Justificar que
a classe dominante da religião cristã composta de filósofos e doutores, por
mais de quinhentos anos, mataram crianças e mulheres adultas para salvar-lhes a
alma do suplício eterno, quando você mesmo, sem os conhecimentos doutrinários
dos inquisidores, sabe perfeitamente que bruxas nunca existiram, cai por terra
o argumento de que "aquele era o pensamento da época", mesmo por que
a confissão sob tortura não goza da presunção de veracidade. Mesmo assim São
Tomaz de Aquino proclamava que os heréticos deviam ser torturados (São Agostinho)
ou mortos logo de uma vez.
Martinho
Lutero e João Calvino defendiam o assassinato em massa de heréticos, apóstatas,
judeus e feiticeiras.
Naturalmente
você é livre para interpretar esta página negra do cristianismo - mas não é
espantoso que você tenha conseguido discernir os verdadeiros ensinamentos do
Cristianismo, enquanto os mais influentes pensadores na história da religião
falharam nesse ponto?
Dor sem conselho, saco sem fundo, febre contínua que nunca termina,
besta insaciável, folha levada pelo vento, bastão vazio, louca desvairada, mal
sem nenhum bem, em casa um demônio, na cama uma vadia, na horta uma cabra,
imagem do Diabo.
Em geral, falar de caça às bruxas significa voltar à época medieval. A
perseguição em massa e os massacres, no entanto, continuaram muito depois desse
período. As grandes ondas repressivas contra as bruxas e os hereges
aconteceram, na verdade, de 1480 a 1520, período ao qual sucederam uma relativa
pausa e uma nova onda de perseguições de 1580 a 1670.
Aquela que na Idade Média fora uma guerra aberta contra populações
inteiras que haviam escolhido uma vida comunitária (como os cátaros e
dulcinistas) se transformou em uma perseguição de estilo policial em larga
escala destinada a extirpar a erva daninha da desobediência,
A legislação cristã logo passou a cuidar da bruxaria, associando-a ao
paganismo e considerando-a uma forma de heresia. "A motivação era
tipicamente teológica: quem usa as artes da magia rejeita o poder livre e
libertador do Deus de Jesus, enquanto tenta estabelecer uma espécie de domínio
sobre realidades terrenas [e] sobre a vida humana em si." (Benazzi,
D'Amico, 1998, p. 258-9.)
Os primeiros mandantes do fenômeno eram muito céticos acerca da real
existência dos poderes sobrenaturais das bruxas e magos. O Cânone Episcopal, um
documento eclesiástico do século XIX, diz: "Não nos esqueçamos das
mulheres desventuradas que se ofereceram a Satanás, sessões de encantamento e
fantasmas de origem diabólica, afirmaram terem montado animais durante a noite
junto à deusa paga Diana e fizeram isso com várias outras mulheres... Muitas se
deixaram enganar por essas coisas e acham que tudo é verdade, afastando-se da
verdadeira fé [...] Mas quem pode ser tão tolo a ponto de crer que tudo isso
acontece [...] e corporalmente?"2
Enfim, quem praticava bruxaria cometia um pecado grave, mas as artes
mágicas em si não representavam um perigo.
A partir do século XI e até a metade do XIII, a atenção da Igreja se
concentrava mais nas heresias, como as dos cátaros e valdenses, e o mundo do
ocultismo foi, em parte, ignorado.
Bruxaria e heresia
As coisas começaram a mudar depois do nascimento da Inquisição. O
deslocamento da perspectiva entre as primeiras e brandas perseguições e as
sucessivas, mais sistemáticas, é fundamental. Segundo essa nova visão, na
verdade, o Demônio se torna um ser físico, que pode possuir e ter aliados na
Terra, que tem um exército próprio e uma Igreja. A batalha entre o bem e o mal
se concretiza transformando-se em uma guerra em sentido físico, além do
metafísico.
Em 1258, Alexandre IV condenou as práticas mágicas. Em 1320, João XXII
encarregou os inquisidores de Toulouse de intervir contra os bruxos. Em 1436, o
juiz Claude Tholosan declarou que os magos e bruxas não tinham direito a
indulgências da Igreja e considerou suspeitas até práticas populares
aparentemente inócuas, como a colheita das plantas durante a festa de Santo
Antônio. Em 1451, Nicolau V exortou os inquisidores a punir os adivinhos mesmo
quando não houvesse uma condição evidente de heresia: a Inquisição podia,
assim, atingir também a superstição popular.3 Por volta do final do
século XV, o bispo de Paris determinou a excomunhão a qualquer um que lesse as
mãos.
Durante todos os séculos XIV e XV, sucederam-se, com preocupante
aumento, vários tratados sobre bruxaria e intervenções de juristas sobre o
assunto. Será dito que, no instante em que aceitam ter relações com o Demônio,
as bruxas se mancham com o crime de heresia. Ou melhor, elas chegam a
constituir uma verdadeira seita que luta pela destruição da Igreja.
