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segunda-feira, 18 de março de 2013

DEUS PAROU O SOL ?



por Bert THompson, PhD 



No décimo capítulo do Velho Testamento do Livro de Josué, está relatado que o Sol "parou". Circula, com freqüência, a história de que cientistas da NASA, usando computadores para calcular as órbitas da Terra e do Sol, encontraram o que seria um "dia perdido". Depois de muitos exames, esses cientistas usaram seus computadores para descobrir o dia que faltava, provando que o registro bíblico é correto. Essa história é verdadeira?


De tempos em tempos, histórias como essa que foi descrita acima aparecem – em boletins e publicações religiosas ou mesmo na Internet – como se fossem factuais e verdadeiras. Não há dúvidas de que aqueles que a propagaram a conhecem intimamente e a têm como seu último baluarte de defesa da Bíblia contra as fundas e flechas dos infiéis. Contudo, ela não é verdadeira. As investigações revelam os detalhes que se seguem.


Histórias similares têm circulado por mais de meio século. No seu livro de 1936 – "A Harmonia da Ciência e Escritura", Harry Rimmer dedicou o último capítulo inteiro à "Moderna Ciência e o Longo Dia de Josué". Nessa discussão, Rimmer reconta a história bíblica de como Deus fez o Sol parar (Josué 10), e então faz as seguintes declarações concernentes ao milagre: "O testemunho final da ciência é que tal dia está faltando no registro do tempo. Por mais que o tempo se prolongue, o registro deste dia deve permanecer. O fato é atestado por eminentes homens de ciência, dois dos quais eu cito aqui". (1936, p. 280)


Dr. Rimmer então menciona dois cientistas – Sir Edwin Ball, um astrônomo britânico, e Charles A. I. Totten, um professor de Yale. Ele informa ter sido Ball o primeiro a noticiar que "quarenta e quatro horas foram perdidas no tempo solar". Rimmer então faz a pergunta: "Para onde eles foram, o que foi que causou esse estranho lapso, e como ele aconteceu? (p. 280). Rimmer então oferece o que ele chamou de sumário do livro de Totten onde, ele diz, a informação poderia ser encontrada para provar exatamente como o dia perdido foi descoberto. Rimmer dá até o dia e o mês exatos no qual a batalha de Josué foi travada – Quarta-feira, 22 de Julho (p.226).


Antes de responder a questão de que os cientista da NASA alegadamente descobriram o "dia perdido" de Josué, deixe-me fazer várias observações sobre esta antiga versão (da qual a mais nova obviamente foi adaptada – com considerável embelezamento).


Primeiro, Rimmer especificamente declara que está fazendo uma citação de Ball e Totten, apesar de nenhuma das declarações que fez terem sido colocadas entre aspas. Segundo, o livro de 1890 que Totten escreveu ("O Longo Dia de Josué e o Relógio do Sol de Ahaz")  nunca foi citado por Rimmer, o que parece um pouco estranho, considerando que Rimmer devotou um capítulo inteiro sobre o assunto no seu próprio livro.


Terceiro, não há referências bibliográficas de Rimmer sobre os trabalhos de Ball e Totten – novamente pouco usual, uma vez que Rimmer baseia toda sua argumentação na validade dos declarações daqueles autores.


Quarto, inúmeros outros escritores têm feito sérios esforços para determinar a validade da afirmação de Rimmer, tanto quanto aquelas de Ball e Totten, mas sem sucesso. Por exemplo, Bernard Ramm, no livro "A Visão Cristã da Ciência e das Escrituras",  discute o ponto-de-vista de Dr. Rimmer e sua referência a Totten. Ramm incluiu suas conclusões pessoais considerando a documentação oferecida por Rimmer, Totten e Ball nomenclatura bem escolhida. Ele observou: "Isso eu não fui capaz de verificar para minha própria satisfação… Dr. Kulp tentou checar essa teoria em Yale [empregador de Totten] e na Inglaterra [residência de Sir Edwin Ball], e não encontrou nada que verificasse isso". (1959, página 109 a 117).


Não há dúvidas que o próprio Rimmer acreditou na veracidade da história. Mas a documentação que deveria ter servido como prova estava, seriamente e obviamente, faltando.


