sábado, 6 de junho de 2015

O LIVRO DE ENOQUE




O livro de Enoch é um texto apócrifo que é mencionado por algumas cartas do Novo Testamento (Judas, Hebreus e 2ª de Pedro). Até a elaboração da Vulgata, por volta do ano 400, os primeiros seguidores de Cristo o mencionavam abertamente em seus textos e o aceitavam como real. Após a Vulgata ele caiu no esquecimento. Entretanto, o livro é muito interessante e parece real. O livro de Enoch foi preservado somente em uma cópia, na totalidade, em etíope e, por esta razão, também é chamado de Enoch etíope. 



Capítulo 1

1 - As palavras das bênçãos de Enoque, com as quais ele abençoou os eleitos e os justos, os quais devem existir nos tempos da tribulação, rejeitando toda iniqüidade e mundanismo.

Enoque, um homem justo, o qual estava com Deus, respondeu e falai com Deus enquanto seus olhos estavam abertos, e enquanto via uma santa visão dos céus. Isto os anjos me mostraram.

2 - Deles eu ouvi todas as coisas e entendi o que vi; coisas que não terão lugar nesta geração, mas numa geração que deve acontecer num tempo distante, por causa dos eleitos.

3 - A respeito deles eu falei e conversei com Ele, o qual virá de Sua habitação, o Santo e Poderoso, o Deus do mundo:

4 - O qual pisará sobre o Monte Sinai; aparecerá com Suas hostes e se manifestará com a força do Seu poder dos céus.

5 - Todos estarão temerosos e as Sentinelas estarão aterrorizadas.

6 - Grande temor e tremor se apoderarão deles, mesmo aos confins da terra. As alturas das montanhas serão abaladas, e os altos montes serão abatidos, derretidos como o favo de mel na chama de fogo. A terra será imersa e todas as coisas que nela estão perecerão; enquanto julgamento virá sobre todos, mesmo sobre todos os justos:

7- Mas a eles será dada paz: Ele preservará os eleitos e para com eles exercitará clemência.

8- Então todos pertencerão a Deus, serão felizes e abençoados, e o esplendor da Divindade os iluminará.


Capítulo 2

1- Eis que Ele vem com dezenas de milhares dos Seus santos para executar julgamento sobre os pecadores e destruir o iníquo, e reprovar toda coisa carnal e toda coisa pecaminosa e mundana que foi feita, e cometida contra Ele.(2 )
(2) Citado por Judas, vss. 14, 15.


14  E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;
15  Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.



Capítulo 3

1- Todos os que estão nos céus sabem o que transcorre lá.

2- Eles sabem que as luminárias celestes não mudam seus caminhos; que cada uma nasce e se põe regularmente, cada uma a seu próprio tempo, sem transgredir os mandamentos que receberam. A VISÃO da terra, e entendem o que deve acontecer, desde o princípio até o seu fim.

3- Eles vêem que toda obra de Deus é invariável no período de seu aparecimento. Eles vêem o verão e o inverno:percebendo que toda terra está repleta de água; e que a nuvem, o orvalho, e a chuva refrescam-na.


Capítulo 4

1- Eles consideram e vêem cada árvore, como aparecem para depois murchar, e toda folha, para depois cair, exceto de quatorze árvores, as quais não são efêmeras, e esperam pelo aparecimento das folhas novas por dois ou três invernos.


Capítulo 5

1- Novamente eles consideram os dias de verão, que o sol está sobre a terra desde o princípio; enquanto tu procuras por uma cobertura e por um lugar sombreado por causa do sol ardente; enquanto a terra é queimada com calor fervente, e tu te tornas incapaz de andar sobre a terra ou sobre as rochas em conseqüência do calor.


Capítulo 6

1- Eles consideram como as árvores, quando elas dão suas folhas verdes, cobrem-se e produzem frutos; entendendo tudo, e sabendo que Ele, o qual vive para sempre, faz todas estas coisas por causa de vós:

2- Que as obras desde o princípio de todo ano existente, que todas as suas obras são obedientes a Ele e invariáveis; assim como Deus determinou, assim todas as coisas acontecem.

