Antes de Cristo, várias divindades em épocas e regiões bem diferentes entre
si foram descritas sofrendo o mesmo castigo.
Essa punição era muito popular na Antiguidade para reprimir escravos,
ladrões e indivíduos que ameaçassem o poder do Estado.
A coincidência de ter sido adotada em vários relatos de figuras messiânicas
pode ser explicada pelo registro oral dessas histórias – que eram contadas, mudadas
e recontadas até, enfim, serem registradas por escrito anos depois.
Nesse meio-tempo, acabavam influenciando umas às outras. Para alguns
pesquisadores, esses casos provam como o cristianismo absorveu outras
referências anteriores para “montar” a simbologia em torno de Jesus.
Serpente
alada
- Divindade: Quetzalcóatl
- Onde: México
- Quando: 587 A.C.
Venerado
por astecas, toltecas e maias, seu nome combina “quetzal” (uma ave nativa, com
belas plumas) e “cóatl” (serpente). Também nasceu de uma mãe virgem para livrar
os homens de seus pecados. Foi batizado na água, ungido com óleos e jejuou por
40 dias. Crucificado entre dois ladrões, renasceu e subiu aos céus.
Imagem de Esus no Pilar dos Banqueiros |
Entre
os animais
- Divindade: Esus
- Onde: Bretanha
- Quando: 834 A.C.
Nasceu
da virgem Mayence, hoje representada como uma santa envolta em 12 estrelas e
uma serpente aos pés. Foi crucificado em um carvalho, considerada “a árvore da
vida”, entre um elefante (que simbolizaria a magnitude dos pecados da
humanidade) e um cordeiro (alusão à pureza de quem se oferece para o sacrifício
divino).
O
poeta romano Lucano (39-65) não estabelece de que maneira Esus (essa é a grafia
correta) teria morrido.
Sofrimento
sem fim
- Divindade: Prometeu
- Onde: Grécia
- Quando: Não é possível estabelecer uma data para a sua morte
Foi
o Titã que libertou e “iluminou” a raça humana ao lhe dar o fogo dos deuses.
Por essa ousadia, foi condenado por Zeus a viver pregado numa rocha, com o
fígado devorado por uma águia. Para os gregos, era nesse órgão que ficavam os
sentimentos, e não no coração.
Três
em um
- Divindade: Bali
- Onde: Índia
- Quando: 725 A.C.
Segundo
o historiador Godfrey Higgins, a cidade de Mahabalipore, na Índia, traz
registros dessa crucificação, que também teria servido para limpar nossos
pecados. “Bali” significa “Segundo Senhor” – ele integrava uma trindade que
compunha um só Deus. Era cultuado como Deus e como filho Dele.
Amai
a todos
- Divindade: Indra
- Onde: Tibete
- Quando: 725 A.C.
Sua
mãe, virgem, era negra. Indra também. Acreditava-se que ele tinha poderes
extraordinários, como prever o futuro, andar sobre as águas e levitar. Indra
era um deus guerreiro, que não pregava a paz, e defendia que a castidade era o
único caminho para se tornar santo.
Já
vi essa história...
- Divindade: Krishna
- Onde: Índia
- Quando: 900 A.C.
Tem
muitos pontos em comum com Jesus. Segundo textos hindus, como o Bhagavata
Purana e o Mahabaratha, seu nascimento estava previsto em um livro sagrado.
Para evitar que a profecia se concretizasse, o governante da região mandou
matar todos os recém-nascidos. Sua mãe era uma virgem de origem humilde, que
recebeu a visita de pastores quando deu à luz.
Krishna peregrinou por regiões
rurais dando sermões, curando doentes e operando milagres, como a multiplicação
de peixes. Recomendava aos discípulos que amassem seus inimigos. Segundo alguns
relatos, teria sido crucificado – assim como Jesus, entre dois ladrões e aos 33
anos. Ressuscitou no terceiro dia e subiu aos céus, mas avisou que ainda
voltaria à Terra.
Em
uma segunda versão dos fatos, Krishna teria sido vítima de flechada, aos 125
anos. Sua mãe, Devaki, não era virgem.
Mão
santa
- Divindade: Sakia
- Onde: Índia
- Quando: 600 A.C.
Nasceu
para expiar os pecados do mundo e sua mãe era chamada por seus seguidores de
Virgem Sagrada. Assim como Jesus, operou milagres e curou doentes. Foi tentado
pelo diabo e deixou mandamentos como “não matarás”, “não roubarás”, “não
pecarás”, “não cometerás adultério” e “não mentirás”. Ficou eternizado pelo
símbolo da cruz.
Esposa
exemplar
- Divindade: Alceste
- Onde: Grécia
- Quando: 600 A.C.
É
o único caso de que se tem relato sobre uma mulher sendo crucificada para
livrar a humanidade dos próprios pecados. Ela também era parte de uma
Santíssima Trindade. A morte da deusa gera controvérsia: algumas versões
defendem que ela deu a vida para salvar o marido, Eurípedes. Como recompensa,
teria ressuscitado ainda mais bela. Humana, Alceste teria sido levada pelo deus
da morte, Tanatos.
Fonte:
The Odd Index, de Stephen J. Spignesi. Consultoria: André Leonardo
Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor de
Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos.