Ateísmo — a
ausência de crença em deuses — se baseia na falta de evidências de que deuses
existam, falta de motivos para crer em deuses e nas dificuldades e contradições
geradas pelo conceito de deus. No entanto, o ateísmo permanece uma hipótese,
sujeita a mudanças se argumentos teístas convincentes surgirem.
A seguir,
apresentamos alguns dos argumentos que ateus examinaram e algumas das razões
pelas quais os rejeitaram.
1)
Deus das Lacunas
(Deus sendo o “almoço grátis”)
A maioria das
“provas” de que deuses existem se baseiam, pelo menos em parte, no argumento do
Deus das lacunas. Este argumento diz que se nós não temos a resposta
para alguma coisa, então “Foi Deus”. “Deus” se torna a explicação padrão, mesmo
sem evidências. Mas será que dizer que “Foi Deus” é realmente
uma resposta?
William
Dembski, defensor do “Design Inteligente”, publicou um livro chamado “Não
existe almoço grátis”. Entretanto, Deus é o “almoço grátis” derradeiro.
Consideremos isto:
- Não sabemos do que deuses são compostos.
- Não sabemos quais são os atributos dos deuses.
- Não sabemos quantos deuses existem.
- Não sabemos onde estão os deuses.
- Não sabemos de onde vêm os deuses ou, visto de outra forma, como é possível que eles sempre tenham existido.
- Não sabemos de que modo os deuses criam ou modificam as coisas.
- Não sabemos o que é o “sobrenatural” e nem de que forma ele consegue interagir com o mundo natural.
Em outras
palavras, não sabemos absolutamente nada sobre deuses — e, no entanto,
um monte de gente atribui um monte de coisas a um ou mais deuses.
Portanto, dizer
que “foi Deus” é responder a uma pergunta com outra pergunta. Não traz
nenhuma informação e apenas complica ainda mais a pergunta original.
O argumento do
Deus das lacunas afirma que não apenas nós não temos uma resposta não
sobrenatural hoje, mas que nós nunca descobriremos uma resposta não
sobrenatural no futuro porque uma resposta não sobrenatural não é possível.
Assim, para contestar um argumento “Deus das lacunas”, temos apenas que mostrar
que é possível imaginar uma resposta não sobrenatural.
Por exemplo:
abrimos uma porta e vemos um gato dormindo num canto. Fechamos a porta, abrimos
de novo 5 minutos depois e notamos que o gato agora está dormindo no outro
canto. Uma pessoa diz “Deus moveu o gato sem acordá-lo” (mas não prova). Outra
diz “É bem possível que o gato tenha acordado, andado até o outro canto e
dormido de novo”. Deste modo, embora ninguém tenha visto o que realmente
aconteceu, o argumento “Deus das lacunas” foi descartado pela possibilidade de
se explicar o fenômeno sem apelar para causas sobrenaturais.
2)
Ter fé numa coisa não a torna realidade
O fato é que
ninguém nem ao menos sabe se é possível existirem deuses. Só porque
conseguimos imaginar alguma coisa, não significa que ela seja possível. Por
exemplo, podemos nos imaginar atravessando paredes sólidas, mas isto não quer
dizer que vamos conseguir. Assim, só porque conseguimos imaginar um deus, não
significa que ele tenha que existir.
Como não há
provas quanto à existência de nenhum deus, um crente típico tem que presumir a
existência de pelo menos nove coisas até chegar ao deus em que ele
acredita. São nove passos separados porque um passo não implica no
passo seguinte.
- O primeiro passo é acreditar na existência de um mundo sobrenatural.
- O segundo passo, que existam seres de algum tipo nesse mundo.
- O terceiro, que estes seres sejam conscientes.
- O quarto, que pelo menos um destes seres seja eterno.
- O quinto, que este ser seja capaz de criar alguma coisa do nada.
- O sexto, que este ser seja capaz de interferir no universo depois de criá-lo (e.g. milagres).
- O sétimo, oitavo e nono, que este ser seja onisciente, onipotente e infinitamente amoroso.
Se, ainda por
cima, as pessoas quiserem acreditar no deus de uma religião específica, então passos
adicionais são necessários.
Desta forma,
quando falamos em deuses, não temos absolutamente nenhuma idéia do que estamos
falando (veja argumento inconvincente #1) e ainda temos que assumir a
existência de 9 coisas diferentes para chegarmos ao deus em que a maioria das
pessoas acredita.
3)
Argumento dos livros sagrados
Só porque algo
está escrito, não significa que é verdade. Isto é válido para a Bíblia, para o
Corão e para qualquer outro livro dito sagrado. Tentar provar a existência do
deus de um livro sagrado usando o próprio livro sagrado como “evidência” é
argumentação circular.
Quem acredita
no livro sagrado de uma religião em geral rejeita os livros sagrados das
outras religiões.
4)
Argumento dos lugares históricos
Este argumento
afirma que, se personagens e lugares históricos são mencionados em lendas
antigas, então tudo o mais nessas lendas, incluindo descrições de
acontecimentos sobrenaturais, tem que ser verdade. Se este argumento for
válido, então tudo o que está na Ilíada,
incluindo as intervenções dos antigos deuses gregos, deve ser verdade.
