Guerra Santa, a idéia de que matar um infiel era não só um ato lícito, como também abençoado por Jesus.
Os pobres irrompem na história.
Cátaros, patareus, albigenses, frades, apostólicos, dulcinistas,
beguinos... Tantos nomes, tantas facetas de um grande fenômeno. Um gigantesco
movimento de pessoas que reivindicavam uma Igreja livre das rédeas do poder e
se chocavam com a prepotência dos nobres. Contra eles, a resposta do rei e dos
prelados será impiedosa: torturas, execuções e até verdadeiras guerras.
Os anos entre os séculos X e XI
viram a extrema decadência do papado, a submissão das hierarquias eclesiásticas
à autoridade imperial e uma corrupção geral da Igreja. A simonia (pecado que
consiste na compra e venda de absolvições, indulgências e benefícios
eclesiásticos e em seu uso para enriquecimento pessoal) e o concubinato do
clero foram um grande problema para a Igreja, tanto que, em dado momento, um
conselho declarou os eclesiásticos simoníacos (1075).
Outro elemento de corrupção da Igreja era a instituição dos
bispos-condes. Como já foi dito antes, o Império Romano do Ocidente (ou o que
restava dele) e vários reinos cristãos haviam repartido seus próprios domínios
em feudos (marquesados, condados, ducados etc.), confiados aos vassalos ou
senhores feudais. Teoricamente, os vassalos eram apenas funcionários, que
podiam ser exonerados de suas funções a qualquer momento. Com o tempo, no
entanto, principalmente os senhores feudais maiores tendiam a se considerar
donos absolutos do território a eles designados e tinham conquistado o direito
de passá-los aos filhos.
Os imperadores resolveram o problema confiando feudos aos eclesiásticos,
que, fazendo voto de castidade, não podiam ter descendentes legítimos. Mas quem
ordenava os bispos? Hoje, a resposta parece óbvia: os bispos são nomeados pelo
papa ou uma autoridade eclesiástica. Mil anos atrás, a questão não era tão
simples. Na Alemanha e no norte da Itália, os bispos eram investidos pelo
imperador, por costume antigo. Obviamente, este escolhia os colaboradores mais
capazes e confiáveis. Não é necessário dizer que os bispos-condes se
comportavam mais como administradores de patrimônios do que como pastores de
almas, e que eram mais fiéis ao imperador do que à Igreja.
No século XI, começou uma queda-de-braço entre o papado e o Império, que
entrou para a história com o nome de "Luta pela Investidura" e que
duraria quase um século, terminando apenas com a vitória da Igreja de Roma.
O contraste entre os dois potentados se acendeu mais sob o pontificado
de Gregório VI (1073-1085), eleito graças também à pressão de uma revolta
popular. Expoente dos movimentos reformistas, Gregório impôs a doutrina da
autonomia e da autoridade absolutas do papa sobre toda a Igreja e da submissão
de todos os cristãos, reis e também imperadores à autoridade espiritual.
Conseqüentemente, não só o poder de consagrar os bispos era uma prerrogativa
absoluta do papa, bem como os bens temporais por eles administrados deveriam,
de algum modo, passar para a jurisdição da Igreja de Roma.
O imperador Henrique IV, em 1076, convocou em Worms um concilio de
bispos alemães, que declararam a destituição do papa. Este respondeu
excomungando o imperador e isentando seus súditos da obrigação de fidelidade.
Os príncipes alemães logo aproveitaram a ocasião para se rebelar, e o imperador
foi obrigado a pedir o perdão papal.
Em 1077, enquanto se hospedava no castelo de Canossa, Gregório VII
recebeu a visita do imperador, que teve de esperar por três dias do lado de
fora das muralhas, com roupas de penitente. O papa concedeu o perdão, mas o ato
não pôs fim à rebelião.
Derrotado pelas tropas rebeldes e mais uma vez excomungado, Henrique IV
jogou com tudo que tinha. Com os soldados que lhe permaneceram fiéis, desceu
até a Itália, ocupou Roma militarmente (1084) e nomeou um antipapa, Clemente
III, que, por sua vez, o coroou imperador.
Pouco depois, chegaram a Roma as tropas normandas, aliadas ao papa, que
expulsaram as imperiais, mas causaram tanta devastação à cidade que os romanos
se rebelaram contra o próprio pontífice, que morreu no exílio no ano seguinte.
Henrique IV moveu seus exércitos também contra o papa Urbano VIII
(1088-1099) e Pascoal II, sendo, em ambos os casos, detido por uma rebelião: a
primeira, sob liderança de seu primogênito, Conrado; a outra, de seu
segundo filho, Henrique V.
Este, ao suceder o pai, desceu à Itália em 1110, ocupou Roma, mandou
prender o papa Pascoal II (1099-1118), junto com os cardeais, e o obrigou a coroá-lo
imperador.
A luta pela investidura só terminou com a concórdia de Worms, de 1122. O
imperador renunciava ao direito de nomear os bispos, mas mantinha o de
presenciar sua eleição e de garantir-lhes os benefícios feudais. Era
reconhecida formalmente a supremacia espiritual do pontífice, enquanto, na
prática, o imperador ainda possuía amplo poder de intervenção na escolha dos
bispos.
Os movimentos
reformistas
Em reação contra a corrupção na Igreja, surgiram dois movimentos
reformistas de origem diversa, um do tipo monástico, outro popular. O movimento
monástico era o cluniacense, cujo nome provém do mosteiro francês de Cluny,
fundado em 910, que envolveu as ordens regulares dos beneditinos, dos
cistercienses, dos cartusianos, dos camáldulos, além de boa parte do clero e
muitos leigos. Os cluniacenses lutavam pelo renascimento da moral da Igreja e
pela sua volta à qualidade de guia espiritual. Acreditavam que poderiam obter o
resultado desejado reforçando a autonomia e a autoridade do papado.
Além desse, havia um movimento político-religioso de origem popular que
lutava contra o excesso de poderes dos feudatários eclesiásticos e por uma
Igreja mais próxima dos pobres. Em Milão, ele criou o fenômeno da
"pataria", do qual falaremos mais adiante. O termo "popular"
não deve suscitar mal-entendidos: na época, o "povo" era formado
pelos membros das classes que hoje podemos considerar burguesas. Podemos,
portanto, imaginar que não lhes faltassem elementos dotados de iniciativa,
cultura e meios econômicos.
O inimigo comum dos cluniacenses e patarinos eram os bispos-condes,
independentes demais em relação ao papa e dependentes demais do imperador. E
foi contra este último adversário que se criou uma aliança inédita. Em Milão,
expoentes do clero (dentre eles o futuro pontífice Alexandre II) entraram na
pataria. Em Florença, os monges reformistas instigaram uma rebelião contra o bispo
simoníaco Pietro Mezzabarba. "Os cidadãos se transformaram de cordeiros em
feras", observava, desconsolado, o bispo de Alba. Mas os monges reformistas
não ignoravam os "planos elevados": muitos brilhantes membros do movimento
se plantaram na corte papal.
O sonho dos cluniacenses foi coroado com a eleição de um deles para
papa: Gregório VII (1073-1085). Gregório, que fora eleito graças também à
pressão do povo de Roma, teorizou e tentou colocar em prática a autoridade
absoluta do papa no corpo da Igreja, além da primazia do poder espiritual sobre
o temporal.
A pataria e os movimentos afins foram um instrumento útil para subtrair
o poder dos bispos-condes e reforçar a autoridade central da Igreja de Roma.