3- Eles vêem também como os mares e os rios juntos completam suas respectivas operações:

4- Mas tu resistes impacientemente, não cumpres os mandamentos do Senhor, mas transgrides e calunias a Sua grandiosidade; e malditas são as palavras em tua boca poluída contra Sua majestade.

5- Tu, murcho de coração, a paz não estará contigo!

6- Portanto teus dias te amaldiçoarão, e os anos de tua vida perecerão; execração perpétua se multiplicará, e não obterás misericórdia.

7- Nestes dias tu resignas tua paz com a eterna maldição de todos os justos, e os pecadores perpetuamente te execrarão;

8- Eles te execrarão com tudo o que não é divino.

9- Os eleitos possuirão luz, alegria e paz; e herdarão a terra.

10- Mas tu, que não és santo, serás amaldiçoado.

11- Então a sabedoria será dada aos eleitos, todos os que viverão, e não transgredirão por impiedade ou orgulho, mas humilhar-se-ão, processando prudência, e não repetirão transgressão.

12- Eles não condenarão todo o período das suas vidas, não morrerão em tormento e indignação; mas a soma dos seus dias se completará, e envelhecerão em paz; enquanto os anos de sua felicidade se multiplicarão em alegria, e com paz, para sempre, em toda a duração de sua existência.


Capítulo 7

1- E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas.

2- E quando os anjos, (3) os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos.

(3) No texto aramaico lê-se "Sentinelas" (J.T. Milik, Aramaic Fragments of Qumran Cave 4 [Oxford: Clarendon Press, 1976], p. 167).

3- Então seu líder Samyaza disse-lhes: Eu temo que talvez possais indispor-vos na realização deste empreendimento;

4- E que só eu sofrerei por tão grave crime.

5- Mas eles responderam-lhe e disseram: Nós todos juramos;

6- (e amarraram-se por mútuos juramentos), que nós não mudaremos nossa intenção mas executamos nosso empreendimento projetado.

7- Então eles juraram todos juntos, e todos se amarraram (ou uniram) por mútuo juramento. Todo seu número era duzentos, os quais descendiam de Ardis,(4 ) o qual é o topo do monte Armon.

(4) de Ardis. Ou, "nos dias de Jared" (R.H. Charles, ed. and trans., The Book of Enoch [Oxford: Clarendon Press, 1893], p. 63).

8- Aquele monte portanto foi chamado Armon, porque eles tinham jurado sobre ele, (5) e amarraram-se por mútuo juramento.

(5) Mt. Armon, ou Monte Hermon deriva seu nome do hebreu herem, uma maldição (Charles, p. 63).

9- Estes são os nomes de seus chefes: Samyaza, que era o seu líder, Urakabarameel, Akibeel, Tamiel,
Ramuel, Danel, Azkeel, Saraknyal, Asael, Armers, Batraal, Anane, Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael, Arazyal. Estes eram os prefeitos dos duzentos anjos, e os restantes estavam todos com eles.(6 )

(6) O texto aramaico preserva uma lista anterior dos nomes destes Guardiães ou Sentinelas: Semihazah; Artqoph; Ramtel; Kokabel; Ramel; Danieal; Zeqiel; Baraqel; Asael; Hermoni; Matarel; Ananel; Stawel; Samsiel; Sahriel; Tummiel; Turiel; Yomiel; Yhaddiel (Milik, p. 151).

10- Então eles tomaram esposas, cada um escolhendo por si mesmo; as quais eles começaram a abordar, e com as quais eles coabitaram, ensinando-lhes sortilégios, encantamentos, e a divisão de raízes e árvores.

11- E as mulheres conceberam e geraram gigantes, (7).


