MUITÍSSIMO IMPORTANTE -
Não encare nada aqui como mentira ou verdade, risque o verbo "acreditar" do seu vocabulário. Substitua ele por "comprovar" e por "experimentar".
Não acredite, a priori, em nada aqui escrito. Apenas use como uma orientação para que você possa comprovar, por si só, se é verdadeiro ou falso.
O monoteísmo é
a forma religiosa mais propensa à realização de guerras santas. Desde quando os
judeus inventaram o Deus único, o ocidente nunca mais ficou livre da
intolerância religiosa. Primeiro os romanos, depois os bárbaros do norte da
Europa, em seguida os islamitas, os protestantes, os indígenas, os ateus, todos
que não professavam a mesma fé no mesmo deus eram tidos por infiéis, hereges,
que deveriam ser “salvos”, pela palavra ou pela força.
A partir do
século IV da nossa era, começará o assassinato dos não-crentes pelos cristãos.
O piedoso
imperador romano cristão Teodósio interdita progressivamente todos os cultos
não cristãos. Pouco a pouco, os templos não-cristãos são fechados ao culto, as
procissões “pagãs” são proibidas. Esta supressão da liberdade de religião em
proveito exclusivo do cristianismo causa, por vezes, revoltas, como a de 408, em
Calama, na Numídia. É nessa época que acontecem na Germânia as primeiras
execuções de hereges, uma bela tradição que a Igreja desenvolverá com a
Inquisição e a perpetuará até 1826.
No ano de 1231, a perseguição aos
não-crentes foi institucionalizada, a Igreja Católica Apostólica Romana cria a
Inquisição. Em 1251, o Papa Inocêncio IV autoriza enfim a inquisição a praticar
a tortura. A obtenção das confissões de culpa é grandemente facilitada. A
inquisição pode aplicar, com base em confissões arrancadas através de tortura,
penas indo duma simples oração ou dum jejum até à confiscação dos bens e mesmo
prisão perpétua. Mas ela não pode condenar à morte. Com a subtileza
característica da Igreja católica, a inquisição podia “passar” um herege para a
justiça comum, que o levará à morte na fogueira, com base na confissão obtida
pela Igreja, mesmo com tortura. Essa subtilidade permitirá à Igreja afirmar que
ela nunca matou ninguém...
Pio V, Papa. Este
santo da Igreja católica vangloria-se publicamente diversas vezes de ter,
durante a sua carreira de inquisidor, colocado fogo com suas próprias mãos em
mais de 100 fogueiras de hereges que ele mesmo acusara, confundira e condenara.
O Santo Ofício, durante toda a sua
história, queimou mais de um milhão de pessoas, essencialmente hereges, judeus
e muçulmanos convertidos e também os “bruxos”. A última feiticeira foi queimada
em 1788, no Cantão de Glaris, na Suíça. O último “herege” chegará à sua vez em
1826. o condenado é queimado vivo pela inquisição espanhola. Uma rica tradição
cristã termina. Daí para frente, a Igreja recorrerá a meios mais sutis para
matar, como proibir a assistência a mulheres que devem abortar, sabotando o
planejamento familiar nos países pobres, proibindo os preservativos como modo
de lutar contra a Aids-Sida, etc.
Você
provavelmente pensa que a Inquisição foi uma perversão do “verdadeiro” espírito
do cristianismo. Talvez tenha sido. O problema, porém, é que os ensinamentos da
Bíblia são tão confusos e contraditórios que foi possível para os cristãos
queimarem alegremente os heréticos na fogueira, durante cinco longos séculos.
Inclusive foi possível para os mais venerados patriarcas da Igreja como santo
Agostinho e São Tomás de Aquino, concluir que os heréticos deviam ser
torturados (Santo Agostinho) ou mortos logo de uma vez (São Tomás de Aquino).
Martinho
Lutero e João Calvino defendiam o assassinato em massa de heréticos, apóstatas,
judeus e feiticeiras.
Se levarmos em
conta a metade das afirmações supostamente declaradas por Jesus, podemos facilmente
justificar as ações do Padre José Coutinho ou Hélder Câmara. Levando em conta a
outra metade podemos justificar a Inquisição.
João 15:6 - Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará;
e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
Naturalmente,
você é livre para interpretar a Bíblia de outra maneira – mas não é espantoso
que você tenha conseguido discernir os verdadeiros ensinamentos do
cristianismo, enquanto os mais influentes pensadores na história da religião
cristã falharam nesse ponto?
A primeira
vítima da inquisição em território americano foi queimada viva no México em 30
de novembro de 1539.
Em 1595 a cidade Real de “Filipéia
de Nossa Senhora das Neves”, hoje João Pessoa, recebe a visita do Santo Ofício. Dezesseis
denúncias chegaram aos ouvidos dos inquisidores em Portugal.
A inquisição
chegou ao Brasil no dia 20 de julho de 1624, com a assinatura da Carta Régia
permitindo a introdução do Tribunal da Inquisição no nosso país.
A Igreja nunca
se arrependeu dos atos da Inquisição e até garantiu a continuidade histórica da
instituição até aos nossos dias, limitando-se apenas a mudar-lhe o nome: será
necessário esperar que Pio X, em 1906, faça com que o “Santo Ofício da Inquisição”
seja renomeado como “Santo Ofício”, e em 1965, para que seja rebatizado como
“Congregação para a doutrina da fé”.
Enfim,
em 1997, o papa abre os arquivos do Santo Ofício, e historiadores escolhidos a dedo são autorizados a
fazer pesquisas. As estimativas do número total de vítimas da inquisição são
então revistas para cima, havendo um consenso que roda hoje em torno de um
milhão de pessoas executadas, ao qual é necessário acrescentar as inúmeras
pessoas torturadas e com todos os seus bens apreendidos.
Como tudo o mais
que se refere à existência de Jesus na terra, também a sua ascendência é objeto
de controvérsias. Segundo Mateus e Lucas, Jesus descende ao mesmo tempo de
David e do Espírito Santo. Entretanto, como filho do Espírito Santo, não poderá
descender de José, conseqüentemente deixa de ser descendente de David e o
Messias esperado pelos judeus. Assim, Jesus ficará sendo apenas Filho de Deus,
ou Deus, visto ser uma das três pessoas da trindade divina.
Em ambos os
evangelhos acima citados há referências quanto a data de nascimento de Jesus,
mas tais referências são contraditórias — o Jesus descrito por Mateus teria
onze anos quando nasceu o de Lucas.
Mateus diz que
José e Maria fugiram apressadamente de Belém, sem passar por Jerusalém, indo
direto para o Egito, após a adoração dos Reis Magos. Herodes iria mandar matar
as criancinhas. Todavia, Lucas diz que o casal estivera em Jerusalém e
acrescenta a narração da cena de que participaram Ana e Simeão. De modo que um
evangelista desmente o outro.
Lucas não alude
à matança das criancinhas, nem à fuga para o Egito. Por outro lado, Marcos e João não se reportam à infância de Jesus,
passando a narrar os acontecimentos de sua vida a partir do seu batismo por
João Batista.
Mateus que conta
o regresso de Jesus, vindo do Egito e indo para Nazaré, o deixa no
esquecimento, voltando a ocupar-se dele somente depois dos seus trinta anos,
quando ele procura João Batista. Diz ainda que João já o conhecia e, por isto,
não o queria batizar, por ser um espírito superior ao seu.
Lucas narra a
discussão de Jesus com os doutores da lei, aos doze anos de idade. Sendo
perguntado pela mãe sobre o que estava ali fazendo, teria respondido que se
ocupava com os assuntos do pai.
Emilio Bossi,
referindo-se a esta passagem, estranha a atividade da mãe. Se o filho nascera
milagrosamente, e ela não o ignora, só poderia esperar dele uma seqüência de
atos milagrosos. Mesmo a sua presença no templo, entre os doutores, não deveria
causar preocupação à sua mãe, visto saber ela que o filho não era uma criança
qualquer, e sim um Deus.
Lucas diz que os
samaritanos não deram boa acolhida a Jesus, o que muito irritara a João.
Contudo, João, o Evangelista, diz que os samaritanos deram-lhe ótima acolhida
e, inclusive, chamaram-no de salvador do mundo.
Os evangelistas
divergem também quanto ao relato da instituição da eucaristia. Três deles
afirmam que Jesus a instituiu no dia da Páscoa, enquanto João afirma que foi
antes. Enquanto os três descrevem como aconteceu, João silencia.
Na última noite
Jesus estava muito triste, como, aliás, permaneceria até a morte. Pondo o rosto
em terra, orou durante muito tempo. Segundo os evangelistas, ele estava de tal
modo triste e conturbado que teria suado sangue, coisa, aliás, muito estranha,
nunca verificada cientificamente.
