Mostrando postagens com marcador Assassinatos de crianças. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Assassinatos de crianças. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

CRISTIANISMO - Colonialismo, Genocídio, Extermínio, Massacres, Tragédias e Escravidão




Antes de 1492, os Estados cristãos do Ocidente lutavam entre si dentro de uma bacia bem restrita: a Europa, a África do Norte e as terras banhadas pelo Mediterrâneo. Após a façanha de Colombo, essas lutas se espalharam pelo mundo todo, com a bênção das várias Igrejas. O próprio Cristóvão Colombo (que, não nos esqueçamos, inaugurou a descoberta do novo continente com a captura de alguns escravos) sonhava que, com o ouro das índias, o reis da Espanha poderiam realizar uma Cruzada para libertar a Terra Santa.1 

Foi um pontífice, Alessandro VI Bórgia (1492-1503), que dividiu, com a bula Inter Caetera, o globo terrestre entre as nascentes potências coloniais católicas. Uma linha de alto a baixo dividia em dois o mapa: metade era reservada à Espanha, outra, a Portugal.




Quando Colombo desembarcou em Cuba, a população da ilha somava cerca de oito milhões de habitantes. Quatro anos depois, estava mais do que dizimada. Depois que os cubanos em parte foram exterminados, os espanhóis começaram a importar escravos de outras ilhas do Caribe. Assim, "milhões de autóctones da região caribenha foram efetivamente liquidados em menos de um quarto de século".2

O trabalho de conquista, exploração e sujeição das populações do continente americano foi levado adiante pelos conquistadores, comandantes de exércitos a serviço dos reis da Espanha e da fé católica. Estes tinham ao seu lado corajosos sacerdotes. Hernán Cortês, Francisco Pizarro, Hernando De Soto, Pedro de Alvarado e centenas de outros, aproveitando-se da superioridade tecnológica e militar de que gozavam, destruíram florescentes civilizações como a inca, a maia e a asteca. As conseqüências das conquistas foram milhões de mortos e um estado de dependência evidente até hoje.


As Américas

Desde o início, o massacre dos nativos americanos foi "abençoado por Deus". Nos "Contos Astecas sobre a Conquista",3 colhidos pelo clero franciscano, lê-se que Cortês era apoiado pelo Estado Pontifício: "Esta era a vontade do papa, que dera seu consentimento à vinda deles". Além disso, sabemos que o famoso conquistador andava sempre com um sacerdote do lado.

Mas quantos mortos a conquista auspiciada por Deus e conduzida pelas mãos dos conquistadores deixou? No México, só a título de exemplo, a população passou de 12 milhões, em 1519, a menos de 1,3 milhão na metade de 1600. Noventa por cento da população local havia sido exterminada.4, No início do século XVI, a população nativa do continente centro e sul-americano girava em torno de setenta milhões de pessoas. Na metade do século XVII, havia sido reduzida a sete milhões.5 E em países como o nosso, a Guatemala ou a região mexicana do Chiapas a dizimação dos índios acontece até hoje.

Os conquistadores não eram muito sutis. Se um povoado resistia, avançavam matando todos os habitantes que encontravam no caminho. As crônicas da época falam de "incontáveis cadáveres" espalhados por toda parte e de seu fedor "penetrante e pestilento".6 Muitos relatos acerca das atrocidades vieram dos próprios missionários e dos funcionários imperiais ou mesmo dos conquistadores.

Para entender quem eram, basta citar alguns episódios. Cortês, para coibir uma rebelião popular, convocou sessenta caciques (dignitários astecas) e ordenou que cada um levasse consigo o próprio herdeiro. Então, mandou queimá-los vivos na presença de seus parentes e advertiu os herdeiros para que conhecessem a inconveniência de desobedecer os espanhóis.

Um povo nativo, guiado pelo chefe indígena Hatuey, tentou se rebelar contra a escravidão. Tentaram uma fuga em massa, mas foram novamente capturados pelos espanhóis. Hatuey foi queimado vivo. "Quando o amarraram ao patíbulo, um frade franciscano implorou insistentemente para que abrisse seu coração a Jesus, de modo que sua alma pudesse subir aos céus, em vez de se precipitar na perdição. Hatuey respondeu dizendo que se o Céu era o lugar reservado aos cristãos, ele preferia de longe ir para o Inferno."7





Seu povo também teve uma sorte parecida: "Os espanhóis gostavam de imaginar todo tipo de atrocidade ainda não cometida [...] Chegaram a construir forcas enormes em que os pés mal tocavam o chão (para evitar o sufocamento) e penduraram em cada uma — em honra do redentor e dos 12 apóstolos — grupos de 13 indígenas, colocando embaixo lenha e brasas e queimando-os vivos."




Em ocasiões parecidas, inventaram outras gracinhas: "Os espanhóis arrancavam o braço de um, a perna ou a coxa de outro, para arrancar de um só golpe a cabeça de alguém, de modo não muito diferente de como faz um açougueiro, que esquarteja as ovelhas para o mercado. Seiscentas pessoas, incluindo caciques, foram esquartejadas como animais ferozes... Vasco de Balboa fez quarenta delas serem devoradas pelos cães." (Standard, 2001.)

Às vezes, as mortes não tinham nenhuma finalidade prática, mas eram um simples ato arbitrário. Por exemplo, em 1517, nas ilhas caribenhas, "alguns cristãos encontraram uma índia que segurava uma criança em um braço, dando-lhe de mamar. Como os cães que os acompanhavam estavam famintos, tiraram o menino dos braços da mãe e o jogaram vivo como alimento para os cães, que o fizeram em pedaços diante dos olhos da mulher [...] quando havia mulheres que haviam parido há pouco entre os prisioneiros, se os recém-nascidos começassem a chorar, pegavam-nos pelas pernas e os batiam contra as pedras ou os jogavam em plantas espinhosas para que acabassem de morrer" (Todorov, 1997, p. 169).

Outro grave episódio foi o massacre de Caonao, em Cuba, presenciado pelo mesmo Las Casas. Uma centena de espanhóis armados, para verificar se suas espadas estavam bem afiadas, "começaram a estripar, perfurar e massacrar ovelhas e cordeiros, homens e mulheres, idosos e crianças que estavam tranquilamente sentados ali perto, observando maravilhados os cavalos e os espanhóis". Não contentes com o massacre ao ar livre, entraram em uma casa grande e "começaram a assassinar, cortando e furando todos aqueles que ali se encontravam: o sangue escorria por toda parte, como se um rebanho de vacas tivesse sido morto... A visão das feridas que cobriam os corpos dos mortos e dos moribundos era um espetáculo horrível e assustador... os golpes sobre os corpos completamente nus e sobre aquelas carnes delicadas haviam partido ao meio um homem com um único golpe" (Todorov, 1997, p. 172).

O viajante Pietro Martire assim descreve a expedição de Vasco Nunez de Balboa: "Assim como os açougueiros cortam em pedaços a carne dos bois e das ovelhas para vendê-la pendurada em ganchos, os espanhóis arrancavam com um só golpe o traseiro de um, a coxa de outro, as costas de outro ainda. Consideravam-nos animais isentos de razão... Vasco mandou os cães esquartejarem quarenta deles".8

Ainda em 1550, o monge Jerônimo de San Miguel denunciou que os espanhóis "queimaram vivos alguns índios, arrancaram mãos, nariz, língua e membros de outros; outros foram jogados aos cães; mulheres tiveram os seios cortados..." O bispo de Yucatán, Diego de Landa, disse ter visto "uma grande árvore com galhos onde um capitão havia enforcando várias índias; e em seus tornozelos pendurara, pela garganta, seus filhos. [...] E se durante o transporte os indígenas, arrastados com a corda no pescoço, não andassem animados como seus companheiros, os espanhóis cortavam sua cabeça, para não precisar parar para desamarrá-lo".9

Um cronista de 1570 fala de um "oidor" (juiz) "que afirmava em público, de cima de seu tablado e em voz alta, que se faltasse água para irrigar as fazendas dos espanhóis, seria utilizado o sangue dos indígenas".


Uma conquista "legal"

A base "legal" da conquista era o Requerimiento, um documento que os funcionários espanhóis liam, obviamente em espanhol, aos povos que pretendiam submeter antes de dar início aos combates. O documento começava com uma breve história da humanidade, na qual surgia uma figura central, Cristo, definido como o "chefe da estirpe humana". Cristo transmitiu seu poder a São Pedro, e este, aos papas, seus sucessores. Um desses papas deu o continente americano aos espanhóis, que eram seus legítimos governantes. 

Se os "índios" se submetessem aos espanhóis "de boa vontade", manteriam o status de homens livres, do contrário seriam capturados como escravos. "Com isso, garanto e juro que, com a ajuda de Deus e com a nossa força, penetraremos em suas terras e faremos guerra contra vocês [...] para submetê-los ao jogo e ao poder da Santa Igreja [...], causando-lhes todo prejuízo possível e de que somos capazes, como convém a vassalos obstinados e rebeldes que não reconhecem seu senhor e não querem obedecer, mas se opor a ele." (Standard, 2001, p. 66.)

Em 1550, o conquistador Pedro de Valdívia enviou uma relação sobre a guerra contra os arauaques, nativos do Chile, ao rei da Espanha. Nela se lê, entre outras coisas: "Mandei cortar o nariz e as mãos de duzentos deles, para puni-los por sua insubordinação".10 

O conquistador Oviedo chegará a afirmar: "Quem irá negar que usar a pólvora contra os pagãos é como oferecer incenso a Nosso Senhor?"11

As guerras de conquista, além de assassinatos, provocavam a morte de vários índios em decorrência da escassez que se sobreveio a elas. Durante a guerra para a conquista da Cidade do México, os espanhóis destruíram as colheitas e se viram a ponto de ter eles próprios problemas com as provisões de milho.

Grande parte da população nativa foi reduzida à escravidão diretamente, capturada pelos espanhóis, ou indiretamente, não conseguindo pagar os pesados tributos impostos pelos novos dominadores. Eis o que escreve um cronista da época: "Os impostos que recaíam sobre os índios eram tão altos que muitas cidades, não conseguindo pagá-los, vendiam aos usurários as terras e os filhos dos pobres; mas como os empréstimos eram freqüentes demais, e os índios não podiam se livrar nem vendendo tudo que tinham, algumas cidades se esvaziaram completamente e outras perderam parte da população."12

O governador da Cidade do México, Nino de Guzmàn, escravizou dez mil nativos em uma população total de 25 mil. Os sobreviventes abandonaram os vilarejos por medo de ter a mesma sorte. Muitas vezes, aqueles que não conseguiam pagar os impostos eram punidos com a tortura ou o cárcere.

