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sexta-feira, 29 de julho de 2016

A FILOSOFIA DE CRISTO










Milhões asseguram que a filosofia de Cristo é perfeita - que ele foi o mais sábio que já pregou. 

Vejamos: 

Não resistas ao mal. Se atingido numa face, oferece a outra. 

Há alguma sabedoria, alguma filosofia nisto? Cristo tira da bondade, da virtude, da verdade, o direito à autodefesa. Vício se torna dono do mundo, e o bom se torna vítima do infame. 

Nenhum homem tem direito à autodefesa, defender sua propriedade, sua esposa e crianças. governar se torna impossível e o mundo está à mercê dos criminosos. Há algo mais absurdo que isto? 

Ama teus inimigos. 

É possível isto? Será que qualquer ser humano já amou seu inimigo? Será que Cristo amou os seus quando ele os denunciou como hipócritas e víboras? 

Não podemos amar aqueles que nos odeiam. Ódio no coração dos outros não semeia amor nos nossos. Não resistir à maldade é absurdo; amar nossos inimigos é impossível. 

Não te preocupes com o sofrimento. 

A idéia é de que Deus tomaria conta de nós como ele tomava conta de pardais e lírios. Será que há um menor sentido nesta crença? 

Será que Deus cuida de alguém? 

Podemos viver sem nos preocupar com o sofrimento? Arar, semear, cultivar, colher, é se preocupar com o sofrimento. Nós planejamos e trabalhamos para o futuro de nossas crianças, para as gerações que estão por vir. Sem essas preocupações não haveria nenhum progresso, nenhuma civilização. O mundo retornaria às cavernas e às masmorras da selvageria. 

Se teu olho direito te ofende, tira-o fora. Se tua mão direita te ofende, corta-a fora. 

Por que? Por que é melhor que uma parte do corpo pereça a permitir que o corpo inteiro seja mandado para o inferno. 

Existe alguma sabedoria em aconselhar a retirar um olho ou amputar sua mão? É possível extrair desses ensinamentos esdrúxulos o menor grão de bom senso? 

Não jurais; nem pelos céus, porque este é o trono de Deus; nem pela terra, porque esta é o seu apoio; nem por Jerusalém, porque esta é a sua cidade sagrada.

 Aqui achamos a astronomia e a geologia de Cristo. O céu é o trono de Deus, o monarca; a terra é o seu apoio. um apoio que gira na velocidade de milhares de milhas por hora, e viaja pelo espaço a uma velocidade de mais de mil milhas por minuto! 

 Onde os Cristãos pensavam que o céu ficava? Por que seria Jerusalém uma cidade santa? Seria pelo fato de que seus habitantes eram ignorantes, rudes e supersticiosos? 

Se algum homem te atingir com a lei e tomar tua roupa, dá-lhe teu manto também. 

Há qualquer ensinamento, qualquer filosofia, qualquer bom senso nesta ordem? Não seria tão sensível quanto dizer: "Se um homem obtém um processo contra ti de cem dólares, dá a ele duzentos."? 

Só um louco seguiria este conselho. 

Não penses que vim trazer a paz para a terra. Não vim para trazer a paz, mas uma espada. Porque eu vim para colocar um homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe. 

Se isto é verdade, como o mundo seria melhor se ele ficasse fora. 

É possível que aquele que disse "Não resistas a ofensas", veio trazendo uma espada? aquele que disse "Ama teus inimigos" veio para destruir a paz no mundo? 

Colocar pai contra filho, e filha contra mãe -- que gloriosa missão! 

Ele trouxe uma espada e ela foi molhada por milhares de anos com sangue de inocentes. Em milhares de corações ele semeou a semente do ódio e vingança. Ele dividiu nações e famílias, apagou a luz da razão, petrificou os corações dos homens. 

E cada um que tenha abandonado sua casa, seus amigos, suas irmãs, ou pai, ou mãe, ou esposa, ou filhos, ou países, em meu nome, receberá cem vezes, e herdará a vida eterna. 