Enquanto isto,
seus companheiros dormiam despreocupadamente, não se incomodando com os
sofrimentos do Mestre. Entretanto João não fala sobre esse estado de alma do
Mestre. Pelo contrário, diz que Jesus passara a noite conversando, quando se
mostrava entusiasta de sua causa e completamente tranqüilo.
Lucas, Mateus e Marcos afirmam que o beijo de Judas o denunciara aos
que vieram prendê-lo. Todavia, João diz que foi o próprio Jesus quem se dirigiu
aos soldados dizendo-lhes tranqüilamente: “Sou eu”.
Lucas é o único
que fala no episódio da ida de Jesus de Pilatos para Herodes Antipas. Os outros
caem em contradição quanto à hora do julgamento pelo Conselho dos Sacerdotes em
presença do povo.
João não fala a
respeito do depoimento de Cireneu, nem na beberagem que teriam dado a Jesus.
Omite-se ainda quanto à discussão dos dois ladrões, crucificados com Jesus, e
quanto à inscrição posta sobre a cruz. De forma que seu relato é bastante
diferente daquilo que os outros contaram.
E as divergências
continuam ainda no que concerne ao quebramento das pernas, ao embalsamamento, à
natureza do sepulcro e ao tempo exato em que ele esteve enterrado. Quanto ao
embalsamamento, por exemplo, há muita coisa que não foi dita. Teriam retirado
seu cérebro e intestinos como se procede normalmente nesses casos?
Se a resposta
for positiva, como explicar o fato de Jesus, após a ressurreição, pedir comida?
Como se vê, as
verdades bíblicas são além de controvertidas, incompreensíveis.
Lucas diz que
Jesus referiu-se aos que sofrem de fome e sede, enquanto Mateus diz que ele se
referia aos que têm fome e sede de justiça, aos pobres de espírito.
Uns afirmam que
Jesus tratara os publicanos com desprezo e ódio, outros dizem que ele se
mostrou amigável em relação a eles. Para uns, Jesus teria dito que publicassem
as boas obras, para outros, que nada dissessem a respeito.
Uma hora Jesus
aconselha o uso da força física e da resistência, mandando até que comprassem
espada; noutra, ameaça os que pretendem usar a força.
Marcos, Mateus e Lucas dizem que
Jesus recomendara o sacrifício. Entretanto, não tomou parte em nenhum deles.
Mateus diz que Jesus afirmou não ter vindo para abolir a lei nem os profetas,
enquanto Lucas diz que ele afirmara que isso já estava no passado, já tivera o
seu tempo. Os três afirmam ainda que Jesus apenas pregara na Galiléia, tendo
ido raramente a Jerusalém, onde era praticamente desconhecido. Todavia, João
diz que ele ia constantemente a Jerusalém, onde realizara os principais atos de
sua vida.
As coisas ficam
de modo que não se sabe quem disse a verdade, ou, melhor dizendo, não sabemos
quem mais mentiu. Ora, se Jesus tivesse realmente praticado os principais atos
de sua vida em Jerusalém, seria conhecido suficientemente e, então, não teriam
que pagar a Judas 30 dinheiros para entregar o Mestre.
João, que teria
sido o precursor do Messias, não se fez cristão, não seguiu a Jesus, pregando
apenas o judaísmo no aspecto próprio. Entretanto, depois de preso, enviou um
mensageiro a Jesus, indagando-lhe: “És tu que hás de vir, ou teremos de esperar
um outro?”, ao que Jesus teria respondido: “Você é o profeta Elias”.
Talvez houvesse
esquecido que o próprio João antes já declarara isso mesmo. Contam os
Evangelhos que, desde a hora sexta até Jesus exalar o último suspiro, a terra
cobriu-se de trevas. Contudo, nenhum escritor da época comenta tal
acontecimento. Marcos 25:25 diz que
Jesus foi sacrificado às 9 horas.
João diz que ao
meio dia ele ainda não havia sido condenado à morte, e acrescenta que, a esta
hora, Pilatos o teria apresentado ao povo exclamando: “Eis aqui o vosso rei”!
Emilio Bossi assinala detalhadamente todas estas contradições, e as que se
deram após a pretensa ressurreição, dizendo que nada do que vem nos Evangelhos
deve ser levado a sério. O sobrenatural é o clima em que se encontra a Bíblia,
e esta é apenas o resultado da combinação de crenças e superstições religiosas
dos judeus com as de outros povos com os quais conviveram.
Mateus e Marcos afirmam enfaticamente que os discípulos de
Jesus abandonaram tudo para seguí-lo, sem sequer perguntar antes quem ele era.
Em Mateus, lê-se
que Jesus teria afirmado que não viera para abolir as leis de Moisés. Contudo,
esta seria uma afirmativa sem sentido algum, visto que hoje sabemos que os livros
atribuídos a Moisés são apócrifos.
Segundo João,
quando Jesus falou ao povo, foi por este acatado e proclamado rei de Israel aos
gritos de “Hosanna”. Mas, um pouco adiante, ele se contradiz, afirmando que o
povo não acreditou em Jesus, e praguejando contra ele, o ameaçava a ponto de
ele ter procurado se esconder.
Mateus diz que
Jesus entrou em Jerusalém vitoriosamente quando a multidão o teria recebido de
modo festivo, e marchando com ele, cobria o chão com folhas, flores e com os
próprios mantos, gritando: “Hosanna ao Filho de David! Bendito seja o que vem
em nome do Senhor!” Aos que perguntavam quem era, respondiam “Este é Jesus, o
profeta de Nazaré da Galiléia”. No entanto, outros evangelistas afirmam que ele
era um desconhecido em
Jerusalém. Disseram que Pilatos estava convencido da
inocência de Jesus, razão pela qual teria tentado salvá-lo, o abandonando logo
em seguida, indefeso e moralmente arrasado.
João faz supor
que Pilatos teria deixado que matassem Jesus, temendo que denunciassem sua parcialidade
ao imperador. Se ele não castigasse a um insurreto que se intitulava rei dos
judeus, estaria traindo a César. No entanto, tal atitude por parte de Pilatos
não combina com o seu retrato moral, pintado por Filon. Era um homem duro e tão
desumano quanto Tibério.
A vida de mais
um ou menos um judeu, para ambos, era coisa da pouca importância. Filon faz de
Pilatos um carrasco e mostra que ele, em Jerusalém, agia com carta branca. Além
disso, as reações de Pilatos com Tibério eram quase fraternais e ele era um
delegado de absoluta confiança do imperador. Mas como os Evangelhos foram
compostos dentro dos muros de Roma, teriam de ser de modo a não desagradar às
autoridades Imperiais. Pilatos foi posto nisso apenas porque os bens e a vida
dos judeus estavam sob sua custódia.
Entretanto, como
a ocupação romana foi feita em defesa dos judeus ricos, contra os judeus pobres
e os renegados do deserto, as autoridades romanas temiam muito mais ao povo do
que a Roma.
Além disso,
muitas eram as razões para não gostarem de Pilatos nem de Herodes Antipas. Eles
eram antipáticos aos judeus pobres, por isso teriam temido a ira popular. Esta
é a razão apresentada pelos historiadores que levam a sério os Evangelhos,
justificando assim o perdão do criminoso Bar Abbas e a condenação do inocente
Jesus. Entretanto, se as legiões romanas realmente ali estivessem naquela
época, nem Pilatos nem Herodes tomariam em consideração a opinião do povo,
porque se sentiriam garantidos nos seus postos.
Além disso, a
opinião popular é fator ainda bem novo na técnica de formação dos governos.
Tudo o que sabemos é o que está nos Evangelhos. Jesus era um homem do povo e um
dos que temiam o governo.
Por isso é que
em Marcos 16:7 encontraremos Jesus
aconselhando os discípulos a fugirem. Em Lucas 10:4 Jesus está aconselhando aos
discípulos a não falarem com ninguém em suas viagens. Em Mateus 35:23
encontraremos Jesus reprovando os judeus que haviam assassinado Zacarias, filho
de Baraquias, entre o adro do templo e o altar. A história, no entanto, afirma
ser esse episódio imaginário.
Flavius Josephus relata um acontecimento semelhante, registrado no ano 67, 34 anos após a
pretensa morte de Jesus, referindo-se no caso a um homem chamado Baruch. Isto
evidencia o descuido dos compiladores dos Evangelhos, que os compuseram sem
levar em conta que, no futuro, as contradições neles encontradas seriam a prova
da inautenticidade dos fatos relatados.
