e a Teoria da Relatividade, muitos pesquisadores têm discutido atualmente a chamada Teoria das Supercordas, que propõe uma explicação unificada capaz de preencher essas lacunas. “De qualquer maneira, essa tese é mais um desejo de encontrar uma ordem do que algo validado cientificamente”, diz o físico Marcelo Gleiser.

E se a ciência conseguisse achar essa tal ordem no Universo, será que isso seria a prova da existência de Deus? Ou será que a busca pelo divino não passa de uma necessidade inventada pelo homem para colocar um sentido em tudo (afinal, até onde se sabe, somos os únicos animais que tentam entender por que existe a morte)? 

Nas últimas décadas, o que se tem visto é um acirramento das diferenças entre aqueles que acreditam que a complexidade da vida só pode ser explicada por uma inteligência superior e aqueles que defendem que a inclinação para acreditar em Deus é apenas um traço biológico da nossa espécie, ou seja, somos programados para ter fé. É o que veremos nas próximas páginas.

Deus vai à escola

Dover, no estado americano da Pensilvânia, é uma daquelas cidades tão pequenas que mal dá para avistar seu núcleo urbano da altura média de vôo de um jato comercial. A pacata vida de seus 1814 habitantes, a maioria descendente de alemães, quase nunca foi notícia nos grandes jornais dos EUA. 

Tudo mudou no dia 18 de outubro de 2005, quando teve início o julgamento sobre a grade curricular de uma escola pública local que decidiu dedicar parte das aulas de biologia ao estudo de uma teoria conhecida em inglês como intelligent design (algo como projeto ou desenho inteligente, numa tradução livre para o português). Seu principal cartão de visita é o fato de se contrapor à tese de Darwin sobre a seleção natural e a evolução das espécies. Como a Constituição americana garante a total separação entre a Igreja e o Estado, alguns pais acharam que a direção do colégio estava muito perto de misturar ciência e religião, apelaram para a intervenção da Justiça e o debate pegou fogo no país.

Nas salas de aula em questão, as crianças e jovens aprendem que várias tarefas altamente especializadas e complexas do organismo humano – como a visão, o transporte celular e a coagulação, entre outras – só podem ser explicadas pela ação de uma força maior ou, em outras palavras, pela intervenção de um ser superior, capaz de bolar o tal desenho inteligente do nosso corpo e da nossa mente. 

Para a maioria dos biólogos do planeta, contudo, essa tal inteligência não passa de um novo nome para um velho conceito: o criacionismo bíblico, segundo o qual estamos na Terra apenas porque saímos da prancheta (ou da imaginação) divina para nos reproduzir “à Sua imagem e semelhança”.

Se, como já foi dito no início do texto, há muitos cientistas que não vêem motivos para buscar as impressões digitais de Deus na história do Universo, outros tantos acreditam que as teses de Darwin têm falhas e, como tal, precisam ser ensinadas nas escolas “em toda sua amplitude”, ou seja, alertando os alunos para o fato de que há controvérsias a respeito das descobertas que o jovem naturalista inglês fez a bordo do navio Beagle. 

Os defensores do desenho inteligente juram que não têm nenhuma ligação com os criacionistas do século 19, que difundiam uma interpretação literal do Gênese para conter a rápida e eficaz disseminação das teorias darwinistas – apesar das críticas da maior parte dos colegas da comunidade científica.

“Uma coisa é você tentar justificar uma fé usando argumentos científicos, outra é descobrir uma teoria científica que pode ser compatível com a fé”, disse à Super o bioquímico Michael J. Behe, pouco depois de depor no julgamento em defesa da “nova tese”. 

Professor da Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, e autor do livro A Caixa-Preta de Darwin, ele diz que, se toda formulação científica compatível com uma crença religiosa tivesse de ser descartada automaticamente pelos pesquisadores, os astrônomos jamais poderiam aceitar os estudos sobre o big-bang. “Estou apenas defendendo o direito dos estudantes de terem acesso a outras idéias sobre a criação do Universo”, afirmou Behe.

