A afirmação de que a Bíblia escrita nas línguas originais, não se apresentava
dividida em capítulos e versículos é um ponto pacífico entre os estudiosos das
Escrituras.
A primeira divisão conhecida para o texto hebraico são as seções conhecidas
como sedarins. Para que nas sinagogas, em um período de três anos, se lesse
todo o Pentateuco, este foi dividido em 167 sedarins.
Nos primeiros séculos o Novo Testamento estava dividido em três partes: os
Evangelhos, as epístolas e os Atos, e a Revelação.
No terceiro século os Evangelhos foram divididos em duas espécies de capítulos:
os maiores eram chamados "tíltloi" ou resumos; e os menores
"kefálaia", ou capítulos. Estas foram primitivamente introduzidas por
Amônio, por isso são chamadas divisões amonianas.
Divisão Eusebiana
Eusébio de Cesaréia idealizou um sistema original que servisse de orientação
para localizar passagens nos Evangelhos. Pela difusão do seu sistema podemos
deduzir da sua utilidade, pois é encontrado nas versões latinas, siríacas,
cópticas, góticas, armênias, etc.
Ele dividiu cada Evangelho em pequenas e grandes seções, totalizando 355 em
Mateus, 233 em Marcos , 342 em Lucas
e 232 em João. Eusébio
preparou 10 tabelas, a primeira contendo referências a passagens comuns achadas
nos 4 Evangelhos; a segunda, passagens comuns em Mateus, Marcos
e Lucas; a terceira, passagens comuns em Mateus, Lucas e João, etc. A última
tabela fazia referências ao assunto peculiar de cada Evangelho isoladamente.
Eusébio explicou seu engenhoso e complexo sistema classificatório em uma carta
ao seu amigo Carpiano.
No livro The Text of the New Testament Bruce Metzger, páginas 24-25, há
explicações adicionais para melhor compreensão do seu processo em classificar
os Evangelhos.
O método de Eusébio é conhecido como "tábuas de referência" ou
"Cânones de Eusébio".
No ano 459 Eutálio, diácono de Alexandria, publicou uma edição das Epístolas de
Paulo, dividida em capítulos "Kefálaia", com o sumário do seu
conteúdo. Do mesmo modo, no ano 490, dividiu ele os Atos e as Epístolas
Católicas. Ele próprio afirma também que pôs acentos nos manuscritos copiados
sob sua vigilância, costume que não se generalizou até mais ou menos o oitavo
século.
Para tornar os manuscritos mais legíveis, Eutálio dividiu-os em linhas,
chamadas "Stikoi", constando estas em alguns casos de tantas letras
quantas pudessem ser colocadas em toda a largura duma página, e noutros de
tantas palavras quantas pudessem ser lidas sem interrupção. Desconhecemos
totalmente quando, como e por quem foi dividido pela primeira vez o Novo
Testamento grego.
A divisão mais antiga em capítulos que se conhece aparece no Códice Vaticano.
Neste manuscrito Mateus tem 170 seções, Marcos
62, Lucas, 152, João 50, Atos36.
No Códice Alexandrino há outra divisão, aparecendo Mateus com 68 capítulos, Marcos 48, Lucas 83 e João 18.
Nestes manuscritos as Epístolas Paulinas e Católicas também se apresentam
divididas e subdivididas em capítulos e seções de capítulos; Apocalipse
apresenta uma divisão complexa e artificial.
A divisão em capítulos, usada nas edições modernas da Bíblia tem sido atribuída
a três pessoas diferentes:
1ª) A Lanfron, arcebispo de Cantuária, que viveu no século XI;
2ª) A Estêvão Langton, professor da Universidade de Paris, do século XIII, sua
morte se deu em1228;
3ª) A Hugo de Saint-Cheir, também do século XIII, pois faleceu em 1263.
Segundo alguns estudiosos, este último acrescentou outras subdivisões ao
trabalho já feito por Langton.
Divisão em Versículos
A divisão em versículos numerados foi feita por Roberto Estéfano, famoso
impressor francês, no Velho Testamento em 1548 (Vulgata) e em o Novo Testamento
grego em 1551.
Roberto Estéfano se aproveitou de trabalhos anteriores. Lefevre, 1509 havia
numerado em versículos os Salmos e Panini em 1528 numerou toda a Bíblia.