Nicodemos, que
teria sido um fariseu rico, membro de Senedrin, homem de costumes moderados e
de boa fé, não se fez cristão, apesar de ter agido em defesa de Jesus contra os
próprios judeus. Por certo ele, como João Batista, não se convenceram da
pretensa divindade de Jesus Cristo, nem mesmo se entusiasmaram com suas
pregações.
Outra ficção
evangélica é debitada a Paulo, o qual inventou um Apolo, que não figura entre
os apóstolos e em nenhum outro relato. Em Atos dos Apóstolos 18, lê-se: “Veio
de Éfeso um judeu de nome Apolo, de Alexandria, homem eloqüente e muito
instruído nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor, falando com
fervor de espírito, ensinando com diligência o que era de Jesus, e somente
conhecia João Batista. Com grande veemência convencia publicamente os judeus,
mostrando-lhes pelas Escrituras que Jesus era o Cristo”. Seria um judeu fiel ao
judaísmo que, segundo Paulo, procurava levar seus próprios patrícios para o
Cristo? Na epístola I aos Coríntios, diz que: “Apolo era igual a Jesus”.
Paulo, já no fim
do seu apostolado, afirma que o imperador Agripa era um fariseu convicto, e que
sua religião era a melhor que então existia. Era, assim, um divulgador do
cristianismo afirmando a excelência do farisaísmo. Falando de Jesus, Paulo
descreve apenas um personagem teológico e não histórico. Não se refere ao pai
nem à mãe de Jesus, sendo um ser fantástico, uma encarnação da divindade que
viera cumprir um sacrifício expiatório, mas não fala do modo como teria sido
possível a encarnação. Não diz sequer a data em que Jesus teria nascido.
Não relata como nem quando foi crucificado. No entanto, estes dados têm muita
importância para definir Jesus como homem ou como um ser sobrenatural. Está
patente, desse modo, que Paulo é uma figura tão mitológica quanto o próprio
Jesus.
Em Atos dos
Apóstolos 28:15 e 45 Paulo diz que quando chegou a Pozzuoli, ele e os seus
companheiros foram ali bem recebidos, havendo muita gente à beira da estrada os
esperando. Entretanto, chegando a Roma, teve de defender-se das acusações de
haver ofendido em Jerusalém ao povo e aos ritos romanos. Na Epístola aos
Romanos 1:8, Paulo diz que a fé dos cristãos de Roma alcançara todo o mundo,
razão pela qual encerraria sua missão tão logo regressasse da Espanha, onde
saudaria um grande número de fiéis.
Mas, se fosse
assim, por que Paulo teve de se defender perante os cristãos de Roma contra o
seu próprio judaísmo? Com pouco tempo Paulo já pensava encerrar sua missão
porque o cristianismo já havia se universalizado. Entretanto, ele continuava
considerando como melhor religião o farisaísmo. O cristianismo a que Paulo se
referia deveria ser anterior a Jesus Cristo, que era o seguido pelos cristãos
de Roma, e não pelos cristãos dos lugares por onde Paulo havia passado
pregando. Eusébio disse que o cristianismo de Paulo era o terapeuta do Egito, e
Tácito disse que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição.
O passado
religioso do homem está repleto de Deuses solares e redentores. Na Índia, temos
Vishnu, um Deus que se reencarnou nove vezes para sofrer pelos pecados dos
homens. No oitavo avatar foi Krishna e, no nono, Buda.
Krishna foi
igualmente um Deus redentor, nascido de uma virgem pura e bela, chamada
Devanaguy. Sua vinda messiânica foi predita com muita antecedência, conforme se
vê no Atharva, no Vedangas e no Vedanta. O Deus Vishnu teria aparecido a Lacmy,
mãe da virgem Devanaguy, informando que a filha iria ter um Filho-Deus e qual o
nome que deveria lhe dar. Mandou que não deixasse a filha se casar, para que se
cumprissem os desígnios de Deus. Isso teria acontecido 3.500 anos A.E.C. no
Palácio de Madura. O filho de Devanaguy destronaria seu tio.
Para evitar que
acontecesse o que estava anunciado, Devanaguy teria sido encerrada em uma
torre, com guardas na porta. Mas, apesar de tudo, a profecia de Poulastrya se
cumpriu, “O espírito divino de Vishnu atravessou o muro e se uniu à sua amada”.
Certa noite ouviu-se uma música celestial e uma luz iluminou a prisão, quando
Vishnu apareceu em toda a sua majestade e esplendor. O espírito e a luz de Deus
ofuscaram a virgem, encarnando-se. E ela concebeu. Uma forte ventania rompeu a
muralha da prisão quando Krishna nasceu.
A virgem foi
arrebatada para Nanda, onde Krishna foi criado, lugar este ignorado do rajá. Os
pastores teriam recebido um aviso celeste do nascimento de Krishna, e então
teriam ido adorá-lo, levando-lhe presentes. Então o rajá mandou matar todas as
criancinhas recém-nascidas, mas Krishna conseguiu escapar.
Aos 16 anos
Krishna abandonou a família e saiu pela Índia pregando sua doutrina,
ressuscitando os mortos e curando os doentes. Todo o mundo corria para vê-lo e
ouvi-lo. E todos diziam: “Este é o redentor prometido a nossos pais”. Cercou-se
de discípulos, aos quais falava por meio de parábolas, para que assim só eles
pudessem continuar pregando suas idéias.
Certo dia os
soldados quiseram matar Krishna, quando seus discípulos amedrontados fugiram. O
Mestre repreendendo-os, e chamou-os de homens de pouca fé, com o que reagiram e
expulsaram os soldados. Crendo que Krishna fosse uma das muitas transmigrações
divinas, chamaram-no “Jazeu”, o nascido da fé. As mulheres do povo
perfumavam-no e incensavam-no, o adorando. Chegando sua hora, Krishna foi para
as margens do rio Ganges, entrando na água. De uma árvore, atiraram uma flecha
que o matou. O assassino teria sido condenado a vagar pelo mundo. Quando os
discípulos procuraram recolher o corpo, não o encontraram mais porque, então,
já teria subido para o céu.
Depois Vishnu o
teria mandado novamente à Terra pela nona vez, receberia o nome de Buda. O
nascimento de Buda teria sido igualmente revelado em sonhos à sua mãe. Nasceu
em um palácio, sendo filho de um príncipe hindu. Ao nascer, uma luz maravilhosa
teria iluminado o mundo. Os cegos enxergaram, os surdos ouviram, os mudos
falaram, os paralíticos andaram, os presos foram soltos e uma brisa agradável
correu pelo mundo. A terra deu mais frutos, as flores ganharam mais cores e
fragrância, levando ao céu um inebriante perfume. Espíritos protetores vigiaram
o palácio, para que nada de mal acontecesse à mãe.
Buda, logo ao
nascer, pôs-se de pé maravilhando os presentes. Uma estrela brilhante teria
surgido no céu no dia do seu nascimento. Nasceu também, nesse mesmo dia, a
árvore de Bó, em cuja sombra o menino Deus descansaria. Entre os que foram ver
Buda estava um velho que, como Semeão, recebeu o dom da profecia. Sua tristeza
seria não poder assistir à glória de Buda por ser muito velho. Buda teria
maravilhado os doutores da lei com a sua sabedoria. Com poucos anos de idade,
teria começado sua pregação. Teria ficado durante 49 dias sob árvore de Bó, e
sido tentado várias vezes pelo demônio. Pregando em Benares, convertera muita
gente.
O mais célebre
de seus discursos recebeu o nome de “Sermão da Montanha”. Após sua morte
apareceria também aos seus discípulos, trazendo a cabeça aureolada. Davadatta o
trairia do mesmo modo que Judas a Jesus. Nada tendo escrito, os seus discípulos
recolheriam os seus ensinamentos orais. Buda também tivera os seus discípulos
prediletos, e seria um revoltado contra o poder abusivo dos sacerdotes
bramânicos. Mais tarde, o budismo ficaria dividido em muitas seitas, como o
cristianismo. Quando missionários cristãos estiveram na índia, ficaram
impressionados e começaram a perceber como nasceu o romance da vida de Jesus. O
Papa do budismo, o Dalai-Lama, também se diz ser infalível.
Mitra, um Deus
redentor dos persas, foi o traço de união entre o cristianismo e o budismo.
Cristo foi um novo avatar, destinado aos ocidentais. Mitra era o intermediário
entre Ormuzd e o homem. Era chamado de Senhor e nasceu em uma gruta, no dia 25
de dezembro. Sua mãe também era virgem antes e depois do parto. Uma estrela
teria surgido no Oriente, anunciando seu nascimento. Vieram os magos com
presentes de incenso, ouro e mirra, e adoraram-no. Teria vivido e morrido como
Jesus. Após a morte, a ressurreição em seguida.