Os índios escravizados, em especial nos primeiros anos da Conquista, eram tratados como animais de matadouro. Las Casas denunciou episódios de espanhóis que davam a carne de índios trucidados aos animais no pasto e aos cães; nativos eram abertos para que se extraísse sua gordura (à qual se atribuíam qualidades medicinais) ou tinham as extremidades horrendamente mutiladas (nariz, mãos, seios, língua, órgãos genitais).13

Outro episódio também denunciado por Las Casas mostra que os nativos eram em todos os aspectos tratados como animais: um "homem indigno se vangloriou e se jactanciou — sem mostrar nenhuma vergonha —, diante de um religioso, de ter feito de tudo para engravidar muitas mulheres índias, a fim de conseguir um preço melhor ao vendê-las como escravas grávidas".14

Os nativos não pereciam só pela espada ou pela pólvora, mas também pelas condições de vida desumanas impostas pelos conquistadores. Turnos de trabalho massacrantes, desnutrição, doenças trazidas pelos conquistadores, às quais seu organismo não estava acostumado. Todas essas causas fizeram mais vítimas do que guerras ou massacres juntos.

Também foi grande o número de indígenas mortos durante o trabalho de construção da Cidade do México e de demolição dos "templos do Diabo", ou seja, templos de sua religião tradicional. Houve quem caísse dos andaimes, quem fosse esmagado por traves ou quem ficasse embaixo de prédios demolidos. Os índios empregados no trabalho de demolição não só não eram remunerados, como tinham que procurar sozinhos seus materiais.

A expectativa de vida para quem era obrigado a trabalhar nas minas de ouro era de 25 anos. Os serviços de aprovisionamento nas minas também era de um cansaço extenuante. Os índios encarregados do trabalho percorriam a pé, sobrecarregados de peso, distâncias de quase 100 quilômetros. Muitas vezes, suas próprias provisões terminavam antes de chegarem ao destino, e, quando chegavam, podiam ser pegos para trabalhar nas minas por vários dias sem receber nenhuma alimentação suplementar. Muitos morriam de fome e de cansaço nas minas ou na estrada de volta.

"Os corpos dos índios e dos escravos mortos nas minas produziam uma exalação tão fétida que deles nasceu uma pestilência, sobretudo nas minas de Guaxaca. Até um raio de meia légua de distância, e por grande parte da estrada, não se fazia nada além de caminhar sobre cadáveres ou montes de ossos, e os bandos de pássaros e corvos que chegavam para devorá-los eram tão grandes que tapavam o sol. Assim, muitos povoados se esvaziaram ao longo da estrada e nos arredores."15

As transferências de mão-de-obra por navio de um local de trabalho extenuante a outro também não eram livres de vítimas. "Toda vez que os índios eram transferidos, tantos morriam de fome durante a travessia que o rastro deixado pelos corpos seria suficiente — acreditamos — para guiar outra embarcação até o porto. [...] Depois que mais de oitocentos índios eram transferidos a um porto daquela ilha chamado Porto de Plata, esperavam-se dois dias antes de fazê-los descer da caravela. Deles, seiscentos morriam e eram jogados no mar: boiavam como grandes tábuas de madeira." (Todorov, 1997, p. 166.)

Obviamente, entre os abusos daqueles que os vigiavam estavam os sexuais. Falando da condição dos operários em uma mina, um cronista notou que cada capataz "tinha adquirido o hábito de ir para a cama com as índias que dependiam dele, se o agradassem, fossem elas virgens ou casadas. Enquanto o capataz estava com uma índia na cabana, o marido era enviado para extrair ouro nas minas; de noite; quando o pobre voltava para casa, não só o capataz o enchia de pauladas ou chicotadas por não ter pego bastante ouro, como muitas vezes amarrava suas mãos e pés e o jogava debaixo da cama como um cão, enquanto se deitava em cima, com a mulher".16


Os missionários e o assassinato da alma

Com a conquista e a cristianização forçada, os índios não foram mortos apenas fisicamente, mas também moralmente. Sob esse aspecto, é exemplar o caso do povo dos lucaianos, deportados em massa pelos espanhóis com seu engodo. Os conquistadores, com a cumplicidade dos padres, conseguiram convencê-los de que os estavam levando para uma Terra Prometida, onde encontrariam todos seus parentes já mortos.

"Como os padres os encheram de falsas crenças e os espanhóis as confirmaram, abandonaram sua pátria para correr atrás daquela vã esperança. Tão logo entenderam que tinham sido enganados, já que não encontraram nem seus pais, nem outras pessoas que queriam reencontrar, enquanto eram obrigados a aturar condições extenuantes e trabalhos pesados com os quais não estavam acostumados, se desesperaram. Ou se suicidavam, ou decidiam se deixar morrer de fome e faziam jejum, recusando-se a comer a qualquer custo." (Todorov, 1997, p. 166.)

O bispo de Zumarraga escreveu ao rei da Espanha que os nativos "não procuram mais as mulheres para não gerar escravos". Las Casas denunciava que "marido e mulher não ficavam juntos nem se viam por oito ou dez meses ou por um ano inteiro; quando no final se encontravam, estavam tão cansados e prostrados de fome e dos trabalhos, tão acabados e enfraquecidos, que mal se importavam em ter relações conjugais. Assim, pararam de procriar. Os recém-nascidos morriam logo, pois as mães — cansadas e famintas — não tinham leite para alimentá-los. Quando estive em Cuba, sete mil crianças morreram em três meses por esse motivo. Algumas mães afogavam os filhos por desespero; outras, ao perceber que estavam grávidas, abortavam com o auxílio de algumas ervas que fazem parir filhos natimortos. Trata-se... de um assassinato econômico, e os colonizadores têm toda a responsabilidade" (Todorov, 1997, p. 166).

