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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um Manifesto Ateísta




Com uma linguagem simples, mas audaz e vigorosa, o autor enuncia os princípios básicos da filosofia do ateísmo. Este novo livro é um desafio ao pensamento universal, e lança no campo de batalha não apenas os religiosos, mas também nossos educadores e líderes políticos. 

Muitos perguntam que diferença faz se um homem acredita em um Deus ou não?

Faz uma grande diferença.
Faz toda a diferença do mundo. 

- É a diferença entre estar certo e estar errado; é a diferença entre verdade e imaginação — fatos ou ilusão. 
- É a diferença entre a terra ser plana e a terra ser redonda.
- É a diferença entre a Terra ser o centro do Universo ou uma minúscula partícula em um vasto e inexplorado oceano com multidões de sóis e galáxias.
- É a diferença entre o conceito apropriado de vida ou conclusões baseadas em ilusões.
- É a diferença entre o conhecimento comprovado e a fé da religião.
- É uma questão de Progresso ou de Idade das Trevas. 

A história humana comprova que a religião perverte o conceito do homem a respeito da vida e do Universo; que o transforma em um covarde submisso ante as forças cegas da natureza. 

Se você acredita que há um Deus; que o homem foi “criado”; que foi proibido de comer o fruto da “árvore do conhecimento”; que foi desobediente; que é um “anjo caído”; que está pagando a punição por seus “pecados” — então você devota seu tempo rezando para satisfazer um Deus iracundo e ciumento. 

Se, em contrapartida, você acredita que o Universo é um grande mistério; que o homem é produto da evolução; que nasce sem qualquer conhecimento; que a inteligência é fruto da experiência — então você devota seu tempo e energia para melhorar sua condição, na esperança de garantir uma pequena felicidade para si e para seus semelhantes. 

Essa é a diferença. 

Se o homem foi “criado”, então alguém cometeu um grave engano. 

É inconcebível que qualquer forma de inteligência desperdiçaria tanto tempo e esforço para produzir um fragmento de vida tão inferior — com todas as “enfermidades herdadas pela carne” e com toda a miséria e sofrimento que são parte tão essencial da vida. 

Se o homem é um “anjo caído” por ter cometido um “pecado”, então a enfermidade e o arrependimento são parte do imperscrutável plano de Deus como punição imposta ao homem por sua “desobediência”, e toda a vida do homem é devotada à expiação desse pecado a fim de suavizar tal acusação ante o “Trono de Deus”. 

A expiação do homem consiste em fazer-se o mais miserável possível através da oração, do jejum, do masoquismo, da flagelação e de outras formas de tortura. 

Esta ilusão sádica faz com que ele insista — sob medo de punição — para que os outros também sejam tão miseráveis quanto a si próprio, pois teme que, se os outros falharem em ser como ele, isso provocará a ira do seu Deus tirano, que castigará com mais severidade. 

O resultado inevitável é que o homem não devota sua vida aos princípios essenciais do viver e do bem-estar, mas à construção de templos e igrejas onde pode “elevar sua voz a Deus” em um frenesi de fanatismo, eventualmente tornando-se uma vitima da histeria. 

Seu tempo e sua energia são desperdiçados para purificar sua “alma” — a qual ele não possui — e para salvar a si mesmo de uma punição futura no inferno — que existe somente em sua imaginação. 

As alucinações religiosas tomam variadas formas. 

Alguns não lavam a si próprios; alguns lavam apenas seus dedos; alguns pensam que, quanto mais sujos, mais “sagrados” são; alguns cortam seu cabelo, enquanto outros deixam-no crescer; alguns recusam-se a ficar em pé, outros recusam-se a se sentar; alguns amputam seus genitais, outros, seus seios; alguns arrancam seus dentes, outros mortificam seus membros; alguns jejuam, outros se empanturram; alguns cobrem suas cabeças com areia, outros, com farrapos e cinzas; alguns falam continuamente, outros guardam silêncio; alguns são celibatários, outros são libidinosos; alguns ficam de ponta-cabeça; alguns fazem marcas em si mesmos, enquanto outros perfuram o nariz, os olhos e as orelhas. 

Freiras cortam o cabelo para se tornarem tão feias quanto possível — para se tornarem repulsivas ao sexo oposto; há monges que fizeram voto de nunca olhar à face de uma mulher; franciscanos ainda vestem cordas ao redor de seus corpos como um símbolo da flagelação. 

Dificilmente se encontra uma forma insanidade ou ilusão que não tenha sido induzida por alguma espécie de crença religiosa. 

Rir no “Sabá”, por apenas uma vez, era considerado o pecado dos pecados. 

Quão certo estava Robert G. Ingersoll quando disse que “O cristianismo produziu mais lunáticos do que manicômios para interná-los”. 

Por outro lado, não acreditamos que o homem é um ser depravado. Não acreditamos que há um Deus tirano e nem que há um inferno em que o homem irá sofrer as dores e punições do tormento eterno. Não acreditamos que devemos tornar-nos tão miseráveis quanto possível aqui na esperança de assegurar alguma felicidade no “além”. 

Não acreditamos que a enfermidade é uma punição pelo pecado. 

Acreditamos que a enfermidade é uma consequência natural dos processos da vida, e que as “enfermidades da carne” são consequência inevitável do fato de as formas de vida viverem umas às custas das outras — “No banquete da vida, todos os convidados comem os pratos e são os pratos”. 

Apenas através da compreensão da natureza da enfermidade o homem tem sido capaz, mesmo que em pequeno grau, de proteger-se contra sua própria destruição. 

O uso da oração para curar doenças foi responsável por epidemias que, em muitas ocasiões, quase exterminaram a raça humana. A oração não tem mais efeito sobre a doença do que tem sobre a saúde. Ela simplesmente permite que a doença siga seu curso e aumente o sofrimento da vítima. 