(7) O texto grego varia consideravelmente do etíope aqui. Um manuscrito grego acrescenta a esta secção, "E elas [as mulheres] geraram a eles [as Sentinelas] três raças: os grandes gigantes. Os gigantes trouxeram [alguns dizem “mataram"] os Naphelim, e os Naphelim trouxeram [ou "mataram"] os Elioud. E eles sobreviveram, crescendo em poder de acordo com a sua grandeza." Veja o registro no Livro dos Jubileus.

12- Cuja estatura era de trezentos cúbitos. (Cerca de 137 metros) Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los;



13- Então eles voltaram-se contra os homens, a fim de devorá-los;

14- E começaram a ferir pássaros, animais, répteis e peixes, para comer sua carne, um depois do outro,(8 ) e para beber seu sangue.

(8) Sua carne, um depois do outro. Ou, "de uma outra carne".

 R.H. Charles nota que esta frase pode referir-se à destruição de uma classe de gigantes por outra. (Charles, p. 65).

15- Então a terra reprovou os injustos.


Capítulo 8

1- Além disso, Azazyel ensinou os homens a fazerem espadas, facas, escudos, armaduras (ou peitorais), a fabricação de espelhos e a manufatura de braceletes e ornamentos, o uso de pinturas, o embelezamento das sobrancelhas, o uso de todo tipo selecionado de pedras valiosas, e toda sorte de corantes, para que o mundo fosse alterado.

2 -A impiedade foi aumentada, a fornicação multiplicada; e eles transgrediram e corromperam todos os seus caminhos.

3- Amazarak ensinou todos os sortilégios, e divisores de raízes:

4- Armersensino u a solução de sortilégios;

5- Barkayalensino u os observadores das estrelas, (9)

(9) Observadores das estrelas. Astrólogos (Charles, p. 67).

6- Akibeelensino os sinais;

7- Tamiel ensinou astronomia;

8- E Asaradel ensinou o movimento da lua,

9- E os homens, sendo destruídos, clamaram, e suas vozes romperam os céus.


Capítulo 9

1- Então Miguel e Gabriel, Radael, Suryal, e Uriel, olharam abaixo desde os céus, e viram a quantidade de sangue que era derramada na terra, e toda a iniqüidade que era praticada sobre ela, e disseram um ao outro; Esta é a voz de seus clamores;

2- A terra desprovida de seus filhos tem clamado, mesmo até os portões do céu.

3- E agora a ti, ó Santo dos céus, as almas dos homens queixam-se, dizendo: Obtém justiça para conosco com o Altíssimo.

(1 0 ). Então eles disseram ao seu Senhor, o Rei: Tu és Senhor dos senhores, Deus dos deuses, Rei dos reis. O trono de Tua glória é para sempre e sempre, e para sempre seja Teu nome santificado e glorificado.

(10) Obtém justiça para conosco. Literalmente, "Traz julgamento para nós do..." (Richard Laurence, ed. and trans.,
The Book of Enoch the Prophet [London: Kegan Paul, Trench & Co., 1883], p. 9).

4-Tu fizeste todas as coisas; Tu possuis poder sobre todas as coisas; e todas as coisas estão abertas e manifestas diante de Ti. Tu vês todas as coisas e nada pode esconder-se de Ti.

5- Tu viste o que Azazyel tem feito, como ele tem ensinado toda espécie de iniqüidade sobre a terra, e tem aberto ao mundo todas as coisas secretas que são feitas nos céus.

6- Samyaza também tem ensinado sortilégios, para quem Tu deste autoridade sobre aqueles que estão associados Contigo. Eles tem ido juntos às filhas dos homens, têm-se deitado com elas; têm-se contaminado;

7- E têm descoberto crimes a elas. (11)

(11) Descoberto crimes. Ou, "revelado estes sinais" (Charles, p. 70).

8- As mulheres igualmente têm gerado gigantes.

9- Assim toda a terra tem se enchido de sangue e iniqüidade.

10- E agora, vês que as almas daqueles que estão mortos clamam.