Aos hereges também são atribuídos malefícios e pactos diabólicos. Os
Templários foram acusados de heresia, bruxaria e de adoração a um ídolo chamado
Bafometo. Os valdenses de Arras, processados durante o século XV, confessaram, sob
tortura, a filiação a uma seita de adoradores do diabo. Eles iam voando aos
sabás, onde abjuravam a religião cristã e blasfemavam contra Deus, a Trindade e
Nossa Senhora.4
Os cátaros foram acusados de ter o nome derivado de Cato, demônio que
adoravam.
O objetivo de tais comparações é claro: se as bruxas eram por
definição hereges, então hereges também eram os magos. Assim, bruxas e hereges
constituíam um único grande inimigo comum do poder espiritual e do civil. Sem
contar que o rótulo de "mago" contribuía para queimar a terra em
volta dos pregadores heréticos e tornava mais fácil atiçar o ódio do povo
contra eles.
A bula papal Summis desiderante affectibus, promulgada por
Inocêncio VIII, em 5 de dezembro de 1484, marcou a data de início daquilo que
se tornou um verdadeiro extermínio em massa de mulheres e homens acusados de
bruxaria. Nesse documento, o papa, alarmado pelas notícias provenientes do
norte da Alemanha, onde parecia que os cultos satânicos e a bruxaria tinham
muitos adeptos, dava aos inquisidores plenos poderes para extirpar o fenômeno.5
Dois anos depois, foi o poder leigo que interveio. O imperador
Maximiliano da Áustria emanou uma ordem na qual convidava todos os bons
católicos a ajudar os inquisidores em sua obra.
No mesmo ano, saiu o Malleus Maleficarum (Martelo das feiticeiras),
um verdadeiro tratado reproduzido através da nova técnica da prensa
inventada por Gutenberg, que descrevia por completo o mundo das bruxas, seus
malefícios, como reconhecê-las e como conduzir os interrogatórios. A tese do Malleus
era que a bruxaria existia e que era uma forma de heresia, assim como negar
sua existência era um comportamento herético. Seus autores, Krämer (vulgo
Institoris) e Spengler, são dois teólogos dominicanos. Krämer, em especial, era
um conhecido e incansável inquisidor internacional, famoso por perseguir os
valdenses, hussitas e as bruxas. Sua conduta na Alemanha meridional atraiu para
si o desprezo dos eclesiásticos locais e o ódio da população, que chegou a um
passo da revolta. Ele atuou também na diocese de Bressanone, mas o bispo Georg
Golser o afastou em razão de sua crueldade e arbitrariedade, que mais uma vez
contribuíram para atrair a ira do povo. O Martelo das feiticeiras, que
foi impresso até 1669, tornou-se um verdadeiro best-seller na época.
Muitos outros "caçadores de bruxas" escreveram dissertações
sobre o assunto, dentre os quais Jean Bodin, obstinado inquisidor e perseguidor
que, por sua vez, foi acusado de heresia, e Henry Boguet, inquisidor suíço que entrou
para a história por pedir a condenação à morte de algumas crianças acusadas de
bruxaria.6
As áreas mais atingidas pela caça às bruxas foram Artois, Flandres,
Hinaut, Cambrésis, Brabante, Luxemburgo, Lorena, Renânia, as regiões do sul da
Alemanha, a Borgonha, os Países Bascos e o Piemonte.7
De certo ponto de vista, a caça às bruxas tornou-se uma gigantesca
guerra do poder masculino contra as mulheres e contra as últimas formas de
matriarcado.
Por exemplo, foi tirado do gênero feminino o "poder" de curar
os males e assistir no parto, entregando-os ao monopólio da casta masculina dos
médicos. O Malleus Maleficarum afirma claramente que "ninguém
prejudicou mais a Igreja do que as parteiras". Não é preciso se esforçar
muito para encontrar na literatura, na teologia, mas também nos tratados de
medicina da época, afirmações de forte desprezo, se não de ódio, às mulheres.
Um exemplo de Laurent Joubert, médico do século XVI, afirma: "Por si mesmo
indiferente é o sêmen... este muitas vezes degenera na fêmea por causa da
frieza e da umidade... e pela abundante presença de sangue menstrual cru e
indigesto."8 Por outro lado, Tommaso Campanella escreveu:
"As mulherzinhas, que consomem um péssimo alimento, ou pelo sangue
menstrual, ou pelos excrementos retidos no útero tomado de vapores da
concepção, acabam perturbadas e realizando atos para receberem os
demônios."9
Homens e personalidades de alta estirpe também foram condenados à
fogueira, mas isso não impede que a grande maioria das vítimas fosse de
mulheres pobres, muitas vezes à margem da sociedade. Às vezes, a figura da
bruxa parteira/curandeira se confundia com a da prostituta. Então, reaparecia
um personagem social de grande poder que ainda possuía a linfa das sacerdotisas
dos cultos matriarcais. Não sabemos quanto disso era real e quanto era uma
fantasia dos inquisidores. É verdade, no entanto, que, em algumas localidades
(por exemplo, nos territórios eslavos), os cultos matriarcais que remontavam a
quatro, cinco mil anos antes de Cristo sobreviveram por muito tempo, até depois
do século XVII, às vezes camuflados de ritos cristãos, às vezes praticados pelo
povo às escondidas — como aconteceu por muito tempo com os ritos matriarcais
dos escravos negros nas Américas.