Mas agora que o objetivo fora alcançado, a "ralé" não tinha mais
utilidade e devia voltar ao seu lugar, por bem ou por mal. Após um primeiro
momento de moralização e aproximação, a Igreja se afastou ainda mais dos
pobres, que, em teoria, deveria ter defendido.
Em 1200, o papa já havia se tornado um soberano sob todos os aspectos,
talvez um dos mais poderosos soberanos europeus, que, como todos os outros
regentes, tinha pretensões territoriais, firmava tratados, fazia e desfazia
alianças. Um soberano que, com as Cruzadas, podia mandar exércitos para a
guerra e influenciar pesadamente os reis e imperadores católicos com a arma da
excomunhão (que na época incluía, também, a perda de todos os direitos).
Os bispos-condes, ainda que nomeados em Roma, continuavam a deter nas
próprias mãos a pastoral, símbolo do poder espiritual e o cetro do poder
feudal, e possuíam em suas dependências exércitos, vassalos e servos da gleba.
Os conventos eram proprietários de imensas riquezas e latifúndios, que geriam
com ampla autonomia com relação ao poder estatal, verdadeiros Estados dentro
dos Estados (algumas ordens, como a dos Cavaleiros de Malta, gozam ainda hoje
da extraterritorialidade em seus palácios). Não era incomum que altos
eclesiásticos assumissem funções de destaque nas dependências dos vários
soberanos europeus.
Tudo isso só provocava uma crescente corrupção do clero, cada vez mais
ocupado com a gestão dos próprios bens temporais e sempre menos atento à própria
missão de guia espiritual, tornando a carreira eclesiástica atraente para as
pessoas erradas e pelos motivos errados. A situação não era melhor no clero
menor, formado não raro por pessoas rudes, ignorantes e corruptas, às vezes até
analfabetas e certamente menos eloqüentes e menos fiéis às Escrituras do que
muitos pregadores "hereges".1
Apenas para entender qual era o fermento da época contra o clero, eis o
que escreve Pierre Cardenal, poeta do século XIII, sobre os eclesiásticos.
Sua pobreza não era
de espírito:
guardam o que é seu
e pegam o que é meu.
Para túnicas, usam
tecidos de lã inglesa,
deixam o cilício
muito áspero.
E não dividem suas
vestes
como fazia São
Martinho.
Mas as esmolas com
as quais se mantém
a gente pobre,
querem todas para eles.
Com roupas leves e
largas, com a capa passada,
fina no verão,
grossa no inverno,
com sapatos
delicados — de solas francesas
quando faz frio —
de couro marselhês,
sempre amarrados
com maestria —
pois mal-amarrado é
imperdoável —
vão pregando, com
seu sutil saber,
que para servir a
Deus devemos dar o coração e os bens.
Se fosse marido, eu
teria medo
se um homem sem
meias se sentasse próximo à minha mulher...2
As Cruzadas, que na época já provocavam o horror de muitos crentes,
afetaram a cristandade com outro veneno poderoso: o conceito de Guerra Santa, a
idéia de que matar um infiel era não só um ato lícito, como também abençoado
por Deus. Qualquer um que pregasse o retorno a uma Igreja mais simples, mais
pobre, não comprometida com o poder, corria o risco de se ver, apesar de tudo,
declarado herege e inimigo da Igreja.
Por todos esses motivos, uma massa crescente de pessoas se afastou da
instituição eclesiástica para se aproximar dos movimentos heréticos, cujos
líderes eram os primeiros a colocar em prática os preceitos da pobreza e da
caridade que pregavam. As heresias medievais, em muitos casos, eram verdadeiros
movimentos populares que uniam, aos sermões religiosos, a prática de um estilo
de vida solidário e igualitário.
Em alguns casos, os hereges professavam efetivamente uma doutrina
diferente da "oficial", mas, em outros, a acusação de heresia tinha
apenas finalidades políticas, como no conhecido caso de Joana d'Arc.
Os
"pobres" hereges e os católicos
"O que inicialmente distinguia São Francisco de Pierre Valdo? Ambos
queriam se desfazer dos próprios bens e devolver à Igreja sua simplicidade
primitiva, mas um é venerado em todas as igrejas do mundo católico, enquanto o
outro foi tachado de herege."3
Talvez o pontificado de Inocêncio III (1198-1216) tenha marcado o ápice
do poder político do papado na Europa. Um papado que, no entanto, precisou
enfrentar uma grave ameaça: os pregadores cátaros e valdenses que obtinham um
sucesso crescente. Os cátaros (apoiados pelos nobres locais) chegaram a criar,
no sul da França, uma Igreja alternativa, que corria o risco de superar a
oficial. Para conter o perigo, Inocêncio III atuou em duas frentes: primeiro
acolheu na Igreja movimentos como o dos franciscanos, que criaram sua própria
regra de pobreza, desde que se submetessem à autoridade do pontífice; criou uma
congregação de "pobres católicos" rival à dos valdenses. "Uma
das maiores instituições de Inocêncio III foi a compreensão de que a capacidade
de conseguir adeptos junto aos cátaros era exatamente a vida humilde, escondida,
pobre. Quando o papa se viu diante dos fenômenos franciscano e dominicano,
intuiu que o caminho da pobreza podia 'salvar a Igreja', enquanto tinha também
o poder de destruí-la. Se o poder eclesiástico era acusado de não abraçar mais
o mandamento da pobreza de Cristo [...] o aparecimento de homens fiéis às
instituições e capazes de retomar a genuinidade das origens podia lhe devolver
a credibilidade." (Benazzi D'Amico, 1998, p. 33.)
Ao mesmo tempo, ele puniu impiedosamente as heresias, encorajou Domingos
de Gusmão (o futuro São Domingos) a pregar contra elas no sul da França e
ordenou que os bispos procurassem os hereges e os reconduzissem ao seio da
Igreja ou os punissem de forma exemplar. Inocêncio III foi o promotor da famosa
Cruzada contra os cátaros.
Com o passar do tempo, os vértices da Igreja acabaram considerando
perigoso o próprio conceito de "pobreza evangélica". Se Inocêncio III
e Honório III reconheceram as Regras das Ordens mendicantes (franciscanos e
dominicanos), um século depois, João XXII decretou herética a afirmação de que
"Cristo e seus apóstolos nada possuíam".4
As cidades-Estado
Dentre as mudanças anunciadas da nova época, há uma que com certeza não
é menos importante: um crescente número de camponeses deixava a condição de
servos da gleba e incrementava a população e a disponibilidade de mão-de-obra
das cidades, onde se afirmava uma nova classe de mercadores, artesãos,
profissionais. Estes grupos, aliados a alguns expoentes da pequena nobreza,
dariam vida, por volta do final do século XI, a uma nova civilização, a das
cidades-Estado.
As cidades-Estado eram verdadeiras repúblicas autônomas que, aos poucos,
se libertavam do domínio dos feudatários, leigos ou eclesiásticos, e impunham
um ordenamento que podemos definir como democrático (ainda que os expoentes das
classes mais humildes e as mulheres fossem excluídos da vida política).
Sofrendo com a ingerência e as pretensões imperiais, logo surgiram
cidades-Estado nos territórios papais. A cidade-Estado de Roma, que nasceu em
1145, chegou a expulsar o pontífice de seus domínios. O descontentamento
popular se devia ao cansaço decorrente das contínuas guerras realizadas pelo
Estado pontifício e pela opressão das classes nobiliárias.