Fírmico descreveu
como era a cerimônia dos sacerdotes persas, carregando a imagem de Mitra em um
andor pelas ruas, externando profunda dor por sua morte. Por outro lado,
festejavam alegremente a ressurreição, acendendo os círios pascais e ungindo a
imagem com perfumes. O Sumo Sacerdote gritava para os crentes que Mitra
ressuscitara, indo para o céu para proteger a humanidade.
Os rituais do
budismo, do mitraísmo e do cristianismo são muito semelhantes. Horus foi o Deus
solar e redentor dos egípcios. Horus, como os Deuses já citados, também
nasceria de uma virgem. O nascimento de Horus era festejado a 25 de dezembro.
Amenófis III criou um mito religioso que depois foi adaptado ao cristianismo.
Trata-se da anunciação, concepção, nascimento e adoração de Iath. Nas paredes do
templo, em Luxor, encontram-se os referidos mistérios.
Baco, o Deus do Vinho,
foi também um deus salvador. Teria feito muitos milagres, inclusive a
transformação da água em vinho e a multiplicação dos peixes. Em criança, também
quiseram matá-lo. Adonis era festejado durante oito dias, sendo quatro de dor e
quatro de alegria; as mulheres faziam as lamentações, como carpideiras.
O rito do Santo
Sepulcro foi copiado do de Adonis. Apagavam todos os círios, ficando apenas um
aceso, o qual representava a esperança da ressurreição. O círio aceso ficava
semi-escondido, só reaparecendo totalmente no momento da ressurreição, quando
então o pranto das mulheres era substituído por uma grande alegria. Também os
fenícios, muitos milênios antes, já tinham o rito da paixão, do qual copiaram o
rito da paixão de Cristo.
Todos os Deuses
Redentores passaram pelo inferno durante os três dias entre a morte e a
ressurreição. Isto é o que teria acontecido com Baco, Osiris, Krishna, Mitra e
Adonis. Nestes três dias, os crentes visitavam os seus defuntos, segundo
Dupuis, em “Lè Origine des tous les cultes”.
Todos os Deuses Redentores
eram também Deuses-Sol, como Átis, na Frígia; Balenho, entre os celtas; Joel,
entre os germanos; Fo, entre os chineses. Assim, antes de Jesus Cristo, o mundo
já tivera inúmeros redentores. Com este ligeiro apanhado da mitologia dos Deuses,
deixo patente a origem do romance do Gólgota. Acredito ter esclarecido quais as
fontes onde os criadores do cristianismo foram buscar inspiração.
Os artigos
anterioresnos permitem constatar que, nas diversas épocas da
história, as religiões transformam-se variando em razão da complexidade cada
vez maior das sociedades em que elas existem.
Vimos que a
crença em um Deus Redentor
é muito anterior ao judaísmo, sempre ligada à ânsia da necessidade de redenção
das tremendas aflições do povo. Quanto ao Jesus Cristo, este resultou de uma
série de mitos que os hebreus copiaram dos babilônicos, dos egípcios e de
outros povos, visando com isto dar consistência ao judaísmo.
Estudos
filológicos forneceram as bases para o estabelecimento de um traço de união
entre as crenças dos Deuses orientais e o judaísmo. Vejamos, por exemplo, as
palavras Ahoura-Mazzda e Jeová, que significam “O que é”. Partindo de
velhas lendas orientais, e baseando-se na origem comum da palavra, foi
compilado o Gênese, numa tentativa de explicar a criação do mundo. Segundo o
Zend-Avesta, o Ser Eterno criou o céu e a Terra, o Sol a Lua, as estrelas, tudo
em seis períodos, aparecendo o homem por último.
O descanso foi
posto no sétimo dia. Manu havia ensinado, muito antes, que no começo tudo era
trevas, quando Bhrama dispersou-as, criou e movimentou a água, em seguida
produziu os Deuses secundários, os anjos dirigidos por Mossura, os quais
posteriormente se rebelariam contra Deus. Veio então Shiva, e os prendeu no
inferno. Shiva tornou-se a terceira pessoa da Santíssima Trindade Bhramânica em
conseqüência das sucessivas invasões bárbaras sofridas pela Índia.
Os bárbaros,
crendo em Shiva, o Deus da lascívia e da sensualidade, impuseram sua inclusão,
surgindo assim a trindade divina de Bhrama.
Manu ensinara
igualmente que Deus criara o homem e a mulher, fazendo-os apenas inferior a
Devas, isto é, Deus. O primeiro homem recebera o nome de Adima ou Adam, e a
primeira mulher, Heva, significando o complemento da vida. Foram postos no
paraíso celeste e receberam ordem de procriar. Deveriam adorar a Deus, não
podendo sair do paraíso. Mas, um dia, indo ver o que havia fora dali,
desapareceram. Bhrama perdoou-os, mas expulsou-os, condenando-os a trabalhar
para viver. E disse que, por haverem desobedecido, a Terra se tornaria má,
porque o espírito do mal dela se apoderara.
Entretanto, mandaria
seu filho Vishnu que, se encarnando em uma virgem, redimiria a humanidade,
libertando-a definitivamente do pecado da desobediência.
Ormuzd teria
prometido ao primeiro casal humano que, se fossem bons, seriam felizes na
terra. Mas Arimã mandou que um demônio em forma de serpente aconselhasse a
desobedecerem a Deus. Comeram os frutos que Arimã lhes deu, acabou a felicidade
humana, e todos os que nascessem daí em diante seriam infelizes.
Sendo levados
cativos para a Babilônia, os judeus ali encontraram tal lenda. Libertos,
voltando à Judéia, trouxeram essa crendice, como também a crença da
imortalidade da alma e da vida futura, dos espíritos bons e espíritos maus,
surgindo daí os anjos Gabriel, Miguel e Rafael, os querubins e serafins. Nasceu
daí o mito do diabo, o anjo rebelado.
A palavra
paraíso é o termo persa que significa jardim. Os persas, os hindus, os egípcios
e os gregos acreditavam no paraíso. Da mesma forma, todos eles acreditavam no
inferno. Entretanto, as crenças antigas desconheciam os castigos eternos, que
foram criados pelo cristianismo, aliás, uma das poucas coisas originárias dessa
crença.
Também o
purgatório, naturalmente, é outra novidade do cristianismo, sendo desconhecido
do judaísmo. A idéia do purgatório vem de Platão, que havia dividido as almas
em puras, curáveis e incuráveis.
Os filhos de
Adima e Heva haviam se tornado numerosos e maus. Por isso, Deus mandou o
dilúvio para matá-los. Mas deu ordem a Vadasuata para construir um barco e nele
entrar com a família, devido ao fato de ser um homem virtuoso. Deveria levar
consigo, além da família, um casal de cada espécie de animal existente: esta é
a história do dilúvio relatada nos Vedas, e que foi incluída na Bíblia dos
cristãos.
As origens do
cristianismo repousam, incontestavelmente, nas lendas e crenças dos Deuses
mitológicos, não apenas dos judeus, mas também de outros povos.
Os caldeus e os
fenícios, como os judeus, haviam se especializado no comércio, e por dever de
ofício, se alfabetizaram. Assim, sabendo ler e escrever, puderam copiar as
lendas e o folclore dos povos com os quais comerciavam e conviviam, os quais
puderam adquirir longevidade e se fixar melhor na memória humana.
Sendo
comerciantes por excelência, os judeus perceberam que a religião poderia se
tornar uma boa mercadoria, através da qual adviria o domínio de muitos povos e
vontades. Desta forma, tendo compilado o que julgaram mais interessante ou mais
proveitoso em relação aos seus propósitos, passaram a difundir pelo mundo as
suas idéias religiosas. Com isto, o conhecimento e a razão foram substituídos
pelas crendices e superstições religiosas.
Desde há muito a
religião tem servido para moderar os impulsos humanos, sobretudo daqueles que
pertencem a uma classe social menos favorecida. Saliento o prejuízo que o mundo
tem sofrido com o rebaixamento mental imposto com as crenças e superstições
religiosas, com o que o conhecimento sofre uma estagnação sensível.
No entanto, o
homem tem se deixado levar pelas crenças e práticas religiosas sem que nenhum
benefício lhe seja dado em
retribuição. O homem tem feito tudo para si mesmo, apesar de
sua religiosidade. A única classe beneficiada realmente com a religião é a dos
sacerdotes.