5)
Revelações dos profetas
Todas as
religiões afirmam ter sido reveladas, em geral por meio de pessoas denominadas
“profetas”. Mas como saber se uma “revelação” é realmente uma “mensagem de
Deus” e não uma alucinação?
Uma revelação é
uma experiência pessoal. Mesmo se uma revelação realmente vier de um
deus, não há como provar. As pessoas de uma religião em geral não acreditam nas
revelações das outras religiões. Essas revelações muitas vezes se contradizem,
portanto com base em quê podemos determinar qual das revelações é
a verdadeira?
6)
Testemunho pessoal, “abrir o coração”
Isto acontece
quando é você mesmo que recebe a revelação ou sente que um deus realmente
existe. Você pode até ser sincero e pode ser até que um deus realmente exista,
mas sentimentos não provam nada, nem para você e nem para os outros.
Não adianta
pedir aos ateus que “abram seus corações e aceitem Jesus” (ou qualquer outro
deus). Se nós abandonássemos nosso ceticismo, talvez até sentíssemos alguma
inspiração, mas isto seria apenas uma experiência emocional e não teríamos como
saber se um deus estaria realmente falando conosco ou se estaríamos
apenas alucinando.
Muitos ateus
contam histórias sobre como foi maravilhoso quando eles perderam a fé nos
deuses, mas, assim como na religião, isto não prova que o ateísmo
é verdade.
7)
A maioria das pessoas acredita em Deus
É verdade que,
ao longo da história, a maioria das pessoas acreditou em pelo menos um deus.
Entretanto, popularidade não transforma nada em verdade. Afinal, a
maioria das pessoas acreditava que a Terra era o centro do universo.
O número de
ateus no mundo está aumentando, atualmente. Talvez um dia a maioria das pessoas
seja atéia. Por exemplo, a maioria dos cientistas nos EUA já é atéia.
Entretanto, assim como no caso da religião, a popularidade crescente do ateísmo
não prova que ele é verdade.
É bem possível
que já haja mais ateus do que crentes na Inglaterra e na França. Será que isto
quer dizer que Deus existe em toda parte exceto nestes dois países?
8)
A evolução não iria favorecer uma falsa crença
Será que a
evolução favoreceria uma espécie incapaz de perceber a realidade? Ou uma
espécie sujeita a alucinações? Se não, então deve haver um deus, segundo
este argumento.
Entretanto, a
evolução não favorece o que é verdade. A evolução favorece o que é útil.
Ninguém
discorda de que a religião e a crença em deuses foram úteis em alguns casos.
“Deus”, assim como Papai Noel, pode ser usado para fazer as pessoas se
comportarem direito em troca de uma recompensa. “Deus” também pode ser usado
para justificar atos condenáveis que beneficiam seu grupo, como os homens-bomba
islâmicos e as Cruzadas. “Deus” pode diminuir seu medo
da morte.
Entretanto, na
era das armas nucleares, o perigo da crença em deuses supera em muito
seus benefícios.
9)
A parte de nosso cérebro ligada a Deus
Alguns religiosos
argumentam que deve haver um deus, caso contrário, para que teríamos uma parte
de nosso cérebro que “reconhece” um deus? Que outra utilidade esta função
cerebral teria?
Entretanto, a
imaginação é importante para nossa sobrevivência. Podemos imaginar muitas
coisas que não são verdade. É um subproduto de nossa capacidade de
imaginar coisas que podem ser verdade.
Na verdade, os
cientistas estão estudando, de um ponto de vista biológico, por que alguns têm
crenças religiosas e outros não. Eles já identificaram substâncias em nosso
cérebro que podem nos fazer ter experiências religiosas. A dopamina,
por exemplo, tende a nos fazer “ver” coisas que não existem.
Um novo campo
científico, a neuroteologia, estuda a religião e o
cérebro e já identificou que a parte do cérebro conhecida como lobo temporal
pode gerar experiências religiosas.
Outra parte do
cérebro, que controla o sentimento de individualidade, pode ser conscientemente
desligada durante a meditação, dando a essa pessoa (que perde a noção do limite
onde ela termina e onde começa o mundo externo a ela) um sentimento de “fusão”
ou “unidade” com o universo.
10)
Antigos “milagres” e histórias de ressurreições
Muitas
religiões têm histórias de milagres. Assim como os que acreditam numa religião
são céticos quanto aos milagres das outras, os ateus são céticos quanto a todas
as histórias de milagres.
Eventos
extraordinários podem ser exagerados com o tempo e se tornarem lendas
milagrosas. Bons mágicos fazem coisas que parecem milagres. As coisas podem ser
mal avaliadas e mal interpretadas. Muitas coisas que pareciam milagres no mundo
antigo, hoje são facilmente explicadas.
Quanto às
ressurreições, os ateus não acham que histórias de gente que ressuscitou
dos mortos sejam convincentes. Há muitas lendas assim na literatura antiga e,
mais uma vez, a maioria dos religiosos rejeita as histórias de ressurreição das
outras religiões.
Muitas
religiões afirmam que seus deuses realizaram milagres óbvios e espetaculares há
milhares de anos. Por que os milagres não mais acontecem? Os deuses ficaram
tímidos? Ou foi o progresso da ciência?