Missionários abençoaram os massacres e as tragédias, e os reis da Espanha instituíram na América, além das missões, tribunais de Inquisição destinados a punir todos os indígenas que insistissem em seguir seus próprios cultos tradicionais. Filipe II chegou ao ponto de instituir uma inquisição "de galeras", um tribunal itinerante com o objetivo de descobrir e punir os hereges nos navios durante as longas travessias oceânicas.17

Por outro lado, não faltavam sacerdotes que se interessavam genuinamente pelas condições de vida dos indígenas e denunciaram com força os abusos, as atrocidades e os massacres. O caso mais famoso foi provavelmente o do bispo Bartolomé De Las Casas, que escreveu vários livros sobre as condições de vida dos nativos americanos e defendeu sua causa junto aos reis da Espanha.

Sabendo com quem estava lidando, Las Casas e os outros sacerdotes apelaram não só aos seus sentimentos, mas também à utilidade econômica de uma política de clemência. Las Casas, em um relatório, afirmou que a realização de suas propostas seria "de grande proveito para Sua Alteza, cujos rendimentos aumentariam proporcionalmente". E o eclesiástico Motolinia escreveu: "Os espanhóis não percebem que, se não fossem os frades, não teriam mais empregados em suas casas e em suas terras, pois teriam matado todos, como aconteceu em Santo Domingo e em outras ilhas, onde os índios foram exterminados." Mas se os nativos não podiam mais ser utilizados em funções pesadas, quem trabalharia nas plantações e nas minas, quem construiria as casas dos novos dominadores?

Os conquistadores encontraram uma solução pior que o mal: importar da África escravos negros.

Os sacerdotes "bons" também se preocuparam em aprender a língua e os costumes dos nativos, para tornar mais eficaz sua obra de conversão e transformar os indígenas em perfeitos cristãos.

O franciscano Bernardino de Sahagün, docente de um colégio de Tlatelolco destinado aos descendentes da antiga nobreza asteca, obtém resultados extraordinários no ensino do latim. De início, como ele mesmo conta, os espanhóis e os monges das outras ordens caçoaram de seus esforços, pois os índios eram considerados animais, "obtusos como asnos". Mas quando perceberam que o grupo de estudantes tinha feito grandes progressos, alarmaram-se: "Para que lhes ensinar a gramática? Não corriam o risco de se tornar hereges? Diziam também que lendo as Sagradas Escrituras constatariam que os antigos patriarcas tinham muitas mulheres, exatamente como eles".18 Um funcionário de Carlos V escreveu: "É bom que eles sejam catequizados, mas saber ler e escrever é tão perigoso quanto se aproximar do Diabo".

Em suma, instruir os índios era positivo, mas até certo ponto. Por um lado, os nativos não tinham direito de seguir as próprias tradições e a própria cultura, por outro, não lhes era permitida nem a possibilidade de se integrarem à nova sociedade e se tornarem "pares" dos espanhóis.

Em 1579, em uma petição à Inquisição, os superiores das ordens agostiniana, dominicana e franciscana pediram que fosse proibida a tradução da Bíblia nas línguas indígenas.19    

                                   
América do Norte

O script se repete, com poucas variações, na conquista inglesa da América do Norte. Lá também os colonos justificaram a invasão com a necessidade de levar o Evangelho e de "edificar um bastião contra o reino do anticristo".20 

Os brancos logo começaram a expulsar os nativos de suas terras, e isso apesar de os primeiros colonizadores terem conseguido sobreviver ao inverno rigoroso graças à ajuda dos "índios". Também lá, as guerras, massacres, prepotência e epidemias exterminaram grande parte dos povos indígenas. De 10 a 12 milhões de nativos que povoavam o atual território norte-americano antes da colonização, só restaram 250 mil.21

A epidemia de varíola, que exterminou cerca de dois terços da população indígena, foi vista pelos colonizadores como um dom divino. Eis o que escreve, em 1634, o governador de Massachusetts: "Quanto aos indígenas, quase todos morreram de varíola, e assim o Senhor confirmou nosso direito de continuar o que fazemos".22

Para os nativos da América do Norte, a guerra não era um fenômeno desconhecido, mas os combates entre as tribos de peles-vermelhas nunca assumiram a crueldade dos embates entre ocidentais. Os padres peregrinos (os primeiros colonizadores que deram origem aos Estados Unidos da América) notavam com estupor que "suas guerras não são nem de longe tão cruéis" quanto as européias, e acontecia até "de guerrearem por sete anos sem que sete homens perdessem a vida". Além disso, os índios, no combate, poupavam mulheres e crianças do adversário.

Bem diferentes eram os costumes dos "civilizadores" cristãos: "Quando um índio era acusado por um inglês de roubar uma xícara e não a devolvia, a reação inglesa era logo violenta: atacavam os índios ateando fogo ao povoado todo".23 Citemos, por exemplo, dentre as inúmeras guerras índias que ocorreram entre 1600 e 1800, a dos pequots, antigos habitantes do atual Massachusetts.