Bom, vamos
retomar o assunto em pauta, após essa rápida digressão. A Bíblia cita dez patriarcas
que teriam morrido em idade avançada, antes do dilúvio. Contudo, essa lenda
provém da tradição caldáica, segundo a qual dez reis governaram durante 432
anos. Da mesma forma, as lendas hindus, egípcias, árabes, chinesas ou
germânicas fazem referência a homens que tiveram uma longa vida, como a do
Matusalém da Bíblia.
Igualmente, a
lenda de Abraão, que deveria sacrificar o seu filho Isaac, procede de lendas
anteriores ao judaísmo. O livro das profecias hindus relata uma história igual.
Ramatsariar conta que Adgitata, protegido de Bhrama por ser um homem de bem,
teve um filho que nasceu tão milagrosamente como Jesus. Entretanto Bhrama, para
experimentá-lo, lhe ordena que sacrificasse o filho. Ele obedece, mas Bhrama
impede-o no momento exato. Seu filho seria o pai de uma virgem a qual, por sua
vez, seria a mãe do Deus-Homem.
José e a mulher
de Putifar foi a cópia de uma velha lenda egípcia, conforme documentos
recentemente traduzidos. Era uma história intitulada “Os dois irmãos”.
Emílio Bossi,
relatando o achado, dá a palavra a Jacolliot: “Um homem da Índia fez leis
políticas e religiosas; chamava-se Manu. Esse mesmo Manu foi o legislador
egípcio, Manas. Um cretense vai ao Egito estudar as instituições que pretende
dar ao seu país, e a história confirma isto dizendo que esse cretense foi
Minos.
Enfim, o libertador dos escravos judeus
chamava-se Moisés, que teria recebido as leis das mãos do próprio Jeová. Temos,
então, Manu, Manes, Minos e Moisés, os quatro nomes que predominaram no mundo
antigo. Aparecem na história de quatro povos diferentes para representar o
mesmo papel, rodeados da mesma auréola misteriosa, os quatro são legisladores,
grandes sacerdotes e fundadores das sociedades teocráticas e sacerdotais. Esses
quatro nomes têm a mesma raiz sânscrita. O hinduismo deu origem ao judaísmo.
Por isso, de Jeseu Krishna fizeram Jesus Cristo”.
Documentos
recentemente estudados mostram terem sido os hindus os prováveis colonizadores
do Egito. A documentação demonstra que o conhecimento nasceu do saber hindu.
A assiriologia
mostra que a lenda de Moisés foi copiada da de Sargão I, rei acádio, que
igualmente teria sido salvo em um cesto deixado no rio, à deriva.
A lenda de
Sansão é outro exemplo. Sansão representa o Sol. O poder que lhe foi atribuído
é o mesmo dos Deuses Solares. E assim, examinando os escritos de antigas
civilizações, chegamos ao conhecimento das origens de tudo o que a Bíblia narra
como fatos reais. Concluímos então que Jesus Cristo nada mais representa que
uma cópia das lendas e mitos dos Deuses adorados por povos os mais remotos e
variados.
Percebendo a
importância da luz do Sol sobre a Terra, o homem imaginou que essa luz seria
uma emanação protetora de Deus. Da idéia de que existia um único Sol surgiu o
monoteísmo, isto é, a crença em um só Deus.
Das palavras
Devv e Divv, que em sânscrito significam Sol e luminoso, originou-se a palavra
Deus. Daí, em grego, a palavra Zeus; em latim, Deo; para os irlandeses, Dias; em italiano Dio, etc.
A parte do tempo
em que a Terra recebe a luz do Sol recebeu o nome dia em oposição ao período de
trevas, a noite. O dia teria sido um presente divino, graças à luz solar.
Conseguindo produzir o fogo, aumentou a crença humana no Deus Sol. Graças ao
fogo, o homem pôde libertar-se de um dos seus maiores inimigos, que era o frio,
assim como passou a cozinhar os seus alimentos. Devendo cada vez mais a vida ao
calor, a gratidão do homem para com o Sol cresceu ainda mais. Foi assim que
nasceu o mito solar, do qual Jesus Cristo é o último rebento.
Por uma série de
deduções, chegaram igualmente à concepção do significado místico da cruz. Dos
raios solares foi criada uma cruz, espargindo raios por todos os lados. Da
mesma forma foi a idéia do Espírito Santo, um espírito caridoso que irradia a
bondade divina. Depois a seqüência mística do Sol, o fogo e o vento, dando
origem a Salvitri, Agni e Vayu, do mito védico.
O rito védico
celebra o nascimento de Salvitri, o Deus-Sol, em 25 de dezembro, no solstício,
quando aparecem as refulgentes estrelas. As estrelas trazem a boa nova, a
perspectiva de boas colheitas. Daí os sacrifícios e os ritos propiciatórios
oferecidos ao Deus-Sol.
Assim os
cristãos encontraram o seu Jesus Cristo.
A vida dos Deuses
Redentores é a vida do Sol. Por isso, todos eles tiveram suas datas de nascimento
fixadas em 25 de dezembro: Mitra, Horus e Jesus Cristo. Também é simbólica a
ressurreição na primavera, tempo da germinação e das folhas novas. Baseando-se
nisto, Aristóteles e Platão admitiram uma certa racionalidade dos que adoravam
o Sol.
Heródoto e
Estrabão diziam que Mitra era o Deus-Sol, tendo por emblema um sol radiante.
Plutarco conta que o culto de Mitra veio para a Sicília trazido pelos piratas
do mar. Em escavações feitas no solo italiano, foram encontradas placas de
barro solidificados ao sol trazendo esta inscrição: “Deo Soli Invicto Mitrae”,
lembrando o Deus dos persas.
Niceto escreveu
que certos povos adoraram a Mitra como o Deus do Fogo, outros como sendo o Deus-Sol.
Júlio Fírmino Materno disse que Mitra era a personificação do Deus Fogo,
enquanto Aquelau considerava-o o Deus-Sol. São Paulino descreveu os mistérios
de Mitra como sendo os de um Deus solar e redentor. Karneki, rei hindo-escita,
no começo de nossa era, mandou cunhar moedas em que se vê a efígie de Mitra
dentro de um sol radiante. Mitra ainda era representado com um disco solar na
cabeça, segurando um globo com a mão esquerda.
Do mesmo modo os
cristãos representam Jesus Cristo. Era o Senhor. Ao surgir o cristianismo, os
cristãos primitivos ainda chamavam o Sol de “Dominus”, com o que, lentamente,
foi absorvendo o ritual mitráico. No Egito, o Sol era o “Pai Celestial”. Um
obelisco trazido para o Circo Máximo de Roma trazia esta inscrição: “O grande
Deus, o justo Deus, o todo esplendente”, tendo um sol espargindo seus raios
para todos os lados. Da mesma forma, todos os Deuses dos índios americanos
pertenciam ao rito solar, assim como os Deuses dos hindus, dos chineses e
japoneses. Os caldeus, adorando o Sol como seu Deus, dedicaram-lhe a cidade de
Sípara, onde ardia o fogo sagrado, eternamente, em sua honra. Em Edessa e em
Palmira foram encontrados templos dedicados ao Deus-Sol. Orfeu considerava o
sol como sendo o Deus maior. Agamenon disse que o sol era o Deus que tudo via e
de que tudo provinha.
Os judeus e os
líderes do cristianismo, para a formação deste, só tiveram que adaptar as
crenças e rituais antigos a uma nova personagem: Jesus Cristo. Toda a roupagem
necessária para vestir o novo Deus pré-existia. Apenas era necessário moldá-la
um pouco.
Tendo em vista o
completo silêncio histórico a respeito de Jesus Cristo, bem como as evidentes
ligações deste com o mito dos Deuses-Solares, Dupuis escreveu o seguinte:
“Um Deus nascido de uma virgem no solstício do
inverno, que ressuscita na Páscoa, no equinócio da primavera, depois de haver
descido ao inferno; um Deus que leva atrás de si doze apóstolos,
correspondentes às doze constelações; que põe o homem sob o império da luz, não
pode ser mais que um Deus solar, copiado de tantos outros Deuses heliosísticos
em que abundavam as religiões orientais. No céu da esfera armilar dos magos e
dos caldeus via-se um menino colocado entre os braços de uma virgem celestial,
a que Eratóstenes dá como Ísis, mãe de Horus. Seu nascimento foi a 25 de
dezembro. Era a virgem das constelações zodiacais. Graças aos raios solares, a
virgem pôde ser mãe sem deixar de ser virgem… Via-se uma jovem ‘Seclanidas de
Darzana’, que em árabe é ‘Adrenadefa’, e significa virgem pura, casta,
imaculada e bela… Está assentada e dá de mamar a um filho que alguns chamam de
Jesus e, nós, de Cristo.”