11)
“Milagres” modernos de cura e ressurreição
“Milagres” de
cura nos dias atuais são um bom exemplo do “Deus das lacunas”. Alguém se cura
de uma forma que a ciência não consegue explicar? Claro, “foi Deus”. Deus nunca
precisa provar nada. As pessoas sempre assumem que o mérito é dele.
O problema
deste argumento é que ele parte do princípio de que sabemos tudo sobre o corpo
humano e temos condição de descartar uma explicação científica. Entretanto, o
fato é que nosso conhecimento médico é limitado. Por que nunca vemos um verdadeiro
milagre, como braços amputados se regenerando instantaneamente?
Foram feitos
estudos sobre o efeito das orações no caso de pacientes que não sabiam se
alguém estava orando por eles ou não, inclusive pela Clínica Mayo, e não se
constatou nenhuma influência das orações sobre a cura.
E fica a
pergunta: Afinal, por que temos que implorar a um deus onipotente e
infinitamente amoroso que nos cure de doenças e dos efeitos de acidentes
naturais que ele mesmo causou?
É o Problema
do Mal: se Deus é todo-poderoso e infinitamente amoroso, por que existe o
mal, para início de conversa?
No mundo de
hoje, as histórias de ressurreição sempre parecem acontecer em países
atrasados, em condições não controladas por cientistas. Por outro lado, por que
nunca houve ressurreições de pessoas que morreram em hospitais modernos,
conectadas a máquinas que indicaram quando as mortes ocorreram?
12)
“Céu” (Medo da Morte)
Nem ateus nem
religiosos gostam do fato de que vamos todos morrer. Entretanto, este medo não
prova que há uma vida após a morte — prova apenas que nós gostaríamos
que houvesse. Só que desejos não se tornam automaticamente realidade.
Não há
evidências de que um deus exista nem de que ele tenha criado algum lugar para
irmos depois da morte. Não há nenhuma explicação sobre o que é esse
lugar, onde ele está ou como foi que um deus o criou
do nada.
Não há
evidências sobre almas, nada sobre a composição de uma alma e nenhuma
explicação sobre como uma alma não-material surgiu em um corpo material
ou, alternativamente, sobre quando e como um deus faz surgir
uma alma num corpo.
Se um óvulo
humano fertilizado tem uma alma, o que acontece quando ele se divide para
formar gêmeos? Cada um fica com meia alma? Ou havia duas almas no óvulo
fertilizado original?
E quando
acontece o contrário, ou seja, quando dois óvulos fertilizados se fundem em um
único ser humano (uma “quimera”)? Essa pessoa terá duas almas? Ou havia duas
meias almas que se fundiram?
Se um bebê de
uma semana morre, que tipo de pensamentos ele terá na outra vida? Os
pensamentos de um bebê de uma semana? Ou os de um adulto? Se este for o caso,
como será possível? De onde virão estes pensamentos adultos e
quais serão?.
Não há motivos
para se acreditar em que nossa consciência sobrevive à morte de nosso cérebro.
A mente não é algo separado do corpo.
Por exemplo,
conhecemos as substâncias químicas responsáveis pelo sentimento do amor. As
drogas podem alterar nosso humor e assim mudar nossos pensamentos. Danos
físicos ao nosso cérebro podem mudar nossa personalidade e nossos pensamentos.
Adquirir uma nova habilidade, que envolve pensar, pode mudar fisicamente a
estrutura do nosso cérebro.
Algumas pessoas
ficam com a doença de Alzheimer no fim de suas vidas. O dano a seus cérebros é
irreversível e pode ser detectado por tomógrafos. Essas pessoas perdem a
capacidade de pensar, mas continuam vivas. Será que seu pensamento retorna logo
em seguida à sua morte, na forma de uma “alma”?
Se as pessoas
tivessem que escolher entre um deus e uma vida após a morte, a maioria
escolheria a segunda vida e esqueceria Deus. Elas só escolhem acreditar em Deus
porque é o único jeito que elas conhecem de realizar seus desejos de uma vida
após a morte.
13)
Medo do Inferno
Para os ateus,
a idéia de inferno parece uma enganação — uma tentativa de levar as pessoas a
acreditarem pelo medo naquilo que elas não conseguem acreditar pela razão e
pelas evidências.
O único jeito
de encarar isto “logicamente” é encontrar a religião que lhe pune mais
duramente pela descrença e então acreditar nela. Ótimo, você terá se
livrado do pior castigo que existe — mas só se esta for a
“verdadeira” religião.
Por outro lado,
se ela (e sua punição) não forem verdadeiras — se a religião que ficou
em segundo ou terceiro lugar quanto à dureza da punição for a
verdadeira religião — então você não se salvou de nada.
Então, qual
inferno, de qual religião, é o verdadeiro? Sem evidências,
jamais saberemos.
Mesmo entre
cristãos há pelo menos 3 infernos diferentes. Na versão tradicional, sua “alma”
queimará eternamente. Uma segunda versão diz que um deus de amor não seria tão
cruel, portanto sua “alma” apenas deixará de existir.
Uma terceira
versão diz que o céu não é um lugar físico, mas apenas a condição de estar para
sempre separado de Deus. Acontece que os ateus já estão separados de Deus e
vivem sem problemas, portanto esta ameaça não faz sentido para eles. Além
disto, como é possível ficar separado de um deus que, supostamente, está em
toda a parte?