Como tal história se originou é muito mais difícil de saber do que como ela circula. Quando uma história é "corroborada" com o nomes de pessoas de credibilidade e fatos relevantes, o povo não se preocupa em investigá-la. Uma vez aceita, ela então é usada no que o crédulo na Bíblia vê como um justa defesa da palavra de Deus.


Com todas as evidências agora disponíveis, a história de Ball, Totten e Rimmer simplesmente não são verdadeiras, e não podem mais ser usadas nem em defesa da Bíblia nem na defesa da palavra de Deus. O mesmo pode ser dito acerca da versão moderna da história. Novamente, alguns fatos anteriores são necessários. Quando o relato, da maneira como fez o Dr, Rimmer, foi publicado pela primeira vez, causou aparentemente grande excitação, e foi aceita sem contestação por aqueles que estavam ansiosos em mostrar como a ciência "comprova" uma verdade bíblica. Depois que essa excitação inicial diminuiu, a história foi esquecida, ou deixada de lado, e eventualmente relegada na pilha de relíquias da história. Sua permanência lá, contudo, foi breve. Alguém (até agora ninguém sabe quem) redescobriu a história, tirou fora a poeira, deu a ela algum embelezamento (sem dúvida para fazê-la mais de acordo com os conhecimentos científicas modernos), colocou nomes (de indivíduos, empresas e cidades), e então, intencionalmente, embutiu nela referência a uma agência governamental bastante popular, que foi/é bastante conhecida pelo público (a NASA – Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço). Com a reedição da história agora completa, colocou nela uma credibilidade que poucos pensaram em duvidar ou questionar.


A versão moderna da história sugere que cientista da NASA, no Goddard Space Flight Center, em Greenbelt, Maryland, estavam usando computadores sofisticados para plotar posições do Sol, da Lua e outros planetas, 100, 1000 anos no futuro, para calcular as trajetórias de naves espaciais. Subitamente os computadores pararam completamente. Porque desligaram, eles tinham descoberto o "dia perdido" no tempo. Os técnicos não sabiam como corrigir o problema. Mas um dos cientistas presentes, havia freqüentado a escola dominical quando era criança, e lembrava-se da história na qual Deus fez o Sol parar por aproximadamente um dia. Quando ele sugeriu isso como uma possível solução, os outros cientistas o ridicularizaram. Contudo esses mesmos cientistas abriram a Bíblia em Josué 10 e leram a história.


Os técnicos então alimentaram os computadores com os novos dados (cuidadosamente fabricados no "dia perdido" de Josué), e as máquinas uma vez mais passaram a funcionar perfeitamente — ou quase. Os computadores subitamente pararam, mais uma vez, porque eles não haviam descoberto um dia completo; alguma coisa estava faltando. Aparentemente (assim diz a história) os computadores encontraram somente 23 horas e 20 minutos. Em outras palavras, 40 minutos ainda estavam faltando. Mas o cientista da escola dominical sugeriu a resposta a esse enigma. Ele lembrou-se que na Bíblia, em 2 Reis 20, havia uma narrativa em que o Rei Ezekias, tendo sido prometida a suspensão da sua morte, teria pedido um sinal do céu. Deus então fez o Sol se mover dez graus para trás – ou exatamente 40 minutos! Essa informação foi colocada nos computadores, e a partir de então eles passaram a funcionar normalmente.


Essa mentira foi amplamente divulgada na década de 60 e início de 70 como resultado dos esforços de Harold Hill, então presidente da Curtis Engine Company em Halenthorpe (Baltimore), Maryland. No seu livro de 1974, "Como viver como filho de um rei", Hill devotou um capítulo inteiro à estória (páginas 65-77), e explicou como ela foi difundida. Ele declarou que na ocasião falou para estudantes secundaristas e universitários sobre assuntos relacionados à Bíblia e à ciência, e que a estória do "dia que faltou" da NASA foi uma das que ele falou com mais freqüência (páginas 65-66). De alguma maneira (mesmo Hill nunca soube como), Mary Kathryn Bryan, uma colunista do Evening World, de Spencer, Indiana, recebeu um relato por escrito da estória de Hill e o publicou em sua coluna.