De início, os colonos entraram em guerra com outro povo, o dos narragansett, responsáveis, talvez, pela morte de um inglês. Mas, com o tempo, encontraram a tribo dos pequots, que também eram inimigos dos narragansett, e em vez de reunir forças contra um inimigo em comum, os cristãos os atacaram e destruíram seus povoados. Talvez tenham pensado que um índio valia por outro. O comandante dos puritanos, John Mason, assim descreveu um dos massacres: "O Onipotente incutiu tanto terror a suas almas, que fugiram diante de nós se jogando nas chamas, onde muitos pereceram... Deus abria as asas sobre eles e escarnecia de seus inimigos, os inimigos de seu povo, tornando-os estacas ardentes... Assim o Senhor castigou os pagãos, alinhando seus corpos: homens, mulheres e crianças. Assim o Senhor quis dar um chute no traseiro de nossos inimigos, dando-nos, em compensação, suas terras."24

Outro puritano,25 Underhill, conta que "o espetáculo sanguinário foi impressionante para os jovens soldados", mas logo lembra: "Às vezes a Santíssima Trindade ordena que as crianças pereçam com seus pais".

O massacre continuou até que os pequot foram exterminados quase por completo. Muitas outras tribos sofreram a mesma sorte. Vários nativos caíram vítimas de campanhas de envenenamento, algo terrivelmente parecido com as "desratizações" atuais. Os colonos chegaram a adestrar cães para farejar os índios, arrancando os pequenos dos braços das mães e destroçando-os. Para usar suas próprias palavras: "Cães ferozes para caçá-los e cães policiais ingleses para o ataque".

Quando as mulheres e crianças eram poupadas, era apenas para serem vendidas como escravas nos mercados das Antilhas ou da África do Norte, de onde nunca ninguém voltou. A utilização de jovens indígenas como escravas era um verdadeiro símbolo de status. Se alguma desgraçada tentava fugir, era marcada com fogo.

O pastor Roger Williams, por ter ousado declarar que aos olhos de Deus a fé dos nativos valia tanto quanto aquela dos brancos e por ter comprado a terra, em vez de tomar posse dela, foi expulso de sua colônia junto com uma dúzia de seguidores.

Uma inscrição no túmulo de um puritano do século XVII resume bem o clima da época: "Em memória de Lynn S. Love, que, durante sua vida, matou 98 índios que o Senhor lhe destinara. Ele pretendia elevar o número a 100 [...] quando dormiu nos braços de Jesus".26


HECATOMBE

Em New Hampshire e em Vermont, antes da chegada dos ingleses, a população de abenakis somava 12 mil pessoas. Menos de cinqüenta anos depois, restavam apenas 250.

O povo dos pocumtuck chegava a 18 mil. Duas gerações depois, seu número havia caído para 920.

Os quiripi-unquachog eram pelo menos trinta mil antes da chegada dos ingleses. Eles também foram exterminados no intervalo de duas gerações: os sobreviventes não somavam mais de 1.500.

A população nativa de Massachusetts, inicialmente composta de pelo menos 44 mil pessoas, cinqüenta anos depois estava reduzida a apenas seis mil componentes.

E a horrível lista poderia continuar... Tenhamos em mente que a colonização americana estava apenas começando. A grande epidemia de varíola do biênio 1677/78 ainda não tinha chegado, nem a epopeia do Faroeste. Calcula-se que entre 1500 e 1900, nas duas Américas, 150 milhões de pessoas perderam a vida. Destas, dois terços por causa de epidemias (a partir de 1750, muitas vezes provocadas intencionalmente, através de presentes infectados), e cinqüenta milhões diretamente por atos de violência dos conquistadores, em decorrência da escravidão ou de tratamentos desumanos.

Os exterminadores partilhavam seus relatórios sobre os massacres com entusiásticos boletins de guerra e citando as Escrituras: "É a vontade de Deus, que, no final das contas, nos dá motivos para exclamar: 'Como é grandiosa sua bondade! E como é esplêndida sua glória!'" E ainda: "Até que nosso Senhor Jesus o mandou inclinar-se diante dele e lamber a pólvora!"

Em 1703, o pastor Salomão Stoddard, uma das mais influentes autoridades religiosas na Nova Inglaterra, fez um pedido formal ao governador de Massachusetts para que se estendessem aos colonizadores as contribuições econômicas para "adquirir grandes matilhas de cães e para adestrá-los para caçarem índios como o fazem com os ursos".27   
  
Em 1860, o religioso Rufus Anderson comentou a respeito do banho de sangue, que até então havia exterminado pelo menos 90% da população autóctone das ilhas do Havaí, definindo-o como um fato natural, comparável à "amputação das membranas doentes de um organismo".

Os peles-vermelhas eram considerados menos do que humanos e ninguém tinha obrigação de respeitar a palavra dada a eles. Os tratados de paz eram estipulados já com a intenção de serem violados. Por exemplo, o Conselho de Estado da Virgínia declarou que, se os nativos "ficam mais calmos depois que um tratado é firmado, temos não só a vantagem de pegá-los de surpresa, como de roubar seu milho".28

Em 1851, foram instituídas as "Reservas Indígenas", que eram verdadeiros campos de concentração onde os povos nativos eram presos.

Desde então, passaram-se 150 anos, mas ainda hoje, nas Reservas, as condições de vida são terríveis. No final dos anos 1990, algumas registravam uma mortalidade neonatal de 10%, enquanto entre os brancos a taxa era de 8,1 por mil nascimentos. Ainda nas Reservas, uma criança a cada três morria até os seis meses. E a expectativa de vida de um nativo era claramente inferior à de um branco (63 anos contra 76). O percentual de suicídios entre os nativos era o dobro daquele da população branca, além de 75% deles sofrerem de problemas de desnutrição.25


África, Ásia e Oceania

A primeira conquista colonial do território africano ocorreu em 1344, quando o almirante de la Cerda conquistou as Ilhas Canárias. O feito foi ordenado pelo papa Clemente VI. Depois, por volta de 1400, os portugueses começaram a penetrar nas costas de Angola e da Guiné. Conseguiram o feito graças a "tratados" com as populações locais, ludibriadas pelos missionários.

