DELEGADO É ATACADO POR RELIGIOSOS APÓS AUDIÊNCIA POR INTOLERÂNCIA NO RIO DE JANEIRO
Isso é o que acontece
quando se cria um estado baseado
na vontade de "Deus", nas leis
baseadas em livros sagrados.
quando se cria um estado baseado
na vontade de "Deus", nas leis
baseadas em livros sagrados.
O delegado titular da 79ª Delegacia de
Polícia do Rio de Janeiro, Henrique Pessoa, foi atacado por um grupo de 20
evangélicos neopentecostais na quarta-feira (3). O ataque ocorreu após uma
tentativa de conciliação entre ele e um dos agressores, Márcio Pereira
Carvalho, no 5º Juizado Especial Cível de Copacabana. Henrique, que é membro da
Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), pedia que Márcio se
retratasse por ofensas feitas em vídeos no YouTube, mas a resposta foi
negativa. Na saída da audiência, liderados pelo pastor Tupirani da Hora Lopes,
da Igreja Geração Jesus Cristo, pessoas que vestiam camisetas pretas com a
frase "Bíblia sim, Constituição não!" encurralaram o delegado, que
foi brutalmente agredido.
Em uma tentativa de afastar o grupo,
Pessoa pegou a arma que carregava e atirou para o chão. A bala acertou, de
raspão, o abdômen de um dos agressores, Carlos Gomes. O delegado tentou fugir
dos ataques, e, no entanto, foi alcançado.
"Um deles me atingiu violentamente
pelas costas, me derrubaram, me deram pancadas, tiraram minha arma da cintura.
Fiquei muito grogue. Fui carregado para a DP para registrar a ocorrência, mas
desmaiei no caminho e me removeram para uma unidade de saúde", conta o
delegado. Ao analisar as câmeras de segurança do Juizado, Isabela Silva
Rodrigues, delegada titular da 12ª DP, em Copacabana, determinou a prisão de
Henrique Pessoa na noite de quarta-feira.
Ainda na madrugada da quinta-feira (4),
Pessoa conseguiu liberdade provisória, concedida pelo plantão judiciário, mas
hoje (5) foi afastado do cargo. Internado no Hospital Miguel Couto, no Leblon,
Carlos Gomes não precisou passar por cirurgia e foi liberado.
O delegado conta que, há seis anos, é
perseguido pelo pastor Tupirani e por seguidores da igreja, desde que entrou na
militância pelos direitos humanos e contra a intolerância religiosa. Ele conta,
inclusive, que foi ameaçado de morte.
"A gente (a CCIR) está juntando
uma série de provas mostrando que eles estão me ameaçando e me difamando.
Formação de quadrilha, xingamentos, vídeos no Youtube há seis anos",
afirma. O delegado diz lamentar o acontecimento e, mesmo após as agressões,
garante que pretende buscar conciliação com os membros da igreja.
Já Tupirani foi preso, em 2009, junto
com Afonso Henrique Alves Lobato, outro membro da Igreja Geração Jesus, depois
de a juíza Maria Elisa Peixoto Lubanco, da 20ª Vara Criminal do Rio, ter
decretado a prisão preventiva dos dois, que foram os primeiros presos no país
por cometer crimes de intolerância religiosa. Eles foram acusados, ainda, de
injúria qualificada e incitação ao crime.
Na época, com o consentimento do
pastor, Afonso Henrique divulgou, na internet, vídeo em que faz ofensas a
adeptos da umbanda e do candomblé. Além disso, o jovem e outros três seguidores
da igreja invadiram e depredaram o Centro Espírita Cruz de Oxalá, no bairro do
Catete.
Dias depois, em uma entrevista, o
pastor apoiou a iniciativa de Afonso de divulgar o vídeo, alegando que o rapaz
“tinha direito à liberdade de expressão” e também postou uma filmagem na
internet, dizendo que não deve respeito à Constituição, por ser “uma lei dos
homens”. Ele também desafiava as polícias e as Forças Armadas, e reforçava os
ataques às religiões de matriz africana. Após a veiculação do material,
Tupirani foi preso. Em sua defesa, se diz “perseguido” e que é “o primeiro
pastor preso pela ditadura democrática no Brasil”.
Tupirani da Hora Lores tem mais de 7
mil vídeos no YouTube em que exalta a Igreja Geração Jesus e incita o ódio
contra religiões não evangélicas. Em muitos deles, o pastor aparece xingando e
ameaçando Henrique Pessoa.
Comissão
A CCIR foi formada em 2008 por
umbandistas e candomblecistas. Hoje, conta também com espíritas, judeus,
católicos, muçulmanos, malês, bahá’ís, evangélicos, hare krshnas, budistas,
ciganos, wiccanos, seguidores do Santo Daime, ateus e agnósticos. Do poder
público, integram a comissão o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o
Ministério Público e a Polícia Civil. O grupo agrega também entidades da
sociedade civil organizada.
A organização já realizou, desde a
fundação, seis edições da 'Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa’, na
capital do Rio de Janeiro. A maior delas, em 2012, colocou nas ruas 210 mil
pessoas. A 7ª edição será no próximo dia 21.