COMO SE FOSSE UM LEMA...
ERA ASSIM EM 1916
E PERMANECE ATÉ HOJE
A canalha não é, entre nós, no Brasil, essa gente de pés descalços que arrasta nas ruas a sua vida miserável e anônima.
Não é essa turba faminta e resignada na sua desgraça, a pedir emprego de porta em porta, a matar a sede nos chafarizes, a dormir nos bancos da praça pública.
Não é a vagabundagem forçada, sonâmbulos da morte, que não tem um lar que os receba, nem um braço que os ampare, nem um carinho que os console.
Não é esse triste cordão de deserdados, filhos de nossa terra e filhos de terra estranha, que por subúrbios tropeçam na fome de dias inteiros, golfando sangue.
Não é o desgraçado que escamoteia um níquel ou escala um galinheiro para haver pão e o caldo suavisador nos últimos instantes do ente amado que escabuja no chão nu de um cubículo.
Nessa Pátria que se desfaz em lama e nessa gente que se desfaz em pus, a canalha tem o seu trono.
Reina em sonho absoluto.
É a nobreza. É o poder. São os maiores da Nação.
Não é o soldado raso; é o Marechal do Exército.
Não é o marinheiro; é o Almirante.
Não é o guarda civil, nem o secreta, nem o capanga; é o Chefe da Polícia.
Não é o porteiro do Senado; é o Senador da República.
Não tem casacos rotos, nem calças de remendos; tem bordados, tem luvas e brilhantes à botoeira.
Não é o servente que furta e vende uma caneta; é o Ministro que furta e vende as armas da Nação.
Não é a gentalha corrida a coice de arma; é a joldra afortunada que pode, que manda, que julga, que absolve, que mata, que tem nas mãos os dinheiros do tesouro e nos pés a honra do Brasil.
Transcrito de “A Imprensa” – Rio, 18/03/1916
Transcrito de “O Dia” – Recife 27/04/1953
Transcrito do Livro “Um Juiz no Reino do Malaio",
(Dr. Alfredo Pessoa de Lima)