Deixo claro que trago o
texto abaixo não para falar mal do petismo, embora eu também esteja descontente
com alguns métodos de jogo político do PT, mas sim para tornar mais público o
protesto de Gerardo contra a ateofobia de Frei Betto.
por Gerardo Xavier Santiago
Senhor Carlos Alberto Libânio Christo, escrevo
esta carta para manifestar a minha profunda indignação com o seguinte trecho de
seu artigo publicado na Folha de São Paulo em 10 de outubro deste ano de 2010,
intitulado “Dilma e a fé cristã”: “nossos torturadores, sim, praticavam o
ateísmo militante ao profanar com violência os templos vivos de Deus: as
vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.”
Como sempre, o seu domínio da língua de Camões é
perfeito, o senhor realmente escreve com uma clareza solar. No afã de defender
a sua candidata a presidente da República, cuja campanha enfrenta óbvias
dificuldades, o senhor compara a prática hedionda e inumana da tortura ao ateísmo
militante. Eu sou ateu militante, membro colaborador da ATEA, uma associação
brasileira de ateus e agnósticos. O senhor me comparou a um torturador!
Senhor Carlos Alberto, eu nunca pertenci a
nenhuma organização totalitária, como a Juventude Hitlerista, por exemplo. E
não o faria nem que me pendurassem no pau-de-arara, me dessem choques, me
afogassem e me matassem. Com dezessete anos de idade dava o lombo aos
cassetetes e respirava gás lacrimogêneo nas ruas para que o senhor fosse
anistiado e para restaurar as liberdades democráticas no Brasil. Ajudei
a construir o PT e a levar o seu amigo Lula ao Planalto. Felizmente há três
anos estou rompido com esse partido e esse governo, que prostituíram os meus
sonhos de juventude na lama dos mensalões e na aliança com gente como o
ex-presidente Collor e outros similares.
Ao agredir dessa forma infame e injusta
aos que não partilham de sua crença em um deus, o senhor mostra a sua
intolerância e os seus pendores totalitários. Uma vez li algo que o
senhor disse ou escreveu (talvez em seu livro “Calendário do poder”), no
sentido de que não é por ser um frade dominicano que o senhor teria que
carregar nos ombros a culpa pelas atrocidades da Inquisição. Pelo seu artigo
percebo que é verdade. O senhor traz consigo o espírito da Inquisição sem
nenhuma culpa por isso.
Gerardo Xavier Santiago, advogado, militante
do PT entre 1980 e 2007, ateu, atualmente sem partido