A louca engrenagem da Inquisição
No final do século XV, a Inquisição já era uma máquina bem lubrificada
e rodada para eliminar os hereges. O sucesso e a carreira dos inquisidores
dependiam do número de processos julgados e das condenações executadas. Também
se acreditava que o povo devia se sentir constantemente ameaçado pela visão dos
castigos exemplares, para não ousar sair do recinto da verdadeira fé. As
fogueiras e as mortes em praça pública serviam de exemplo.
Por sorte, não faltaram pessoas que se opuseram ao clima da época,
como o filósofo e matemático Nicolau de Cusa. Em 1457, ele julgou, na qualidade
de bispo de Bressanone, o caso de duas mulheres que haviam confessado ter sido
transportadas a um sabá por uma misteriosa mulher chamada Richella, após terem
abandonado a fé cristã e terem visto homens devorando crianças não batizadas.
De Cusa encerrou o caso como se fosse um sonho e condenou as mulheres
a uma simples penitência. A crença na bruxaria, de acordo com o raciocínio do
bispo, alimentava nas pessoas o medo do diabo, a ponto de fazê-las acreditar
que este fosse mais poderoso que o próprio Deus.10
Em 1489, Urlich Müller declarou que as bruxas não eram nada além de
mulheres pobres dominadas por uma ilusão diabólica. No início do século XVI, o
frei Samuel De Cassinis chegou a acusar os inquisidores de heresia, pois
acreditavam nos sabás, e lutou para que os tribunais devolvessem aos parentes
das bruxas executadas os bens que haviam confiscado. O humanista Andréa
Alciato, em 1544, afirmou a inutilidade da perseguição às bruxas. Em 1553, o
médico Johann Weyer afirmou que as bruxas eram apenas pobres mulheres vítimas
de alucinações. Por causa dessa teoria, foi atacado violentamente pelos
teólogos católicos e protestantes.11 Em 1594, Reginald Scot publicou
um livro contra os excessos cometidos durante a caça às bruxas. As cópias do
volume foram queimadas por ordem do rei da Escócia.
No início do século XVII, o renano Cornelius Loos tentou inutilmente
mandar imprimir uma obra em que acabava com a fantasia dos sabás, das
cavalgadas noturnas e das negociações som o demônio. Ele foi o primeiro a
identificar nas bruxas uma cultura alternativa à dominante e muito arraigada
entre os pobres. Por suas idéias, foi condenado à fogueira, mas morreu de peste
na prisão antes da execução.
Em 1631, o jesuíta alemão Friedrich von Spee, em seu tratado Cautio
Criminalis, seu de processibus contra sagas, afirmou: "Envergonho-me
de confessar que, principalmente na Alemanha, entre católicos e o povo, estão
presentes superstições inacreditáveis [...] que [...] recaem mais sobre as
pobres mulheres. [...] Com a tortura, um inquisidor conseguiria fazer até o
papa confessar-se bruxo."12 Todavia, até a metade do século
XVII, esses tipos de manifestações eram sempre isolados.
O processo
O processo por bruxaria acontecia paralelamente ao de heresia e podia
ser instruído com base em uma mera suspeita (ou simplesmente "aparecer no
sonho" de outra pessoa). As delações anônimas também valiam. Nas igrejas,
chegou a ser colocada uma urna para as denúncias, parecida com a das ofertas.
Assim que a audiência começava, a suposta bruxa era convidada a
confessar e abjurar o demônio; se não o fizesse, era torturada. Entre as provas
da possessão diabólica estava a presença de sinais específicos no corpo da
bruxa. Podia ser uma mancha na pele, uma verruga, um calo ou qualquer
"imperfeição". Aquela era a marca deixada pelo Diabo. Outro elemento
de avaliação era o Ordálio. No caso de suspeita, ver a ré chorando ou
lacrimejando já bastava para os juízes (acreditava-se que as bruxas não podiam
chorar, mas que o Diabo podia simular as lágrimas). Nos casos mais graves,
recorria-se à prova da água: a acusada (muitas vezes amarrada a uma grande
pedra) era jogada na água. Se afundasse, era inocente. Se, ao contrário,
boiasse, queria dizer que era culpada, sendo protegida por um sortilégio do
demônio. Os interrogatórios eram realizados em meio a perguntas e armadilhas
criadas especialmente para confundir o imputado. Por exemplo, diante da
pergunta "Você acredita em bruxas?", responder "não" significava
negar a própria existência do Diabo e, assim, assumir o crime de heresia.