A discussão em torno do ensino de ciências – inclusive com a interferência do Poder Judiciário – não é nenhuma novidade nos EUA. No início dos anos 20, muitos estados americanos simplesmente proibiram os alunos de ter aulas sobre as teorias evolutivas de Darwin. Em 1925, teve início um julgamento que, num primeiro momento, levou à condenação de um professor do ensino médio do Tennessee simplesmente porque ele acreditava que somos parentes dos macacos (e dizia isso em classe). Após sucessivos recursos de ambos os lados, o processo só terminou em 1968, quando a Suprema Corte decidiu que qualquer iniciativa no sentido de definir o currículo escolar com base em crenças religiosas era inconstitucional.

É por isso que tantos vêem o desenho inteligente como uma espécie de cortina de fumaça para colocar Deus de volta nas salas de aula? Será que, do ponto de vista científico, o desenho inteligente tem consistência? “Por enquanto, não”, afirma Vera Volferini, professora de genética e evolução da Unicamp. Segundo a bióloga, não existem ainda argumentos científicos que sejam tranqüilamente aceitos pela maioria dos pesquisadores.

“Teorias como essa presumem que o ser humano é o resultado de um projeto perfeito, o que não é verdade. É consenso entre os especialistas que o design humano, apesar de eficiente, está longe de ser inatacável biologicamente. A próstata do homem, para ficar em apenas um exemplo, não segue um desenho anatômico ideal”, diz ela. E é justamente essa falha na concepção que provoca muitos problemas que afetam boa parte dos machos da espécie. Além disso, por que não poderíamos ter mais de 5 dedos em cada mão? Vera explica que, ao menos do ponto de vista biológico, temos esse número de dedos não porque seria um problema ter um ou dois a mais, mas porque fazemos parte de uma espécie cujo ancestral, há milhões de anos, tinha (por acaso) 5 dedos.

No Brasil, a teoria criacionista já desembarcou também – nos colégios públicos do Rio de Janeiro e, por enquanto apenas nas aulas de religião (em 2002, um lei proposta pelo governador Anthony Garotinho incluiu a disciplina “religião confessional” no currículo escolar). E a atual governadora do estado, a presbiteriana Rosinha Matheus (mulher de Garotinho), afirmou recentemente ao jornal O Globo que não acredita nas teses darwinianas. 

Apesar de o assunto não ser tratado nas aulas de biologia por aqui, o tema vem preocupando entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que já se manifestou contra a disseminação do criacionismo nas escolas fluminenses. “O problema não é ter ou não uma crença pessoal”, diz Marcelo Menossi, professor de genética molecular da Unicamp. “O problema é tentar justificar e espalhar essa crença usando falsos argumentos científicos.”

Genética da religião

Nos anos 60, a britânica Jane Goodall afirmou que algumas espécies podem ter a religiosidade gravada nos próprios genes. A pesquisadora ficou famosa ao estudar o comportamento de chimpanzés na Tanzânia. Numa de suas numerosas observações, descobriu que os macacos agiam de maneira nada usual diante de uma cachoeira, demonstrando o que ela batizou de senso místico e de reverência. 

“Alguns permaneciam sentados numa rocha em frente à queda d’água, como se estivessem encantados. Outros ficavam sob a queda d’água por mais de 50 minutos, quando normalmente nem gostavam de se molhar.” 

Goodall concluiu que esse comportamento é um traço de religiosidade primitiva. E nós? Será que também nós humanos fomos “programados” para acreditar em Deus?

Para o biólogo Edward O. Wilson, um dos pioneiros da sociobiologia (ciência que se dedica a compreender o comportamento humano por meio da biologia), a predisposição para a religião é mesmo resultado da evolução genética do cérebro. Segundo ele, nossa inclinação para acreditar num ser superior pode ser resultado da submissão animal. 

Ele conta que entre macacos rhesus o macho dominante caminha com a cauda e a cabeça erguidas, enquanto os dominados mantêm a cabeça e a cauda baixas, em sinal de respeito ao líder – em troca, eles têm proteção contra os inimigos e acesso a abrigo e alimento. Segundo Wilson, a tendência de se submeter a um ser superior é herança dessas ações. “O dilema humano é que evoluímos geneticamente para acreditar em Deus, não para acreditar na biologia.”