11- E queixam-se até ao portão do céu.

12- Seus gemidos sobem; nem podem eles escapar da injustiça que é cometida na terra. Tu conheces todas as coisas, antes de elas existirem.

13- Tu conheces estas coisas, e o que tem sido feito por eles; já Tu não falas a nós.

14- O que, por conta destas coisas, devemos fazer contra eles?


Capítulo 10

1- Então o Altíssimo, o Grande e Santo falou,

2- E enviou a Arsayalalyur (12) ao filho de Lamech,

(12)Arsayalalyur . No texto em grego lê-se "Uriel”.

3- Dizendo: Diz a eles em Meu nome: Esconde-te.

4- Então explicou-lhe a consumação que está preste a acontecer; pois toda a terra perecerá; as águas do dilúvio virão sobre toda a terra, e todas os que estão nela serão destruídos.

5- E agora, ensina-o como ele pode escapar, e como sua semente pode permanecer em toda a terra.

6- Novamente o Senhor disse a Rafael: Amarra a Azazyel, mãos e pés; lança-o na escuridão; e abrindo o deserto que está em Dudael, lança-o nele.

7- Arremessa sobre ele pedras agudas, cobrindo-o com escuridão;

8- Lá ele permanecerá para sempre; cobre sua face, para que ele não possa ver a luz.

9- E no grande dia do julgamento lança-o ao fogo.

10- Restaura a terra, a qual os anjos corromperam; e anuncia vida a ela, para que Eu possa recebê-la.

11- Todos os filhos dos homens, sua descendência, não perecerão em consequência de todo segredo, pelo qual as Sentinelas têm destruído, e o que eles ensinaram;

12- Toda a a terra tem se corrompido pelos efeitos dos ensinamentos de Azazyel. A ele, portanto, se atribui todo crime.

13- A Gabriel também o Senhor disse: Vai aos bastardos, (13) aos réprobos, aos filhos da fornicação; e destrói os filhos da fornicação, a descendência das Sentinelas de entre os homens; traga-os e excita- os uns contra os outros. Faça-os perecer por mútua matança; pois o prolongamento de dias não será deles.

(13) "bastardos" (Charles, p. 73; Michael A. Knibb, ed. and trans., The Ethiopic Book of Enoch [Oxford: Clarendon
Press, 1978], p. 88).

14- Eles rogarão a ti, mas seus pais não obterão seus desejos com respeito a eles; pois eles esperaram por vida eterna, e que eles possam viver, cada um deles, quinhentos anos.

15- A Miguel, igualmente o Senhor disse: Vai e anuncia seus próprios crimes a Samyaza, e aos outros que estão com ele, os quais têm se associado às mulheres para que se contaminem com toda sua impureza. E quando todos os seus filhos forem mortos, quando eles virem a perdição dos seus bem- amados, amarra-os por setenta gerações debaixo da terra, mesmo até o dia do julgamento, e da consumação, até o julgamento, cujo efeito que dura para sempre, seja completado.

16- Então eles serão levados para as mais baixas profundezas do fogo em tormentos; lá eles serão encerrados em confinamento para sempre.

17- Imediatamente depois disso ele, (14) juntamente com os outros, queimarão e perecerão; eles serão amarrados até a consumação de muitas gerações.

(14)Ele. I.e., Samyaza.

18- Destrói todas as almas viciadas na luxúria, (15) e a descendência das Sentinelas, pois eles tiranizam a humanidade.

(15) "luxúria" (Knibb, p. 90; cp. Charles, p. 76).

19- Que todo opressor pereça na face da terra;

20- Que toda má obra seja destruída;

21- A semente da justiça e da retidão apareça, e o que é produtivo torne-se uma bênção.

22- Justiça e retidão serão plantados para sempre com prazer.

23- E então todos os santos darão graças, e viverão até terem gerado milhares de filhos, enquanto todo o período se sua juventude, e seus sábados, serão completados em paz. Naqueles dias toda a terra será cultivada em retidão; ela será totalmente cultivada com árvores, e será cheia de bendições; toda árvore de delícias será plantada nela.