Se os padres — de todas as seitas — fossem isentos de doenças e imunes à morte, então poderia haver algum fundamento para as alegações dos religiosos. Mas esses “homens de Deus” são vítimas dos cursos naturais da vida, “assim como você e eu”. Não desfrutam de privilégios. Eles sofrem das mesmas doenças; sentem as mesmas sensações; estão sujeitos às mesmas paixões do corpo, às mesmas fragilidades mentais; são vítimas das circunstâncias e do infortúnio; e se encontram com a inevitável morte, assim como qualquer outra pessoa. Eles cometem os mesmos tipos de crime que os outros mortais, e, especialmente, devido à sua “vocação”, muitos estão notoriamente envolvidos no desvio de fundos de igrejas. Sua vocação também não os protege das “paixões da carne”. A escandalosa conduta de muitos “homens de batina”, no campo da torpeza moral, não raro termina em assassinato. Por isso há tantos “homens de Deus” em nossas prisões, e por isso tantos pagaram a penalidade suprema na cadeira elétrica. 

Eles não escapam a qualquer lei da vida; tudo que os outros precisam enfrentar, eles igualmente precisam. Não podem proteger-se das forças da natureza e das leis da vida mais do que qualquer um. Tudo que eles podem fazer, todos podem, também. Suas alegações de que são “iluminados” ou “porta-vozes de Deus” na Terra são falsas e hipócritas. 

Se eles não podem cumprir suas promessas enquanto você está vivo, como poderão cumpri-las quando você estiver morto? 

Se aqui, onde poderiam demonstrar seus poderes, eles são impotentes, quão ridículas são suas afirmações de que suas promessas serão cumpridas no “além” — a morada mitológica que existe apenas nas imaginações desonestas ou iludidas. 

As ilusões da vida são muitas e variadas. 

As coisas nem sempre são o que parecem ser, e sabe-se muito bem que as “aparências enganam”. 

Por isso é tão difícil, para algumas pessoas, compreender a natureza da enfermidade, e por isso levou tanto tempo para que o homem compreendesse as verdadeiras condições da vida. 

Este engano predomina em questões de grande importância, e também em questões pouco relevantes. 

Não há uma “voz da natureza” para dizer ao homem o que é verdadeiro e o que é falso, nem para alertá-lo sobre os perigos da vida. O homem deve encontrar a verdade ele próprio, e isso apenas após amargas experiências.

Um dos primeiros equívocos do homem, após seu assim chamado “despertar intelectual”, adveio da sua incapacidade de conceber qualquer esquema de vida senão o seu próprio conceito primitivo, de inteligência limitada. 

Ele não conseguia conceber a Terra e o Universo senão como tendo sido “criados” e, com seu sentimento de vingança, não conseguia conceber o sofrimento da vida senão como punição por alguma “desobediência”. Apesar de primitivo, ele não infligia sofrimento e punição sobre inocentes. Este esquema diabólico poderia apenas vir de um Deus “misericordioso”. 

Como ilustração deste conceito do homem primitivo neste sentido está a ilusão que ele acalenta quando acredita que o Sol “nasce e põe-se”, quando, na realidade, o Sol é “estacionário”, pelo menos em relação ao nosso sistema planetário, e é a Terra que se “move”, como Galileu tão corajosamente defendeu — o que custou sua liberdade. 

Há uma ilusão de que o Sol brilha e a água cai das nuvens para fazer as flores desabrocharem. 

Para o religioso isso é uma indicação da “beleza” da natureza. 

Não é nada disso. 

Plantas venenosas e ervas daninhas são igualmente nutridas pelo calor do Sol e pela umidade da água. 
Isso, então, é uma indicação da “feiúra” da natureza?
Certamente não. 

Ambos são consequências inevitáveis do meio-ambiente em que vivem. Não poderia ser de outro modo. 

Será que o hipopótamo é uma das obras-primas da natureza? 

Será que sua face e sua forma exprimem a perfeição da beleza e da graça? 

Você consideraria esse animal uma obra de arte viva se fosse o responsável por ele? 

Ainda assim, se esse animal pudesse falar, provavelmente diria que este meio-ambiente foi feito em seu benefício e que suas maravilhosas características, particularmente sua boca, foram especialmente “projetadas” para seu desfrute, e que seu corpo todo foi feito “à imagem e semelhança de Deus”.
O fato de que o hipopótamo sobreviveu todos esses milhões de anos do processo evolucionário, e continua subsistindo hoje, é uma prova de que ele é tão favorecido pela natureza quanto o homem. 

Para a natureza, as flores desabrochadas e as ervas daninhas são equivalentes, e a fragrância de uma e o fedor da outra são igualmente importantes; se pudessem falar, ambas tentariam seduzir a preferência da natureza para si.
Mas, na verdade, ambas estariam erradas. 

O Sol não brilha pra dar-nos a luz e o calor necessários sem, também, iluminar alguns novos problemas para que nossos tumultuados corações tenham de suportar; tudo no Universo compartilha as mesmas inevitáveis consequências. 

Enquanto é verdade que “maus ventos nunca trazem o bem”, também é verdade que “o alimento de um homem é o veneno de outro”. 

Para a natureza, questões de “grande importância” e questões de “pouca relevância” estão no mesmo nível. Uma não é “favorecida” em detrimento da outra. É a sobrevivência do mais apto, não do mais desejável. 

Quando as condições são favoráveis aos animais “selvagens”, eles prosperam matando outras formas de vida, com as quais sobrevivem, e, quando as condições são favoráveis ao homem, ele mata e sobrevive graças às formas de vida que julga existirem somente para seu prazer e benefício. 

Para a natureza, os germes patogênicos, enquanto formas de vida, são tão importantes quanto as outras formas de vida que “respiram e têm espírito”. 

Quando as condições estão favoráveis para o vírus influenza ou da gripe, temos o que se denomina epidemia, e, quando temos condições favoráveis para o crescimento da peste negra, temos o que poderíamos chamar de “Férias Romanas”, com a destruição de um terço de nossa população. 

Germes patogênicos são apenas pequenos animais invisíveis.
São formas de vida que prosperam sobre o solo do corpo humano. 