Já mostrei que
Jesus repete todos os mistérios dos Deuses Solares e redentores, pelo que
Heródoto, Plutarco, Lactâncio e Firmico puderam afirmar que esse Deus Redentor
é o Sol. De modo que Jesus é apenas mais um deus solar.
Ainda hoje,
grande parte do rito cristão é de origem solar. Na Bíblia, encontramos estas
palavras: “Deus estabeleceu sua tenda no Sol”, e ainda: “Sobre vós que temeis o
meu nome, levantar-se-á o Sol da justiça e vossa vida estará em seus raios”.
João diz que “o verbo é a lei, a luz e a vida, a luz que ilumina a vista de
todos os mortais, a luz do mundo”. E ainda chama a Jesus de o “cordeiro”, o
“Agnus Dei qui tollit peccata mundi”.
Com isto, o
Apocalipse fez de Jesus o “cordeiro pascal”, e a Igreja o adorou sob a forma de
um cordeiro até o ano de 680. Era o Cristo o Áries zodiacal, vindo de Agnus,
com a representação de fogo, o Sol condensado.
Origenes
justificava a adoração do Sol tendo em vista a sua luz sensível e também pelo
aspecto espiritual. Tertuliano reconheceu que o dogma da ressurreição tem sua
origem na religião persa de Mitra. Para S. Crisóstomo, Jesus era o Sol da
justiça, para Sinésio, o Sol intelectual. Fírmico Materno descreveu Jesus
baixando ao inferno, esplendente como o Sol. O domingo, o dia do Senhor, o dia
do descanso, procede de Dominus, o Deus-sol,
o Senhor. Segundo Teodoro e Cirilo, para o maniqueus Cristo era o Sol.
Os Saturnilianos
acreditavam que a alma tinha substância solar, deixando o corpo e voltando para
o Sol, de onde proviera, após a morte. O antigo rito do batismo determinava que
o catecúmeno voltasse o rosto em primeiro lugar para o ocidente, para retirar
de si Satanás, símbolo das trevas.
Igualmente, as
festas do sábado santo são reminiscências do mito da luta do Sol contra as
trevas, na Páscoa. As orações desse ofício são cópias dos hinos védicos. A
palavra aleluia, que era o grito de alegria dos persas, adoradores do Sol,
quando na Páscoa festejavam a sua volta, significa: elevado e brilhante.
Foram
necessários muitos séculos para que a igreja pudesse alienar um pouco do que
lembrava que o seu culto era de um Deus Solar. Entretanto, a história escrita é
inflexível e demonstra que todos os Deuses Redentores ou Solares foram tão
adorados quanto o mitológico Jesus Cristo. E embora tenha havido longas fases
em que foram impostos a ferro e fogo, nem por isto deixaram de cair, nada mais
sendo hoje do que o pó do passado religioso do homem.
O certo é que
Jesus Cristo é mitológico de origem, natureza e significado. O seu surgimento
ocorreu para atender à tendência religiosa e mística da maioria, que ainda hoje
teme as realidades da vida e, portanto, procura, para se orientar, algo fora da
esfera humana, na esperança de assim conseguir superar a si mesmo e aos
obstáculos que surgem diariamente.
O cristianismo é
produto de tendências naturais de uma época, aproveitadas espertamente pelos
líderes do cristianismo. O judeu pobre e oprimido, não tendo para quem apelar,
passou a esperar de Deus aquilo que o seu semelhante lhe negava. O sacerdote,
valendo-se do deplorável estado de espírito de uma população faminta e,
sobretudo, desesperançada, ressuscitou um dentre os velhos Deuses para
restaurar a esperança do povo judeu.
E assim, surgiu
mais um mito solar, mais um Deus com todos os atributos divinos, tal como os
que antecederam. O novo Deus Solar em questão é Jesus Cristo.
Conforme disse
várias vezes, o cristianismo tomou por empréstimo tudo quanto se fez necessário
à sua formação. Assim, todos os ensinamentos atribuídos a Cristo foram copiados
dos povos com os quais os judeus tiveram convivência. A sua moral, a moral que
Cristo teria ensinado, aprendeu-a com os filósofos que o antecederam em muitos
séculos. De modo que não há inovações em nenhum setor ou aspecto do cristianismo.
Antigos povos, milênios antes, adoraram seus Deuses semelhantemente.
Dentre as
máximas adotadas pelo cristianismo, comento a seguinte: “Não faças aos outros o
que não queres que a ti seja feito”. Este ensinamento não teria partido de
Jesus, conforme pretendem os cristãos, não sendo sequer uma máxima cristã,
originariamente. Encontraremos ela em Confúcio, e ainda no bramanismo, no
budismo e no mazdeismo, fundado por Zoroastro. Era uma orientação filosófica e
religiosa, adotada pelos hindus.
A originalidade
do cristianismo consistiu apenas em criar as penas eternas, um absurdo desumano
e irracional. Enquanto isso, o mazdeismo cria a possibilidade de regeneração do
pior bandido, admitindo mesmo a sua plena reintegração no seio da sociedade.
O perdão aos
inimigos foi, muito antes de Jesus, aconselhado por Pitágoras. Os egípcios religiosos praticavam uma moral muito
elevada. No “Livro dos Mortos” encontramos a confissão negativa, de acordo com
a qual a alma do morto comparecia ante o tribunal de Osiris e proferia em alta
voz as suas más ações. O sentimento de igualdade e fraternidade para com os
homens foi ensinado por Filon.
O cristianismo
adotou os seus ensinamentos, atribuindo-os a Jesus.
São de Filon as seguintes palavras: “Os que
exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser reprimidos.”; “A
distinção humana está na inteligência e na justiça, embora partam do nosso
escravo, comprado com o nosso dinheiro.”; “Porque hás de ser sempre orgulhoso e
te achares superior aos outros?”; “Quem te trouxe ao mundo? Nu vieste, nu
morrerás, não recebendo de Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte,
para que o apliques na concórdia e na justiça, repudiando todos os vícios e
todas as qualidades que tornam o homem um animal”; “A boa vontade e o amor
entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir”.
Como vemos, não
há nada de novo no cristianismo. Platão salientou
a felicidade que existe na prática da virtude. Ensinou a tolerância à injúria e
aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou o humanismo, a castidade e o
pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego demasiado aos bens. Sua moral
baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e na vida
contemplativa. O Padre Nosso foi copiado de Platão. Quem conhece bem a obra de
Platão percebe os traços comuns entre a mesma e o cristianismo. Filon inspirou-se em Platão e, a
Igreja, na obra de Filon, que
helenizou o judaísmo.
Aristóteles afirmou que a
comunidade repousa no amor e na justiça. Admitia a escravatura, mas libertou os
seus escravos. Poderiam existir escravos, mas não a seu serviço. A comunidade
deveria instruir a todos, independentemente da classe social, com o que ensinou
o evangelho aos Evangelhos.
A abolição do
sacrifício sangrento não foi introduzida pelo cristianismo. Não lhe cabe tal
mérito. Gélon, da Sicília, firmando
a paz com os cartagineses, estipulou como condição a supressão do sacrifício de
vidas animais aos seus Deuses.
Sêneca
aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao prazer. Recomendava
igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo que todos os homens são
iguais. Referia-se ao céu como fazem os cristãos, afirmando que todos são
filhos de um mesmo pai. Concebia como pátria o Universo. Os homens deveriam se
ajudar e se amar mutuamente. Enquanto isso, o humanismo cristão limitou-se
apenas aos irmãos de fé. O bem visa somente a salvação da alma, o que é
egoísmo, nunca humanismo. Sêneca manifestou-se contrário à pena de morte; o
cristianismo, ao contrario, é responsável por inúmeras execuções. Admitia a
tolerância mesmo em face da culpa. Em vez de perseguir e punir, por que não
persuadir, ensinar e converter?
Epíteto e Marco Aurélio foram bons professores
dos cristãos. Os filósofos greco-romanos foram grandes mestres da moral cristã
e da consolação, sem que para isto criassem empresas, negócios ou castas. O
cristianismo existente antes de Jesus Cristo já pregava a moral anterior ao
martírio do Gólgota. A moral cristã não veio de Jesus Cristo nem dos
Evangelhos, mas nasceu da tendência natural para o aperfeiçoamento do homem.
Não fosse a
destruição sistemática de antigas bibliotecas, determinada pelo clero no
intuito de preservar os seus escusos interesses, hoje seria possível patentear
com documentos à mão que a moral anterior à cristã era bem melhor do que esta,
tendo-lhe servido de modelo. Assim, se vê que a moral jamais foi patrimônio de
castas ou de indivíduos, sendo uma lenta conquista da humanidade, com ou sem
religião, e mesmo contra ela. Por isso é que o mundo racionaliza-se
continuamente, e avança sempre no sentido do seu aperfeiçoamento.