Essa seria uma das razões pelas quais Deus é sempre invocado quando precisamos lidar com temas etéreos (e muitas vezes polêmicos, como a bondade, a solidariedade etc.). “Afinal, se Deus for apenas uma constante física, é óbvio que ele não terá nada a dizer sobre ética, certo e errado ou qualquer outra questão moral”, diz o britânico Richard Dawkins.

O radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene D’Aquili (que morreu há 5 anos) resolveram buscar diretamente no cérebro a origem da experiência religiosa. Utilizando aparelhos de tomografia, eles revelaram as áreas mais ativadas pela meditação em 8 budistas e em um grupo de freiras franciscanas. A pesquisa, cujos resultados foram publicados no livro Why God Won’t Go Away (“Por que Deus não Vai Embora”, sem tradução no Brasil), mostrou que durante as orações havia uma diminuição da atividade no lobo parietal superior, a área do cérebro responsável pela nossa orientação de tempo e espaço, pela sensação de separação entre o corpo e o indivíduo e pela delimitação entre o “eu” e os “outros”. Ou seja, ao meditar criamos um bloqueio que provoca a sensação de unicidade típica do êxtase religioso.

Além disso, várias outras pesquisas comprovam que ter fé, independentemente de acreditar em um ou mais deuses, faz bem para o corpo e a mente, pois melhora as condições de saúde e aumenta a sensação de felicidade. A ciência ainda não conseguiu explicar se Deus criou o nosso cérebro com essa habilidade ou se foi a evolução que fez o cérebro criar esse portal para Deus. Mas nesta nova era de espiritualidade talvez isso não seja tão importante assim. O que conforta muita gente é acreditar que é possível melhorar o mundo pela fé.

"A relação do homem com o sagrado tem se mostrado um traço persistente."

Oswaldo Giacoia Júnior, professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Unicamp.
"A metáfora do deus geômetra deriva da velha idéia platônica de um universo dualista, em que há a necessidade de existir uma ordem superior, mas continua influenciando a ciência até hoje."

Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia da Faculdade de Dartmouth, nos EUA.
"Uma coisa é você tentar justificar uma fé usando argumentos científicos, outra é você descobrir uma teoria científica que pode ser compatível com a fé."

Michael J. Behe, bioquímico e um dos principais defensores da tese do “desenho inteligente”.

"Se Deus for só uma constante física, é óbvio que ele não terá nada a dizer sobre o que é certo ou errado em questões morais."

Richard Dawkins, zoólogo e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

A indiferença do universo

Para muitos pesquisadores, o que distingue a ciência de outras visões de mundo é exatamente sua recusa em aceitar cegamente qualquer informação e sua determinação de submeter qualquer tese a testes constantes até que novos dados possam confirmá-la ou refutá-la. 

Essa visão baseia-se, entre outras coisas, na obra do filósofo vienense Karl Popper, que morreu em 1994. Segundo Popper, a ciência só pode tratar de temas que resistam ao que ele chamou de “critério de falseabilidade”. 

Resumidamente, o papel do verdadeiro cientista é buscar, com persistência, erros em sua teoria – em vez de tentar achar dados que provem sua correção. Quanto mais genérica e exposta a falhas (ou seja, quanto mais “falseável”), menos provável ela é. 

Por outro lado, quanto mais resistente (menos falseável), maiores as chances de acerto, pelo menos até o próximo teste. É por isso que um grande número de estudiosos argumenta que não é papel da ciência provar a existência de Deus. 

“Não faz sentido alguém afirmar que, ao descobrir um mistério do Universo, está ajudando a decifrar a mente divina”, diz o zoólogo britânco Richard Dawkins. 

Apesar disso, ele reconhece que é fascinante encantar-se diante dos mistérios da natureza – e das limitações científicas para explicá-los. Esse sentimento foi batizado pelo físico brasileiro Marcelo Gleiser de “misticismo racional”. Em outras palavras, é uma espécie de declaração de amor pelos fenômenos naturais, que se concretiza por meio da pesquisa científica. Segundo ele, há um paradoxo por trás da incansável busca por uma ordem e um sentido no Cosmos. “Como o homem é o único ser capaz de amar, tem uma imensa dificuldade em aceitar que o Universo pode ser totalmente indiferente a ele”, afirma.