A revolução das cidades-Estado não foi apenas política e social, mas
também cultural. Se nos séculos anteriores a transmissão da cultura foi
monopólio do clero, a nova época viu o nascimento das universidades,
associações autônomas nascidas por iniciativa dos próprios estudantes e
professores (só depois a Igreja tomaria o controle dessas novas instituições,
através da infiltração em massa de docentes dominicanos e franciscanos).
Nas cidades nascia, em número cada vez maior, um novo grupo intelectual
de funcionários e profissionais de formação "leiga". Nos atos públicos
e comerciais, mas também na produção artística, o "vulgar" (ou seja,
a língua do povo) era cada vez mais difundido, em detrimento do latim (língua
escrita dos doutos, do clero e dos juristas).
A independência política, econômica e cultural das cidades-Estado
permitiu também um grande grau de tolerância para com os movimentos e
pregadores hereges (desde que não contestassem o poder das novas classes
dirigentes) e uma maior liberdade de pensamento e de expressão. E no momento em
que a ingerência papal era vista como um perigo, algumas adotaram sérias
restrições contra a Igreja, chegando mesmo a proibir que seus cidadãos tivessem
relações com o bispo.
O herege Arnaldo de Bréscia pregou ser incomodado na cidade-estado de
Roma. O papa Honório III (1216-1227) definira Brescia como "a sede da
heresia", e Milão era "um fosso cheio de hereges". A cidade de
Gênova foi condenada pelo bispo de Toulouse por se recusar a introduzir no
próprio ordenamento leis contra os hereges.
Um panorama das
heresias medievais
Apresentaremos, a seguir, uma lista de alguns dos mais significativos
personagens e movimentos hereges da Idade Média. A lista não pretende ser
completa, mas permite reconstruir, graças também à bibliografia especializada e
aos exemplos retratados no apêndice, o clima geral da época.
"Ou beije a cruz, ou se jogue no fogo": os hereges de
Monforte
Os hereges de Monforte, para a Igreja, eram culpados de graves crimes:
praticavam a castidade, sujeitavam-se ao jejum e eram vegetarianos. Mas a coisa
mais escandalosa era que seus bens eram comuns a todos. Centenas deles foram
queimados.
Por volta de 1028 (a data não é precisa), o arcebispo e feudatário de
Milão, Ariberto, visitou a diocese de Turim, que na época era dependência sua.
Lá, soube do surgimento de um movimento herético no castelo de Monforte, na
diocese de Asti. Preocupado, chamou um homem da comunidade para ter informações
a respeito de suas atividades. Apresentou-se, então, um tal Gerardo, que
ilustrou a vida da comunidade: eles davam grande valor à castidade, havia
pessoas casadas que faziam voto de virgindade perpétua; nunca se alimentavam de
carne e realizavam ipium continuamente. Os maiores se revezavam nas
rezas durante o dia "para que nunca houvesse um instante sem
orações".5 Finalmente, seus bens eram todos comunitários.6
As declarações de Gerardo sobre a Trindade eram heterodoxas, mas o que
chamou a atenção do arcebispo foi que, ao ser perguntado sobre a fé na Igreja
de Roma, Gerardo respondeu que eles não acreditavam no bispo de Roma, mas em seu
próprio pontífice, "que todos os dias visita os irmãos espalhados pelo
mundo".7 No final do interrogatório, o arcebispo mandou seus
soldados ao castelo de Monforte com a ordem de prender todas as pessoas que ali
encontrassem. Dentre os prisioneiros, estava a condessa Berta, senhora do
castelo, que demonstrara simpatia pelo movimento.
Os hereges de Monforte foram levados a Milão, onde o arcebispo pretendia
vigiá-los de perto e tentar, com calma, fazê-los cair em si. Mas o tiro saiu
pela culatra: os integrantes começaram a pregar também em Milão, e a cada dia
atraíam multidões de pessoas da cidade e dos campos próximos.
Os nobres locais, então, decidiram recorrer à força. Em uma grande
praça, foram instaladas uma cruz e uma fogueira, e todos os hereges de Monforte
tiveram de escolher: ou abraçar os pés da cruz e voltar à Igreja Católica, ou
se jogar no fogo. Alguns abraçaram a cruz e abjuraram, mas a maioria (algumas
centenas) cobriu o rosto com as mãos e se jogou no fogo. Até poucos anos atrás,
a praça onde a execução foi realizada se chamava Piazza Monforte.
De acordo com os cronistas da época, a decisão de matar os hereges foi
tomada por leigos notáveis da cidade (feudatários dos campos milaneses e
administradores dos bens da Igreja), impondo-se ao próprio arcebispo, que teria
preferido continuar a obra de persuasão e conversão. O que assustava os
senhores locais não era tanto a heresia doutrinária, mas a mensagem de
igualdade que os "monfortenses" pregavam.
É provável que aquela tenha sido uma das primeiras comunidades cátaras,
um movimento herege que, nos dois séculos seguintes, atingiu proporções
gigantescas e ameaçou, em várias regiões da Europa, a própria hegemonia da
Igreja de Roma.
Os patarinos
A pataria foi um movimento social e religioso que se desenvolveu em
Milão por volta do início do século XI. Os patarinos lutavam contra os
desmandos do arcebispo Guido, senhor de Milão e nomeado pelo imperador, e de
seus vassalos e contra um clero profundamente corrupto (em Milão, por exemplo,
existia um verdadeiro tarifário das prestações eclesiásticas). O nome
"pataria" se deve ao mercado milanês de tecidos, e os seguidores do
movimento foram pejorativamente chamados de "patarinos" ou
"esfarrapados".
O líder da revolta foi o diácono Arialdo, ao lado de um padre, Anselmo
de Baggio (o futuro papa Alexandre II, 1061 -1073), e de um clérigo, Landolfo.
Arialdo e Landolfo, excomungados pelo arcebispo para não se apresentarem diante
de um concilio convocado pelo próprio Guido, recorreram ao papa, ameaçando
chegar, se necessário, a um cisma da Igreja milanesa. Roma interveio a favor
dos patarinos e, em 1066, excomungou o arcebispo Guido.
Guido, que contava com apoio do imperador, rejeitou a excomunhão e
acusou os patarinos de querer a autonomia da Igreja milanesa, sujeitando-a à
romana. Eclodiram tumultos e embates entre os adeptos das duas facções.
Arialdo, obrigado a fugir de Milão, foi capturado e morto pelos matadores dos
nobres feudais.
Erlembaldo, irmão de Landolfo, assumiu, assim, a liderança do movimento,
expulsando Guido da cidade e se vingando furiosamente em seus seguidores.
Guido, considerado o mandante do homicídio de Arialdo, foi obrigado a se
exonerar em 1067.
O conflito se reacendeu quando o imperador Henrique IV da Alemanha,
atacou o subdiácono Godofredo, do arcebispado.
Em 1072, os patarinos elegeram um bispo alternativo, o clérigo Antão. O
papa Alexandre II (de origem patarina) confirmou a nomeação, e o movimento
conseguiu impedir a entrada do bispo imperial na cidade. O papa Gregório VII,
que sucedeu Alexandre II em 1072, conseguiu entrar em acordo com Henrique para
dar uma solução pacífica à questão. Mas um incêndio desastroso que aconteceu em
Milão naquele ano, e que foi atribuído aos patarinos, fez eclodirem novos
tumultos, nos quais foi morto Erlembaldo, marcando, assim, o declínio do
movimento.
