Falar das posições
(e ações) da Igreja durante o século XX é uma tarefa árdua, pois os fatos ainda
são recentes e estão encobertos por muitos mistérios, silêncios e omissões.
Por exemplo, existe
um envolvimento da Igreja nos crimes perpetrados durante a ditadura nazista,
mas seu papel no extermínio de judeus e homossexuais ainda precisa ser
reconstruído com precisão.
Deixando de lado
seu papel ativo, a falta de condenação já diz bastante sobre a posição
ideológica da Santa Sé. No que diz respeito às mais sanguinárias ditaduras
sul-americanas, a Igreja sempre optou por adotar posições instrumentais e
oportunistas.
Todos se lembram do
abraço entre Pinochet e o papa Woityla, bem como da oposição à Teologia da
Libertação. A aprovação ou participação ativa de religiosos nos massacres
mereceria ser tratada em um livro inteiro, com trechos dedicados às causas e
reviravoltas geopolíticas em parte ainda não questionadas.
Ainda não
conhecemos (ao menos não oficialmente) qual foi a verdadeira causa da morte de
Albino Luciani, João Paulo I, morto com apenas 33 dias de pontificado.
E ainda há a grande
e controversa história das questões econômicas e financeiras do Vaticano: o
Instituto de Obras Religiosas, o caso do Banco Ambrosiano, a história de
Roberto Calvi, mas também a de Michele Sindona e, principalmente, de Paul
Marcinkus, então presidente do Banco do Papa. Uma história de mortes, furtos e
lavagem de dinheiro.
Até hoje não se
conhecem os verdadeiros mandantes e o verdadeiro motivo do atentado contra o
papa e suas conseqüências internacionais, do desaparecimento de Emanuela
Orlandi e Mirella Gregori, e da morte dos guardas suíços, passando por aspectos
obscuros de instituições como a Opus Dei.
Nos últimos trinta
anos, o Vaticano acumulou uma infinidade de segredos e mistérios dificilmente
decifráveis.
Pequeno Estado,
grande Império
O Vaticano é hoje
um Estado minúsculo, de apenas 0,44 quilômetros quadrados, inserido no coração
de Roma e com pelo menos oitocentos habitantes. Estamos bem longe da expansão
territorial de poucos séculos atrás, mas o pequeno Estado, hoje, tem mais poder
do que nunca, pois controla um bilhão de fiéis em todo o mundo. Na cabeça deste
Império está o papa, um verdadeiro monarca ladeado pela Cúria composta de 2.300
pessoas que cuidam de todos os interesses da Santa Sé no mundo. Uma teocracia
absoluta.
O Vaticano possui
ramificações e emissários em toda parte. Está envolvido não só na história
espiritual do planeta, mas também nas decisões políticas e nas escolhas
operacionais, ora apoiando, ora obstruindo os vários poderes que se alternam.
Seus objetivos se mostram pontualmente utilitaristas.
A Igreja e o
nazismo
Nos últimos tempos
surgiu uma nova discussão sobre a figura do papa Pio XII (1939-1958) e de seu
possível envolvimento no nazismo e no extermínio de judeus.
No final de
novembro de 2005, uma comissão católico-judaica internacional, criada em
outubro de 1999 e composta por seis historiadores (três judeus e três católicos),
não foi capaz de dar uma resposta satisfatória, formulando, ao contrário, 47
perguntas sobre o pontificado do papa Pacelli. Dentre elas: por que o Vaticano
não condenou o pogrom nazista de 1938 contra os judeus? O papa tinha
conhecimento do extermínio de judeus? Como os fundos colocados à disposição por
uma organização judaica americana acabaram sendo usados pela Igreja para salvar
judeus convertidos, e não todos os perseguidos? E quanto aos ciganos, negros e
homossexuais? A falta de desculpas da Igreja a estas minorias é uma aprovação
ao massacre.
É verdade que o
papa deu sua aprovação ao anti-semitismo de Pétain em Vichy? Por que durante o
famoso discurso do Natal de 1942 o papa condenou as violências nazistas, mas
sem fazer menção aos judeus? Por que a Santa Sé se opôs à transferência dos
judeus para a Palestina?
Segundo um
relatório secreto redigido pelo então embaixador americano junto à Santa Sé,
Harold Tittmann, sobre sua audiência com o papa em 30 de dezembro de 1942,
Pacelli lhe revelou que considerava exageradas as notícias sobre as atrocidades
nazistas contra os judeus.
No encontro de 40
minutos, o papa disse não estar disposto a denunciar explicitamente os
nazistas. Ele demonstrou "temer" que as notícias sobre as atrocidades
pudessem ter fundamento, mas "também me deixou entender que estava
convencido de que os Aliados haviam exagerado por razões de propaganda", o
diplomata americano contou no relatório de quatro páginas, carimbado como top
secret e apenas recentemente revelado pelos arquivos públicos americanos.1
A Igreja ainda hoje responde a essas perguntas com o silêncio, chegando a
permitir, ironicamente, que a comissão só consulte os arquivos vaticanos até
1922. Outra resposta significativa a essas perguntas foi a canonização do papa
Pio XII por parte de João Paulo II.
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