A ética num mundo sem "ele"

“Se Deus não existe, tudo é permitido.” A frase, que ficou célebre no livro Os Irmãos Karamazov, do russo Fiodor Dostoievski, resume uma das questões mais cruciais do mundo moderno: sem uma referência divina, passaríamos a viver numa espécie de vale-tudo moral?

“Não necessariamente”, diz o filósofo Oswaldo Giacoia Júnior, da Unicamp. “A busca de um código de valores sempre foi uma preocupação central da filosofia, sem necessidade de uma legitimação divina.” 

No século 18, por exemplo, os ideais de igualdade e justiça social, aceitos hoje como uma preocupação ética, surgiram de formulações dos filósofos iluministas – que acreditavam ser possível defendê-los com base na razão, não na religião (na época, esse tema não era nada popular no Vaticano). 

Em meados do século 20, o francês Jean Paul Sartre, o pai do existencialismo – segundo o qual de nada adianta buscar um propósito da existência para além da vida humana –, disse que a nossa própria condição de seres que vivem em sociedade é suficiente para justificar a prática de valores solidários.
E ainda hoje filósofos como o vienense Peter Singer (um dos mais ferrenhos defensores dos direitos dos animais) continuam defendendo uma série de condutas éticas baseadas na razão, não na fé. 

Mas será que a adoção pura e simples de uma ética sem Deus não pode nos levar a um racionalismo frio, capaz de ofuscar valores menos palpáveis, como a bondade? “A fé não se traduziu apenas em atos de paz e harmonia ao longo dos tempos”, lembra Giacoia. “Dos grandes conflitos religiosos do passado ao moderno terrorismo fundamentalista, já foram cometidas inúmeras atrocidades em nome da ética religiosa em todo o mundo.”

Para saber mais
Deus, uma Biografia - Jack Miles, Companhia das Letras, 2002
Desvendando o Arco-Íris - Richard Dawkins, Companhia das Letras, 2000
Consiliência - Edward O. Wilson, Editora Campus, 1999
O Romance da Ciência - Carl Sagan, Francisco Alves, 1982
Why God Won´t Go Away - Andrew Newberg e Eugene D·Aquili, Ballantine Books, 2002
A Caixa-Preta de Darwin - Michael Behe, Jorge Zahar Editor, 1997




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Roteiro da Bíblia






“Todo aquele que crê num dogma, isto é, numa monstruosidade, abdica completamente de suas faculdades. Movido por uma confiança irresistível e um invencível medo doentio, aceita a pés juntos as mais estúpidas invenções.”


“É preciso abrir a Bíblia e pensar cuidadosamente o que se expõe. Então, ver-se-á que a droga lá contida tem valor muito diferente do que prometia o invólucro.” — Rabelais



Introdução


Texto originalmente editado pela “Crise Luxuosa Edições” em 1997, o Roteiro da Bíblia propõe-se a mostrar o que a maioria das pessoas desconhecem da religião pelo fato das várias modificações feitas para evitar perdas de fiéis. O texto desmascara o lado extremamente machista, insano, impiedoso e controlador de “Deus”, o lado que nunca nos é ensinado na escola ou dentro de casa; desmascara a posição do bondoso e eterno bem-feitor e perfeito “Deus” que tudo de bom quer para nós, é claro, se seguirmos suas regras.


Os trechos da Bíblia mostram perfeitamente o único ideal real da Igreja: o poder. De tudo fazem e faziam para manter a Igreja num patamar (muito) acima de nós. O medo da morte, da tortura, as promessas de lugares no céu e no paraíso faziam (fazem) com que as pessoas nem ousassem (ousem) questionar um ensinamento milenar e ultrapassado, mas que porém ainda controla e reduz a zero a vida de muita gente. Controla a fim de sufocar qualquer sentimento de ódio por ela muito mesmo antes do pensamento existir. Impede qualquer pensamento contrário a seus ensinamentos a crença nas suas sangrentas e ameaçadoras linhas. Reduz a zero a vida de quem desde cedo autorreprime os seus desejos, os seus sentimentos, todo o seu afeto, por medo de uma pós-vida que até agora nunca foi — e creio nunca será descoberta —, limitaram todo o seu potencial de socialização entre as pessoas próximas e distantes pelo medo de algo estúpido, pela má intenção de poucos que tiraram proveito de milhares para a chegada do poder.