Marginalizada sob o ponto de vista político-social, a pataria foi
derrotada também no âmbito doutrinário. Se os patarinos afirmavam que
sacramentos dados por sacerdotes indignos não eram válidos, a Igreja de Roma
adotou oficialmente uma posição conciliatória: confirmou a condenação dos
comportamentos simoníacos, mas admitiu a validade dos sacramentos, ainda que
celebrados por oficiantes corruptos.
Um século depois, os cátaros também acabaram por receber a denominação
pejorativa de "patarinos", que se tornou, para todos os efeitos,
sinônimo de "hereges"
Os petrobrusianos
O nome vem de Pedro de Bruys, pregador do início do século XII, que
rejeitava o batismo de crianças (os adeptos de seu movimento eram rebatizados quando
adultos), a eucaristia e as liturgias como a missa e a oração para os defuntos.
Além disso, opunha-se fortemente à adoração da cruz: para ele, a partir do
momento em que ela foi instrumento da morte de Jesus, os cristãos deveriam
odiá-la, em vez de venerá-la.8 Ele e seus seguidores foram acusados
de profanar igrejas e queimar cruzes. Morreu queimado vivo por volta de 1135.
Tanquelmo e Arnaldo
de Bréscia
O holandês Tanquelmo afirmava que a autoridade do papa não era absoluta
e que os sacramentos não eram válidos se celebrados por clérigos corruptos. Foi
acusado (mas provavelmente era calúnia) de propagar o amor livre. Foi preso
pelo arcebispo de Colônia e morto em 1115, durante uma tentativa de fuga.9
Arnaldo de Bréscia, sacerdote de vida exemplar, afirmava que nenhum
membro do clero deveria possuir bens ou exercitar poder temporal. Ele também
era contrário ao batismo de crianças e declarava inválidos os sacramentos
celebrados por sacerdotes indignos.
Por causa de suas idéias, foi banido várias vezes e precisou vagar pela
Europa. Em 1145, chegou a Roma e, graças a seu carisma e eloqüência, tornou-se
um dos conselheiros políticos e espirituais da cidade-Estado de Roma, sorteado
alguns anos antes para a função de antipapa. De acordo com um cronista da época,
Arnaldo "criticava abertamente os cardeais, dizendo que suas assembléias
[...] não eram a Igreja de Deus, mas um mercado e uma espelunca de ladrões
[...] Nem o papa era o que dizia ser, homem apostólico e pastor de almas, mas
um homem sanguinário cuja autoridade tinha por base incêndios e homicídios,
torturador das igrejas, perseguidor da inocência, que no mundo só servia para
envergonhar as pessoas, enchendo o próprio cofre e esvaziando os dos
outros" (Merlo, 1989, p. 35).
Sua popularidade lhe permitiu atuar por anos em Roma sem ser perturbado,
até que, em 1155, o papa Adriano IV conseguiu mandá-lo ao exílio com a ameaça
de publicar um "interdito" contra a cidade, uma espécie de
"embargo religioso" que suspendia as atividades eclesiásticas sobre
seu território. O interdito ameaçava tirar da cidade o lucrativo mercado de
peregrinos.
Enquanto fugia de Roma, Arnaldo foi capturado pelas tropas de Frederico
Barba-Ruiva, que o entregou ao papa. Foi enforcado, e, por medo de que surgisse
um culto popular em torno de seus restos mortais, seu corpo foi cremado, e as
cinzas, jogadas no Tibre. Seus seguidores, os arnaldistas, continuaram, no
entanto, a arrebanhar adeptos por anos, até se juntarem aos valdenses.
Os cátaros
Embora conhecidos por vários nomes — albigenses, patarinos,
concorrenzzianos10 —, preferiam ser chamados de "cátaros",
os "puros", do grego katharos. Eram ascetas e pacifistas, e
seus sacerdotes não possuíam riquezas. Os cátaros tinham uma concepção dualista
do mundo, herdada dos bogomilos:11 o espírito é o bem e a matéria é
o mal. Rejeitavam a doutrina da encarnação (já que a matéria é má, Deus não
podia ser Jesus encarnado), o matrimônio, a procriação, e observavam longos e
rigorosos jejuns. Praticavam uma espécie de batismo espiritual com a imposição
das mãos. Tinham um "clero" próprio formado por "maiores"
(bispos), presbíteros (padres) e diáconos. Além disso, distinguiam entre
"perfeitos" (os plenamente adeptos à seita, com todas as obrigações
vinculadas) e "crentes" (uma espécie de "simpatizantes" a
quem os cátaros permitiam a adesão formal aos ritos da Igreja Católica).
A heresia cátara era muito difundida na França meridional, a ponto de
quase prevalecer sobre o catolicismo. Várias comunidades estavam presentes
também na Itália e na Espanha setentrional, nos territórios eslavos e em
Constantinopla. Os cátaros (como os primeiros cristãos) estavam presentes
sobretudo nos centros urbanos. A população era conquistada por seu ascetismo e
moralidade, muito maior do que a do clero ortodoxo. Aceitavam apenas uma parte
das Sagradas Escrituras e consideravam a Igreja de Roma uma criatura do
demônio. Assim, em 1167, fundaram uma verdadeira Igreja alternativa, com um
concilio internacional numeroso no sul da França.12 Os cátaros
gozavam do apoio dos nobres provençais, que sonhavam em se apoderar dos bens da
Igreja e temiam seu poder.
Em 1179, o Terceiro Concilio de Latrão estendeu os benefícios previstos
para os cruzados da Terra Santa a quem empunhasse armas contra os hereges do
sudoeste da França. Era a primeira vez que se ordenava uma Cruzada contra os
cristãos.13
Em 1208, o papa Inocêncio III, preocupado com o crescimento contínuo da
influência dos cátaros, renovou o chamado à Cruzada, prometendo de novo as
mesmas indulgências e os mesmos privilégios concedidos aos cruzados.14
Assim, dois anos depois, foi formado um exército de duzentos mil
cruzados, na maioria nobres do norte da França ansiosos por conquistar terras e
mercadorias às custas de seus colegas do sul. "Por vinte anos, a parte
mais civilizada da Europa — e, segundo alguns, também mais feliz —, a terra dos
trovadores, foi devastada por saques e destruições em larga escala."
(Christie-Murray, 1998, p. 155.)
A Cruzada teve episódios de grande fúria, como o massacre de Béziers, em
1209. Quando os cruzados conquistaram a cidade e perguntaram ao representante
do papa como poderiam diferenciar os católicos dos hereges, este respondeu:
"Matem todos. Deus reconhecerá os seus." "A cidade de Béziers
foi dominada, e como nossos homens não distinguiram dignidade, sexo ou idade,
quase vinte mil homens morreram sob a espada... a cidade foi saqueada e
queimada: assim a atingiu o admirável castigo divino." (Christie-Murray,
1998, p. 155.) Assim escreveram os representantes do pontífice, em um relatório
oficial ao papa sobre os acontecimentos.
O massacre de Béziers causou o autêntico repúdio da opinião pública da
época. Eis o que escreve o trovador provençal Guilhem Figueira, em seu
"Sirvente contra Roma", composto por volta de 1227:
Roma...
Seria bom privá-la
De cérebro,
pela vergonha que carrega no chapéu,
você e seus Citeaux — que massacraram
Béziers, e assustadoramente!15
Após Béziers, sucedeu-se a conquista de Carcassone, Narbonne e Toulouse.
A Cruzada se encerrou em 1229, com a tomada de Toulon e o tratado de Meaux, no
qual o conde Raimundo VII, de Toulouse, reconheceu o domínio do rei da França,
que lhe cedeu parte dos próprios territórios, e se reconciliou com a Igreja
Católica. O tratado também equiparou o crime de heresia ao de lesa-majestade.