Responder "sim" ocasionava outras perguntas dos juízes, como:
"Quantas bruxas você conhece?" e assim por diante.
As bruxas, por sua vez, espontaneamente ou sob tortura, muitas vezes
acusavam outras pessoas que supostamente teriam participado com elas dos sabás
e que acabaram processadas. Às vezes, as acusadas, por vingança, davam os nomes
dos próprios acusadores, criando, assim, uma lúgubre reação em cadeia que podia
durar anos e envolver centenas de pessoas.
Mas o processo por bruxaria tinha uma diferença muito importante em
relação àquele por heresia. O herege que confessasse e abjurasse imediatamente
diante dos juízes podia ser absolvido logo ou, no máximo, receber uma leve
punição (constando dos autos que, se fosse novamente processado, a morte seria
certa). A bruxa que confessasse "espontaneamente" seria absolvida da
acusação de heresia, mas os juízes mandariam seu caso ao tribunal
"leigo" para que sofresse os efeitos "civis" de suas ações.13
As penas por bruxaria variavam de castigos corporais e períodos de
exílio a, nos casos mais graves, prisão perpétua ou a fogueira. Às vezes, como
gesto de clemência, a bruxa era estrangulada antes de ser queimada. Às vezes,
eram queimados junto com a bruxa os autos do processo, como ato de purificação.
Por isso, também, não há como documentar o número exato de bruxas executadas,
apenas aproximadamente.
As estimativas mais prudentes dão, para o período entre o final do
século XIV e o final do século XVII, um balanço que oscila entre 70 e 320 mil
vítimas. Mas há quem fale de milhões de mortos.14 A estes,
acrescentem-se as pessoas mortas, talvez anos depois, em conseqüência das
torturas sofridas; as mortas de fome por causa do exílio ou por terem sido
isoladas da sociedade após serem "marcadas" como bruxas; e os
familiares dos "hereges bruxos", condenados à miséria em conseqüência
do confisco dos bens. E sabe-se lá em quantos povoados pequenos e isolados,
após uma colheita ruim ou a morte de animais, os próprios habitantes
processaram e mataram "com as próprias mãos" uma suposta bruxa, sem
que tenhamos qualquer testemunho por escrito.
A tortura
A primeira tortura era psicológica: a suposta bruxa era levada à sala
de interrogatório, onde eram expostos todos os instrumentos de suplício. Em
seguida, era despida diante do magistrado, depilada e coberta com um lençol.
A tortura mais branda eram as chibatadas. Depois havia a
"corda": os braços eram amarrados atrás por uma corda presa à polé; a
vítima era içada, provocando o deslocamento do ombro. Ainda mais cruel que a
polé era o cavalo de estiramento, um pedaço de madeira triangular com a ponta
virada para cima: "O corpo da torturada era deitado e amarrado apertado à
ponta, que lhe penetrava na carne, do pescoço aos glúteos. Então em suas mãos e
pernas eram amarrados pesos cada vez mais pesados; ou cordas ligadas a uma roda
que girava com a ajuda de uma manivela. Puxando as cordas, todo o corpo era
esticado, e os membros, após algumas horas, soltavam-se do corpo."'5
Outra prática era a de acender uma fogueira sob os pés da vítima. E havia as
tenazes, cujo uso deixamos a cargo da sua imaginação, e muitos outros
instrumentos.
Teoricamente, a tortura deveria durar um tempo limitado, e um médico
supervisionava as operações para garantir que o imputado não corresse risco de
vida ou sofresse danos graves à saúde. Mas, na verdade, o suplício continuava
ao sabor do inquisidor, e não eram raros os casos de mulheres mortas ou
estropiadas de forma irreversível em razão das sevícias sofridas.
UMA BREVE LISTA
Fazemos aqui uma lista de alguns dos maiores processos por bruxaria
que talvez possam dar uma idéia de como devia ser o dia-a-dia na época da caça
às bruxas.
Como, 1416: ao longo do ano, trezentas bruxas foram queimadas na
fogueira.
Sion, 1420: setecentos supostos adeptos de uma seita que adorava o
diabo, em forma de urso ou bode, foram processados. Deles, cem confessaram sob
tortura e foram queimados vivos.
Rouen, 1430: Joana d'Arc morre na fogueira por heresia e bruxaria. No
seu caso, são evidentes as motivações políticas da sentença.
Como, 1484: sessenta bruxas são queimadas na fogueira.
Mirandola, 1522-1523: o processo "de Mirandola" atinge com
firmeza centenas de cidadãos, a ponto de ser lembrado como o "pogrom de
Mirandola". A violência com que os acusados foram tratados foi tal que fez
os cidadãos que assistiam à execução exclamarem: "Não é justo que esses
homens sejam mortos de maneira tão cruel."