Contra eles, a reza surte tanto efeito quanto rezar para um tigre faminto pronto para devorá-lo. 

O projétil de uma arma de fogo seria muito mais eficiente contra o tigre, e o conhecimento da natureza dos germes patogênicos e a descoberta dos métodos para destruí-los são comparáveis à invenção da arma de fogo em sua utilidade contra bestas ferozes. 

O conhecimento evita a nossa destruição protegendo-nos contra inimigos invisíveis, enquanto a invenção das armas de fogo evita a nossa destruição protegendo-nos contra as bestas ferozes. 

Os germes patogênicos e o tigre faminto têm o mesmo objetivo determinado — sua destruição; um lhe comendo “aos poucos” e o outro lhe destroçando “aos bocados”. 

Os resultados são idênticos. 

Não é necessário tentar “moralizar” alguma diferença.
Em nosso presente esquema de vida, como Ingersoll tão eloquentemente afirma, sabemos que: “As mãos que auxiliam são muito melhores que os lábios que rezam”. 

Nossos corpos são “carne” para os germes patogênicos que nos devoram assim como, para nós, os animais são carne para saciar nosso apetite. 

Ou, como diria Shakespeare:
“…no broto mais doce
Mora o cancro famélico.” 

Num conceito mais amplo e compreensível de doença, Shakespeare diz que ela é como: 

“Um Deus onipotente
Reunindo em suas nuvens…
Exércitos de pestilência; e irão atacar
Seus filhos antes de nascerem…” 

Quem somos nós para dizer qual é o favorito neste esquema da vida, qual dos dois é o preferido pela natureza — os germes patogênicos ou o homem? Qual dos dois poderia ser o mais importante se os objetivos visados são os mesmos? 

O germe patogênico veio à existência pelo mesmo processo que o homem. Ele é parte da natureza tanto quanto um bebê recém-nascido. Não podemos viver sem luz do Sol e água, e tampouco o podem os germes patogênicos. 

E talvez não sejamos mais do que “germes patogênicos” no meio-ambiente em que vivemos. Os germes patogênicos, em sua constituição fundamental, compartilham conosco os mesmos padrões básicos que compõem a vida. 

Para a natureza, a noite é tão importante quanto o dia, e a vida do germe que denominamos patogênico é tão importante quanto a vida do corpo do qual ele se alimenta.
Ambos seguem as mesmas leis da vida; nascem, reproduzem-se e morrem. 

Há formas de vida que vivem à noite, e que são tão favorecidas pela natureza quanto aquelas que vivem de dia.
Na natureza existe extravagância em todos os graus — desde o completamente ridículo até o monstruosamente assustador. Esta é a prova da ausência de “design” na natureza, pelo menos no que concerne o homem. 

Quando o homem perceber que não é o “favorito” de Deus, que não foi especialmente criado, que o Universo não foi feito em seu benefício e que ele está sujeito às mesmas leis naturais às quais estão todas as outras formas de vida, então, e apenas então, ele compreenderá que deve colocar em si mesmo, e apenas em si, toda a responsabilidade por quaisquer tipos de benefícios que pretende conquistar; e devotar seu tempo e sua energia para ajudar a si e aos seus semelhantes a satisfazer as exigências da vida e esforçar-se para resolver os difíceis e intrincados problemas de estar vivo. 

O reconhecimento de um problema é o primeiro passo para sua solução.Não somos anjos “caídos” e tampouco fomos “criados” perfeitos. Pelo contrário, somos o produto de milhões de anos de evolução cega. 

Somos os descendentes e os herdeiros de todos os defeitos de nossos ancestrais primitivos — a evolução da miríade de formas de vida, do infinitesimal ao mamute, do verme ao dinossauro. 

O passo mais importante no desenvolvimento de um homem é o reconhecimento do fato de que nascemos sem conhecimento, e que a aquisição deste é um processo lento e doloroso. 

Se tudo que o homem precisa sobre a Terra fosse “a sabedoria de Deus”, então por que seria necessário o estabelecimento de instituições educacionais? 

A não ser que a criança seja ensinada a falar, ela nunca será capaz a exprimir-se no idioma de sua terra natal. Sem ensinar à criança os fundamentos da linguagem, ela seria incapaz de comunicar seus pensamentos aos outros. Sem treinamento apropriado, seus “grunhidos” de expressão não teriam qualquer significado, e o único modo através do qual poderia expressar-se seria usando seus instintos primitivos de apontar e de fazer sinais. 

O cérebro necessita do mesmo tipo de treinamento que qualquer outra parte do corpo que requeira exercício para desenvolver-se. A nutrição da mente é tão necessária quanto a nutrição do corpo. 

Assim como há algumas comidas que foram adulteradas e refinadas de tal modo que, quando ingeridas, não proporcionam qualquer nutrição ao corpo, também há verdades que foram adulteradas pela religião e pela superstição de tal modo que se tornaram completamente inúteis no sentido de nutrir a mente com inteligência. 

A educação tornou-se o objetivo primário da civilização.
Como disse Thomas Paine: “A sabedoria não se compra num só dia”. 

A Igreja sabe que um homem educado é um homem descrente. Por isso há um esforço contínuo da parte do clero no sentido de adulterar a educação com superstição. Para preservar sua insustentável posição, devem manter o povo agrilhoado por uma forma de escravidão mental. 

Medo e superstição — ambos são formas de uma doença contagiosa. A ignorância do homem produziu medos naturais dos elementos da natureza. O que não podia compreender, atribuía a espíritos malevolentes cujo objetivo primário era puni-lo e prejudicá-lo. Nesta ótica, parece realmente incrível que ele tenha sido capaz de avançar de seu estado de ignorância primitiva. 

Seus medos produziram monstros tão fantásticos que primeiro foi necessário despir sua mente atormentada destes aterrorizantes mitos de fantasmas e deuses antes de ser capaz de adquirir mesmo os mais simples rudimentos do conhecimento. 