Mais tarde, Hill observou, "vários noticiários pegaram a estória e ela apareceu em centenas de lugares" (página 69, no original). Ao relato, sem dúvida, foi proporcionado uma certa quantidade de credibilidade embutida, quando Hill sugeriu, relativamente ao programa espacial em Goddard: "Eu estava envolvido desde o início, através de arranjos contratuais com minha empresa" (1974, página 65). [Quando isso foi verificado, viu-se que a conexão de Hill com a NASA era, na melhor das hipóteses, tênua; sua empresa nunca teve nenhum contrato para prestar serviços em geradores elétricos em nenhuma agência governamental. Ele nunca foi contactado de nenhuma maneira para missões de operação ou planejamento].


Todos os esforços para confirmar a origem da história falharam. Depois que um artigo sobre o assunto apareceu, em Abril de 1970, no "Bible-Science Newsletter", vários leitores da revista escreveram a Hill. Num artigo subseqüente, a revista fez menção ao fato de que, depois que o artigo foi publicado em 1970, alguns leitores finalmente receberam uma carta de Hill na qual ele declarava não ter sido o criador da estória. No seu livro publicado em 1974, ele confessa não haver testemunhado o incidente da NASA pessoalmente, e afirmou ainda que não podia se lembrar quando nem onde foi a primeira vez que a ouviu, mas insistiu que "minha incapacidade de fornecer documentação do incidente do ‘dia que faltou’, de maneira nenhuma diminui sua autenticidade" (página 71).


O artigo publicado na edição de Julho de 1989 na revista "Bible-Science Newsletter" reportou que


Dr. Bolton Davidheiser escreveu para o escritório da NASA em Greenbelt, Maryland, onde o fato supostamente ocorreu. Eles responderam que não sabiam nada sobre o senhor Harold Hill e não podiam corroborar as referências sobre o "dia perdido"… No concludente parágrafo da carta da NASA lê-se: ‘Apesar de fazermos uso de posições planetárias como fator necessário para a determinação das órbitas das naves espaciais em nossos computadores, não descobrimos que nenhum astronauta ou cientista espacial em Greenbelt estivesse envolvido na estória do "dia perdido" atribuída ao Sr. Hill’ (Bartz, 1989, página 12).


A origem da história é dúbia na melhor das hipóteses (e espúria na pior). Os fatos, onde verificáveis, estão incorretos. E aqueles alegadamente envolvidos no encontro do "dia perdido" de Josué admitem não saberem nada sobre tais eventos. Outrossim, qualquer pessoa que afirme que os comutadores, de alguma maneira, podem "encontrar" um dia "perdido" erra por não entender como os computadores funcionam. Como comentou Paul Bartz:


"Computadores não são máquinas mágicas que podem adivinhar coisas que estão escondidas das pessoas. Maravilhosas como elas são, estão limitadas aos conhecimentos que damos a elas. Computadores dependem de nós para adquirirem conhecimento. Enquanto um computador pode ser usado para gerar um calendário, desde hoje até uma data distante no passado, o que não é uma prática incomum, um computador não pode nos dizer se algum tempo está faltando ou não. Na verdade, o computador teria que ser programado com todo tipo de ajustes, considerando várias mudanças no calendário ocidental, sobre os últimos dois mil anos. Simplificando, a estória é tecnicamente impossível, não interessando quão sofisticado seja seu computador" (1989, página 12).


A única conclusão que se pode chegar, respeitando os fatos disponíveis, é que essa história é falsa e não deve ser divulgada. Nós prestamos um desserviço à palavra de Deus quando tentamos "defendê-la" com estórias como essa que, com um pouco de senso comum e uma pequena quantidade de pesquisa, pode ser mostrada não ter nenhum fundamento factual, qualquer que seja ele. 


***

REFERÊNCIAS:

Bartz, Paul (1989), "Questions and Answers," Bible-Science Newsletter, 27[7]:12, July.

Hill, Harold (1974), How to Live Like a King’s Kid (South Plainfield, NJ: Bridge Publishing).

Ramm, Bernard (1954), The Christian View of Science and Scripture (Grand Rapids, MI: Eerdmans).

Rimmer, Harry (1936), The Harmony of Science and Scripture (Grand Rapids, MI: Eerdmans).

Totten, Charles A.L. (1890), Joshua’s Long Day and the Dial of Ahaz (New Haven, CT: Our Race Publishing Co.).


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