Para provar sua boa vontade, em seguida, o conde mandou pessoalmente 80 hereges
à fogueira em Agen, em 1249.
Os cátaros sobreviventes se refugiaram parte na Itália setentrional,
parte nos Bálcãs, onde incrementaram as fileiras de uma Igreja dualista
autônoma hegemônica na Bósnia-Herzegóvina, que foi destruída pela invasão turca
do final do século XV.
Em 1244, o arcebispo de Narbonne, "seguindo as diretrizes
apostólicas" (ou seja, as ordens do papa Inocêncio IV), mandou para a
fogueira mais de duzentos hereges de ambos os sexos capturados após um ano de
sítio à fortaleza de Montségur. Enquanto isso, a Igreja desenvolveu uma
legislação para encorajar o "arrependimento". Em Milão, por exemplo,
o período de noviciado para os ex-hereges que quisessem entrar para a ordem dos
dominicanos foi reduzido. E houve ex-cátaros que se tornaram inquisidores e
perseguidores de hereges, como o dominicano Ranier Sacconi. No início do século
XIV, "a questão cátara já estava resolvida: os focos de resistência seriam
facilmente debelados pelos inquisidores". (Merlo, 1989, p. 98.)
Os valdenses
Estes devem seu nome a Pierre Valdo (ou Valdense), rico mercador de
Lyon, que abriu mão de seus bens, doando-os aos necessitados, e, em 1176,
reuniu um grupo de paupérrimos pregadores errantes. Gostavam de ser chamados de
"Pobres de Lyon" ou "Pobres no Espírito", e ao menos no
início puderam contar com certa simpatia por parte dos meios eclesiásticos.
Os valdenses atacavam a corrupção na Igreja romana e atribuíam o
sacerdócio a todos os fiéis, homens ou mulheres. Para eles, todo bom cristão
tinha o direito de pregar, absolver dos pecados e ministrar os sacramentos.
Rejeitavam a comunhão, as orações pelos mortos, as indulgências, a confissão, a
penitência, os hinos cantados, a recita de ladainhas em latim e a adoração aos
santos. Para eles, o homicídio e a mentira, qualquer que fosse, eram pecados
mortais, portanto, eram pecadores também os promotores das Cruzadas.
Os pastores valdenses se consagravam ao celibato e à pobreza e se
dedicavam aos sermões. Graças ao zelo missionário, sua crença se espalhou por
vários países da Europa Ocidental. Seu sucesso preocupou os vértices da Igreja,
que passaram da tolerância relativa à repressão. O próprio Valdo foi
excomungado em 1184.
O papa Inocêncio III percebeu a popularidade dos "Pobres de
Lyon" e, em 1208, tentou cruzar seu caminho, instituindo os "Pobres
Católicos", que, sob o controle da Igreja, tinham permissão para observar
todas as práticas valdenses julgadas ortodoxas.
A conduta dos valdenses era irrepreensível: eram trabalhadores operários
e humildes, vestiam-se de forma simples, esquivavam-se dos ataques de raiva e
evitavam as formas de prazer terreno, como a dança ou a reunião em tabernas.
Mas sua vida pacífica e popularidade não conseguiram salvá-los. Alguns acabaram
na fogueira em Estrasburgo, em 1212. O Concilio de Latrão os condenou
definitivamente em 1215, e em seguida tiveram de enfrentar também os ataques da
Inquisição, que prendeu centenas deles. Em 1393, foram queimados na fogueira
150 valdenses em um único dia. Dizimados, refugiaram-se nos Alpes, entre a
França e a Savóia.
Em 1484, Carlos I de Savóia empreendeu uma verdadeira guerra contra
eles, mas após as primeiras batalhas, vencidas pelos "hereges",
entrou em acordo com eles. Três anos depois, o papa convocou uma Cruzada contra
os valdenses.
O empreendimento teve grande sucesso, especialmente no lado francês: os
povoados valdenses foram incendiados, as famílias que haviam se refugiado nas
grutas foram retiradas e massacradas. Em uma caverna, dezenas de homens,
mulheres e crianças foram queimados vivos.16 Mas a repressão não
conseguiu acabar com eles.
Durante a Reforma Protestante, os valdenses tomaram partido dos
calvinistas, chegando, com seus sermões, até a Suíça. Reanimados pelo novo
clima, renovaram a verve missionária, atraindo para si outras perseguições.
Em 1545, o rei da França, Francisco I, organizou uma feroz repressão
contra eles, na qual milhares de pessoas foram mortas e povoados inteiros foram
destruídos. Entre 1560 e 1561, Manuel Filiberto de Savóia conduziu uma dura
guerra contra os valdenses. Estes, como outros "hereges" antes deles,
para defender suas idéias, sofreram uma transformação: de profetas desarmados a
hábeis guerreiros. Os habitantes das planícies foram abatidos, mas aqueles que se
encontravam nos vales conseguiram resistir e, em 1561, obtiveram o direito de
exercitar o próprio culto, ao menos em locais isolados, distantes dos
católicos.17 O novo clima gerado pela Contra-Reforma, no entanto,
mais uma vez dificultará suas vidas.
As Páscoas
Piemontesas
O período entre o fim do século XVI e a primeira metade do século XVII
viu crescentes pressões e verdadeiras perseguições contra os valdenses. O ápice
ocorreu em abril de 1653, com o massacre da Via Pellice, conhecido como
"Páscoa Piemontesa".
Em 24 de abril daquele ano, um exército de mais de quatro mil soldados
armados sob o comando do marquês de Pianezza ocupou os vales valdenses e
saqueou os povoados de San Giovanni e Torre, sem encontrar qualquer
resistência. Apesar dos atos de submissão dos "hereges" (que
aceitaram alojar as tropas católicas em suas próprias casas), Pianezza pôs a
ferro e fogo os povoados de Pra del Torno, Villar e Bobbio. As casas foram
saqueadas, os habitantes que não conseguiram fugir a tempo foram torturados e mortos.
Ao final dos massacres, em 3 de maio, Pianezza convocou uma cerimônia solene
durante a qual, na presença de seus homens e da população sobrevivente, mandou
fincar no chão uma cruz. Nos dias seguintes, o exército católico atacou outros
povoados da região, apesar da resistência armada de alguns cidadãos.
Em 1655, os Savóia foram obrigados a devolver aos valdenses pelo menos
uma parte dos direitos a eles subtraídos, sob pressão da opinião pública
internacional e de uma guerra comandada pelo líder camponês Giosuè Gianavello
(que em seguida escreverá um manual da guerrilha).
O exílio e o
glorioso repatriamento
Após a revogação do Edito de Tolerância de Nantes (18 de outubro de
1685), que colocara fim à série de guerras religiosas na França e regularizara a
posição dos huguenotes, os valdenses foram atacados conjuntamente por exércitos
de franceses e piemonteses. Pelo menos dois mil morreram em campo. Outros 8.500
foram capturados e aglomerados nas prisões em condições desumanas, onde
milhares morreram. Os sobreviventes estavam destinados a ser vendidos como
escravos. Outros três mil abjuraram sua fé e foram deportados para o
Vercellese. Apenas um núcleo isolado de irredutíveis resistia fortificado nos
vales.
Graças à mediação dos suíços, os prisioneiros sobreviventes puderam ser
expatriados, e os últimos bandos armados puderam se refugiar nos vales (mas os
pastores foram mantidos presos). Centenas deles morreram ou se perderam ao
longo do caminho para os Alpes.