Genebra, 1513: em três meses, quinhentas bruxas foram queimadas.
Como, 1514: trezentas bruxas foram justiçadas como "reincidentes
ou impenitentes". Fontes da época falam de uma média de cem bruxas
executadas por ano também nos anos sucessivos, a ponto de o inquisidor ser
repreendido pelo excesso de zelo.
Noruega, 1544: na luterana Dinamarca, os católicos foram equiparados
às bruxas. Só neste ano, 52 pessoas foram executadas.
Languedoc (França), 1557: o parlamento local mandou queimar
quatrocentas pessoas.
Paris, 1565-1640:1.119 pessoas foram julgadas em 75 anos. Foram
executadas cem sentenças de morte, quase sempre de pessoas abastadas.
Genf, 1571: 21 mulheres foram queimadas em maio.
Lorena, 1576-1606: o juiz Nicolas Remy se vangloriou de ter mandado à
fogueira entre duas mil e três mil bruxas no período (uma média de cerca de
duas por semana).
Bordeaux, 1577: quatrocentas bruxas são mandadas à morte pela corte
soberana de Bordeaux.
Alemanha, 1560 (aproximadamente): os príncipes protestantes
processaram, torturaram e condenaram à fogueira algumas centenas de bruxas.
Inglaterra, 1560-1600: sob o reinado de Elisabete I, 314 vítimas foram
queimadas na fogueira, na maioria mulheres.
Treviri, 1587-1593: sob as ordens do arcebispo-eleitor Johann Von Schöneburg,
ligado aos jesuítas, foram queimadas vivas 368 bruxas em 22 povoados. Em dois
deles, apenas uma mulher foi deixada viva. Dentre as vítimas do arcebispo,
havia também protestantes e judeus, além do ultracatólico reitor da
universidade e magistrado Dietrich Flade. Este, acusado de ter sido clemente
demais para com as bruxas, foi preso, torturado, estrangulado e queimado.
Nesses mesmos anos, a caça às bruxas provocaria a destruição de
povoados inteiros na Suíça e a execução de 311 bruxas na região francesa do
Vaud.
Triora (Ligúria), 1588: a responsabilidade de uma pesada escassez foi
atribuída às bruxas. Na verdade, como se descobriria depois, não houve nenhuma
escassez, os influentes locais é que se apoderaram do fruto das colheitas para
vendê-los a preços altos. Enquanto isso, a intervenção da Inquisição mandou
prender e torturar dezenas de mulheres e um suposto bruxo, todos acusados
também de se relacionar com protestantes. Treze mulheres morreram torturadas,
seis foram condenadas à morte e uma se suicidou na prisão para escapar das
sevícias.
Val Mesolcina, 1593: o cardeal Carlos Borromeu (santificado em 1610)
favorece a condenação de várias mulheres. Oito bruxas foram amarradas de cabeça
para baixo e jogadas no alto na fogueira.
Ao longo de todo o século XVI, somam-se ao menos mil execuções na
Dinamarca, quantidade análoga na Escócia, e quase duzentas fogueiras erguidas
na Noruega.
Alemanha, 1600, (aproximadamente): o caçador de bruxas Balthasar Ross
deu início a uma atividade própria. Ele chegava de surpresa nos povoados com um
tribunal itinerante. As bruxas eram presas, processadas, torturadas com novos
instrumentos inventados por ele, condenadas e queimadas. Em três anos de
trabalho, ele conseguiria matar 250 mulheres e seria amplamente recompensado
pelo príncipe e pelas autoridades locais.
Inglaterra, 1600 (aproximadamente): o arcebispo de Saint Andrew,
acamado por uma grave doença, manda chamar a curandeira Alison Peirsoun. Esta o
cura e ele, em compensação, manda que seja presa, torturada e, finalmente,
condenada à morte.
Mântua, 1603: o duque de Mântua mandou afixar um decreto no qual previa
uma recompensa de 50 escudos para quem denunciasse uma bruxa.
Zagarramurdi (Países Bascos), 1614: após um processo que durou quatro
anos e um interrogatório de 300 testemunhas, foram condenadas 12 bruxas. Sete
foram queimadas vivas, as outras cinco morreram durante o processo e foram
queimadas "em efígie" (ou seja, um retrato seu foi jogado nas
chamas).
Würtzburg, 1623-1631: o príncipe católico Filipe von Ehrenburg mandou
novecentas pessoas à fogueira, dentre as quais o sobrinho, 19 cardeais
católicos condenados por sodomia e algumas crianças de 5 a 7 anos acusadas de
ter tido relações sexuais com o Demônio.
Oppenau, 1631-1632: um processo mandou à fogueira 8% da população.