Esperamos desmascarar os ideais dessa Igreja e dessas crenças que pedem esmola e contribuições de seus fiéis que não podem dormir em suas “Casas de Deus” de ouro, que eles mesmo construíram, quando não tiverem um teto para se abrigar. A Igreja chora por caridade em todo o globo enquanto no Vaticano, e tantos outros lugares, seus tetos são construídos com base a ouro. Enquanto os fiéis que colocam-nos nos céus do poder vivem na miséria e no árduo trabalho, os representantes de “Deus”, cujo não aceita a riqueza nos céus, vivem no melhor conforto possível, com tudo que os mais ricos dos burgueses nem sonham ter. Essas são as contradições que queremos desmascarar, e esse texto é apenas mais uma de nossas armas contra mais essa máquina de exploração humana.


Deus não existe, e mesmo assim ainda devemos matar o mito que até hoje escraviza muitas pessoas pelo mundo.



Atrocidades e disparates


“E o senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o varão que houver nela passarás ao fio da espada. Salvo somente as mulheres e as crianças e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.” — Deuteronômio, 20:13-14


“Em paga do meu amor são meus adversários… Quando for julgado que saia condenado… Sejam poucos os seus dias, e outro tome o seu ofício. Sejam órfãos os seus filhos, e viúva sua mulher. Sejam vagabundos e mendigos os seus filhos e busquem o seu pão longe das suas habitações desoladas. Lance o criador mão de tudo quanto tenha, e despojem-no os estranhos do seu trabalho. Não haja ninguém que se compadeça dele, nem haja que favoreça os seus órfãos. Desapareça a sua posteridade, o seu nome seja apagado na seguinte geração.” — Salmos, 109:4-13


Então disse Jesus aos seus discípulos: se alguém quiser ir após mim, renuncie-se a si próprio, tome sobre si a cruz e siga-me.” — Mateus, 16:24


“E se a tua mão te escandalizar, corta-a: melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga.” — Marcos, 9:43-44


“Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria…” — 1 Samuel, 15:23


[Moisés aos seus soldados]: “Agora pois matai todo o varão entre as crianças; e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as crianças fêmeas, que não conheceram algum homem deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.” — Números, 31:17-18


“Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” — Jó, 42:6


“Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que creem: em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará mal algum; e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.” — Marcos, 16:17-18


“Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecente de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a eles. Os quais também mataram o Senhor Jesus e os seus próprios profetas, e nos têm perseguido; e não agradam a Deus e são contrários a todos o homens.” — 1 aos Tessalonicenses, 2:14-15


“E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim.” — Lucas, 19:27


“E, havendo eu tirado a minha mão, me verá pelas costas: mas a minha face não se verá.” — Êxodo, 33:23


“Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos… Assim a palavra do senhor crescia poderosamente e prevalecia.” — Atos, 19:19-20


“… se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória sua, porque sou eu ainda julgado também como pecador? E por que não dizemos — como somos blasfemados e como alguns dizem que dizemos: façamos males para que venham bens? A condenação desses é justa.” — Aos romanos, 3:7-8


“Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá.” — Levítico, 24:16


“E aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará.” — Levítico, 24:16


“A feiticeira não deixarás viver.” — Êxodo, 22:18


“Eis que vos corromperei a semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos…” — Malaquias, 2:3


“E o que comeres será como bolos de cevada, e os cozerás com o esterco que sai do homem…” — Ezequiel, 4:12


“Vê, tenho-te dado esterco de vacas, em lugar do esterco de homem, e com ele prepararás o teu pão.” — Ezequiel, 4:15


“… e não antes aos homens que estão assentados sobre os muros, para que comam convosco o seu esterco, e bebam sua urina?” — Isaías, 36:12


“Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras.” — Salmos, 137:9


“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizarem, corta-os e atira-os para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. E se o teu olho te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti. Melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno.” — Mateus, 18:8-9


“E disse Deus: produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra.” — Gênesis, 1:11