Os medos e a ignorância do homem fizeram dele uma presa fácil para os padres. Sua credulidade era tamanha que acreditava em tudo que lhe fosse dito. E rapidamente tornou-se um escravo desses mentirosos e hipócritas. 

O que esses padres lhe disseram? 

Disseram-lhe que Deus havia feito uma revelação especial em um livro chamado Bíblia, e que era necessário acreditar em cada palavra deste livro a fim de que sua alma pudesse ser salva. Disseram-lhe que, se desobedecessem a seus comandos, iriam sofrer uma punição eterna no inferno, onde “o fogo nunca apaga e o verme nunca morre”. 

Disseram-lhe também que ler aquele livro era um pecado, e que o padre havia sido especialmente ordenado por Deus para interpretar o significado de cada palavra. 

E qual foi a interpretação que os padres fizeram do texto desse livro? 

Foi a de que o homem era um ser corrompido e pecaminoso, e que, para ser salvo da punição post-mortem, tinha de dar uma parte substancial dos frutos de seu trabalho para o padre rezar por ele e interceder em seu favor a Deus, de modo a mitigar a punição à qual ele já estava destinado.

Um diabólico esquema fraudulento para se viver às custas do suor e do trabalho dos outros. Um esquema tão lucrativo que os padres começaram usar a força para manter seu poder. 

Como resultado, vieram à existência as duas tiranias gêmeas: a igreja e o estado. 

Parece inacreditável que tamanha tolice tenha realmente sido imposta sobre a sofrida humanidade — e tudo isso não passaria de tolice, se não fosse tão trágico. 

O homem tornou-se tão temente que pensou que não seria capaz de viver sem a “proteção” dos padres, e, como disse Ingersoll, “enquanto as pessoas quiserem papas, sempre haverá hipócritas que alegremente estarão dispostos a tomar seu lugar…”. 

Ingersoll também declarou: “Os padres fingiam estar entre a ira dos deuses e a impotência dos homens. O padre era o advogado do homem na corte do céu. Levava ao mundo invisível uma bandeira de paz, um protesto e um pedido; retornava com um comando, com autoridade e com poder. O homem caiu aos seus joelhos, e o padre, tirando vantagem da reverência inspirada pela sua suposta influência com os deuses, transformou seus semelhantes em aduladores hipócritas e escravos”. 

Enquanto houver alguma pessoa sofrendo uma injustiça; enquanto houver alguma pessoa forçada a suportar uma culpa desnecessária; enquanto houver alguma pessoa sujeita a uma dor imerecida — a adoração de Deus será uma humilhação desmoralizante. 

Enquanto houver um erro no Universo; enquanto for permitido que exista qualquer coisa errada; enquanto houver ódio e antagonismo entre a humanidade — a existência de um Deus será uma impossibilidade moral. 

Ingersoll disse: “A injustiça sobre a Terra torna a justiça dos céus impossível”. 

A inumanidade do homem para com o homem continuará enquanto o homem amar a Deus mais do que ama a seus semelhantes. 

Amar a Deus significa desperdiçar amor. 

“Por Deus e pela nação” significa uma sujeição dividida — 50% patriota. 

“Deus” é a palavra mais abusada na linguagem do homem.
A razão para isso é que ela é capaz de perpetrar muito abuso. Não há outra palavra na linguagem humana que seja tão vazia de significado e tão inexplicável quanto a palavra “Deus”. 

É o começo e o fim do nada. 

É o Alfa e o Omega da ignorância. 

Para essa palavra, existem tantos significados quando existem mentes. E, como cada pessoa tem uma opinião própria sobre o que a palavra Deus supostamente significa, então vê-se que é uma palavra sem premissa, sem fundamento e sem substância. 

Ela não tem validade. 

Ela é todas as coisas para todas as pessoas; é tão inexpressiva quanto indefinível. 

É a mais perigosa das palavras nas mãos dos inescrupulosos; é um coringa que funcionas como ás. 

É a palavra peçonhenta que paralisou o cérebro do homem.

“Ser temente ao Senhor” não é o início da sabedoria; pelo contrário, fez do homem um escravo rastejante; transformou em lunáticos desvairados aqueles que tentaram interpretar o que Deus “é” e o que supostamente seria nosso “dever” para com ele. 

Fez o homem prostituir as coisas mais preciosas da vida — o fez sacrificar sua esposa, seus filhos e seu lar.“Em nome de Deus” significa em nome do nada — isso fez o homem desperdiçar o precioso elixir da vida, pois não existe Deus algum. 

Ingersoll não conseguia entender a mente daqueles que, tendo sido informados a respeito da verdade, preferiam permanecer na ignorância e sob o encantamento da superstição. Não conseguia entender por que as pessoas não aceitavam as “novas verdades com alegria”. 

Entretanto, ele também sabia que, uma vez a mente da pessoa tivesse sido envenenada pela superstição religiosa, tornava-se quase impossível libertá-la do paralisante medo que destruía sua capacidade de pensar. 

Atualmente já foi estabelecido por evidências verificáveis que a religião embrutece o cérebro e que é um grande obstáculo no caminho do progresso intelectual. 

Quanto mais religiosa é uma pessoa, mais está atolada na ignorância e na superstição, e menor é seu senso de responsabilidade moral. Quanto mais inteligente é uma pessoa, menos é religiosa. Eis um velho ditado: “Onde há três cientistas, há dois ateístas”.

Os países cujos governos são dominados pela religião e pelas instituições religiosas são os mais atrasados. Em contrapartida, os países cujo povo é mais esclarecido e cujos governos baseiam-se em princípios de secularismo — separação da Igreja e do Estado — são os mais progressivos.
E permitam-me dizer: quando um homem é intelectualmente livre, o progresso que ele fará é incalculável. 

O que poderia ser mais ilustrativo que isto: houve mais progresso desde a Declaração de Independência e a Revolução Americana do que houve nos últimos cinco mil anos! 

Sim, mais progresso intelectual e material foi feito pelo homem desde o estabelecimento da República Americana do que durante todos os anos dos faraós egípcios, e incluindo também todo o tempo “da grandiosidade que foi a Grécia e da glória que foi Roma”. 