Inglaterra, 1645-1647: o caçador de bruxas Matthew Hopkins viajava
pelas cidades e povoados cobrando uma libra esterlina por cada bruxa que
conseguisse fazer condenar. Só na província de Suffolk, ele conseguiu fazer
enforcar 98 mulheres. O próprio Hopkins conduzia os interrogatórios e se
voltava principalmente contra mulheres jovens, que torturava após violentar
repetidas vezes.
Polônia, 650-1700 (aproximadamente): calcula-se que o número de
vítimas da caça às bruxas seja em torno de dez mil pessoas.
Salem (Massachusetts), 1692: uma escrava negra confessou ter induzido
as moças da cidade a participar de uma dança noturna com práticas de magia e dá
o nome de alguns membros importantes do local. Tem início uma espécie de
histeria coletiva que levaria à morte várias pessoas. Um total de 155 meninas,
moças e jovens mulheres seriam processadas, e 20 delas acabariam na fogueira.
Suíça, 1782: a última bruxa é queimada na fogueira.
Polônia, 1793: a última bruxa é queimada na fogueira.
Ordálio
O termo "ordálio" deriva do anglo-saxão "ordeal",
"juízo". Sua definição técnico-jurídica é: procedimento em que
"forças sobrenaturais se manifestam dando seu próprio juízo sobre uma
questão que provoca uma conseqüência jurídica."16
Alguns estudiosos afirmam que o "juízo de Deus" já era
mencionado na Bíblia.17 Entretanto, até hoje, é difícil saber se a
Igreja aprovava os ordálios, uma vez que o Quarto Concilio de Latrão (1215) os
vetou explicitamente.
Na verdade, o "juízo de Deus" não foi vetado de fato. Por
vezes, foi utilizado até por eremitas e monges na tentativa de tornar Deus
testemunha de suas próprias razões, passando por cima das instituições
eclesiásticas.
Nos primeiros séculos do cristianismo, muitos eremitas e missionários
cristãos utilizaram de várias formas a prova do fogo para testemunhar a própria
fé ou ser absolvidos de acusações infames.
O missionário Bonifácio, diante dos exércitos russo e alemão,
submeteu-se à prova do fogo em nome de Deus. Conta-se que os espectadores, ao
ver que seu corpo não queimava, converteram-se ao cristianismo.
A Igreja Católica do século XIII, já estatizada e hierarquizada, não
podia permitir que houvesse outras fontes de legitimação espiritual e de
santificação além das bulas provenientes da Santa Sé.18 Mas o
instituto do ordálio sobreviveu de fato ainda por séculos e foi reintroduzido
durante os processos por bruxaria.
O primeiro ordálio, surgido na Alemanha, foi a prova da fogueira, que
consistia em fazer uma pessoa vestida com uma camisola coberta de cera passar
por entre duas fileiras de galhos em chamas. Em 1098, um camponês da região da
Provença, Pierre Barthélemy, submeteu-se espontaneamente à prova, conseguindo
passar incólume através das duas fileiras de oliveiras em chamas colocadas a
uma distância de pouco mais de um pé umas das outras.
Outro ordálio era a prova do ferro de marcar, que devia ser segurado na
mão como se fosse um buquê de flores. O manuscrito Saxo Gramaticus fala
de Poppus, que se submeteu à prova para demonstrar a verdade do cristianismo.
Ordálio semelhante é o da água fervente: a pessoa submetida à prova
devia pegar um objeto dentro de um caldeirão cheio de água ou óleo fervente.
Dizem que uma escrava teutoa acusou a ama de infidelidade, e ambas passaram
pela prova.
A ama enfiou a mão e conseguiu pegar o objeto, enquanto a escrava se
queimou e foi morta com um banho de água fervente.
Outro ordálio, ainda, era o da água fria (usada não por acaso contra
as bruxas). O examinado era submerso em uma banheira de água fria com o polegar
da mão e o indicador do pé amarrados. Se afundasse, era inocente; se boiasse
(por ao menos cinco minutos) era culpado.
O último ordálio de que falaremos é a prova da Bíblia. O acusado subia
sobre o prato de uma balança, enquanto do outro lado era colocada uma Bíblia.
Se seu peso fosse inferior ao do livro, era condenado. As Bíblias da época
pesavam cerca de 25kg.
Os bem-andantes, os bruxos "bons"
Por volta do final do século XVI, os inquisidores do Friuli viram-se
diante de casos de bruxaria que não se encaixavam nos esquemas conhecidos.