Os exilados realizaram, em 1689, o Glorioso Repatriamento, que os levou
de volta às suas montanhas. Em grande segredo, na noite entre 16 e 17 de agosto
de 1689, um exército misto de milhares de soldados valdenses e huguenotes
armados atravessou o lago de Genebra. Em 27 de agosto, atravessaram a fronteira
saboiana e, com uma marcha rápida, em 9 dias chegaram a seu vale nas montanhas
piemontesas, pegando de surpresa as tropas do duque de Savóia.
Durante os primeiros embates, os valdenses levaram a melhor, apesar da
esmagadora superioridade numérica do adversário. Ao final, entre baixas em
combate e derrotas, apenas um estandarte de trezentos homens conseguiu passar o
inverno em seus vales. Um ano depois, estes mesmos combatentes conseguiram
escapar dos tiros de canhão e dos ataques de um exército de quatro mil dragões.
O duque de Savóia, então, aliou-se à Inglaterra protestante, libertou os
pastores presos e publicou um edito de tolerância. Os valdenses súditos de
Savóia precisaram esperar, entretanto, até 1848 para ver reconhecida a
igualdade total de direitos com seus conterrâneos católicos.
Já no início do século XIV, um núcleo de valdenses do Piemonte havia se
transferido às montanhas da província de Cosenza. A comunidade não parou de
crescer com as sucessivas chegadas. Outro núcleo de valdenses se estabeleceu na
Puglia, em Capitanata, no início do século XVI.
Sua existência, até então pacífica e tolerada, tornou-se bruscamente
mais difícil quando, após sua adesão à Reforma, decidiram dar novo impulso à
pregação pública do Evangelho, chamando pregadores externos. Este ativismo
renovado abriu os olhos da Inquisição. Dois pregadores foram presos e, após
serem levados a Roma, queimados na fogueira.18 Todos os outros
tiveram de abjurar.
Os valdenses de Guardiã e San Sisto, sem a intenção de abjurar, pediram
para emigrar para terras mais hospitaleiras, mas não obtiveram o consentimento.
Eles, então, pegaram em armas para se defender e, em abril de 1561, enfrentaram
e levaram a melhor sobre as tropas do Reino de Nápoles. A reação não tardou: em
28 de maio, as tropas governamentais atacaram os vilarejos valdenses com
permissão para matar impunemente homens, mulheres e crianças que resistissem à
captura. Os povoados foram saqueados e queimados; grande parte dos prisioneiros
foi morta no local, degolada ou jogada de uma torre. Os sobreviventes acabaram
diante de um tribunal misto composto de juízes reais e eclesiásticos que
culminou em 86 condenações à morte, logo executadas.
O balanço final da perseguição, redigido com meticulosidade pelo
vice-rei Alcalà, fala de dois mil mortos e 1.600 presos. Destes, 150 foram
condenados à morte. Além disso, as tropas rastrearam e justiçaram outros cem
valdenses debandados nos campos. Os da Puglia, menos "militantes" e
mais "acomodados", tiveram um destino melhor, talvez também por mérito
dos senhores feudais do lugar, que não viam com bons olhos uma intervenção
militar que os privaria de sua preciosa mão-de-obra. Mas, ao final, estes
também foram obrigados a abjurar.
Os stendigs e
os franciscanos
Os stendigs eram uma população germânica que vivia às margens do
rio Weser. Recusaram-se a reconhecer a jurisdição temporal do arcebispo de
Bremen e, por esta única rebelião, foram declarados hereges (na verdade, não
consta que praticassem heresias doutrinárias). O papa Gregório IX (1227-1241)
lançou contra eles uma Cruzada em 1234. Foram atacados pelas forças conjuntas
do duque de Brabante e dos condes da Holanda e de Cleves, que investiram contra
eles com uma frota de trezentos navios. De quatro mil a cinco mil stendigs foram
mortos em combate. O restante da população em parte morreu afogada no Weser, em
parte se dispersou. O balanço final gira em torno de 11 mil vítimas.
Nem as ordens reconhecidas pela Igreja escaparam da acusação de heresia.
Antes mesmo da morte de seu santo fundador, os franciscanos se dividiam em duas
correntes: os conventuais, favoráveis a uma flexibilização da regra de pobreza,
e os espirituais, também chamados de zelosos, fiéis à regra original e
fortemente críticos em relação à Igreja.
Após a morte de Francisco (1226), as posições entre as duas correntes
acabaram se cristalizando, até produzirem um verdadeiro confronto. Em 1274, um
grupo de freis da região de Marche, alarmados pela falsa notícia de que a regra
franciscana seria modificada para permitir que a ordem possuísse bens, deu vida
a uma rebelião. O movimento logo se espalhou por toda a Umbria e pela Toscana.
Em seguida, alguns rebeldes foram condenados à prisão perpétua, tendo sido
agraciados muitos anos depois.
Em 1294, o papa Celestino V concedeu aos extremistas a permissão de
criar uma ordem separada. Bonifácio VIII (1294-1303) revogou a disposição e os
perseguiu.
Dos espirituais franciscanos derivou também o movimento herético dos
"fraticelli", difundido especialmente no centro e no sul da Itália.
Sua heresia consistia em pregar as profecias apocalípticas que
circulavam no meio franciscano, mas principalmente na interpretação extrema da
regra da pobreza. A afirmação de que "Cristo e os apóstolos não possuíam
nenhum bem" custou a fogueira a nove deles durante o pontificado de Urbano
IV (1261-1264).19
A partir de 1316, o papa João XXII (1316-1334), condenado pelos
"fraticelli" como o anticristo, ordenou sua perseguição. Em 1322, a
assembléia geral dos frades menores (os franciscanos espirituais) assumiu sua
posição no debate teológico, declarando que "Cristo e os apóstolos haviam
vivido em pobreza absoluta". No ano seguinte, o pontífice declarou
heréticas as teses franciscanas e ordenou que a Inquisição perseguisse quem
quer que as defendesse. Nos anos sucessivos, vários freis católicos acabaram na
fogueira (David Christie-Murray, 1998, p. 160).
Jacopone de Todi
É um dos mais ilustres personagens da corrente espiritual, místico e
poeta. Aliou-se, junto a outros expoentes espirituais franciscanos, à poderosa
família Colonna, acirrada inimiga de Bonifácio VIII, e foi um dos signatários
do Manifesto de Lunghezza (10 de maio de 1297), que declarava ilegítima a
nomeação do papa e pedia a convocação de um concilio para nomear um novo
pontífice. Excomungado junto a outros seguidores em 1298, foi encarcerado. As
condições da detenção eram muito rígidas: acorrentado dia e noite nos frios e
úmidos subterrâneos de um convento onde desembocava uma tubulação de esgoto, a
pouca comida que recebia era por meio de uma cesta lançada do alto, e só
conseguia se mexer o que os ferros permitiam.
Em vão, pediu ao papa que ao menos a excomunhão fosse revogada, mas o
pontífice, apesar de ter concedido uma indulgência plenária por ocasião do
primeiro Ano Santo (1300), furtou-se a perdoá-lo. Só depois da morte de
Bonifácio VIII (1303), Jacopone, já com mais de 70 anos, viu-se livre da prisão
e da excomunhão e voltou ao convento. Dizem que já não conseguia andar, pois
seus joelhos haviam se calcificado em decorrência da posição em que foi obrigado
a ficar por anos. Morreu em 1306.