14)
Aposta de Pascal / Fé
Em resumo, a
aposta de Pascal diz que temos tudo a ganhar (uma eternidade no céu) e nada a
perder se acreditarmos em um deus. Por outro lado, a descrença pode levar-nos a
perder o céu e ir para o inferno.
Já vimos que o
céu é apenas uma coisa que desejamos que exista e que o inferno é uma
enganação, portanto vamos examinar a questão da fé.
A aposta de
Pascal assume que uma pessoa possa se forçar a acreditar em alguma
coisa. Isto não funciona, pelo menos não para um ateu. Portanto ateus teriam
que fingir que têm fé. Só que, de acordo com a maioria das definições de Deus,
ele perceberia nossa mentira interesseira. Será que ele nos recompensaria
mesmo assim?
A aposta de
Pascal também diz que você “não perde nada” por acreditar. Um ateu discordaria.
Ao acreditar em Deus sob essas condições, você estaria reconhecendo que está
disposto a acreditar em algumas coisas pela fé. Em outras palavras, você
estaria aceitando abandonar as evidências como seu padrão para julgar a
realidade. Vista desta forma, a fé já não parece tão interessante,
não é?
15)
Culpando a vítima
Muitas
religiões castigam as pessoas por não acreditar. Entretanto, crença exige fé e
pessoas como os ateus são incapazes de ter fé. Suas mentes requerem evidências.
Assim, devemos punir os ateus por não acreditarem que “Deus” não é uma
coisa evidente?
16)
O fim do mundo
Assim como no
caso do Inferno, esta idéia parece aos ateus servir apenas para levar as
pessoas a acreditarem por medo naquilo em que elas não conseguem acreditar pela
razão e pelas evidências.
Ao longo dos
séculos, houve muitas profecias sobre o fim do mundo. Se sua fé se baseia
nisto, pergunte a você mesmo: por quanto tempo você está disposto a esperar —
quanto tempo será necessário para você se convencer de que o mundo não
vai acabar?
17)
Dificuldades da religião
Já se
argumentou que as religiões exigem tantos sacrifícios que as pessoas jamais as
seguiriam se um deus não existisse. Entretanto, pelo contrário, é a crença em
um deus que motiva as pessoas. Um deus não precisa existir para que isto aconteça.
As dificuldades
podem até servir como ritual de admissão numa seita, como um meio de se tornar
um dos “escolhidos”. Afinal de contas, se soubéssemos que todos seriam salvos,
por que nos daríamos ao trabalho de seguir uma religião?
Além disto, a recompensa
que a maioria das religiões promete em troca da obediência — um céu — compensa
em muito a maioria das dificuldades impostas por elas.
18)
Argumento do martírio:
Dizem os
crentes que ninguém morreria por uma mentira. Eles ignoram o fato de que as pessoas
podem ser enganadas (ainda que com a melhor das intenções) quanto à veracidade
de uma religião.
A maioria dos
grupos que incentivam o martírio promete uma grande recompensa no “céu”,
portanto os seguidores não acham que perder a vida seja um sacrifício
tão grande.
Será que o fato
de que os terroristas que jogaram os aviões no WTC estavam dispostos a morrer por sua fé faz do
islamismo a verdadeira religião? E o que pensar de cultos como o Heaven’s Gate, cujos seguidores cometeram
suicídio em 1997 acreditando que suas “almas” iriam para uma nave espacial que
acompanhava um cometa e onde Jesus os esperava?
19)
Argumento do vexame
Alguns crentes
argumentam que seu livro sagrado contém passagens que são embaraçosas para sua
fé, que essas passagens — e as descrições de eventos sobrenaturais — devem ser
verdadeiras, caso contrário não teriam sido incluídas no livro.
Um exemplo
clássico na Bíblia é o relato da covardia dos discípulos depois que Jesus foi
preso. Entretanto, neste caso e em outros, momentos embaraçosos podem ser
incluídos numa história de ficção para criar um clima dramático e tornar o
triunfo final do herói muito maior.
20)
Falsas dicotomias
Isto acontece
quando se cria uma falsa escolha entre “isto ou aquilo” embora, na verdade,
haja outras possibilidades. Os cristão conhecem bem esta: “Ou Jesus estava louco
ou ele era Deus. Como Jesus disse coisas sábias, então ele não estava louco,
portanto ele deve ser Deus, conforme ele disse que era”.
Acontece que
estas não são as únicas duas opções. Há uma terceira: “sim, ele disse coisas
sábias, mas, ainda assim, estava iludido quando disse que era Deus”. E há uma
quarta: “Jesus talvez não tenha dito nada do que lhe é atribuído na Bíblia.
Talvez tenham sido os escritores da Bíblia que disseram que ele disse aquelas
coisas sábias. E talvez ele nunca tenha afirmado ser um deus e foram os
escritores que o transformaram em deus após sua morte”.
Uma quinta
possibilidade é que Jesus seja inteiramente um personagem de ficção e que tudo
tenha sido inventado pelos autores.
21)
Sentido da vida
Este argumento
diz que, sem a crença em um deus, a vida não teria sentido. Mesmo se isto fosse
verdade, apenas provaria que nós queremos que um deus exista para dar sentido
às nossas vidas, e não porque realmente queremos um deus. Mas o fato de que
ateus encontram sentido para suas vidas sem acreditar em deuses mostra que essa
crença não é necessária.