A bondade humana
independe da idéia religiosa. A razão nos ensina o que devemos ao nosso meio
social, independentemente da fé e da religião. Para justificar o aparecimento
de Jesus, se fez necessário recorrer a uma moral que, no entanto, já era um
patrimônio da humanidade. Jesus nada mais foi do que a materialização de
qualidades que já existiam. Por isso, mesmo em moral, Jesus foi ator, não
autor. O cristianismo apenas sistematizou e industrializou essa velha moral,
estabelecendo-a como um rendoso comércio. A Igreja é responsável pela
deturpação dessa moral.
Havia a moral
pela moral, que foi substituída pela moral bíblica, em que só se é bom para
ganhar o céu. Superpondo-se um grupo empresarialmente forte, extinguiu-se a
moral individual.
Pesquisas e
estudos comparados têm demonstrado que a mitologia judaico-cristã é bem
anterior ao próprio judaísmo, quando se percebe que dogmas como o da
imortalidade da alma, da ressurreição e do Verbo encarnado são muito anteriores
ao cristianismo.
A imortalidade
da alma já tinha milênios quando os judeus foram levados cativos para a
Babilônia. Zoroastro ensinara, muito antes, ser a alma imortal, e que essa
imortalidade seria produto de uma opção humana. O livre arbítrio levaria o
homem a escolher uma vida que o levaria ou não à imortalidade. O erro e o mal
produziriam a morte definitiva, a prática do bem, a imortalidade.
Do mesmo modo,
na Ciropédia, bem anterior a Zoroastro, se lê que Ciro, moribundo, disse: “Não
creio que a alma que vive em um corpo mortal se extinga desde que saia dele, e
que a capacidade de pensar desapareça apenas porque deixou o corpo que não tem
como pensar por si mesmo”. Por outro lado Einstein, pouco antes de morrer, declarou
não crer que algo sobrasse do ser vivo após a morte. Os egípcios, os hindus, os
sumérios, os hititas e os fenícios criam na imortalidade da alma.
A ressurreição
foi um dos fundamentos do Zend-Avesta. Zoroastro também ensinou que o fim do
mundo seria precedido por um grande acontecimento, a ser predito por profetas.
Os persas tiveram os seus profetas, que foram Ascedermani e Ascerdemat, os
quais passaram à Bíblia sob os novos nomes de Enock e Elias, entidades míticas,
como se vê. Desses mitos surgiram o Talmud e os Evangelhos, o que mostra que,
em religião, a idéia original pertence à noite dos tempos.
A doutrina do
Verbo já era antiqüíssima no Egito. Deus teria gerado Kneph “a palavra, o
Verbo”, que é igual ao pai. Da união de Deus com o Verbo nasceu o fogo, a vida,
Fta, a vida de todos os seres.
O monoteísmo e a
Santíssima Trindade eram crenças muito antigas na Índia. Os Deuses únicos e os
Deuses secundários são uma velha doutrina oriental. A religião greco-romana já
possuía o seu Apolo e Zeus, rodeados por uma porção de Deuses secundários.
Essas velhas lendas deram origem ao Deus do cristianismo, com toda sua corte de
santos e anjos.
O politeísmo há
muito vinha caminhando para o monoteísmo. Os gregos já haviam concebido a idéia
de um intermediário entre os homens e Júpiter, que era Apolo, tendo encarnado
para redimir os homens. Porfírio citou o seguinte oráculo de Serapis: “Deus é
antes e depois e ao mesmo tempo, é o Verbo e o Espírito, como um e outro”. O
mundo antigo cria em um Deus
único, pai de todas as coisas, afirmou Máximo de Tiro. O povo então já dizia:
Deus o sabe! Deus o quer! Deus o abençoe! Os oráculos só se referiam a Deus e
não aos Deuses.
Os apologistas
do cristianismo, tais como Eusébio, Agostinho, Lactâncio, Justino, Atanásio e
muitos outros, ensinavam que unidade de Deus era conhecida desde a mais remota
antiguidade. Os órficos, inclusive, a admitiam. Na Bíblia, ao ser traduzido
para o grego e para o latim, o nome de Deus passou a ser muitas vezes Senhor,
Dominus, para ficar conforme o nome do Deus-Sol do mitraísmo.
O amor a Deus
foi a base de todas as religiões copiadas pelo judaísmo. Isaías falava de Deus
como Pai Celestial. Ezequiel dizia que Deus não queria a morte do pecador,
preferindo antes a sua conversão. O justo viverá eternamente pela fé. São
palavras de Habacuc, repetidas por Paulo em Gálatas 3:2.
Como vimos a
doutrina do Verbo vem de Platão,
tendo sido este o intermediário entre os metafísicos e os cristãos. Foi ele
quem concebeu a idéia da separação do corpo e da alma e pôs aquele na
dependência desta. Na sua opinião, a Terra era o desterro da alma. Foi o
criador do sistema filosófico da decadência moral do homem, fazendo dos
sentidos uma ameaça, do mundo um mal e da eternidade o delírio, o sonho.
Cícero e Sêneca
tinham idéias cristãs, mas não conheceram a Jesus Cristo nem ao cristianismo.
Agostinho leu as obras de Cícero e trocou o maniqueísmo pelo cristianismo. A
Igreja procurou destruir as principais obras de Cícero e de Sêneca para que a
posteridade não percebesse que eles não tinham sido cristãos seguidores de
Cristo, mas apenas que as suas idéias coincidiam com as que o cristianismo
esposou. O cristianismo nasceu da helenização do judaísmo.
Os cristãos
terapeutas abandonaram o judaísmo ortodoxo porque este tinha posto de lado o
culto nacional do templo e o sacrifício Pascal, retirando-se para uma vida
contemplativa nos montes, longe dos homens e dos negócios. Estabeleceram uma
sociedade comunal, considerando o casamento um apego à carne, um empecilho à
salvação da alma. Baniram os principais prazeres da vida, exaltando o celibato
e a pobreza, como os essênios, além de aconselhar a caridade. Eusébio chamou
aos terapeutas de cristãos sem Cristo. Para ele, um terapeuta era um autêntico
cristão. Isto levou Strauss a escrever: “Os
terapeutas, os essênios e os cristãos dão sempre muito o que pensar”.
A doutrina dos
essênios, a moral dos terapeutas, a encarnação do Verbo, vinda do judaísmo
helenizado, é o cristianismo de Filon. Desse modo, Filon foi criador do
cristianismo, sem saber. Ele se refere ao Verbo nos termos da mitologia egípcia
sem, contudo, mencionar a crença em Jesus Cristo. Salomão
fez da sabedoria divina a criação. O Livro da Sabedoria define a natureza desse
principio intermediário, transformando o pensamento vago do rei judeu sobre a
sabedoria da doutrina do Verbo.
Sirac, em
“Eclesiástico”, faz a doutrina do Verbo ser mais precisa: “A sabedoria vem de
Deus, estando sempre com ele. Foi criada antes de todas as coisas. A voz da
inteligência existe desde o principio. O Verbo de Deus, no mais alto do céu, é
a fonte da sabedoria”! Filon disse que o Verbo se fizera humano. Segundo ele,
Deus era infalível e inacessível à inteligência humana, não nos alcançando
senão pela graça divina. Para ele, ainda, o Verbo não era apenas a palavra, mas
a imagem visível de Deus.
O Verbo seria o
Ungido do Senhor, o ideal da natureza — o Adão Celeste é a doutrina da
encarnação do Verbo — tomando a forma humana. O Verbo é o intermediário entre
Deus e os homens. Diz ainda que o Verbo é o pão da vida.
Por ai vemos que
não foi o Cristo o criador do cristianismo, mas este é que o criou. Clemente de
Alexandria, Origenes ou Paulo, assim como os primeiros padres do cristianismo,
jamais se referiram a Jesus Cristo como tendo sido um homem que tivesse
caminhado do Horto ao Gólgota, mas o tiveram apenas como o Verbo, conforme a
doutrina de Platão e de Filon.
Está patente a
existência do cristianismo sem Cristo. A existência do clero, por outro lado,
foi uma exigência bramânica.
Pregando por
meio de parábolas, os sacerdotes se faziam necessários para esclarecer o
sentido das mesmas. Assim se justificava o pagamento com as esmolas dos
crentes. Ensinavam a religião e se apoderavam do dinheiro. Suas terras e os
templos já eram isentos dos impostos. O sumo-sacerdote não se casava e era
venerado como um Deus.