Frei Dulcino
Talvez o mais famoso herege medieval italiano. Em 1300, Dulcino
tornou-se líder carismático dos apostólicos, uma seita herética pauperista que
contestava a corrupção da Igreja e cujos pregadores gozavam de grandes favores
junto ao povo depois que seu fundador, Gherardo Segalello, foi morto queimado.
Este enviou aos seguidores um apelo de tons proféticos: a era do mal
estava por acabar, em breve o imperador Frederico III de Aragão derrubaria o
falso papa Bonifácio VIII e, com ele, todo o clero corrupto. Adviria, então,
uma era de paz universal, com a eleição de um papa santo. Enquanto isso não
acontecia, os apostólicos eram obrigados a viver na clandestinidade para fugir
das perseguições da falsa Igreja, que perseguia e mordia, como cães, os
verdadeiros fiéis.20
E foi por incentivo de Dulcino que os apostólicos se transformaram, de
movimento anárquico e espontâneo, em uma organização "subversiva"
clandestina que criou uma fervorosa propaganda anticlerical que se difundiu em
grande parte da Itália. Os pregadores podiam contar com a hospitalidade e a
cumplicidade de um grande número de pessoas de vários extratos sociais,
admiradas com o comportamento desses "homens bons" e com o carisma
profético de Dulcino. Todavia, como este previra, a Inquisição começava a
perseguir os apostólicos: os vilarejos foram peneirados à procura de hereges e
das famílias que os protegiam. Em 1303, Zaccaria de San'Agata, que afirmava que
a Doação de Constantino fora a verdadeira causa da ruína da Igreja, foi
queimado na fogueira.
Em Bolonha, foi a vez de Rolandino de Ollis, Pietro dal Pra, o eremita
Bartolomeo Petri Rubey e Giovanni Gerardini (este salvo rocambolescamente
várias vezes da captura) acabarem na fogueira ou pegarem prisão perpétua.
Muitas outras pessoas, mesmo anos depois dos acontecimentos, foram alvo das
atenções da Inquisição por terem hospedado os apostólicos. Algumas delas foram
condenadas, outras escaparam abjurando ou declarando que agiram de boa-fé e
foram enganadas; "pareciam homens bons" será a defesa de muitos. E o
próprio Dulcino havia declarado que não era pecado prestar falso testemunho aos
inquisidores para salvar a própria vida ou a de companheiros.
Em 1304, Dulcino se refugiou em Novara, estabelecendo-se, junto com seus
seguidores, nas terras entre Serravalle e Gattinara. Lá, fundou uma comunidade
cujas bases eram a igualdade evangélica e a comunhão de bens. A população
recebeu, com alegria, a presença dos apostólicos, mas a intervenção das
milícias estatais, conduzidas pelo inquisidor padre Emanuele, obrigou os
dulcinistas a se refugiar, no verão de 1305, no monte Parete Calva, em
Valsesia, uma espécie de fortaleza natural intransponível. No monte, Dulcino
realizou a segunda transformação de seu movimento: de pregadores pacíficos a
guerreiros, homens e mulheres dispostos a defender com as armas a própria
independência. Para se manter, os dulcinistas empreenderam verdadeiras
incursões armadas no vale, saqueando e roubando as despensas dos senhores
feudais, fazendo ricos de reféns e trocando-os por comida. Os cruzados
anti-hereges, por sua vez, atacavam todos os suspeitos de ajudar os rebeldes e
emboscavam os dulcinistas que desciam a montanha. Além disso, onde os
inquisidores não chegavam, chegavam o rigor do frio do inverno e uma tremenda
escassez. O exército de Dulcino foi dizimado pela fome, pelo cansaço e pelos
embates militares. Ao final, quando as condições de vida se tornaram
proibitivas, os apostólicos sobreviventes (cerca de mil), na primavera de 1306,
partiram em novo êxodo: através de passagens inacessíveis, chegaram à região do
monte Rubello (ou seja, "rebelde", que ganhou este nome pela presença
dos rebeldes dulcinistas), onde construíram uma verdadeira cidade fortificada.
Lá, a luta contra eles foi conduzida diretamente pelo bispo e inquisidor
Vercelli Raniero Avogardo, que reuniu tropas da Inquisição, milícias estatais,
além das forças do arcebispo de Milão e do duque de Savóia, convocadas a pedido
do próprio papa Clemente V. Todos os acessos ao monte foram bloqueados e,
apesar de uma surtida dos revoltosos, o assédio venceu egregiamente.
Debilitados pela fome (de acordo com os relatos da época, chegaram ao ponto de
se alimentar dos corpos dos companheiros mortos), os dulcinistas não
conseguiram opor resistência quando, em 23 de março de 1307, as tropas de
coalizão do arcebispo fizeram o ataque final. Centenas de hereges morreram em
combate ou afogados na torrente que nasce no monte. Deles, 140 (dentre os quais
o próprio Dulcino e sua companheira, Margherita) foram capturados vivos e
poupados intencionalmente, para que sua condenação servisse de exemplo.
A Inquisição e o tribunal eclesiástico lutaram pela honra de presidir o
processo, que se encerrou rapidamente com uma sentença já executada. Na prisão,
Dulcino e seus seguidores foram torturados longa e cruelmente para que
abjurassem, mas sem êxito.
E, assim, em 1o de junho de 1307, foi queimado vivo em
Vercelli, após sofrer um grande suplício. O carro que o levou ao patíbulo fez
várias paradas, e cada uma correspondia a uma tortura do público: primeiro, sua
carne foi arrancada (usque ad ossa, ou seja, até chegar ao osso, pelo
que diz um cronista da época) com alicate quente, depois seu nariz foi
quebrado, e finalmente lhe foram arrancados os genitais. Antes de subir na
fogueira, viu o "espetáculo" de sua companheira, Margherita, sendo
despida e queimada viva. Seus restos foram jogados no rio.21
Todos os combatentes que ajudaram a localizar Dulcino foram agraciados
com o nome de "cruzados" e gozaram de benefícios especiais e
indulgências.
O comportamento de Dulcino, que não se entregou a súplicas e gritos
desesperados nem durante o suplício nem no fogo, suscitou comentários de
admiração até mesmo dos cronistas e relatores católicos. A figura de
Margherita, em uma época não muito gentil com as mulheres, também foi tratada
com respeito pelos escritores eclesiásticos, que não hesitaram em difamar, de
todas as formas, a memória de Dulcino e de seus seguidores.
Assim, o líder dos dulcinistas saiu da história para entrar no mito. Por
um lado, a lenda negra: diziam que fora um bruxo poderoso e que só a magia
podia explicar a excepcional resistência armada de um bando de rebeldes pobres
diante das armaduras e máquinas de guerra do exército do arcebispo. Diziam que
os espíritos dos rebeldes ainda vagavam pelos arredores do monte Rubello, e os
boatos eram tão insistentes que convenceram as autoridades eclesiásticas a
erguer, em 1308, um santuário dedicado a São Bernardo, para exorcizar a área da
presença dos espíritos malignos e comemorar sua libertação da "peste
herética". Ao mesmo tempo, nasce também uma lenda branca, que considerava
Dulcino e Margherita quase dois santos. Ao herege foram atribuídos, após sua
morte, verdadeiros milagres.
Jan Hus, o Lutero
da Boêmia
Jan Hus (cerca de 1373-l415) foi o precursor da Reforma na Boêmia.
Sacerdote de vida irrepreensível, tornou-se diretor da Faculdade de Filosofia e
reitor da Universidade de Praga. Inspirado pelas teses de Wyclif, Hus era
favorável à interpretação particular das Escrituras e defendia o direito de se
rebelar contra a autoridade (civil ou religiosa) para agir de acordo com a
consciência.22
Para tornar as Escrituras acessíveis ao homem comum, pregava em tcheco,
além do latim, alimentando um sentimento crescente de nacionalismo boêmio.