“E foi a tarde e a manhã o dia terceiro.” — Gênesis, 1:13


“E disse Deus: haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e noite, e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.” — Gênesis, 1:14


“E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra.” — Gênesis, 1:17


“E foi a tarde e a manhã o dia quarto.” — Gênesis, 1:19



Contradições


“Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas espada”. — Mateus, 10:34


“Então Jesus disse-lhe: mete no seu lugar tua espada, porque todos os que lançaram mão da espada, à espada morrerão.” — Mateus, 26:52



“Porque a ira destrói o louco, e o zelo mata o tolo.” — Jó, 5:2


“…não se ponha o sol sobre vossa ira.” — Efésios, 4:26



“Nenhum homem subiu ao céu, se não o que desceu do céu, o filho do homem que está no céu.” — João, 3:13


“…e Elias subiu ao céu num redemoinho.” — 2 Reis, 2:11



“Se eu sou testemunha de mim próprio, o meu testemunho não é verdadeiro.” — João, 5:31


“Eu sou aquele que testemunha sobre mim próprio…” — João, 8:18



“O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos…” — Provérbios, 13:22


“Vendei o que tendes e daí esmolas…” — Lucas, 12:33



“Bem-aventurado o homem que teme do Senhor… Fazenda e riquezas haverá na sua casa…” — Salmos, 112:1-3


“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” — Mateus, 19:24



“Eu e o Pai somos um.” — João, 10:30


“…vou para o Pai, porque o Pai é maior do que eu.” — João, 14:28



“…vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz.” — João, 5:28


“Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir.” — Jó, 7:9



“…darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.” — Êxodo, 21:23-25


“…não resistais ao mal, mas se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” — Mateus, 5:39



“Honra teu pai e a tua mãe.” — Êxodo, 20:12


“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” — Lucas, 14:26



“Não ajunteis tesouro na terra…” — Mateus, 6:19


“Na casa do justo há um grande tesouro.” — Provérbios, 15:6



“…tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.” — Gênesis, 32:30


“Deus nunca foi visto por ninguém.” — João, 1:18



“…o filho não levará a maldade do pai.” — Ezequiel, 18:20


“…porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e Quarta geração daqueles que me aborrecem.” — Êxodo, 20:5



“Bem-aventurado o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire conhecimento.” — Provérbios, 3:13


“Na muita sabedoria há muito enfado, e o que aumenta em ciência, aumenta em trabalho.” — Eclesiastes, 1:4



 “…benigno sou, diz o Senhor, e não conservarei para sempre minha ira.” — Jeremias, 3:12


“O fogo que acendeste na minha ira arderá para sempre.” — Jeremias, 17:4



Mulher


“E à mulher [Deus] disse: multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concepção, com dor terás filhos; e o teu desejo para o teu marido, e ele te dominará.” — Gênesis, 3:16


“Se uma mulher conceber e tiver um varão, será imunda sete dias… Mas se tiver uma fêmea, será imunda duas semanas.” Levítico, 12:2-5


“Também toda a roupa e toda a pele em que houver semente de cópula, se lavará com água, e será imundo à tarde. E também a mulher, com quem homem se deitar, com semente de cópula, ambos se banharão com água, e serão imundos até à tarde. Mas se a mulher, quando tiver fluxo, e o seu fluxo de sangue estiver na sua carne, estará sete dias separada, e qualquer que a tocar será imundo até à tarde. E tudo aquilo sobre o que ela se deitar durante a sua separação, será imundo. E qualquer que tocar a sua cama, lavará a sua roupa e se banhará com água, e será imundo até à tarde. E qualquer que tocar alguma coisa, sobre o que ela se tiver assentado, lavará a sua roupa e se banhará com água e será imundo até à tarde… E se, com efeito, qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundice estiver sobre ele, imundo será por sete dias também toda a cama sobre que se deitar será imunda… Esta é a lei daquele que tem o fluxo, e daquele de quem sai a semente da cópula, e que fica por ela imundo. Como também da mulher enferma na sua separação, e daquele que padece do seu fluxo, seja varão ou fêmea, e do homem que se deita com mulher imunda.” — Levítico, 15:17-33