22)
Deus, assim como o amor, é inalcançável
O amor não é
inalcançável. Nós definimos “amor” tanto como um tipo de sentimento e como algo
que é demonstrado através de ações.
O amor, ao
contrário de Deus, é uma coisa física. Conhecemos as reações químicas no
cérebro que provocam o sentimento de amor. Além disto, o amor depende da
estrutura cerebral. Uma pessoa lobotomizada ou com certos tipos de danos
cerebrais torna-se incapaz de sentir amor.
Além disto, se
o amor não fosse físico, não ficaria confinado aos nossos cérebros físicos. Nós
poderíamos ser capazes de detectar alguma entidade ou força chamada “amor”
flutuando no ar.
23)
Moral e ética
É a idéia
segundo a qual não temos motivos para a moralidade se não houver um deus.
Entretanto, já havia códigos morais bem antes da Bíblia: o Código de Hamurabi,
por exemplo.
Em Eutífron,
um dos diálogos de Platão, Sócrates pergunta a um homem chamado Eutifro se
alguma coisa é boa apenas porque Deus diz que é ou se Deus diz que uma coisa é
boa porque ela tem bondade intrínseca.
Se algo é bom
porque Deus diz que é, então Deus pode mudar de idéia sobre o que é bom. A
moral não seria uma coisa absoluta.
Se Deus diz que
uma coisa é boa por causa da bondade intrínseca desta coisa, então nós
poderíamos encontrar essa bondade intrínseca nós mesmos, sem precisar da crença
em Deus.
Os cristãos nem
mesmo conseguem entrar num acordo entre si quando se fala em masturbação, sexo
antes do casamento, homossexualidade, divórcio, anticoncepcionais, aborto,
pesquisa com células tronco, eutanásia e pena de morte. Os cristãos rejeitam
algumas das leis morais da Bíblia, como matar crianças desobedientes ou pessoas
que trabalham no sábado. Portanto, os cristãos interpretam a Bíblia segundo
seus próprios conceitos de moralidade, rejeitando os mandamentos que não
consideram éticos.
A verdade é que
a maioria das pessoas ignora as coisas que não são éticas em seus livros
sagrados e se concentram nos bons conselhos. Em outras palavras, os
teístas definem sua própria ética da mesma forma que os
ateus fazem.
Até mesmo os
animais respeitam uns aos outros e têm um senso de justiça. Já encontramos a
parte de nosso cérebro responsável pelos sentimentos de simpatia e empatia — os
“neurônios espelhos” — que formam a base de grande parte de nossa ética.
A moralidade é
algo que se desenvolveu por sermos criaturas sociais. Baseia-se nas vantagens
egoístas que obtemos ao cooperarmos com outros e em suas consequências. Ajudar
ao próximo é um ato egoísta que nos traz recompensas evolucionárias (Vide o
argumento 25, contra a existência do autruísmo).
Nós também
julgamos as ações pelas suas conseqüências, através de tentativa e erro. A
melhor fórmula que desenvolvemos é a de permitir o máximo de liberdade a
alguém, contanto que não fira outra pessoa ou afete a sua liberdade. Esta
concepção moral é a que cria o máximo de felicidade e prosperidade para uma
sociedade, e a que beneficia o maior número de pessoas (o maior bem para o
maior número). Esta visão inclui a proteção dos direitos das minorias, já que
de certa forma somos todos pertencentes a alguma delas.
Já que não há
evidência de que algum deus exista, não temos como atribuir a moralidade a um
deus. Portanto, muito mais que servir como guia moral, a religião pode ser
usada para justificar qualquer atitude. Basta alegar que “Deus me disse
para fazer isto”. A melhor maneira de refutar este argumento é descartar
totalmente o conceito de deus.
Mesmo que
deuses não existam, há quem ache que a crença neles ajuda muitas pessoas
a se comportarem, como se ele fosse um policial invisível. Como
disse o presidente George W. Bush, “Deus está o tempo todo pesquisando nosso
coração e nossa mente. Ele é assim como Papai Noel. Ele sabe se você foi bom ou
se foi mau” (08 de Abril de 2007, Páscoa, Fort Hood, Texas).
Queremos
realmente basear nossa ética nisto?
Um sistema
decente de ética não precisa do sobrenatural para se justificar. Entretanto, a
crença no sobrenatural já foi usada para justificar muitas coisas sem ética,
como a Inquisição, a perseguição às Bruxas de Salém, o
preconceito contra os gays, o ataque ao WTC, etc.
24)
Argumento da bondade e da beleza
Alguns
religiosos alegam que sem um deus não haveria nem bondade nem beleza no mundo.
Entretanto, bondade e beleza são definidos em termos humanos.
Se o ambiente
da Terra fosse tão inóspito que a vida não pudesse se desenvolver, nós não
estaríamos aqui para discutir o assunto. Portanto, há coisas no ambiente que
são favoráveis à existência da vida e nós somos naturalmente atraídos para
elas. Nossa sobrevivência depende delas.
No caso da
arte, nós somos naturalmente atraídos por imagens, formas e cores que nos
lembram essas coisas. Entretanto, há várias formas de arte, como o cubismo e o
surrealismo, que algumas pessoas apreciam e outras detestam.
25) Altruísmo
Às vezes, as
pessoas dizem que, sem um deus, não haveria altruísmo e que a evolução só
favorece o comportamento egoísta.