24- Vinhas serão plantadas; e a vinha que nela será plantada produzirá frutos para saciedade; toda semente que nela será semeada produzirá mil por uma medida; e uma medida de olivas produzirá dez prensas de óleo.

25- Purifica a terra de toda opressão, de toda injustiça, de todo crime, de toda impiedade, e de toda impureza que é cometida sobre ela. Extermina-os da terra.

26- Então todos os filhos dos homens serão justos, e todas as nações me pagarão divinas honras, e Me abençoarão; e todos Me adorarão.

27- A terra será limpa de toda corrupção, de toda punição e de todo sofrimento; Eu não enviarei novamente dilúvio sobre ela, de geração em geração para sempre.

28- Naqueles dias Eu abrirei tesouros de bênçãos que estão nos céus, para que Eu possa fazê-las descer sobre a terra, e sobre todos os trabalhos e labores do homem.

29- Paz e eqüidade se associará aos filhos dos homens todos os dias do mundo, em cada uma de suas gerações.






Capítulo 11 (não tem)

Capítulo 12

1- Antes de todas estas coisas acontecerem, Enoque esteve escondido; e nenhum dos filhos dos homens sabia onde ele estava, onde ele havia estado, e o que havia acontecido.

2- Ele esteve totalmente engajado com os santos, e com as Sentinelas em seus dias.

3- Eu, Enoque, fui abençoado pelo grande Senhor e Rei da paz.

4- E eis que as Sentinelas chamaram-me Enoque, o escriba.

5- Então o Senhor disse-me: Enoque, escriba da retidão, vai e dize às Sentinelas dos céus, os quais desertaram o alto céu e seu santo e eterno estado, os quais foram contaminados com mulheres.

6- E fizeram como os filhos dos homens fazem, tomando para si esposas, e os quais têm sido grandemente corrompidos na terra;

7- Que na terra eles nunca obterão paz e remissão de pecados. Pois eles não se regozijarão em sua descendência; eles verão a matança dos seus bem-amados; lamentarão a destruição dos seus filhos e farão petição para sempre; mas não obterão misericórdia e paz.


Capítulo 13

1- Então Enoque, passando ali, disse a Azazyel: Tu não obterás paz. Uma grande sentença há contra ti. Ele te amarrará;

2- Socorro, misericórdia e súplica não estarão contigo por causa da opressão que tens ensinado;

3- E por causa de todo ato de blasfêmia, tirania e pecado que tens descoberto aos filhos dos homens.

4- Então partindo dele, falei a eles todos juntos;

5- E eles todos ficaram apavorados, e tremeram;

6- Abençoando-me por escrever por eles um memorial de súplica, para que eles pudessem obter perdão; e que eu fizesse um memorial de suas orações ascendendo diante do Deus do céu; porque eles, por si mesmos, desde então não podiam dirigir-se a Ele, nem levantar seus olhos aos céus por causa da infame ofensa com a qual eles foram julgados.

7- Então eu escrevi um memorial de suas orações e súplicas, por seus espíritos, por tudo o que eles haviam feito, e pelo assunto de sua solicitação, para que eles obtivessem remissão e descanso.

8- Procedendo nisso, eu continuei sobre as águas de Danbadan, (16) as quais estão da direita para o oeste de Armon, lendo o memorial de suas orações, até que caí adormecido.

(16)Dan badan. Dan in Dan (Knibb, p. 94).

9- E eis que um sonho veio a mim, e visões apareceram acima de mim. E caí e vi uma visão de castigos, para que eu pudesse ralatá-la aos filhos dos céus, e reprová-los. Quando eu acordei fui até eles. Todos estavam reunidos chorando em Oubelseyael, que está situada entre o Libano e Seneser,
(17) com suas faces escondidas.