“Vós, mulheres, estais sujeitas aos vossos próprios maridos, como convém ao Senhor.” — Aos Colossenses, 3:18


“Semelhantemente, vós mulheres sêde sujeitas aos vossos próprios maridos.” — 1 Pedro, 3:1


“Igualmente vós, maridos, coabitais com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco.” — 1 Pedro, 3:7


“Mas quero que saibas que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher.” — 1 Aos Coríntios, 11:3


“Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.” — 1 Aos Coríntios, 11:9


“Mas se te apartaste do teu marido, e te contaminaste, e algum homem, fora de teu marido, se deitou contigo: então o sacerdote conjurará a mulher com a conjuração da maldição; o sacerdote dirá a mulher: o Senhor te ponha por maldição e por conjuração no meio do teu povo, fazendo-te o Senhor descair a coxa e inchar o ventre. E se esta água amaldiçoada entre nas tuas entranhas, para te fazer inchar o ventre, e te fazer descair a coxa. Então a mulher dirá: Amén, amén.” — Números, 5:20-22


“Porém se este negócio for verdade, que a virgindade se não achou na moça. Então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade apedrejarão com pedras, até que morra.” — Deuteronômio, 22:20-21


“Ora a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera da noite e de dia em rogos e orações. Mas a que vive em deleite, vivendo está morta.” — 1 Timóteo, 5:5-6


“As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.” — 1 Aos Coríntios, 14:34


“A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o seu marido, mas que esteja em silêncio.” — 1 Timóteo, 2:11-12


“Vós, mulheres, sujeitai-vos aos vossos maridos, como ao Senhor. Porque o marido é a cabeça  da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja.” — Aos Efésios, 5:22-23



O Fim do mundo


“E já está próximo o fim de todas as coisas…” — 1 Pedro, 4:7


“Filhinhos, é já a última hora; e como ouviste que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristãos: por onde conhecemos que é já a última hora.” — João, 2:18


“E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória… Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” — Mateus, 24:29-34


“Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de Deus com poder.” — Marcos, 9:1


“…o sol escurecerá e a lua não dará a sua luz… E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu…  Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que estas coisas aconteçam.” — Marcos, 13:24-50


“E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus.” — Lucas, 9:27



Servidão


“Toda a alma esteja sujeita aos dirigentes superiores; porque não há dirigente que não venha de Deus, e os poderes foram ordenados por Deus.”— Aos Romanos, 13:1


“Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus.” — Aos Colossenses, 3:22


“Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus.” — 1 Pedro, 2:18


“Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.” — 1 A Timóteo, 6:1


“Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração como a Cristo.” — Aos Efésios, 6:5


“Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo. Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento na doutrina de Deus, nosso salvador.” — A Tito, 2:9-20


“Se alguém ferir o seu servo, ou a sua serva, com pau, e morrerem debaixo da sua mão, certamente será castigado. Porém, se ficarem vivos por um ou dois dias, não será castigado, porque é seu dinheiro.” — Êxodo, 21:20-21


“Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá, mas ao sétimo sairá livre de graça. Se entrou só com o seu corpo, só com o seu corpo sairá: se ele era homem casado, sairá sua mulher com ele. Se o seu senhor lhe houver dado uma mulher, e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá só com o seu corpo. Mas se aquele servo expressamente disser: eu amo a meus filhos, não quero ser libertado; então o seu senhor o levará aos juízes e o fará chegar à porta, ou ao postigo, e seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela, e o servirá para sempre.” — Êxodo, 21:2-6


“Dai a César o que é de César…” — Mateus, 22:21


“E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós, deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas gerações que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vossos serão por possessão.” — Levítico, 25:44-45



Sexo


“Ora, quanto às coisas que me escreveste, bom seria que o homem não tocasse na mulher.” — Aos Coríntios, 7:1


“Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe, e há eunucos que foram castrados pelos homens, e há eunucos que se castram a si mesmos por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.” — Mateus, 19:12


“Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais de concupiscências carnais que combatem contra a alma.” — 1 Pedro, 2:11


“Porque quereria que todos os homens fossem como eu próprio; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficaram como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.” — Aos Coríntios, 7:7-9


