Saque de Roma. Os soldados protestantes massacram a totalidade da população de Roma, umas 40.000 pessoas, e pilham a cidade. O papa é salvo pelos guardas suíços. Ele se fecha com eles no Castelo de Santo Ângelo, enquanto a população é massacrada. Ele passou um grande medo. Os suíços ganham assim uma fama profissional no estrangeiro, o que se perpetua até hoje.
Escreve o leitor Christian Salles longa
carta (publicada no Caderno B de quinta-feira) para listar uma extensa série de
massacres cometidos por protestantes contra católicos, em resposta a trecho de
meu artigo em que relato o massacre dos cátaros e as cruzadas. O mais notório
desses massacres foi a invasão de Roma em 1527. Diz o leitor: ‘A partir de 6 de
maio de 1527 começa o saque de Roma pelas tropas de Carlos V, comandadas pelo
duque de Bourbon. Cerca de 40 mil homens espalharam o terror, a violência e a
morte. A horda dos invasores protestantes penetrou no Hospital do Espírito
Santo e degolou os enfermos.’
Terrível relato. Mas cabe lembrar que o
espanhol Carlos V, que ordenou o ataque e o saque de Roma, era católico
apostólico e romano e extremamente fervoroso. Os protestantes holandeses e
alemães (a Holanda e parte da Alemanha estavam sob domínio espanhol) serviam a
um soberano católico, que entrou em conflito com o papa Clemente VII, que só
escapou porque buscou refúgio no castelo Sant’Angelo. Três anos depois, o mesmo
papa coroava Carlos V imperador, os estados papais eram reconhecidos pelo
monarca e tudo voltou à santa paz. Quem morreu, morreu em vão.
Francisco Javier Amérigo y Aparici |
Igrejas são
devastadas, soldados bêbados profanam o túmulo de São Pedro, mexem nos restos
mortais do papa Júlio II, do qual lhe arrancam do dedo o anel. A cruz do
imperador Constantino é arrastada na lama. Cibórios, missais, cálices de ouro,
relíquias, crucifixos, alfaias, paramentos, vestes litúrgicas, o sudário de
Santa Verônica, tudo isto anda de mão em mão, no meio dos bêbados e das
prostitutas, por todas as tabernas da cidade. Os invasores roubam as tapeçarias
de Rafael e transformam em manjedouras as capelas e as naves laterais da
catedral de São Pedro. Bulas do papa, bem como os manuscritos do Vaticano,
servem de colchões para o repouso dos cavalos.
Montados em burros, os lansquenetes alemães
aparecem vestidos de púrpura, com chapéus de cardeais e gritando: Viva o nosso
papa Martinho Lutero!
Os brutos iam
violentando as virgens em cima das mães destas, e em seguida as próprias mães.
Algumas mulheres punham termo à vida nas águas do Tibre, ou então, com os
dedos, arrancavam os seus olhos.
Nem as religiosas conseguiram escapar.
Freiras são estupradas nos conventos, sobre os degraus dos altares, e se
resistem, os monstros as degolam. Após a violência sexual, qualquer soldado tem
o direito de novamente possui-las nos bordéis, em troca de dois ducados.
E as
leigas condessas, baronesas, marquesas, respeitáveis matronas saciam a luxúria
dos vândalos até na presença de familiares, mas certos pais, a fim de eliminar
estas cenas, não hesitam em matar as suas filhas.
Os facínoras se valem de todos os meios
para extorquir o dinheiro das vítimas: sangram as pessoas, chicoteiam,
esmurram, deitam chumbo derretido pela boca, enterram lascas finas debaixo das
unhas, queimam as carnes com tenazes aquecidas ao rubro. Dante Alighieri, se
visse estas crueldades, poderia acrescentar na Divina comédia, ao seu Inferno,
uma segunda parte, mais alguns cantos.
Um nobre, chamado Gattinara, comunicou a
Carlos V: "Neste exército [o dos invasores de Roma], não há nem
comandante, nem soldados, nem obediência, nem regras... Os comandantes fazem o
que podem, mas os lansquenetes se comportaram como verdadeiros luteranos."
Centenas de cadáveres apodreciam ao ar
livre nas ruas de Roma, a população diminuiu, outras centenas de cadáveres se
afundaram ou ficaram boiando nas águas do rio Tibre. Durou oito dias o saque e
várias semanas as brutalidades.
A
truculência dos lansquenetes e a eleição do papa Martinho Lutero, indignou os
católicos em todo o mundo. Os apelos de Lutero a violência, durante a guerra
dos camponeses, devem ter estimulado o furor insano dos soldados germânicos na
capital da cristandade. Citamos aqui, as palavras do reformador, dirigidas aos
príncipes da Alemanha: Esmagai! Degolai! Trespassai de todo modo! Matar um
revoltoso é abater um cão danado. Um conselho adotado quando os lansquenetes
luteranos se desembestaram pelas ruas de Roma.
Livro "Lutero e a igreja do pecado", do jornalista Fernando Jorge. Pág. 149-155. Editora Mercúrio.