De acordo com os escritos de Mateus, Cristo, o compadecido, o piedoso, exclamou estas terríveis palavras. Seria possível que Cristo tivesse subornado com a vida eterna de alegrias aqueles que abandonassem seus pais, mães, esposas e filhos? Estaríamos nós para receber a felicidade eterna desertando aqueles que nos amam? Deveríamos arruinar um lar aqui para construir uma mansão lá?

 E no entanto, é dito que Cristo é um exemplo para o mundo. Teria ele desertado seu pai e mãe? Ele disse, referindo-se à sua mãe: "Mulher, o que tenho a ver contigo?" 

 Os fariseus disseram a Cristo: "É legal pagar tributo a César?" 

Cristo disse: "Mostra-me a moeda do tributo. Eles trouxeram para ele uma moeda. E eles disseram: É de César. E Cristo disse: Dá a César o que é de César". 

Será que Cristo pensou que a moeda era de César apenas porque possuía sua imagem estampada sobre ela? Pertenceria a moeda a César ou ao homem que a ganhara? Teria César o direito de requisitá-la só porque nela estava estampada a sua imagem? 

Não nos parece que por esta conversa que Cristo não entendia a real utilização e natureza do dinheiro? 

Podemos ainda afirmar que Cristo tenha sido o maior dos filósofos?



Fonte



Ensaio de Robert Ingersoll



Tradução: Afonso M. C. Amorim 

Fonte: 
infidels.org/library/historical/robert_ingersoll/about_the_holy_bible.html


quinta-feira, 10 de março de 2011

O CARÁTER DE CRISTO






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Desejo agora dizer algumas palavras sobre um tema que, penso com freqüência, não foi tratado suficientemente pelos racionalistas, e que é a questão de saber-se se Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens.

É geralmente aceito como coisa assente que deveríamos todos concordar em que assim é. Não penso desse modo. Acho que há muitíssimos pontos em que concordo com Cristo muito mais do que o fazem os cristãos professos.

Não sei se poderia concordar com Ele em tudo, mas posso concordar muito mais do que a maioria dos cristãos professos o faz.

Lembrar-vos-ei que Ele disse: “Não resistais ao mau, mas, se alguém te ferir em tua face direita, apresenta-lhe também a outra”.

Isto não era um preceito novo, nem um princípio novo. Foi usado por Lao-Tse e por Buda cerca de quinhentos ou seiscentos anos antes de Cristo, mas não é um princípio que, na verdade, os cristãos aceitem.

Não tenho dúvida de que o Bispo da Paraíba (Dom Aldo Pagotto), por exemplo, é um cristão sumamente sincero, mas não aconselharia a nenhum de vós que o ferisse na face.

Penso que, então, poderíeis descobrir que ele considerava esse texto como algo que devesse ser empregado em sentido figurado.

Há um outro ponto que julgo excelente.

Lembrar-vos-eis, por certo, de que Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”.

Não creio que vós considerásseis tal princípio como sendo popular nos tribunais dos países cristãos. Conheci, em outros tempos, muitos juízes que eram cristãos sumamente convictos, e nenhum deles achava que estava agindo, no que fazia, de maneira contrária aos princípios cristãos.

Cristo também disse: “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”.

É este um princípio muito bom. Vosso Presidente vos lembrou que não estamos aqui para falar de política, mas não posso deixar de observar que as últimas eleições gerais foram disputadas baseadas na questão de quão desejável seria voltar as costas ao que desejava lhe emprestássemos, de modo que devemos presumir que os liberais e os conservadores deste país são constituídos de pessoas que não concordam com os ensinamentos de Cristo, pois que, certamente, naquela ocasião, voltaram as costas de maneira bastante enfática.

Há ainda uma máxima de Cristo que, penso, contém nela muita coisa, mas não me parece muito popular entre os nossos amigos cristãos.

Diz Ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-os aos pobres”.

Eis aí uma máxima excelente, mas, como digo, não é muito praticada. Todas estas, penso, são boas máximas, embora seja um pouco difícil viver-se de acordo com elas.

Quanto a mim, não afirmo que o faça – mas, afinal de contas, isso não é bem o mesmo que o seria tratando-se de um cristão.