“Todo aquele que se deitar com animal, certamente morrerá.” — Êxodo, 22:19


“Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulteração com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera. E o homem que se deitar com a mulher do seu pai descobriu a nudez do seu pai; ambos certamente morrerão: o seu sangue é sobre eles. Igualmente, quando um homem se deitar com a sua nora, ambos certamente morrerão: fizeram confusão… Quando também um homem se deitar com outro homem, como uma mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão…” — Levítico, 20:10-13


“Quando um homem for encontrado deitado com uma mulher casada com marido, então ambos morrerão.” — Deuteronômio, 22:22


“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia.” — Aos Gálatas, 5:19


“E quando um homem se deitar com uma mulher que for serva… serão açoitados… trará ao Senhor, à porta da tenda da congregação, um carneiro para expiação… e o seu pecado, que pecou, lhe será perdoado.” — Levítico, 19:20-22


Comentários sobre a Bíblia


“Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. A isso obriga a proximidade de tanta imundice.”  F. Nietzsche, O Anticristo


“O Gênesis é um livro imoral: os eleitos de Deus não são escolhidos em razão do mérito mas em virtude de um decreto arbitrário, no qual a obediência passiva é a virtude essencial; os escroques são recompensados e os ingênuos punidos; o próprio Deus ordena ou organiza massacres…” R. Dalian, Biografia de Deus


“Tinha a jovem Sara noventa anos quando Deus lhe prometeu que Abraão, então com cento e sessenta, lhe faria um filho esse ano. Abraão, que gostava de viajar, partiu para o terrível deserto de Cadés com a mulher grávida, sempre jovem e bela. Um rei desse deserto não deixou de se apaixonar por Sara, como já acontecera com o rei do Egito: apresentou a mulher como irmã e ganhou ainda nesse negócio ovelhas, bois, servos e servas. Podemos pois dizer que o tal Abraão se tornou bastante rico devido à mulher.” Voltaire, Dictionnaire Philosophique


“Causa-me horror o Deus sanguinolento e fúnebre que separou o homem da natureza.” Guerra Junqueiro


“Não faleis da Bíblia aos padres católicos. A sua leitura está-lhes terminantemente proibida. É uma precaução decidida pelo papado com o objetivo de os impedir de se converterem ao protestantismo ou ao livre-pensamento.” M. Simon, Viagem Humorística Através das Religiões e dos Dogmas


“Como monumento literário, a Bíblia é muito mais nova do que os Vedas e uma parte dos Qings; como valor poético, fica atrás de tudo o que alguns poetas de Segunda ordem têm criado nos últimos dois mil anos. Quanto a querer compará-la com as soberbas criações de Homero, de Sófocles, de Dante, de Shakespeare ou de Goethe, é ideia que só poderia ocorrer a um fanático, obcecado talvez pela falta da oração. As noções que nos dá a Bíblia do mundo são infantis, e a sua moral é revoltante, tal como vem expressa: no Velho Testamento, pela sede de vingança de Deus; no Novo pela parábola do obreiro da última hora, pelos episódios de Madalena, da mulher adúltera e pelas relações de Cristo com a mãe.” M. Nordau, Mentiras Convencionais da Nossa Civilização


“O ensino derivado da Bíblia afronta a razão humana; os livros santos encontram-se em flagrante contradição uns com os outros; os livros santos erraram perante a razão, a moral, a história e as ciências da natureza; os livros santos nem sequer pertenceram, na redação atual, aos seus supostos autores.” H. Salgado, Mentiras Religiosas


“Os teólogos dizem: isso são mistérios insondáveis. Ao que respondemos: são absurdidades imaginadas por vós próprios. Começais por inventar o absurdo, depois fazei-nos dele a imposição como mistério divino, insondável e tanto mais profundo quando mais absurdo. É sempre o mesmo procedimento: credo quia absurdum.” M. Bakunin, Deus e o Estado


“A Bíblia é refugo… é um lixo intelectual.” M. Murray-O`Hair 


“A Bíblia não é um guia moral.” R. Ingersoll, What Would You Substitute for the Bible as a Moral Guide?

“A Bíblia é o código da intolerância clerical.’ E. Bossi, A Igreja e a Liberdade