Entretanto,
podemos dizer que não existe altruísmo e que as pessoas sempre fazem o que elas
querem. Se só houver escolhas ruins, elas escolhem aquela que elas
detestam menos.
Nossas escolhas
se baseiam naquilo que nos dá (aos nossos genes) a melhor chance de sobreviver,
o que inclui melhorar nossa reputação na sociedade.
“Altruísmo”
para com membros da família beneficia gente que compartilha nossos genes.
“Altruísmo” para com amigos beneficia gente que um dia poderá retribuir
o favor.
Até mesmo o
“altruísmo” para com estranhos tem a ver com a evolução. É um comportamento que
surgiu primeiro em tribos pequenas, onde todos se conheciam e uma boa reputação
aumentava as chances de sobrevivência do indivíduo. Agora já está entranhado em
nosso cérebro como um modo geral de conduta.
26)
Livre arbítrio
Dizem que não
teríamos livre arbítrio sem Deus, que viveríamos num universo determinístico de
causa e efeito e que seríamos meros robôs.
Na verdade,
temos muito menos livre arbítrio do que a maioria das pessoas pensa. Nosso
condicionamento (nosso desejo biológico de sobreviver e prosperar, combinado
com nossas experiências) torna certas “escolhas” muito mais prováveis do que
outras. De que outro modo podemos explicar nossa capacidade, em muitos casos,
de prever o comportamento das pessoas?
Experiências já
mostraram que nosso cérebro “decide” agir antes que nós tenhamos
consciência disto! Alguns até dizem que nosso único livre arbítrio é a
capacidade de vetar conscientemente as ações que nosso cérebro sugere.
A maioria dos
ateus não tem nenhum problema em admitir que o livre arbítrio pode ser
uma ilusão.
Este assunto
também leva a um paradoxo: se o deus que nos criou conhece o futuro, como nós
podemos ter livre arbítrio?
No fim das
contas, se nós gostamos da nossa vida, o que importa se temos ou não livre
arbítrio? Será que não é apenas nosso ego — nossa saudável autoestima que
contribui para a sobrevivência — que foi condicionado a acreditar em que um
livre arbítrio verdadeiro é melhor que um livre arbítrio imaginário?
27)
Um ser perfeito tem necessariamente que existir
Este argumento,
conhecido como o argumento ontológico, foi criado há uns 1.000 anos por Anselmo de Cantuária.
Ele nos pede
que imaginemos o mais grandioso ou mais perfeito ser possível. Esta é a
concepção de Deus para a maioria das pessoas. Em seguida, ele nos diz que é
mais grandioso ou mais perfeito para algo existir do que não existir. Portanto,
este ser (Deus) necessariamente tem que existir.
Mas este
argumento não leva em conta se é possível que um ser perfeito exista.
Ele também parte do princípio de que aquilo que imaginamos passa a existir. Nem
tudo o que conseguimos imaginar é possível.
Vamos aplicar
esta lógica a um assunto diferente. Imagine um perfeito arranha-céu. Ele
permaneceria intacto se terroristas jogassem aviões contra ele. Entretanto,
nenhum arranha-céu pode resistir a um ataque desses sem, pelo menos, algum
dano. Mas isto contraria nossa premissa de que o arranha-céu tem que ser
perfeito, portanto é preciso que exista um arranha-céu indestrutível.
28)
Por que é mais provável que Algo exista do que Nada?
Este argumento
assume que, sem um deus, não esperaríamos que alguma coisa existisse.
Entretanto, não temos a mínima idéia da probabilidade estatística de Algo
existir versus Nada.
Em física,
sistemas simétricos tendem a ser instáveis. Eles tendem a degenerar em sistemas
assimétricos. Ora, o Nada — a ausência de tudo — é perfeitamente simétrico,
portanto altamente instável. Portanto Algo é mais estável que
Nada, portanto deve ser mais provável que Algo exista que Nada.
Podemos também
perguntar, dentro da mesma lógica: “Por que é mais provável que exista um deus
do que ele não exista?”. Ou ainda “Quem criou esse deus?”
29)
Argumento da Primeira Causa
Este argumento
afirma que vivemos num universo de causa e efeito. Segundo esta lógica, é
impossível que esta sequência de causas continue infinitamente para trás. Em
algum ponto, a coisa tem que parar. Nesse ponto, é preciso haver uma Primeira
Causa que não resulte, ela própria, de nenhuma outra causa. Esta Primeira Causa
Não Causada, segundo dizem, é Deus.
O universo em
que vivemos agora “começou” há uns 13,7 bilhões de anos. Não sabemos se o
universo já existia antes de alguma outra forma nem se havia
energia/matéria/gravidade/etc. (um mundo natural).
Não sabemos se
o mundo natural teve um começo ou se sempre existiu de algum jeito. Se teve um
começo, não sabemos se um deus é a única origem possível. Não sabemos se um
deus pode ser uma causa incausada. O que causou Deus?
Partículas
virtuais aparecem e desaparecem subitamente o tempo todo. A física quântica mostra que pode haver eventos
não causados.
30)
As “leis” do universo
De onde vieram
as “leis” do universo? Uma “lei” da física não passa de uma coisa que acontece
de forma regular. É a descrição de um fenômeno. Não é algo decretado por um
tribunal celeste.
