Mostrando postagens com marcador Vítima da Inquisição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vítima da Inquisição. Mostrar todas as postagens

domingo, 15 de novembro de 2015

TORTURA (INQUISIÇÃO) - JOHANNES JUNIUS










Johannes Junius foi um burgomestre e suposto bruxo alemão que exerceu suas funções em Bamberg em 1614, 1617, 1621 e entre 1624 e 1628, além de presidente do conselho entre 1608 e 1613, em 1615, 1616, 1618, 1619, 1620, 1622 e 1623.



Em 1628, o burgomestre de Bamburgo; Johannes Junius, foi acusado e processado por bruxaria.

Esta é a carta que escreveu à filha antes de ser morto, um dos mais importantes testemunhos das perseguições:

Cem mil vezes boa noite, minha adorada filha Verônica. Inocente, fui preso, inocente, fui torturado, inocente, devo morrer. Pois quem quer que seja trancafiado na prisão das bruxas é torturado até se decidir a inventar uma confissão qualquer. Na primeira vez em que fui submetido à tortura, lá estavam o doutor Braun, o doutor Kötzendörffer e outros dois estranhos. O doutor Braun me perguntou: "Amigo, por que está aqui?" E eu respondi: "Por falsas acusações e desgraça." "Escute", disse ele, "você é um bruxo. Quer confessar espontaneamente? Senão traremos as testemunhas e o carrasco".

Eu disse: "Não sou um bruxo, e minha consciência está tranquila com relação a isso. Nem mil testemunhas podem me assustar." Então chegou, Deus do Céu, tende piedade, o carrasco, que esmagou meus polegares com as mãos amarradas, de forma que o sangue jorrava das unhas e de todo lugar, e não pude usar as mãos por quatro semanas, como pode ver pela minha letra. Então me despiram, amarraram minhas mãos nas costas e me colocaram na polé. Pensei que Céu e Terra tivessem chegado ao fim; oito vezes fui erguido e solto, tendo sofrido terrivelmente. E assim confessei, mas era tudo mentira. Agora, querida menina, conto o que confessei para fugir da dor e das torturas que não teria conseguido suportar [...]

Eu deveria dizer quem tinha visto no sabá. Disse que não havia reconhecido ninguém.

"Velho arguto, vou chamar de volta o carrasco. Diga-me, não estaria lá o chanceler?" Então eu disse que sim, que estava. "E quem mais?" Eu não reconhecia ninguém. Então ele disse: "Siga uma rua depois da outra, começando pelo mercado, passando por toda uma rua e voltando pela seguinte." Fui obrigado a dar o nome de várias pessoas. Então chegou a rua comprida. Não conhecia ninguém que ali morasse, mas precisei dar o nome de oito pessoas. E assim continuaram por todas as ruas, ainda que eu não pudesse nem quisesse dizer mais nada. Então me entregaram ao carrasco, mandaram que ele me despisse e raspasse todo meu corpo e me submetesse à tortura.

E tive de confessar os crimes que cometi. Eu nada disse. "Levantem esse mentiroso!".

Então eu disse que deveria ter matado meus filhos, mas matei um cavalo.

Não adiantou nada [...] Eu também disse ter pego uma hóstia consagrada e tê-la profanado.

Quando disse isso, deixaram-me em paz.

Querida menina, guarda esta carta em segredo, ou sofrerei outras terríveis torturas, e meus carcereiros serão decapitados [...].
Boa noite, pois teu pai, Johannes Junius, não te verá mais.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

INQUISIÇÃO - ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA





Antônio José da Silva, brasileiro, carioca, filho de advogado João Mendes da Silva, assistiu a prisão e a deportação de sua mãe Lourença Coutinho para Portugal acusada de praticar em segredo o judaísmo.

O pai de Antônio decidiu então partir para Portugal, para estar próximo de sua mulher, levando o jovem António consigo.

Antônio José da Silva estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde se inscreveu em 1725/6. Interessado pela dramaturgia, escreveu uma sátira, o que serviu de pretexto às autoridades para prendê-lo, acusado de práticas judaizantes. Foi torturado, tendo ficado parcialmente inválido durante algumas semanas, o que o impediu de assinar a sua "reconciliação" com a Igreja Católica, acabando por fazê-lo em auto-de-fé. Finalmente libertaram-no.

Antônio José da Silva iniciou-se na advocacia mas acabaria por se dedicar à escrita, tendo-se tornado o mais famoso dramaturgo português do seu tempo.

Foi um escritor prolífico, tendo escrito sátiras, criticando a sociedade portuguesa da época. As suas comédias ficaram conhecidas como a obra do "Judeu" e foram encenadas frequentemente em Portugal nos anos 1730.

Sua obra teatral inspirava-se no espírito e na linguagem do povo, rompendo com os modelos clássicos e incorporando o canto e a música como elemento do espetáculo. Oito de suas óperas, publicadas em 1744, em dois volumes, na série que ostenta o título Theatro comico portuguez, foram recuperadas em 1940, pelo pesquisador Luis Freitas Branco.

Em 1737, António foi preso pela Inquisição, juntamente com a mãe e a esposa (Leonor de Carvalho, com quem casara em 1728, que era sua prima e também judia). A mãe e a mulher seriam libertadas posteriormente.

António José da Silva foi novamente torturado. Descobriram que era circuncidado. Uma escrava negra testemunhou que ele observava o Shabbat. O processo decorreu com notória má-fé por parte do tribunal e António José da Silva foi condenado, apesar de a leitura da sentença deixar transparecer que ele não seria, de fato, judaizante.

Como era regra com os prisioneiros que, condenados, afirmavam desejar morrer na fé católica, António José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé em Lisboa em Outubro de 1739 com 34 anos de idade. Sua mulher, que assistiu à sua morte, morreria pouco depois.

A história deste autor inspirou Bernardo Santareno, ele próprio de origem judaica, a escrever a peça O Judeu.


Mais recentemente, a vida de António José da Silva foi encenada por Tom Job Azulay no filme O Judeu, de 1995. No filme, António José foi interpretado pelo ator Felipe Pinheiro, que faleceu ainda durante as filmagens.


LEITURA SUGERIDA
O PROCESSO


* Recomenda-se a leitura dos livros quando indicados como fontes. Os posts contidos neste blogger são pequenos apontamentos de estudos.