Todas as interiorizações seguintes se iniciaram assim, com os missionários inaugurando as conquistas europeias. Se os africanos não cedessem, os próprios religiosos informariam aos conquistadores que chegara o momento de recorrer às armas. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Kilwa, em 1505. Os habitantes das cidades não permitiram a criação de missões nos arredores, pois sabiam muito bem que eram um pretexto para o estabelecimento de antepostos militares. Então, os missionários franciscanos informaram os portugueses, que destruíram totalmente a cidade. Os missionários abençoavam os massacres, mas logo perceberam que não havia comparação entres as riquezas que os portugueses conseguiam acumular na África e as migalhas que mandavam à Santa Sé. Assim, eles arregaçaram as mangas e trataram de conseguir, no início do século XVI, seus próprios escravos. O papa tentou até a conquista militar da África (por exemplo, em 1540, o exército de Deus atacou o então reino etíope), mas considerou mais conveniente ser o intermediário da conquista, ganhando, com isso, escravos e latifúndios.

Logo o tráfico de escravos da Santa Sé se intensificou. Em 1650, a Companhia de Jesus possuía tal quantidade de escravos, que impressionava até os portugueses, e utilizava sua própria frota, adaptada ao seu transporte.

Os nativos fizeram eclodir verdadeiras revoltas antimissionárias, e os sacerdotes se viram "obrigados" a demonstrar determinação. Quando os escravos ousavam se rebelar, eram torturados publicamente. Em 1707, estourou uma revolta de escravos em Madagascar. Os missionários, no caso calvinistas, torturaram os rebeldes em praça pública e estrangularam uma escrava.

Na África do Sul, a Igreja também se colocou sempre ao lado dos bôeres (colonizadores brancos de origem holandesa). Tanto que, quando em 1837 os zulus se insurgiram contra o roubo de suas terras, os missionários ajudaram os brancos a chegar perto de seus povoados. Foram massacrados quatrocentos africanos, sobretudo mulheres, idosos e crianças.

Em compensação pela atividade e preciosa participação missionária na conquista da África, as potências coloniais doaram à Igreja enormes latifúndios e entregaram às missões o monopólio da educação e da saúde.

A África, antes da chegada dos brancos, possuía um sistema amplo de assistência sanitária. Não havia povoado em que um terapeuta tradicional não pudesse curar, com misturas de ervas e minérios moídos, quem quer que pedisse. Todas essas práticas e remédios foram tornados ilegais, para garantir o monopólio sanitário das missões. Mas como estas não estavam amplamente difundidas no território, a maior parte dos vilarejos africanos ficou sem possibilidade de tratamento. Foi um massacre. No que diz respeito à educação, foram apagados milênios de história africana para educar os negros à superioridade branca. As missões ensinavam a história da Europa e a palavra de Deus. Com o bastão e o chicote, extinguiu-se a cultura de um continente.


As etapas da opressão 
                                                   
Em 1341, uma expedição ítalo-portuguesa fundou um povoado nas Ilhas Canárias. Estas eram habitadas por um povo de origem africana, os guanchos. Seu número, antes do desembarque dos europeus, fora calculado em cerca de oitenta mil indivíduos. Em 1344, o papa Clemente VI ordenou que o almirante francês de origem espanhola Louis de la Cerda conquistasse as Canárias.

Foi o primeiro ato consciente de colonialismo europeu após as Cruzadas, e 
os guanchos foram o primeiro povo a ser totalmente exterminado. Em 1496, um indígena fez sinal para os soldados cristãos se aproximarem, e suas palavras entraram para a história: "Não há ninguém mais para combater: estão todos mortos".

Em 1441, Antônio Gonçalves, de volta do Rio de Oro, ofereceu dez escravos africanos a Henrique, infante de Portugal. Este os ofereceu ao papa Martinho V, que, por sua vez, concedeu a Portugal a "soberania" sobre a África ao sul do Cabo Branco. A aceitação dos escravos por parte do pontífice e sua sucessiva concessão deram a Henrique a prova do consentimento do papa quanto ao tráfico de escravos.

Em 1460, os jesuítas convenceram Ngola, rei angolano-congolês do povo quimbundo, a conceder a Diaz de Novais, o navegador, a permissão para capturar escravos e levá-los para Lisboa. Os reinos de Angola e do Congo começaram a se separar por causa do tratado. Entre 1480-1500, os portugueses entraram na Guiné graças a tratados do gênero, feitos através de logros entre os missionários e os chefes tribais da Guiné e de Angola.

Em 1490, um certo Uoulof levou o chefe tribal a expulsar todos os missionários. Os soldados portugueses o mataram por isso, mas a resistência continuou a agir e impediu o estabelecimento de outros missionários.

Em 1505, a cidade de Kilwa resistiu aos missionários e à conquista. Foi saqueada e destruída enquanto os missionários abençoavam o massacre. Em 1508, os missionários enviados ao Congo criaram um comércio próprio de escravos. Em 1529, os portugueses incendiaram e pilharam Mombaça, em represália às revoltas populares contra invasores e missionários. O tráfico de escravos esvaziou as regiões do Congo.