E há razões boas e válidas para isso. 

Foi porque “em 1776 nossos patriarcas retiraram os deuses da política”. O princípio básico da República Americana é a liberdade do homem na sociedade. 

A Declaração de Independência foi o produto da emancipação intelectual, e é por isso que a data de nossa existência não deveria ser contada a partir do mítico nascimento de Jesus Cristo, mas a partir do dia de nossa independência! 

Este deveria ser o ano cento e setenta e oito em nosso calendário! 

Apesar dos sinais de desencorajamento aqui e acolá, as sementes da liberdade plantadas pela Revolução Americana irão enraizar-se e, em todo o mundo, se o homem aprender a proteger zelosamente sua liberdade, a paz e o progresso virão para todos. 

Como poderia haver uma ilustração mais significante do que esta: praticamente no período de nossas vidas — e certamente desde a Declaração de Independência — o homem alcançou as mais magníficas realizações no campo da ciência e do progresso jamais vistas em toda a história humana. 

Não em sua ordem nem de acordo com sua significância, lembro-me das seguintes coisas: 

A anestesia foi descoberta. 

Alguém compreende o que significa aliviar a dor e o sofrimento de um homem? A anestesia é a mais humana de todas as conquistas, e quão compassiva foi esta conquista.
Por essa grande descoberta devemos agradecer ao Dr. W. T. G. Morton. 

Os religiosos opuseram-se ao uso da anestesia dizendo que Deus enviava a dor como punição pelo pecado, e consideravam o maior dos sacrilégios utilizá-la — tentem imaginar isso, transformar em pecado o alivio da miséria humana! Que perversão monstruosa! Apenas este exemplo deveria ser suficiente para convencer qualquer um da diferença entre acreditar em Deus ou não. 

Nenhum crente em Deus teria gastado suas energia para descobrir a anestesia. Ele estaria com um medo mortal da ira de Deus por interferir em seu “plano divino” de fazer o homem sofrer por ter comido o fruto da “árvore do conhecimento”. 

O ponto crucial do assunto está contido neste exemplo. 

O homem busca aliviar seus semelhantes do sofrimento da enfermidade e dos tormentos da agonia mental. Os crentes em Deus estão satisfeitos com o fato de o sofrimento do homem ser ordenado, e assim aceitam a vida e suas adversidades e tribulações como uma punição por estarem vivos. 

O medo da ira de Deus tem sido uma enorme travanca ao progresso. 

Quando o Dr. James Young Simpson tentou banestesiar uma parturiente, o clero de seu tempo, com a boca espumando, brigou com ele com vituperações e abusos por tentar violar o mandamento direto de Deus de que “entre dores deves trazer as crianças à luz” — baseados no imbecil texto da Bíblia. Mas Dr. Simpson persistiu apesar dos delírios dos religiosos lunáticos de seu tempo. 

A importância da aplicação da anestesia para aliviar as dores do parto por Dr. Simpson e seu aberto desafio aos religiosos estão além da medida das palavras. 

Os raios X foram descobertos em nosso tempo. 

O professor Wilhelm Roentgen merece nosso eterno débito de gratidão por sua contribuição. Sua aplicação, somente no campo da medicina, faz dela uma das maiores contribuições ao bem-estar da humanidade. 

A descoberta da composição do sangue — também feita em nosso tempo — pelo Dr. Karl Lansteiner foi responsável pelo salvamento de incontáveis milhares de vidas. 

O sangue era temido pelos religiosos, e era colocado um tabu sobre todos aqueles que o tocassem, como tendo sido contaminados. 

Até dissecção do corpo humano foi proibida pela religião.
O estudo da anatomia humana é algo de nosso tempo, e os frutíferos resultados desta exploração científica da estrutura física do homem são incalculáveis. 

É desnecessário — eu imagino — explicar por que o estudo do corpo humano é algo tão recente. Até a emancipação da mente do homem da escravidão e das algemas da religião, ensinava-se e cria-se como “verdade religiosa” — defendida sob pena de punição eterna — que, se o corpo humano fosse dissecado, Deus não seria capaz de reconhecê-lo no dia de sua ressurreição! 

Tal foi a paralisante ameaça da religião que prevaleceu sobre a mente do homem. 

A descoberta da constituição química dos alimentos — e sua aplicação à nutrição — contribuiu mais à saúde da raça humana do que todos os Deuses, sacerdotes e padres desde a aurora da existência. 

A medicina preventiva alcançou resultados maravilhosos na promoção da saúde e no prolongamento da vida das pessoas. 

A higiene e sua aplicação salvaram milhões e milhões da enfermidade e da morte prematura. Ela conteve a “mão de Deus” em sua loucura disseminadora de mortes pelas doenças epidêmicas. 

Charles Darwin publicou “A Origem das Espécies”, e o grande princípio da evolução foi promulgado. 

A emancipada medicina moderna reduziu a taxa de mortalidade infantil em mais de 50 por cento e foi a responsável por aumentar em mais de duas vezes a expectativa de vida do homem dentro do século passado.
Apenas pensem nisso! Todas essas coisas aconteceram dentro do período de nossas próprias vidas! 

Tudo isso e muito mais desde o dia da independência americana! 

E ouçam as palavras do Dr. Paul D. White, fundador da American Heart Association [Associação Americana do Coração]. Ele disse: 

“Aqueles médicos dentre nós que se graduaram na escola médica há trinta ou quarenta anos, ao olharem para trás, agora veem a inacreditável ignorância sobre as doenças cardíacas que então existia. Surgiu mais conhecimento desde então do que em todos os séculos anteriores.”

No passado, o homem aprendia que o coração, assim como a voz, era um “dom divino”, e que era demasiado sagrado para ser sondado pelo homem. E quais foram os resultados disso? Milhões, que poderiam ter sido salvos, morreram; milhões, que viveram como enfermos incapacitados, poderiam ter vivido uma vida normal se o homem, no passado, tivesse tido a coragem que tem hoje de buscar alívio dos terrores da doença. 