A divisão de Estéfano é muito falha em algumas passagens, por estar em total
desacordo com o sentido do texto.
Este mesmo autor, publicou em 1555 uma concordância Bíblica, onde as citações
seguiam essa numeração. Esta obra muito contribuiu para que sua classificação
fosse aceita.
Números de Livros, Capítulos, Versículos, Palavras e Letras da Bíblia
O Dr. Alberto Lira em seu livro A Bíblia, afirma que o erudito e paciente Dr.
Siegfried Horn (para os adventistas, bastante conhecido como arqueólogo e
figura preeminente do Comentário Adventista), após três anos de trabalho,
encontrou na Bíblia inglesa do Rei Tiago(The King James Version) o seguinte:
Livros V. Testamento 39 livros N. Testamento 27 Livros Total 66 Livros
Capítulos 929 260 1.189
Versículos 23.214 7.959 31.173
Palavras 593.493 181.253 774.746
Letras 2.748.100 838.380 3.566.480
Pontuação
A pontuação apresenta uma história bastante longa e controvertida quanto a
autores e datas.
A Bíblia na sua origem foi escrita sem separação de palavras e sem nenhuma
notação sintática.
Ninguém pode contestar que a pontuação é de grande utilidade, pois sem ela
teríamos que reler algumas vezes para captar o verdadeiro sentido da frase. Os
sinais de pontuação muito contribuíram para esclarecer o exato sentido de um
texto.
Rui Barbosa, na Réplica, Vol. II, página 195, demonstrou com muita propriedade
este fato, ao declarar:
"Bom é que saiba o nosso tempo quanto bastará, para falsificar uma
Escritura. Bastará mudar um nome? Bastará mudar uma cifra? Digo que muito menos
nos basta. Não é necessário para falsificar uma escritura mudar nomes, nem
palavras, nem cifras, nem ainda letras; basta mudar um ponto ou uma vírgula.
" 'Ressuscitou; não está aqui'. Com estas palavras diz o evangelista que
Cristo ressuscitou, e com as mesmas se mudar a pontuação, pode dizer um herege
que Cristo não ressuscitou. 'Ressuscitou? Não; está aqui.' De maneira que com
trocar pontos e vírgulas, com as mesmas palavras se diz que Cristo ressuscitou:
e é de fé; e com as mesmas palavras diz que Cristo não ressuscitou: e é de
heresia. Vede quão arriscado ofício é o de uma pena na mão. Ofício que, com
mudar um ponto, ou uma vírgula, de heresia pode fazer fé, e de fé pode fazer
heresia."
O livro Arte de Pontuar de Alexandre Passos, página 22, nos afirma que
estudando a história da pontuação através dos séculos, vemos que no V ou VI
séculos os textos dos Evangelhos não apresentam nem ponto nem vírgula. Afirma
ainda, este mesmo autor, que a separação das palavras na Bíblia torna-se mais
freqüente no VII século.
Alguns estudiosos nos cientificam de que apenas com o nono século é que foram
introduzidos o ponto de interrogação e a vírgula no texto bíblico. Outros
declaram que a vírgula é de origem recente. Urias Smith em artigo publicado no
"Atalaia", janeiro de 1943, pág. 14 afirmou "Apareceu no tempo
de Manutius, sábio impressor de Veneza, que a inventou no ano 1490."
Antes da invenção da Imprensa os sinais de pontuação eram usados
indiscriminadamente, mas após a invenção de Gutenberg estes foram sendo
sistematizados, até atingirem plena uniformidade entre os escritores.
Pontuação em lugar diferente, como nos demonstrou Rui Barbosa, no exemplo acima
citado faz com que o texto tenha sentido completamente diferente.
Observe o controvertido versículo de Lucas 23:43, que na Tradução de Almeida,
revisada no Brasil, aparece assim: "Jesus lhe respondeu: Em verdade te
digo que hoje estarás comigo no paraíso." Sabemos que Jesus não foi ao
paraíso no dia da crucifixão, pois Ele mesmo declarou a Maria Madalena, após a
ressurreição: Não me detenhas, porque ainda não subi para Meu Pai." (S.
João 20:17).
Observe este sentido colocando a vírgula no lugar próprio. "E Jesus lhe
disse: em verdade te digo hoje, comigo estarás no paraíso."