(17) Libanos e Seneser. Líbano e Senir (próximo a Damasco).

10- E relatei em sua presença todas as visões que eu havia visto, e meu sonho;

11- E comecei a pronunciar estas palavras de retidão, reprovando as Sentinelas do céu.


Capítulo 14

1- Este é o livro das palavras de retidão, e de reprovação das Sentinelas, os quais pertencem ao mundo,(18) de acordo com o que Ele, que é santo e grande, ordenou na visão. Eu percebi em meu sonho que eu estava então falando com a língua da carne, e com meu fôlego, que o Poderoso colocou na boca dos homens, para que eles pudessem conversar com Ele.

(18) Os quais pertencem ao mundo. Ou, "os quais (são) da eternidade" (Knibb, p. 95).

2- Eu entendi com o coração. Assim como Ele havia criado e dado aos homens o poder de compreender a palavra de entendimento, assim criou, e deu a mim o poder de reprovar os Sentinelas, a geração dos céus. E escrevi sua petição; e na minha visão foi-me mostrado que seu pedido não lhes será atendido enquanto o mundo perdurar.

3- Julgamento passou sobre vós: vosso pedido não vos será atendido.

4- De agora em diante, nunca ascendereis ao céu; Ele o disse que na terra Ele vos amarrará, tanto tempo quanto o mundo existir.

5- Mas antes destas coisas tu verás a destruição dos vossos bem-amados filhos; não os possuireis, mas eles cairão diante de vós pela espada.

6- Nem pedireis por eles, nem por vós mesmos;

7- Mas chorareis e suplicareis em silêncio. As palavras do livro que eu escrevi.(19)

(19) Mas chorareis… Eu escrevi. Ou, "Assim também, a despeito de vossas lágrimas e orações, não recebereis nada, de tudo o que está contido nos registros que eu tenho escrito" (Charles, p. 80).

8- Uma visão então me apareceu.

9- Eis que naquela visão, nuvens e névoa convidaram-me; estrelas agitadas e brilho de relâmpagos impeliram-me e pressionaram-me adiante, enquanto ventos na visão assistiram meu vôo, acelerando meu progresso.

10- Eles elevaram-me no alto ao céu. Eu prossegui, até que cheguei próximo dum muro construído com pedras de cristal. Uma chama de fogo vibrante(2 0 ) rodeou-o, a qual começou a golpear-me com terror.

(20) Chama de fogo vibrante. Literalmente, "uma língua de fogo”.

11- Nesta chama de fogo vibrante eu entrei;

12- E aproximei-me de uma espaçosa habitação, também construída com pedras de cristal. Seus muros também, bem como o pavimento, eramfo rmados com pedras de cristal, e de cristal também era o piso. Seu telhado tinha a aparência de estrelas agitadas e brilhos de relâmpagos; e entre eles haviam querubins de fogo num céu tempestuoso.(21) Uma chama queimava ao redor dos muros; e seu portal queimava com fogo. Quando eu entrei nesta habitação, ela era quente como fogo e frio como o gelo. Nenhum tra ço de encanto ou de vida havia lá. O terror sobrepujou-me, e um tremor de medo apoderou-se de mim.

(21) Num céu tempestuoso. Literalmente, "e seu céu era água" (Charles, p. 81).

13- Violentamente agitado e tremendo, eu caí sobre minha face. Na visão eu olhei.

14- E ví que lá havia outra habitação mais espaçosa que a primeira, cada entrada da qual estava aberta diante de mim, elevada no meio da chama vibrante.

15- Tão grandemente superou em todos os pontos, em glória, em magnificência, em magnitude, que é impossível descrever-vos o esplendor ou a extensão dela.

16- Seus pisos eram de fogo, acima haviam relâmpagos e estrelas agitadas, enquanto o telhado exibia um fogo ardente.

17- Eu examinei-a atentamente e vi que ela continha um trono exaltado;

18- A aparência do qual era semelhante à da geada, enquanto que sua circunferência assemelhava-se à órbita do sol brilhante; e havia a voz de um querubim.