No budismo,
tanto os bonzos como os mosteiros são mantidos pela comunidade e os monges,
igualmente, não se casam. O Dalai-Lama é o Vigário de Deus, o sucessor de Fó,
sendo Infalível como o Papa se diz ser. Nos mosteiros todos se chamam de
irmãos.
O clero persa
era dividido em ordens hierárquicas, e tinha o direito a um décimo da renda da
comunidade. Os magos persas, como os profetas judeus, eram puros e não
trabalhavam.
No Egito, a
classe mais alta era a dos sacerdotes. Elegiam o rei e limitavam a sua ação. O
povo arrendava as terras do templo. Só o clero ensinava a religião e presidia
aos sacrifícios. O regime era teocrata e todos tinham de submeter-se às regras
eclesiásticas. O sacerdote era o adivinho, fazia os oráculos, as profecias, os
sortilégios e os exorcismos. Afirmava ter força sobre a natureza, para o bem da
humanidade.
Os brâmanes
procuravam afugentar os malefícios e as maldições. Para isto, cultivam certas
plantas, como o lótus e o cânhamo, das quais faziam licores como o “amrita”,
que possuía virtudes milagrosas. Tinham as mesmas modalidades de expiação ainda
hoje adotadas pelo cristianismo.
As mortificações
hindus são as mesmas praticadas pelos cristãos medievais. Certos crentes
carregaram durante toda a vida enormes colares de ferro, outros, pesadas
correntes de ferro. Alguns se marcavam com o ferro em brasa, avivando a ferida
todos os dias. Muitos vão rolando deitados até Benares, pagar ali suas
promessas. Também usam sandálias cravadas de finos pregos, os quais entram
pelas solas dos pés.
No Egito, os
sacerdotes de Ísis açoitavam-se em sua honra, expiando, com isso, suas próprias
culpas e as do povo.
Entre os gregos
havia a água lustral para as expiações e para as propiciações.
Os sacerdotes de
Dodona feriam-se e os de Diana praticavam tais coisas em seus corpos, que às
vezes punham em perigo a própria vida.
Os romanos
procuravam livrar-se das calamidades públicas oferecendo aos seus Deuses
sacrifícios humanos.
Os Indostânicos
tornavam-se celibatários, pediam esmolas, jejuavam e se isolavam do convívio
com outras Pessoas.
No budismo, as
crianças eram ensinadas a fazer votos de castidade. O governo concedia honras
especiais ao que chegavam aos 40 anos castos. No Egito, existiam mosteiros
apropriados para os que faziam votos de castidade. Também os sacerdotes de
Baco, na Grécia, faziam tais votos. Os sacerdotes de Cibele eram castos e
castrados.
Em Roma, as
Vestais viviam em mosteiros, indo para eles até aos seis anos de idade, e
juravam não deixar extinguir-se o fogo sagrado e manterem-se virgens. A que
faltasse ao juramento seria enterrada viva e, o amante, condenado à morte.
Os budistas
consagravam o pão e o vinho, representando o corpo e o sangue de Agni, quando
os bonzos aspergiam os crentes. Enquanto aspergem água lustral, cantam hinos ao
sol e ao Fogo, o “Kirie Eleison” que os católicos copiaram e cantam ou recitam
durante a missa. Inicialmente o sacrifício constava da imolação de uma pessoa,
a qual posteriormente foi substituída pela hóstia.
Tal como o padre
católico, o sacerdote budista também lava as mãos antes das libações. A
cerimônia budista é em tudo semelhante à missa da Igreja Católica. Os persas
tinham, em seus ritos religiosos, a eucaristia, ou seja, a mesma oferenda do
pão e do vinho que também consta do ritual da missa, bem como o Pater Noster, o
Credo e o Confiteor.
Na Grécia,
rezava-se pela manhã e à noite. Os etruscos juntavam as mãos quando oravam.
Também a confissão lá era praticada pelos persas. O ritual do catolicismo tem
muito do ritual mitraico, assim como a vestimenta dos sacerdotes católicos foi
copiada do figurino dos sacerdotes de Mitra.
Muitas das
religiões pré-cristãs já festejavam a Páscoa e a Natividade. Os persas
inclusive dedicaram um dia aos mortos. E, no dia em que o filho começava a
receber instrução religiosa, havia festa na casa dos pais. Entre os gregos,
cada dia da semana era dedicado a um Deus. Os Hindus viviam peregrinando de um
templo para outro. Criam na existência de dias bons e dias maus, como também em
sortilégios e malefícios. Cada pessoa era dedicada a um anjo que a protegia
desde o nascimento. Benziam as vacas, os instrumentos agrícolas e animais
domésticos.
A história do
passado religioso do homem está repleta de virgens puras e belas, que são as
mães dos Deuses. Maria, mãe de Jesus Cristo, é apenas mais uma dentre tantas
outras.
Igualmente, as
procissões constituem práticas multimilenares. É antiqüíssima tal modalidade de
culto. Juno e Diana passearam em caminhadas durante muitos séculos. As cidades
sempre se enfeitaram à passagem dos santos e dos Deuses.
Por aí vemos que
nem Jesus nem o cristianismo têm nada de original. A veneração das imagens já
era muito anterior ao cristianismo. Por outro lado, o judaísmo, que as baniu,
não foi, entretanto, o primeiro a tomar tal atitude. Plutarco disse que os
tebanos não as usavam, assim como Numa Pompílio proibiu os romanos de as
usarem, durante o seu governo.
O batismo era
uma cerimônia praticada pelos antigos muito antes de se cogitar, sequer, do
nome de cristão. Os hindus lavam o recém-nascido em água lustral, dando-lhe um
nome de um gênio protetor. Aos oito anos, a criança aprende a recitar os hinos
ao Deus-Sol. A extrema-unção também, desde muito antes do cristianismo, era praticada
pelos hindus. Copiando detalhes dos ritos e cultos de uma grande variedade de
seitas, o cristianismo constituiu o seu próprio ritual, tudo girando em torno
do Deus-Sol, no qual, por fim, vestiram a roupa de Jesus Cristo.
O cristianismo
deve ser examinado com isenção de ânimo, ainda quando visto como uma das
melhores religiões. Ele propõe ter sido Jesus um messias. O termo é tomado do
hebraico mesiá que quer dizer ungido. Da versão para o grego resultou Kristós.
No caso, messias assume o contexto, como quando se diz ritualmente ungido
salvador, ou como em ungido rei. Por influência grega a nova religião em vez de
se chamar messianismo, passou a ser cristianismo. Não obstante algumas
diferenças semânticas, os termos se equivalem.
Jesus nasceu
pelo ano 4, antes de nossa era, “ao tempo do Rei Herodes” (Mateus 2;1), a quem
o Evangelista ainda atribuiu a decisão de o matar. Para lograr seu objetivo
“mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos
para baixo” (Mateus 2;16).
Sabe-se também
que Herodes morreu no ano 4 a.C.
Se esta narrativa, redigida 50 ou 80 anos depois, for verdadeira, deve-se
admitir coerentemente que Jesus já era nascido pelo ano 4 antes da era atual.
No inicio da Idade Média o monge Dionísio, O Pequeno (ou o Exíguo) criou a
cronologia cristã, tendo errado por pelo menos 4 anos a data do nascimento de
Jesus. Não há escritos contemporâneos de Jesus que mencionavam sua existência e
doutrina. Este fato oferece muitas dificuldades. O que se escreveu depois, e ainda
em outra língua, em grego, cujos conceitos mentais são mais evoluídos e poderão
ter alterados nuances de conteúdo.
Pelos anos 60 ou
após redigiram-se os 4 evangelhos, escritos respectivamente por Mateus e Marcos, Lucas e João. O novo Testemunho compõe-se
destes escritos, e mais os Atos dos Apóstolos (de Lucas), Epístola (de vários
Apóstolos e Apocalipse de João).
Como foi que
surgiu o cristianismo?
Na interpretação
histórico-crítica o processo de surgimento do cristianismo se desenvolveu num
espaço relativamente curto. No inicio do ano 28 passou Jesus a pregar, sendo
levado à morte no ano 30.
Morto Jesus, se
processou uma institucionalização do grupo, com influências novas vindas do
helenismo, fato este que provocou uma separação mais profunda ao qual
entretanto ficou ligado umbilicalmente. Dali resulta a necessidade de examinar
o cristianismo inicial sob duas perspectivas. Numa primeira importa examiná-lo
frente às seitas judias. Numa segunda perspectiva, quais foram suas fases de
desenvolvimento, pelo qual se foi diferenciando, até tomar feição mais ou menos
própria.