O monoteísmo é
a forma religiosa mais propensa à realização de guerras santas. Desde quando os
judeus inventaram o Deus único, o ocidente nunca mais ficou livre da
intolerância religiosa. Primeiro os romanos, depois os bárbaros do norte da
Europa, em seguida os islamitas, os protestantes, os indígenas, os ateus, todos
que não professavam a mesma fé no mesmo deus eram tidos por infiéis, hereges,
que deveriam ser “salvos”, pela palavra ou pela força.
A partir do
século IV da nossa era, começará o assassinato dos não-crentes pelos cristãos.
O piedoso
imperador romano cristão Teodósio interdita progressivamente todos os cultos
não cristãos. Pouco a pouco, os templos não-cristãos são fechados ao culto, as
procissões “pagãs” são proibidas. Esta supressão da liberdade de religião em
proveito exclusivo do cristianismo causa, por vezes, revoltas, como a de 408, em
Calama, na Numídia. É nessa época que acontecem na Germânia as primeiras
execuções de hereges, uma bela tradição que a Igreja desenvolverá com a
Inquisição e a perpetuará até 1826.
No ano de 1231, a perseguição aos
não-crentes foi institucionalizada, a Igreja Católica Apostólica Romana cria a
Inquisição. Em 1251, o Papa Inocêncio IV autoriza enfim a inquisição a praticar
a tortura. A obtenção das confissões de culpa é grandemente facilitada. A
inquisição pode aplicar, com base em confissões arrancadas através de tortura,
penas indo duma simples oração ou dum jejum até à confiscação dos bens e mesmo
prisão perpétua. Mas ela não pode condenar à morte. Com a subtileza
característica da Igreja católica, a inquisição podia “passar” um herege para a
justiça comum, que o levará à morte na fogueira, com base na confissão obtida
pela Igreja, mesmo com tortura. Essa subtilidade permitirá à Igreja afirmar que
ela nunca matou ninguém...
Pio V, Papa. Este
santo da Igreja católica vangloria-se publicamente diversas vezes de ter,
durante a sua carreira de inquisidor, colocado fogo com suas próprias mãos em
mais de 100 fogueiras de hereges que ele mesmo acusara, confundira e condenara.
O Santo Ofício, durante toda a sua
história, queimou mais de um milhão de pessoas, essencialmente hereges, judeus
e muçulmanos convertidos e também os “bruxos”. A última feiticeira foi queimada
em 1788, no Cantão de Glaris, na Suíça. O último “herege” chegará à sua vez em
1826. o condenado é queimado vivo pela inquisição espanhola. Uma rica tradição
cristã termina. Daí para frente, a Igreja recorrerá a meios mais sutis para
matar, como proibir a assistência a mulheres que devem abortar, sabotando o
planejamento familiar nos países pobres, proibindo os preservativos como modo
de lutar contra a Aids-Sida, etc.
Você
provavelmente pensa que a Inquisição foi uma perversão do “verdadeiro” espírito
do cristianismo. Talvez tenha sido. O problema, porém, é que os ensinamentos da
Bíblia são tão confusos e contraditórios que foi possível para os cristãos
queimarem alegremente os heréticos na fogueira, durante cinco longos séculos.
Inclusive foi possível para os mais venerados patriarcas da Igreja como santo
Agostinho e São Tomás de Aquino, concluir que os heréticos deviam ser
torturados (Santo Agostinho) ou mortos logo de uma vez (São Tomás de Aquino).
Martinho
Lutero e João Calvino defendiam o assassinato em massa de heréticos, apóstatas,
judeus e feiticeiras.
Se levarmos em
conta a metade das afirmações supostamente declaradas por Jesus, podemos facilmente
justificar as ações do Padre José Coutinho ou Hélder Câmara. Levando em conta a
outra metade podemos justificar a Inquisição.
João 15:6 - Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará;
e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
Naturalmente,
você é livre para interpretar a Bíblia de outra maneira – mas não é espantoso
que você tenha conseguido discernir os verdadeiros ensinamentos do
cristianismo, enquanto os mais influentes pensadores na história da religião
cristã falharam nesse ponto?
A primeira
vítima da inquisição em território americano foi queimada viva no México em 30
de novembro de 1539.
Em 1595 a cidade Real de “Filipéia
de Nossa Senhora das Neves”, hoje João Pessoa , recebe a visita do Santo Ofício. Dezesseis
denúncias chegaram aos ouvidos dos inquisidores em Portugal.
A inquisição
chegou ao Brasil no dia 20 de julho de 1624, com a assinatura da Carta Régia
permitindo a introdução do Tribunal da Inquisição no nosso país.
A Igreja nunca
se arrependeu dos atos da Inquisição e até garantiu a continuidade histórica da
instituição até aos nossos dias, limitando-se apenas a mudar-lhe o nome: será
necessário esperar que Pio X, em 1906, faça com que o “Santo Ofício da Inquisição”
seja renomeado como “Santo Ofício”, e em 1965, para que seja rebatizado como
“Congregação para a doutrina da fé”.
Enfim,
em 1997, o papa abre os arquivos do Santo Ofício, e historiadores escolhidos a dedo são autorizados a
fazer pesquisas. As estimativas do número total de vítimas da inquisição são
então revistas para cima, havendo um consenso que roda hoje em torno de um
milhão de pessoas executadas, ao qual é necessário acrescentar as inúmeras
pessoas torturadas e com todos os seus bens apreendidos.
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Recomenda-se a leitura dos livros e sites
quando indicados como fontes. Os posts contidos neste blogger são pequenos
apontamentos de estudos.