19- Debaixo desse poderoso trono saíam rios de fogo flamejante.

20- Olhar para ele foi impossível.

21- Alguém grande em glória assentava-se sobre ele,

22- Cujo manto era mais brilhante que o sol, e mais branco que a neve.

23- Nenhum anjo era capaz de penetrar para olhar a Sua face, o Glorioso e Efulgente; nem podia algum mortal vê-Lo. Um fogo flamejante rodeava-O.

24- Também um fogo de grande extensão continuava a elevar-se diante dEle; de modo que nenhum daqueles que estavam ao redor dEle eram capazes de aproximar-se dEle, entre as miríades de miríades(22) que estavam diante dEle. Para Ele santa consulta era desnecessária. Contudo, o Santificado, que estava próximo dEle, não apartou-se dEle nem de noite nem de dia; nem eram eles tirados de diante dEle. Eu também estava tão adiantado, com um véu sobre minha face, e trêmulo. Então o Senhor com sua própria boca chamou-me, dizendo: Aproxima-se aqui acima, Enoque, à minha santa palavra.

(22) Miríades de miríades. Dez mil vezes dez mil (Knibb, p. 99).

25- E Ele ergueu-me, fazendo aproximar-me, mesmo até à entrada. Meus olhos estavam dirigidos para o chão.


Capítulo 15

1- Então dirigindo-se para mim, Ele falou e disse: Ouve, não se atemorize, justo Enoque, tu escriba da retidão: aproxima-te para cá, e ouve a minha voz. Vai, dize às Sentinelas do céu, a quem te enviei para rogar por eles; tu deves rogar pelos homens, e não os homens por ti.

2- Portanto, deves abandonar o sublime e santo céu, o qual permanece para sempre; deitastes com mulheres; vos corrompestes com as filhas dos homens; tomastes para ti esposas; agistes igual aos filhos da terra, e gerastes uma ímpia descendência.(23)

(23) Uma ímpia descendência. Literalmente, "gigantes" (Charles, p. 82; Knibb, p. 101).

3- Sois espirituais, santos, e possuidores de uma vida que é eterna; vos contaminastes com mulheres, procriastes em sangue carnal; cobiçastes o sangue de homens; e fizestes como aqueles que são carne e sangue fazem.

4- Estes, contudo, morrem e perecem.

5- Portanto, de agora em diante Eu dou-vos esposas, para que possais coabitar com elas; para que filhos nasçam delas; e que isto seja negociado sobre a terra.

6- Mas desde o princípio fostes feitos espirituais, possuindo uma vida que é eterna, e não sujeito à morte para sempre.

7- Portanto, eu não fiz esposas para vós, porque, sendo espirituais, vossa habitação está no céu,

8- Agora, os gigantes que têm nascido de espírito e de carne, serão chamados sobre a terra de maus espíritos, e na terra estará a sua habitação. Maus espíritos procederão de sua carne, porque eles foram criados de cima; dos santos Sentinelas foi seu princípio e a sua primeira fundação. Maus espíritos eles serão sobre a terra, e de espíritos da maldade eles serão chamados. A habitação dos espíritos do céu será no céu, mas sobre a terra estará a habitação dos espíritos terrestriais, os quais são nascidos na terra.(24)

(24) Note as muitas implicações dos versículo 3-8 com respeito à progênie dos maus espíritos.

9- Os espíritos dos gigantes serão semelhantes às nuvens, (25) os quais oprimem, corrompem, caem, contendem e confundem sobre a terra.

(25) A palavra grega para "nuvem" aqui, nephelas, pode ocultar a mais antiga leitura, Napheleim (Nephilim).

10- Eles causarão lamentação. Nenhuma comida eles comerão; e terão sede; eles se esconderão e não (26) se levantarão contra os filhos dos homens, e contra as mulheres; pois eles virão durante os dias da matança e da destruição.