Tal é o fascinante progresso que se manifesta quando o homem confia em seu próprio esforço para resolver seus problemas, sejam eles concernentes à saúde ou às questões sociais ou políticas. 

Foi apenas nos últimos quarenta anos que o Dr. James B. Herrick diagnosticou apropriadamente a causa da trombose coronária, de onde se derivou o grandioso progresso que desde então tem sido alcançado no combate a esta grande assassina. 

Desejo colocar sobre o Dr. Herrick minha coroa de agradecimentos pelas suas grandes conquistas na medicina.
Que maravilhas têm sido alcançadas desde a invenção da máquina a vapor, do automóvel, do rádio, da televisão, dos dispositivos eletrônicos e dos milhares de outras descobertas e invenções que são demasiado numerosas para serem mencionadas. 

O benefício educacional da cinematografia ultrapassa de longe apenas seu valor recreativo, e sua utilização em praticamente todos departamentos educacionais faz dela uma das mais valiosas invenções do homem. 

Pensemos sobre a descoberta de Benjamin Franklin da relação entre a eletricidade e o raio e sobre a condenação arremessada contra ele por desafiar o “Príncipe do Poder do Ar”. 

E os irmãos Wright e a medonha penalidade que iriam sofrer por “Voar até a face de Deus”. 

O relâmpago, outrora temido como a colérica manifestação de um Deus enfurecido, foi reproduzido em laboratório por Charles P. Steinmetz, o ímpio mago da eletricidade. 

O telefone, a telegrafia sem fio, o motor a vapor, a refrigeração, as máquinas de lavar e de costurar, o tear mecânico e a miríade de aplicações para as forças elétrica e atômica farão do homem o dono de seu destino, uma vez tenha se livrado do mito de um Deus tirano. 

Ingersoll expressou melhor as invenções do homem e suas utilidades quando disse que: “A ciência pegou o relâmpago dos deuses e, com o corisco — e liberdade e pensamento e inteligência e amor — agora vasculha sob todas as ondas do mar; a ciência, o livre-pensamento, pegou uma lágrima não-remunerada que escorria em um rosto e converteu-a em vapor, e então criou o gigante que gira, com braços incansáveis, as incontáveis engrenagens do trabalho”. 

Retire-se do homem as descobertas e invenções do século passado e ele irá pensar que retornou ao barbarismo. 

Vejam o que a invenção da luz elétrica por Thomas A. Edison fez pelo homem — prolongou sua vida, deu mais horas ao dia, aumentou seu conforto mais que qualquer outra coisa anteriormente conhecida ou imaginada; foi algo que contribuiu imensuravelmente para sua alegria de viver. 

Mesmo a fictícia performance de Josué de parar o Sol e a lua reduz-se a nada quando comparada a esta sublime descoberta. 

Também não devemos esquecer a invenção de Edison para reproduzir a voz humana — e permitam-me dedicar um momento de homenagem para dizer que tive a grande honra de conhecer Thomas A. Edison, o qual me honrou chamando-me de seu amigo. 

Se a impressão foi aclamada com uma das grandes invenções da humanidade, que podemos dizer do fonógrafo? Enquanto a impressão preserva os pensamentos do homem no papel, o fonógrafo preserva não apenas seus pensamentos, mas também sua voz! 

A música não é mais “desperdiçada no ar deserto”. 

Thomas A. Edison — o maior dos benfeitores entre os homens — arrancou da natureza o seu segredo mais bem guardado — o mistério da voz humana. 

Ele refutou a ideia de que, como antes se acreditava, a voz humana, assim como o coração, era um “dom divino”. Demonstrou que a voz humana era apenas um mecanismo sonoro natural, o qual funcionava com o ar dos pulmões quando passava pelas “cordas” da garganta e da laringe, da mesma forma que os sons são produzidos pelas cordas de um instrumento musical. 

Como resultado da invenção de Edison, o próprio homem já produziu artificialmente todas as manifestações da voz humana! 

Se a voz era parte do “plano divino”, como poderíamos justificar sua ausência na girafa? Este animal não tem laringe e, deste modo, não tem cordas vocais; consequentemente, não pode falar ou fazer sons com sua garganta! 

A girafa é uma prova da ausência de design na natureza e da cegueira das forças evolucionárias da vida. 

Para listar todas as grandes descobertas no campo da ciência e da medicina durante o último século — como a aspirina, a insulina, a penicilina e a estreptomicina — seria necessária a atenção integral de um historiador médico e uma verdadeira enciclopédia para registrar isso tudo. 

Todavia, ainda há muitas doenças que afligem o homem a respeito das quais ele não tem nenhum conhecimento. Elas devoram e devastam seu corpo e sua mente com dor e tortura excruciantes, e ele está completamente indefenso contra elas. Ele não apenas ignora sua origem, mas também não sabe qual é a sua natureza nem como se proteger de seus ataques. Ele tem de sentar-se como um criminoso condenado e, em agonizante tortura, esperar pela sua morte abençoada. 

Se o homem e todas as outras formas de vida sobre este planeta são apenas um subproduto de um “grande plano” de uma “inteligência suprema”, então eu denuncio tal esquema como tirânico e selvagem. 

Por que deveríamos ser feitos para sofrer dores e punições lancinantes na vida sem qualquer benefício e, por fim, ter todos os nossos esforços negados pela morte, fazendo do objetivo de nossas vidas, de nossas esperanças, de nossos desejos, de nossas ambições e de nossas aspirações nada mais que uma sinistra piada? 

Ó reza, teu nome é malogro! 

Ó Deus, tua arte é um mito de crueldade! 

Não se encontrará uma única menção dessas grandes conquistas humanitárias nesses assim chamados “Livros dos Livros”; nem uma única referência sobre a natureza e a cura da enfermidade; nem uma palavra acerca daquelas invenções que tiraram um grande fardo das costas do homem. 

