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terça-feira, 15 de maio de 2012

A LUTA PELA MENTE DE ROSA




Hoje encontrei Rosa minha companheira de dança muito triste, mais pra lá do que pra cá. Há pouco tempo Rosa vivia maritalmente com um mancebo, a relação entre o casal era marcada por brigas que terminava em vias de fato. No entanto hoje, a saudade lhe atormenta.

Foi catimbó que fizeram para separar ele de mim. - Assegurou-me Rosa.

Tentei explicar para Rosa que catimbó, feitiço, macumba, ou seja lá outro adjetivo dado, não existe. Nunca vi um ateu endemoninhado ou que tenha sido afetado direta ou indiretamente por despachos de pais ou mães-de-santo.

A resposta saiu na ponta da língua: - É porque você tem o corpo fechado, respondeu-me a Rosa.

O que é isso que compele uma pessoa a, ultrapassando os limites da razão, crer no inacreditável? Como pode uma pessoa normalmente equilibrada tornar-se tão apaixonada por uma fantasia, uma impostura que, mesmo após esta ter sido exposta à luz clara do dia, ainda se agarra a ela - na verdade, se agarra ainda mais fortemente a ela?

Certa vez – disse-lhe – Namorei uma filha de uma mãe-de-santo que se chamava Girleide. Contou-me esta ex amada, que certo dia não tinha nada para o almoço. De repente surgiu de carro uma mulher a procura de sua mãe, queria desfazer um despacho que lhe fora feito. Foi a salvação do almoço.

Contou-me Girleide que sua mãe, de cara, cobrou R$ 100,00 pelo serviço e pediu dinheiro para comprar uma galinha preta, cachaça, charutos e outros ingredientes do contrafeitiço. A mulher nem pensou duas vezes, pagou o que foi pedido.

Rosa contestou – Você não acredita nisso, mas eu fui a um Centro Espírita e me confirmaram – Foi catimbó. Fui à Igreja Universal do Reino de Deus e ouvi novamente a confirmação. E por fim fui à Igreja Deus é Amor e disseram-me a mesma coisa, logo não pode ser mentira – concluiu Rosa.

Na igreja Deus é Amor, o pastor levou-me ao altar fez pedidos e orações a Deus. Confesso que chorei copiosamente e saí de lá com uma certa tranqüilidade. Só não gostei da gritaria, os fiés gritavam muito e em voz alta – “Aleluia, Aleluia Senhor”. Por fim me assegurou o pastor que se fosse da vontade de Deus, meu amado voltaria.

Ontem no centro espírita, continuou Rosa, fui até a presença de uma mãe-de-santo na esperança que ela trouxesse de volta o meu amado. Fui levada para um quarto com pouca iluminação e cheiro de incenso pelo ar. Estávamos lá sentadas em uma mesa coberta com uma toalha branca, a mãe-de-santo e eu em lados opostos e um homem que ajudava na preparação do ambiente. De repente a sacerdotisa começou a se contorcer, fazer munganga e bufar. Levantou-se repentinamente e soltou um grito com uma voz rouca – “Eu tomei seu marido e não vou mais te entregar”. O susto foi tão grande que eu me agarrei com o homem que estava no recinto – Disse-me Rosa.

O homem pediu calma, falou com o espírito maligno que havia se incorporado na mãe-de-santo pedindo que ele deixasse o meu marido em paz. Foi quando a sacerdotisa com os olhos esbugalhados disse em voz bem alta – “Jamais, seu homem agora é meu.”

Para me convencer de que há pessoas videntes, Rosa contou-me que tinha um apartamento para vender e não achava compradores, foi quando uma amiga lhe indicou uma cartomante residente na cidade de Campina Grande. Sem delongas, Rosa pegou o carro e partiu para o encontro com a cartomante.

Homero, ela disse tudo da minha vida, se você concordar em ir lá comigo e fizer uma consulta com ela, você vai comprovar o que digo, ela vai dizer tudo da sua vida.  Assegurou-me Rosa.

Bom, continuou Rosa, em menos de uma semana consegui vender o apartamento.

As convicções são piores inimigos da verdade que as mentiras.

Esse lixo mental entupiu a mente de Rosa cegando os dois olhos, ensurdecendo-lhes os ouvidos. Sem ver e sem ouvir nada, fica impedida de raciocinar, a falência intelectual foi instalada e sua mente dominada.

Dito isto tenho como certo a luta entre os religiosos pela mente de Rosa.

Passados alguns dias, eis que a Rosa me aparece e conta as novidades. Estava ela na sala de orações no Centro Espírita, quando de repente o espírito do falecido marido se incorpora em um homem que fazia parte da mesa e com a voz rouca e olhos esbugalhados em sua direção falou – “Eu não deixo você namorar com ninguém, eu tenho muito ciúmes de você, vou atrapalhar qualquer relacionamento seu.”

Nem precisa dizer que a Rosa acreditou nos charlatões.