Alguns camponeses eram conhecidos nas redondezas por sua capacidade de
curar as pessoas atingidas por males. Um deles, como disse um pároco ao
inquisidor da diocese de Aquiléia em 1575, declarara ser um
"bem-andante" e se vangloriara de "vagar pela noite com bruxos e
gnomos".19
O inquérito, de início, avançou lentamente (foi interrompido em 1575 e
retomado apenas em 1580), mas no final chegou a confirmar a presença de um
fenômeno muito difundido. Segundo a lenda, os "bem-andantes", homens
e mulheres, durante o sono entravam em uma espécie de transe durante o qual a
alma saía do corpo em forma de "fumaça", ratos ou outros pequenos
animais. Como as bruxas, eles chegavam ao lugar de encontro (os campos do
Vêneto ou do Friuli, mas também o vale bíblico de Josafá) voando, sozinhos ou
cavalgando sobre pequenos animais, e, como as bruxas, reuniam-se com seus
semelhantes para realizar feitos mágicos. Ao contrário das bruxas, no entanto,
os bem-andantes não utilizavam ungüentos para voar, não participavam de orgias,
não abjuravam a fé católica e não adoravam o diabo. Ao contrário, eles
afirmavam que lutavam 'em nome da religião e de Cristo' contra as bruxas e
magos maus, e para defender a colheita.
Ninguém se dizia bem-andante, mas nascia assim. Todas as crianças que
viessem ao mundo de "camisa", ou seja, cobertas por uma película
placentária, como se fosse uma roupa, eram potenciais bem-andantes, desde que
guardassem a membrana e a levassem sempre consigo. Em geral, os futuros xamãs
eram avisados do futuro que lhes esperava por suas mães ou por um bem-andante
"ancião", que o visitava pessoalmente ou em sonho. Por volta dos 20
anos, nas noites de quinta-feira da quarta têmpora,20 eles eram
chamados em sonho por um "capitão" ou anjo. Quando chamados, seu
espírito abandonava o corpo e voava com o capitão. O destino era um campo onde
lhe esperava uma luta contra bruxas e magos malvados. Os bruxos bons lutavam
com ramos de funcho, os maus, com galhos de sorgo. Caso os primeiros vencessem,
a colheita daquele ano seria boa; se fossem os segundos, o ano seria péssimo.
Os bem-andantes eram vinculados com o máximo segredo a suas ações e
aos nomes de seus companheiros e dos bruxos adversários, sob pena de receberem
pauladas "em sonho" durante a noite. Na verdade, muitas vezes falavam
de suas atividades, por orgulho ingênuo ou para tirar alguma vantagem. A eles
era atribuída a capacidade de curar pessoas atingidas por encantamentos e de
reconhecer uma bruxa à primeira vista. As mulheres nascidas com a
"camisa" podiam falar com os mortos. Todos esses eram dons que podiam
trazer alguma vantagem econômica.21
Os inquisidores, durante os interrogatórios, tentavam insinuar
habilmente a suspeita de que "o anjo" visto pelos bem-andantes era
ninguém menos que o Demônio disfarçado e incluir nos relatos dos malfadados
xamãs elementos típicos do "sabá" das feiticeiras, como a presença de
"belas cadeiras", utilizadas pelo Diabo como trono, e de danças e
"diversões".
Os camponeses continuaram repetindo que apenas as bruxas se entregavam
a "diversões", enquanto eles se reuniam para promover o bem. Mas, no
final, cederam à pressão psicológica e às armadilhas das perguntas capciosas e
admitiram, ainda que renegando a própria fé, terem sido vítimas do Maligno.
Os autos dos processos contra os que nasceram com a "camisa"
registraram uma evolução ao longo dos anos. O retrato do bem-andante se afastou
cada vez mais daquele do "bruxo bom" para assumir o aspecto de bruxo
malvado, apóstata da fé e adorador de Satanás. O que impressiona é o fato de
muitos inquisidores investigarem cuidadosamente as pessoas que os bem-andantes
afirmavam ter visto em sonho. De qualquer modo, nenhum foi condenado pelo
simples "chamado em sonho".
As condenações da Inquisição contra os bem-andantes entre 1581 e 1705
foram, somando tudo, leves: muitos foram repreendidos ou tiveram de abjurar
publicamente, alguns foram detidos por poucos meses ou banidos temporariamente.
Apenas dois de 16 condenados foram exilados para sempre.22 O
bem-andante Michele Soppe morreu na prisão antes da sentença, talvez pelas
péssimas condições da detenção.23
Muitos processos foram interrompidos, muitos supostos bem-andantes
considerados inencontráveis não foram procurados. É provável que a Inquisição
estivesse mais preocupada com a infiltração das teses luteranas, cujos adeptos
foram identificados e perseguidos com eficiência e rapidez.
Além disso, entre o final do século XVI e a metade do século XVII, o
interesse dos inquisidores pelos sabás diminuiu, enquanto aumentou seu
ceticismo. Mas ainda que não tenha sido uma tragédia material, o fim dos
bem-andantes representou um crime cultural e significou a destruição da vida
para muitos acusados, obrigados a viver à margem da sociedade.
Xamãs europeus
Os bem-andantes não eram os únicos "bruxos bons" presentes
na Europa. Em 1692, na Letônia, Thiess, um homem de mais de 80 anos, declarou
aos juízes que era um lobisomem e que três noites por ano (Santa Lúcia,
Pentecostes e São João) os licantropos se transformavam em lobos e se dirigiam
ao Inferno para pegar dos diabos e dos bruxos maus os grãos da colheita que
estes haviam roubado. Os licantropos batiam nos bruxos com açoites de ferro,
enquanto estes, por sua vez, os expulsavam com cabos de vassoura.24
Thiess, irritado com as perguntas dos inquisidores, repetiu várias
vezes que os lobisomens eram "cães de Deus", que expulsavam o Diabo
com todas as suas forças e que, sem eles, este roubaria todos os frutos da
Terra. Os lobisomens russos e alemães faziam o mesmo. Thiess, que não voltava
atrás de suas declarações, foi, por fim, condenado a dez chibatadas.
As semelhanças com os bem-andantes do Friuli são evidentes. Talvez os
"nascidos com a camisa" e os licantropos letões representassem os
últimos remanescentes de um culto xamanista pré-cristão antes difundido em
várias áreas da Europa e que sobrevivera em algumas zonas marginais, como os
campos do Friuli e o extremo norte. Até hoje, na Istria ou na Dalmácia, há
terapeutas e "antibruxos" nascidos com a "camisa".25
No caso específico dos bem-andantes, talvez haja um elemento a mais de
originalidade. Segundo dom Gilberto Pressacco (1945-1997), seus ritos reuniriam
também elementos da tradição estática dos Terapeutas de Alexandria, veiculada
no Friuli através dos sermões de Ermagora, discípulo de São Marcos (de origem
alexandrina) e fundador da Igreja de Aquiléia.26 Assim como os
lobisomens, originalmente bons, foram transformados pela tradição cristã em
seres negativos, os bem-andantes acabaram sendo identificados com os próprios
demônios que combatiam.
PASMEM
FONTES PARA ESTUDO
1. De um cântico medieval
popular sobre a mulher, extraído de Vanna De Angelis, Le Streghe. Roghi,
riti,
processi e posizioni. Casale Monferrato, Edizioni Piemme, 1999, p. 161. 2.. J.M. Sallmann, Le
streghe: amanti di Satana. Paris, Universale Electa Gallimard, 1995.
3. Benazzi, D'Amico. Il
Libro Nero delllnquisizione. La ricostruzione dei grandi processi. Casale
Monferrato, Edizioni Piemme, 1998, p. 263-5.
4. Ibid.,p.261.
5. ibid., p. 256-7.
6. Ibid., p. 268.
7. J.M. Sallmannm, op. cit,
p. 81.
8. Vanna De Angelis, op.
cit, p. 269.
9. Tommaso Campanella, Del
senso delle cose e delia magia citado em Benazzi, D'Amico, op. cit, p.
268.
10. Benazzi, D'Amico, op. cit, p. 251-3.
11. Vanna De Angelis, op. cit, p. 382-3.
12. Citado em Benazzi, D'Amico, op. cit, p. 268.
13. A Igreja julgava se uma bruxa estava mais ou menos possuída pelo
demônio, mas se sua bruxaria tivesse causado danos a propriedades ou pessoas,
ela era julgada por um tribunal civil.
14. Benazzi, D'Amico, op. cit, p. 269.
15. Vanna De Angelis, op. cit, p. 28-29.
16. C. De Vesme, Ordalie, roghi e torture, Gênova, Fratelli
Melita Editori, 1987.
17. Provérbios XVI, 33.
18.G.G. Merlo, Eretici ed eresie medievali, Bolonha, Il Mulino,
1998.
19. Cario Ginzburg, I benandanti: stregoneria e culti agrari tra
Cinquecento e Seicento. Tunm, Einaudi, 1966, p.4.
20. Chamam-se têmporas os três dias de jejum prescritos pelo
calendário eclesiástico na primeira semana da Quaresma (têmpora de
primavera), na oitava de Pentecostes (têmpora de verão), na terceira
semana de setembro (têmpora de outono) e na terceira semana do Advento (têmpora
de inverno).
21. Para um maior aprofundamento sobre o fenômeno dos bem-andantes,
reportamo-nos às seguintes obras: Cario Ginzburg, / benandanti: stregoneria
e culti agrari tra Cinquecento e Seicento, Einaudi, Turim, 1966. Franco
Nardon, Benandanti e inquisitori nel Friuli dei Seicento, Edizioni
Università di Trieste, Trieste,1999.
22. Franco Nardon, op. cit, p. 138.
23. Cario Grinzburg, op. cit, p. 181.
24. Ibid.,p. 47-51.
25. Franco Nardon, op. cit, p. 94.
26. Raffaella Paluzzano e Gilberto Pressacco, Viaggio nella notte
delia Chiesa di Aquiléia, Udine, Gaspari Editore, 1998.