Hus era popular entre as massas, na aristocracia (chegou a se tornar o
confessor da rainha) e entre os estudantes da Universidade de Praga, onde, por
um período, suas teses dominaram. Pregou contra a corrupção do clero em todos
os níveis e negou a validade dos sacramentos ministrados por sacerdotes
indignos. Fez vários ataques violentos contra a Igreja de Roma.23 Um
de seus últimos atos foi a denúncia do comércio de indulgências por parte dos
representantes do papa para financiar uma Cruzada contra o rei de Nápoles.24
E foi esta a última e fatal batalha: excomungado pelo papa e interditado por
Praga, Hus continuou a pregar ao ar livre apoiado pelo público.25
Condenado pelo Concilio de Constanza, foi expulso do clero e, em 6 de
julho de 1415, mandado para a fogueira. No ano seguinte, foi a vez de um
discípulo seu, Jerônimo de Praga. Hus já tinha se tornado, aos olhos dos
boêmios, um mártir e autêntico herói nacional. De seus sermões, nasce o
movimento hussita, dividido em duas vertentes: uma moderada, composta
prevalentemente por aristocratas, e outra extremista, mais difundida em meios
populares.
Em 1418, a ala radical fez eclodir uma rebelião popular que envolveu
tanto a cidade de Praga quando os campos vizinhos.26
O imperador Sigismundo percebeu que a guerra religiosa era também uma
guerra de independência e, em 1420, invadiu a Boêmia. Mas seu exército foi
esmagado pelos camponeses tchecos, que utilizaram técnicas de combate
inovadoras. Os anos seguintes presenciaram a difusão das doutrinas hussitas na
Áustria, Alemanha, França e Hungria. Por volta de 1430, a ala moderada e a
extremista se confrontaram em uma verdadeira guerra civil, perdida pelos
radicais. De todo modo, os hussitas conseguiram obter, pelo menos na Boêmia,
liberdade de culto. Depois, a maior parte deles passou para a igreja
calvinista.
Joana d'Arc, bruxa,
herege e santa
Em 30 de maio de 1431, Joana d'Arc foi condenada por bruxaria e heresia,
e mandada para a fogueira. Sob o ponto de vista doutrinário, sua
"heresia" não era muito diferente da de Hus: ela colocara o juízo
pessoal à frente do oficial da Igreja. Séculos depois, esta admitiu
implicitamente seu erro e a proclamou santa em 9 de maio de 1920.
Jerônimo Savonarola
Jerônimo Savonarola (1452-1498) era um frei dominicano que condenava os
pecados e a vaidade, e que denunciava os males da Igreja. Começou a pregar em
Florença por volta de 1491, anunciando o iminente fim do mundo. Os
acontecimentos de 1494, com a invasão de Florença por parte do rei da França e
a expulsão da família Mediei, pareciam confirmar suas profecias. Dessa forma,
conquistou o carisma de um profeta diante dos florentinos e exerceu grande
influência sobre o nascente governo da cidade-estado. Por incentivo seu, a
república florentina deu vida a uma legislação intransigente e intolerante não
só contra a usura e a corrupção, mas também contra o luxo e a
"imoralidade".
Um dos alvos dos sermões de Savonarola era o pontífice da época,
Alexandre VI Bórgia, que, por sua vez, odiava o pregador e os florentinos, que atrapalhavam
sua pretensa hegemonia sobre a Itália central.
Em maio de 1497, Savonarola foi excomungado. Ele, então, apelou a todos
os Estados europeus para que convocassem um concilio ecumênico para depor
Alexandre VI. Mas obedeceu às ordens de seus superiores dominicanos e
interrompeu os sermões. Um franciscano o desafiou a se submeter a um ordálio
(passar através do fogo, para demonstrar ser protegido por Deus), mas ele
recusou a prova, que foi aceita por um seguidor seu. Talvez a recusa tenha
diminuído seu prestígio, talvez o fim do apoio francês ao governo florentino
tenha tornado seus adversários mais agressivos, talvez simplesmente os
florentinos não tenham agüentado mais sua rigidez moralista, mas o fato é que,
em 7 de abril de 1498, o dia previsto para o ordálio, o povo de Florença se
revoltou contra Savonarola. O papa pôde, assim, capturá-lo e processá-lo. Sob
tortura, confessou ser culpado de heresia e de vários outros crimes e, em maio
de 1498, foi queimado na fogueira junto com dois seguidores.
Recentemente, foi beatificado.
FONTES
capítulo 7 As heresias medievais
1. David Christie-Murray, I
percorsi delle eresie. Milão, Rusconi, 1998, p. 152.
2. Citado em R. Nelli, Scrittori
anticonformisti del Medioevo provenzale, Terra e politici II, Milão, Luni,
1996, p. 229-31.
3. David Christie-Murray, op. cit, p.
13.
4. Ibid.,p. 160-1.
5. AAW, Storia di Milano, vol.
III, Milão, Fondazione Treccani degli Alfieri, 1954, p. 65.
6. Alguns estudiosos levantaram
a hipótese de que essa frase poderia significar que eles consideravam
seus bens comuns a toda a humanidade, cf. AAW, Storia di Milano.
7. Ibid.
8. David Christie-Murray, op. cit, p.
148-9.
9. Ibid., p. 147.
10."Albigense" deriva de Albi, cidade da França meridional;
"concorenzzianos", de Concorezzo, cidade às portas de Milão; ambas
localidades onde evidentemente havia grandes núcleos de cátaros.
11. Na realidade, do ponto de vista doutrinário, estes também se
dividiam em várias correntes, cf. Merlo Grado Giovanni, Eretici ed eresie
medievale, Bolonha, Il Mulino, 1989, p. 39-45 e p. 92-98.
12. G.G. Merlo, Eretici ed eresie medieval!, Bolonha, Il Mulino,
1989, p. 46.
13. David Christie-Murray, op.
cit, p. 154-5.
14. Benazzi, D'Amico, // libro nero dell'inquisizione. La
ricostruzione dei grandi processi, Casale Monferrato, Edizioni Piemme,
1998, p. 29.
15.Ibid.,p.30.
16. Giorgio Tourn, / valdesi: La singolare vicenda di un
popolo-chiesa. Turim, Claudiana, 1999, p. 84-86.
17.lbid.
18. Romano Canosa, Storia dell'Inquisizione in Itália, vol. 5,
Roma, Sapere 2000,1990, p. 54.
19. David Christie-Murray, op.
cit, p. 160.
20. Benazzi, D'Amico, op. cit, p. 50.
21. Eugênio Anagnine, Dolcino e il movimento ereticale all'inizio del
Trecento, La Nuova Itália, Florença, 1964, p. 191-2.
22. David Christie-Murray, op.
cit, p. 167-8.
23. Lembremos que, durante os sermões de Hus, acontecia o
chamado"Cisma do Ocidente", que assistia à contraposição de dois
papas nomeados pelo mesmo colégio de cardeais. Em seguida, o Concilio de Constância
complicaria ainda mais as coisas, nomeando um terceiro papa, Martinho V.
24. Sim, outra Cruzada. Dado o sucesso das Cruzadas contra os infiéis na
Terra Santa, os papas resolveram lançar algumas também contra os monarcas cristãos
que não apoiassem o poder papal. David
Christie-Murray, op. cit, p. 168-9.