A há uma boa razão para isso. 

Os escritores da Bíblia não só desconheciam tais coisas, mas também tinham um conceito pervertido da vida e do Universo. Seu conceito era o de que o homem era uma vítima da poluição do sangue e que sua única possível salvação era através expiação sangue. 

Lembro-me de uma vez ter visto um pequeno panfleto intitulado “O que a Bíblia Ensina sobre a Moral”. Ao abri-lo, descobri que não tinha nada senão páginas em branco! Seria bom se outro panfleto fosse publicado e intitulado “O que a Bíblia Revela sobre as Doenças, a Medicina e a Saúde”, e devem ser usadas apenas páginas em branco para representar o que ela diz sobre estes assuntos vitais. 

Pelo contrário, esses benefícios foram denunciados pelos defensores da Bíblia e pelos representantes da divindade da Bíblia como sendo contrários aos “Desígnios Divinos”. 

A Bíblia não afirma claramente que o homem deve trabalhar pelo pão que come apenas com o suor do seu rosto? 

Aqui está a citação bíblica exata: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão…”, e por quê? Apenas porque buscou conhecimento. 

E o Deus da Bíblia não coloca sobre o homem uma maldição pelo conhecimento que lhe foi um grande conforto e benefício? 

Aqui está outra citação bíblica: “… maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida”.

A Bíblia é uma mentira. É uma farsa e uma fraude. 

Eu denuncio este livro e seu Deus. 

Detesto-o profundamente. 

Todo homem e mulher que contribuíram para o alívio da dor e do sofrimento da humanidade foram infiéis ao Deus Bíblico! 

Toda nova invenção, toda nova descoberta em benefício do homem viola esses editos bíblicos! 

Busquem o conhecimento, desafiem esse Deus tirano — essa é a única salvação. 

É a condenação bíblica da busca pelo conhecimento — que paralisou a mente humana durante as épocas passadas e atravancou o progresso — que faz da Bíblia o mais pervertido, o mais detestável, o mais pernicioso e o mais nefasto livro jamais publicado. 

Ele tem sido uma maldição para a humanidade. 

É um dever de todos os indivíduos bravos e honestos fazer tudo que esteja a seu alcance para destruir a influência desde livro profundamente estúpido e vicioso, com seus conceitos infantis a respeito da vida e seus absurdos sobre o Universo. 

É seu dever fazer tudo que esteja a seu alcance para cessar sua desmoralizante e paralisante influência sobre a vida do homem. 

Nunca alçaremos a liberdade intelectual até que a perversidade desse livro tenha sido descartada juntamente com a crença na planicidade da Terra. 

Se não quisermos parar as rodas do progresso; se não quisermos voltar à Idade das Trevas; se não quisermos voltar a viver sob uma tirania — então devemos proteger nossa liberdade e não permitir que a Igreja tome o controle do nosso governo. 

Se o permitirmos, perderemos o maior legado jamais deixado à raça humana — a liberdade intelectual. 

Deixem-me, agora, dizer outra coisa. 

Se toda a energia e saúde desperdiçadas com a religião — em todas as suas variadas formas — tivessem sido gastas para compreender a vida e seus problemas, hoje estaríamos vivendo em condições que pareceriam mais uma utopia.

A maioria de nossos problemas sociais e domésticos já teria sido resolvida e, de modo tão importante, nossa compreensão e nossas relações com os outros povos do mundo teriam, atualmente, alcançado a paz universal. 

O homem teria uma melhor compreensão dos seus motivos e das suas ações, e teria aprendido a refrear seus instintos primitivos de vingança e retaliação. Hoje ele já saberia que guerras de ódio, agressão e ambição apenas produzem mais ódio e mais sofrimento humano. 

O homem esclarecido e completamente emancipado dos medos de um Deus e do dogma do ódio e da vingança faria de si próprio um irmão para seus semelhantes. 

Ele dedicaria suas energias às descobertas e às invenções, as quais a teologia anteriormente condenava como um desafio a Deus, mas que provaram ser benéficas a ele. 

Ele não seria mais um escravo de Deus, vivendo a adulá-lo por medo! 

Construir uma igreja quando uma escola é necessária é perpetrar um roubo à educação. 

Construir uma igreja quando um hospital é necessário é retirar dos lábios ressecados dos enfermos o copo de alívio e do sofredor a compassiva mão que ajuda. 

Quando o objetivo da conduta do homem for melhorar as condições dos seus semelhantes e não o apaziguamento de um Deus mitológico, ele será mais compreensivo e indulgente com as fragilidades, os erros e as ações dos outros e, pelo mesmo motivo, nutrirá mais gratidão pelos seus esforços. 

Desenvolverá uma maior consciência preventiva para erros e injúria. A vida e o viver tomarão uma grandiosa significância, e nossos esforços e energias serão devotados à criação de tanta alegria e felicidade quanto for possível para todos os seres vivos. 

A não ser que se faça da morte uma lição para a vida, então a vida é desperdiçada. 

Por que deveríamos vir à existência apenas para sermos destruídos? Um morre, outro nasce — para quê? Umas poucas horas miseráveis — então esquecimento! 

Com o reconhecimento de que tudo acaba com a morte, ninguém deveria conscientemente impedir atos que trariam benefícios, alegria ou felicidade aos outros. Na morte, o ato hesitante já não pode mais ser realizado — a palavra de louvor é tão impossível quanto o retorno do ontem. 

Que perversidade justificou a inflição de dor, sofrimento e morte contra aqueles que nada fizeram de errado? 

Se a morte põe fim a tudo, por que lutar enquanto estamos vivos? Por que encurtar a vida com dor e sofrimento desnecessários? 

Quão fúteis são os pequenos problemas individuais, com seus ódios e ciúmes, quando tudo cessa com a morte!
Todas as orações do mundo não podem eliminar uma injustiça. 

Todo erro é irreparável. 

Os mortos não podem perdoar. 

Todas as lágrimas e suspiros são inúteis. 