De acordo com o
físico, astrônomo e professor Victor Stenger: “É crença geral que as ‘Leis da
Física’ são exteriores à Física. Elas são concebidas como sendo impostas
ao universo de fora para dentro ou fazendo parte de sua estrutura
lógica. As descobertas recentes da física contestam isto. As ‘leis’
básicas da física são construções matemáticas que tentam descrever a
realidade de forma objetiva. As leis da física são exatamente como seria de
se esperar se viessem do nada” (ênfase incluída pelo autor).
31)
As coisas são exatamente do jeito que deveriam ser
Alguns crentes
argumentam que é preciso que os valores das 6 constantes físicas do universo (que controlam
coisas como a força da gravidade) estejam dentro de uma faixa limitada para que
a vida seja possível. Portanto, como isto não pode ter acontecido “por
acidente”, deve ser obra de um deus.
Mais uma vez,
este é um argumento do tipo “Deus das lacunas”. Além disto, ele pressupõe que
conhecemos tudo a respeito de astrofísica — um campo
em que novas descobertas são feitas quase todos os dias. Talvez venhamos a
descobrir que nosso universo não seja tão “ajustado”, afinal de contas.
Outra
possibilidade é que existam múltiplos universos — separadamente ou como
“bolhas” dentro de um universo maior. Cada um desses universos poderia ter suas
próprias leis da física. Se houver um número suficientemente grande de
universos, aumentam as chances de que pelo menos um deles venha a
produzir vida.
Sabemos que é
possível que pelo menos um universo exista — nós vivemos nele. Se existe um,
por que não vários? Por outro lado, não temos evidências quanto à existência de
nenhum deus.
Pois então
vamos dar uma olhada na definição mais comum de um deus: eterno, onisciente,
onipotente e infinitamente amoroso. Poderia Deus ser de algum outro modo que
não fosse exatamente este que ele é?
Embora haja alguma
margem de tolerância nas condições que permitem existir vida no universo,
tradicionalmente as condições para a existência de Deus não variam.
Portanto, nosso universo com um deus tradicional é logicamente mais implausível
que nosso universo sem um deus. Ele tem que atender a requisitos muito mais estritos.
Claro que ainda
podemos perguntar: quem ou o que definiu Deus?
Se o universo
foi criado especificamente com o objetivo de abrigar a raça humana,
então o enorme tamanho do universo (a maior parte dele hostil à vida) e os
bilhões de anos que se passaram até que os humanos surgissem mostram que ele é
ridículo e é um enorme desperdício — não o que se poderia esperar de
um deus.
32)
A Terra é exatamente do jeito que deveria ser
Alguns crentes
argumentam que a Terra está justamente no ponto do sistema solar (nem muito
quente nem muito frio etc.) que permite que a vida exista. Além disto, ela tem
exatamente os elementos necessários (carbono, oxigênio etc.). Essas pessoas
afirmam que isto não poderia ter acontecido “por acidente”, portanto deve haver
um deus que cuidou desses detalhes.
Este é mais um
argumento “Deus das lacunas”. Mas há uma refutação ainda melhor. Se a Terra
fosse o único planeta no universo, então seria notável que suas
condições fossem “exatamente as necessárias”. Entretanto, a maioria dos
religiosos admite que há milhares, se não milhões, de outros planetas no
universo. O nosso sistema solar tem oito. Portanto, aumentam muito as chances
de que pelo menos um deles tenha as condições para produzir algum tipo
de vida.
Podemos
imaginar criaturas púrpuras com 4 olhos e respirando dióxido de carbono em
outro planeta, muito religiosas, que também cometam o erro de achar que o
planeta deles foi especialmente criado para que eles existissem e que há um
deus criador à sua semelhança.
33)
Criacionismo / Design inteligente
É a idéia,
segundo a qual, se não podemos explicar alguma coisa sobre a vida, então “foi
Deus” (Deus das lacunas).
Entretanto, se
o Gênesis ou qualquer mito da criação religioso similar for verdade, então
praticamente todos os campos da ciência estarão errados. Não apenas a biologia
como também a química, física, arqueologia, astronomia e ainda suas
subdisciplinas como embriologia e genética. Na verdade, poderíamos jogar fora
todo o método científico.
Os
criacionistas às vezes fazem uma distinção entre “micro” e “macro” evolução —
ou seja, eles aceitam que há mudanças dentro de uma espécie, mas não aceitam
que uma espécie se transforme em outra.
Mas quais são
os mecanismos da microevolução? Eles são: mutação, seleção natural e herança. E
quais são os mecanismos da macroevolução? Exatamente os mesmos: mutação,
seleção natural e herança. A única diferença é o tempo necessário. Será que
alguns genes dizem a si mesmos: “Hmmm, é melhor eu não mudar muito, senão
alguns religiosos vão ficar aborrecidos”?
A evolução é a
melhor explicação e a única explicação para a qual há evidências: para a idade
dos fósseis, para a progressão dos fósseis, para as semelhanças genéticas, para
as semelhanças estruturais e para os fósseis transicionais. Sim, há fósseis
transicionais. Por exemplo, nós temos uma boa sequência de fósseis para
espécies que vão desde os mamíferos terrestres até a baleia, incluindo o
basilosaurus, uma baleia primitiva que conservou pequenas pernas traseiras que
não tinham função. Ainda hoje, as baleias mantêm os ossos do quadril.