Em 1534, São Tomé, sede principal do comércio, foi declarada cidade e arcebispado submisso aos missionários brancos. Em 1540, o Estado da Igreja tentou uma colonização militar do então reino etíope de Ambara-Galla-Harar.

Em 1553, uma nova missão jesuíta chegou a Mbanza, no Congo, onde se ocupou também do tráfico de escravos. Em 1600, Francisco de Almeida, os jesuítas e os colonos eram os donos absolutos das costas de Angola, mas não ainda do interior. Em 1628, os missionários ampliaram a própria influência e ganharam da resistência africana. Foram conquistados novos territórios na África oriental.

Em 1633, o cardeal Richelieu concedeu à Companhia Senegalesa de Dieppe e Rouen o monopólio do comércio de escravos por dez anos. Em 1650, os missionários da Zambésia foram desmoralizados pela prolongada resistência africana. Os dominicanos dispunham de enormes propriedades imobiliárias e da mão-de-obra escrava. Os jesuítas intensificaram sua participação no comércio de escravos em Angola e se tornaram latifundiários, como em Moçambique. A Companhia de Jesus possuía uma frota de navios particulares para o transporte dos escravos.

Em 1660, os capuchinhos estabelecidos nas colônias portuguesas falaram de uma ampla hostilidade dos africanos para com eles. Só em Goréé, nos duzentos anos seguintes, foram "exportados" vinte milhões de escravos.

Em 1676, as revoltas contra os missionários latifundiários e escravocratas obrigaram os bispos portugueses a abandonar São Salvador, na Angola setentrional. Em 1694, a maior parte das igrejas do país havia sido demolida pela resistência antiescravista africana.

Em 1700, os escravistas e os missionários retomaram Angola, mas a parte setentrional do país e São Salvador eram praticamente desertas e despovoadas, por causa do comércio de escravos. Calcula-se que, desde o início do tráfico, foram massacrados 25 milhões de africanos. Os missionários, com notável precisão, atribuíram o declínio moral e material do continente negro à resistência africana.

Em 1707, na África do Sul, um escravo iniciou uma revolta. Os missionários holandeses, a título de demonstração, torturaram quatro rebeldes com a roda e estrangularam uma escrava com as mãos.

Em 1721, na África do Sul, os missionários holandeses obrigaram as crianças nativas a serem batizadas, mas proibiram que os escravos, pais das crianças, presenciassem a cerimônia.

Em 1781, os bantos xhosas e os khoi-khoin, guiados pela rainha Hoho, rebelaram-se contra o roubo de seus animais e de suas terras. Resistiram por alguns anos, mas, no final, o exército branco, de grandes dimensões, os derrotou. Os sobreviventes, em 1792, foram conduzidos à missão de Baviaanskloof, a partir de onde foram distribuídos como escravos aos camponeses brancos.

Em 1800, o missionário Van der Kemp fundou a missão de Bethelsdorp, que serviu de base militar para os ingleses.

Em 1805, os irmãos Albrecht, missionários alemães anglicanos, deram início à conquista alemã, fundando uma missão em Warmbad, no sudoeste da África.

Em 1815, o missionário alemão Schnelen, com a concordância da Igreja e de seu governo, fundou a missão de Betânia, no território dos namas, destinada a desenvolver um papel fundamental no período das conquistas.

Em 1818, com o auxílio dos missionários, os ingleses do Cabo atacaram Makanda, general dos ndlambes.

Em 1819, na Cidade do Cabo, o missionário segregacionista John Philip propôs a formação de uma "cadeia de Estados". Seu governo teria como base as missões. O povo se rebelou, mas os missionários entraram em um acordo com o governo e os militares aplacaram as revoltas com o sangue. Os canhões ingleses abateram três mil xhosas que lutavam para defender a própria terra.

Em 1823, os missionários ocuparam os territórios baralong e criaram chefes fantoches para comandar a guerra contra Moshesh e os rebeldes.

Em 1828, os relatórios do missionário John Philip revelavam os planos dos missionários anglicanos, que pretendiam adotar critérios segregacionistas para escolas, locais públicos e reservas e utilizar um "sistema de tratados" para conquistar e sujeitar os africanos.

Em 1829, a missão de Philipton era a base militar britânica, juntamente com a missão de Glasgow em Balfour. O missionário metodista Shaw armou e sitiou grupos de brancos em Albany e na zona oriental do Cabo. Os colonos de Albany atacaram os negros para ampliar seus latifúndios.


Em 1834, o missionário Philip aconselhou o governador a anexar o Xhosaland e a recorrer ao governo indireto criando chefes fantoches. Mas os xhosas resistiram ao ataque combinado de uma força de vinte mil homens composta de ingleses, bôeres e missionários católicos, wesleyanos e anglicanos.

Em janeiro de 1835, os xhosas foram derrotados pelas tropas do missionário Philip. Os outros missionários seguiram seu exemplo.

Em 1837, graças ao apoio dos missionários católicos e wesleyanos, os bôeres massacraram, em Mosega, quatrocentos zulus, exclusivamente mulheres, velhos e crianças.

Em 1844, os missionários franceses "Pais do Espírito Santo" fundaram a missão de Santa Maria do Gabão e extorquiram "tratados" dos chefes das tribos, que permitiram que os franceses sitiassem o estuário do Gabão.

Em 1853, David Livingstone atravessou a África e chegou às margens do lago Niassa, onde fundou uma missão que transformou uma base contra os nativos, preparando o terreno para os colonos ingleses.