O perdão não pode ser concedido por lábios imóveis; o elogio não pode ser escutado por ouvidos que já não podem mais ouvir; a alegria não pode mais ser sentida quando o coração deixou de bater; a felicidade de um abraço carinhoso não pode mais ser sentida quando os braços estão cruzados e os olhos estão eternamente fechados. 

Você deve decidir se quer Deus ou se quer o homem. 

Se quer ser livre ou se quer ser escravo. 

Se quer o progresso ou se quer a estagnação. 

Enquanto o homem amar um fantasma no céu mais do que ama seu próximo, nunca haverá paz sobre a Terra; enquanto o homem adorar um tirano como sua “Paternidade Divina”, nunca haverá a “Irmandade dos Homens”. 

Você deve fazer a escolha, deve tomar sua decisão. 

Deus ou o homem? Igrejas ou lares? Preparação para a morte ou felicidade por viver? 

Se o homem precisar de um exemplo para poder pesar o benefício de um e do outro, precisa apenas ler as páginas da história para ver a prova de como a religião retardou o progresso e provocou ódio entre os homens. 

Quando a teologia governava o mundo, o homem era escravo. As pessoas viviam em cabanas e casebres. Vestiam-se com trapos e peles; devoravam cascas e roíam ossos; os padres tinham vestimentas de seda e cetim; carregavam mitras de ouro e pedras preciosas — roubadas dos pobres — e viviam da fartura da Terra! 

Aqui e acolá aparecia um homem bravo para questionar sua autoridade. Lenta e dolorosamente, esses mártires da emancipação intelectual destruíram o encantamento da superstição, prenunciando a Era da Razão e a Aurora da Ciência. 

O homem tornou-se o único deus que o homem pode conhecer. 

Não mais se ajoelha de medo. 

Começou a gozar dos frutos de seu próprio trabalho. 

Descobriu modos de aliviar a dureza do trabalho contínuo; começou a desfrutar de alguns confortos na vida — e, pela primeira vez, encontrou sobre esta Terra alguns momentos para a felicidade. 

É muito mais importante aprender como viver do que aprender como rezar. 

Um novo dia e uma nova era amanheceram para ele. 

Seus trabalhos produziram enormes dividendos. 

Olhou para o céu pela primeira vez, e viu que era azul! Vasculhou os céus e não encontrou qualquer Deus. Já não temia mais as manifestações da natureza. 

As estrelas, entretanto, não são o alfabeto no qual devemos ler o destino do homem. Não apenas rejeitamos a ideia de que o homem é punido por seus “pecados”, mas enfaticamente afirmamos que o pecado é uma coisa que não existe. 

Há erros e injustiças, mas não pecados. 

O pecado — assim como o purgatório e o inferno — foi inventado pelos padres, primeiramente para assustar, e depois para roubar seu sustento. 

Não tememos esses mitos e maldições, e é por isso que devotamos nosso tempo e energia para ajudar nossos semelhantes. 

É por isso que construímos instituições educacionais e buscamos, através de um lento e doloroso processo, ensinar ao homem a verdadeira natureza do Universo e a noção correta acerca de seu lugar como membro na sociedade. Ao mesmo tempo, tentamos fortificar sua mente com coragem para resistir às adversidades, aos desafios e às tribulações da vida. Ninguém pode negar que se trata de uma tarefa difícil e árdua, pois não podemos corrigir todos os “erros de Deus” na simples duração de uma vida. 

Como Ingersoll sucintamente afirma: “A natureza não pode perdoar”. 

Lembremo-nos disto: não somos seres humanos depravados. 

Não temos nenhum pecado para ser pago.
Não é necessário ter medo.
Não há fantasmas — nada de sagrado ou afim. 

Pare de fazer-se um miserável por “amor a Deus”. Expulse esse monstro despótico de sua mente e usufrua a inestimável liberdade de ser um humano emancipado. 

O único dever que temos é aquele para conosco e para com nossa família. O que você deve a si mesmo é fazer o seu melhor; o que você deve à sua família é empenhar-se para fazê-la feliz. 

Emancipe-se dessas crenças estupidificantes e proteja suas crianças da contaminação pela religião. 

Não fique de joelhos, levante-se e olhe o mundo inteiro cara a cara. Extraia da vida toda a alegria e toda a felicidade que puder. 

Goze dos frutos de seu trabalho sem desperdiçá-los no mito do céu; não dê apoio aos parasitas de Deus. 

Não faça qualquer mal a outro ser humano conscientemente; não prejudique deliberadamente o seu próximo. 

Todas formas de vida têm sentimentos, não as faça sofrer.
Como disse Shakespeare: 

“O pobre escaravelho, sobre o qual pisamos,
Em sofrimento corporal, encontra uma dor tão grande
Quanto a de um gigante.” 

A bondade é um solvente mágico. 

Apesar de sabermos que às vezes a “ingratidão é mais forte que os braços do traidor”, também sabemos que a “compaixão é bênção em dobro; ela abençoa aquele que dá e aquele que recebe”, e também deve-se lembrar que, enquanto a lealdade é a mais importante das virtudes, a paciência é a mais valiosa. 

Torne-se um ser humano corajoso e, neste mundo imperfeito e problemático, faça o seu melhor — sob toda e qualquer circunstância. 

Seja corajoso o suficiente para viver e corajoso o suficiente para morrer, sabendo que, quando a hora derradeira chegar, você fez o melhor que pôde e que o mundo é um lugar melhor porque você viveu. 

Um Deus não faria melhor. 

Estarei entre você e as guardiãs do céu.
Não tenho medo.
Irei defendê-lo enquanto estiver vivo.
Assumirei toda a responsabilidade.
Meus serviços são gratuitos.
Se errar, ponham a culpa em mim.
Quebre correntes da superstição, da escravidão mental — da religião. 

Irrompa como um ser humano livre e independente. 

Dignifique-se como um homem, e justifique sua vida sendo um irmão de toda a humanidade e um cidadão do Universo.

autor: Joseph Lewis
tradução: André Cancian