Alguns
criacionistas afirmam que essas pernas traseiras atrofiadas talvez fossem úteis
para o acasalamento, portanto o basilosaurus seria uma espécie criada
totalmente em separado e não uma transição. Mas, se essas pernas traseiras eram
tão úteis, por que desapareceram?
Na verdade, as
cobras também têm ossos do quadril e às vezes nascem cobras com pernas
vestigiais, provando que elas evoluíram de ancestrais répteis que tinham pernas
traseiras. Na China, foram encontrados muitos fósseis meio répteis/meio
pássaros, provando a transição.
Recentemente se
descobriu o fóssil do tiktaalik, que ajudou a preencher uma lacuna
entre os peixes e os anfíbios. Foi encontrado no Canadá, exatamente no local e
na camada geológica previstos pela evolução.
Por outro lado,
se um deus perfeito tivesse criado a vida, nós esperaríamos dele um
serviço melhor. Não esperaríamos que 99% de todas as espécies que já existiram
se extinguissem. Como disse o biólogo evolucionista Kenneth R. Miller, que é
cristão: “se Deus propositalmente projetou 30 espécies de cavalos que mais
tarde desapareceram, então Deus é, antes de mais nada, um incompetente. Ele não
consegue fazer direito da primeira vez” (“Educators debate ‘intelligent
design’”, por Richard N. Ostling, Star Tribune — 23/março/2002, p.B9).
Francis
Collins, diretor do Projeto
Genoma Humano, evangélico, disse: “O Design Inteligente apresenta o Todo
Poderoso como um criador trapalhão, que tem que intervir de tempos em tempos
para consertar os problemas de seu plano inicial para criar a complexidade da
vida” (“A linguagem de Deus”, pág. 193-194).
Não deveríamos
esperar defeitos de nascença se a vida foi criada por um deus perfeito.
Não deveríamos esperar um “design burro” tal como uma próstata que incha e
estrangula o canal urinário, já que teria sido tão simples passar o canal por
fora da próstata. Deus é um designer incompetente ou relaxado?
Se Deus criou
toda a vida ao longo de uma semana, então, mesmo com um suposto dilúvio
universal, deveríamos encontrar os fósseis totalmente misturados nas camadas
geológicas. Não é o que acontece.
Também temos a
contradição de que Deus é a favor da vida, mas permite o aborto espontâneo. De um
terço a metade dos óvulos fecundados sofre aborto espontâneo, muitas vezes
antes mesmo de a mulher perceber que está grávida. Se um deus projetou o
sistema reprodutivo humano, isto faz dele o maior dos abortistas.
Podemos então
concluir que a evolução científica nos fornece respostas, enquanto que o
criacionismo religioso e o “design inteligente” só geram mais perguntas.
34)
O universo e/ou a vida violam a segunda lei da termodinâmica (entropia)
A segunda lei
da termodinâmica (entropia) afirma que, num sistema fechado, as coisas tendem a
uma desordem cada vez maior. Alguns crentes argumentam que, já que o universo e
a vida são tão organizados, um deus tem que existir para poder violar
esta lei.
Entretanto, o
universo não viola a segunda lei da termodinâmica. O universo teve início com o
máximo grau de desordem possível para seu tamanho. A
partir daí, com sua expansão, mais desordem se tornou possível e, de
fato, é o que está ocorrendo.
Apesar do fato
de que a desordem como um todo está aumentando no sistema chamado universo, é
possível um aumento de ordem em subsistemas, tais como galáxias,
sistemas solares e é possível a vida — desde que, na totalidade do
universo, a desordem esteja aumentando.
Se um deus
criou o universo, deveríamos esperar um início ordenado, não caótico. O fato de
que o universo começou com o máximo de desordem significa que não foi
um deus que o criou, já que uma criação proposital teria pelo menos
alguma ordem.
Também se
verifica que a energia gravitacional negativa do universo cancela
exatamente a energia positiva representada pela massa, de forma que o total
da energia no universo é zero, que é o que seria de se esperar de um
universo que veio do Nada por meios naturais. Entretanto, se um deus
estivesse envolvido, seria de se esperar que ele tivesse adicionado energia ao
universo. Não há evidência disto.
É interessante
como os teístas se agarram à segunda lei da termodinâmica em seus esforços para
provar a existência de seu deus, mas ignoram totalmente a primeira lei — que
diz que a matéria/energia não pode ser nem criada nem destruída — o que refutaria
totalmente a existência do deus deles como um ser que pode criar algo
do nada.
Conclusão
Pessoas religiosas
têm o difícil, senão impossível, encargo de provar que algum deus existe, sem
falar que é a religião deles, entre todas, que é a verdadeira. Se alguma das
religiões tivesse evidências objetivas, será que as pessoas não viriam todas
correndo aderir a ela, a “verdadeira” religião?
Em vez disto, o
que vemos é que as pessoas tendem a acreditar, em graus diferentes, na religião
que lhes foi transmitida. Ou então são atéias.
© 2006, 2007
August Berkshire. Nov. 21, 2007
Comentários são benvindos.
Email: augustberkshire [at] gmail.com
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Traduzido por Fernando
Silva e revisado por Alenônimo com permissão de August Berkshire.