Em 1868, o chanceler alemão Bismarck pediu à Inglaterra para proteger os missionários do sudoeste da África. O governador do Cabo, Sir Philip Wodehouse, respondeu ao apelo do império prussiano, auxiliado pela missão do doutor Hahn, e atacou o povo dos namas. Estes resistiram enquanto puderam, mas, no final, foram exterminados quase por completo. Seu chefe foi punido pelos missionários.

Em 1894, no dia 6 de janeiro, na Drill Hall da Cidade do Cabo, Rhodes agradeceu publicamente às missões anglicanas e católicas, ao Exército da Salvação, ao Movimento dos Jovens Exploradores de Baden Powell e à Sociedade Abolicionista por terem contribuído para a "libertação" da Rodésia dos rebeldes africanos.

Em 1914, a maior parte do território africano pertencia às potências coloniais europeias, que confiaram o controle da educação aos missionários cristãos.

Em 1920, a Aliança das Sociedades Missionárias no Quênia pediu à Comissão da África Oriental para não permitir as contratações livres entre empregados e patrões.

Em 1921, no Congo Belga, Kimbangu liderou o movimento anticolonialista. Seguidor de Gandhi, ele pregava a não-violência. Outro movimento de resistência foi liderado por Simon N'Tualani. Os missionários católicos pediram ao governo belga para perseguir os dois líderes e seus grupos, pois se recusavam a trabalhar e pagar impostos aos colonizadores. Kimbangu foi preso, torturado e morto. N'Tualani, por sua vez, conseguiu fugir, mas os missionários conspiraram com o governo colonial para prendê-lo. N’Tualani foi então capturado, junto com 38 mil pessoas, torturado e mantido em cárcere até sua morte.

Em 1926, a Conferência Missionária Internacional condenou as Igrejas africanas "etíopes" separatistas.

Em 1940, em maio, foi firmada uma concordata entre Portugal e o Vaticano que incluiu uma "orientação" missionária católica nas colônias portuguesas.

Em 1946, em Uganda, foi fundado o partido Bataka, cujo programa englobava a requisição de terras para os camponeses e os direitos de cidadania para os negros. Os missionários proibiram os membros do partido de entrar nas igrejas.

Em 1950, nasce o movimento nacionalista ugandense, cujo programa antimissionário previa a redistribuição da terra e um governo próprio.

Em 1953, no Quênia, os missionários, guiados por Crey lançaram uma campanha racista contra as populações kikuyu e mau mau (os guerreiros quenianos independentistas). Foi estipulada a pena de morte para quem prestasse o juramento mau-mau.

Em 1955, graças ao monopólio educacional das missões, o Congo não formou um só engenheiro ou advogado africano.

Em 1960, nas colônias portuguesas, havia mais de cem missões católicas. As atividades "didáticas e educacionais", controladas por essas missões e por outros quinhentos missionários protestantes, eram do tipo segregacionista: não existiam universidades para os negros, e grande parte das crianças em idade escolar não freqüentava as aulas. A assistência sanitária, também controlada pelos missionários, era só para os brancos. Em Angola, a mortalidade infantil era de 50%, havia um médico para cada dez mil habitantes, e quase todos a serviço dos grupos europeus. Quando a população da África do Sul se insurgiu contra a segregação, ateou fogo a muitas igrejas católicas.

Em 1964, depois da independência e do fim do monopólio das missões no campo educacional, a taxa de analfabetismo em Gana caiu de 85% para 25%.

Em 1977, na África do Sul, pela primeira vez no século, as escolas "brancas" católicas, anglicanas e metodistas admitiram não-europeus, através de critérios seletivos e limitados e com o consentimento tácito do governo, objetivando "desintrincar" a situação pós-Soweto.





FONTES DE ESTUDO

capítulo 13 Colonialismo e escravidão
1.   Tzvetan Todorov, La conquista dell'America. Il problema dell'"altro". Turim, Einaudi, 1997, p. 12-14.
2.   David E. Stannard, Olocausto americano: Ia conquista dei nuovo mondo. Turim, Bollati Boringhieri, 2001.
3.   Tzvetan Todorov, Georges Baudot, Racconti aztechi delia conquista, Turim, Einaudi, 1988, p. 121.
4.   AAVV, // Libro nero del capitalismo. Marco Tropea Editore, Milão, 1999, p. 409.
5.   Ibid.
6.   D. Stannard, op. cit., p. 72-3.
7.   Ibid., p. 70.
8.   Tzvetan Todorov, op. cit., p. 172.
9.   Ibid./p.\73.
10. Ibid, p. 179.
11. Ibid., p. 183.
12. Ibid.,p. 163.
13. Ibid., p. 183.
14. Ibid.,p. 213.
15. Ibid., p. 166.
16. Ibid., p. 168.
17. Charles Fair, Storia delia stupidità militare, Milão, Mondadori, p. 344.
18. Tzvetan Todorov, op. cit., p. 269.
19. Ibid.,p. 268.
20. D. Stannard, op. cit., p. 235.
21. AAVV, op. cit., p.410.
22. D. Stannard, op. cit., p. 238.
23.Ibid, p. 111.
24. Ibid, p. 111
25. Vale a pena lembrar que os puritanos tinham escapado para a América para fugir das perseguições religiosas.
26. Jean Pictet, L'epopea dei pellirosse, Milão, Mursia Editore, 1992, p. 127.
27. D. Stannard, op. cit., p. 241. 28./b/d, p. 241.
29. AAVV, op. cit., p. 411.