(26)Não. Quase todos os manuscritos contêm esta negativa, mas Charles, Knibb, e outros acreditam que o “não” deve ser deletado para que na frase leia-se "levantarão".


Capítulo 16

1- E quanto à morte dos gigantes, onde quer que seus espíritos se apartem de seus corpos; que sua carne, que é perecível, esteja sem julgamento.(27) Assim eles perecerão, até o dia da grande consumação do mundo. Uma destruição das Sentinelas e dos ímpios acontecerá.

(27) Que sua carne… esteja sem julgamento. Ou, "sua carne será destruída antes do julgamento" (Knibb, p. 102).

2- E então às Sentinelas, aos quais enviei-te para rogar por eles, os quais no princípio estavam no céu,

3- Dize: No céu tens estado; coisas secretas, entretanto, não têm sido manifestadas a ti; contudo tens conhecido um reprovável mistério.

4- E isto tens relatado às mulheres na dureza do vosso coração, e por aquele mistério as mulheres e a humanidade têm multiplicado males sobre a terra.

5- Dize a eles: Nunca, portanto, obtereis paz.


Capítulo 17

1- Eles levantaram-me a um certo lugar, onde lá havia (28) a aparência de um fogo fervente; e quando eles se agradaram assumiram a semelhança de homens.

(28) Onde havia. Ou, "onde eles [os anjos] eram semelhantes" (Knibb, p. 103).

2- Eles levaram-me a um alto lugar, a uma montanha, cujo topo alcançava o céu.

3- E eu vi os receptáculos da luz e do trovão nas extremidades do lugar, onde ele era profundo. Havia um arco de fogo, e flechas em seu vibrar, uma espada de fogo, e toda espécie de relâmpagos.

4- Então eles levaram-me a um arroio murmurante, (29) e a um fogo no oeste, o qual recebeu todo pôr-do-sol. Eu vim a um rio de fogo, o qual fluiu como água, e desaguou no grande mar para o oeste.

(29) A um arroio murmurante. Literalmente, "à água da vida, a qual fala" (Laurence, p. 23).

5- Eu vi todo largo rio, até que cheguei à grande escuridão. Eu fui para onde toda carne migra; e vi as montanhas da escuridão as quais constituem o inverno, e o lugar do qual flui a água em cada abismo.

6- Eu vi também as bocas de todos os rios no mundo, e as bocas das profundezas.


Capítulo 18

1- Eu então examinei os receptáculos de todos os ventos, percebendo que eles contribuem para adornar toda criação, e para preservar a fundação da terra.

2- Eu examinei a pedra que apóia os cantos da terra.

3- Também vi os quatro ventos, os quais sustêm a terra, e o firmamento do céu.

4- E eu vi os ventos ocupando o céu exaltado,

5- Surgindo no meio do céu e da terra, e constituindo os pilares do céu.

6- Eu vi os ventos que giram no céu, os quais ocasionam e determinam a órbita do sol e de todas as estrelas; e sobre a terra eu vi os ventos que mantêm as nuvens.

7- Eu vi o caminho dos anjos.

8- Percebi na extremidade da terra o firmamento do céu acima dele. Então passei para a direção do sul,

9- Onde queimam, tanto de dia quanto de noite, seis montanhas formadas de gloriosas pedras, três em direção ao leste, e três em direção ao sul.

10- Aquelas que estão em direção ao leste eram de pedra multicolorida, uma das quais era de margarite, e outra de antimônio. Aquelas em direção ao sul eram de uma pedra vermelha. A do meio aproximava-se do céu como o trono de Deus; um trono composto de alabastro, o topo do qual era de safira. Vi também um fogo flamejante suspenso sobre todas as montanhas.

11- E lá eu vi um lugar do outro lado de um extenso território, onde águas foram coletadas.

12- Também vi fontes terrestriais, profundas em colunas ardentes do céu.

13- E nas colunas do céu eu vi fogos, os quais desciam sem número, mas nem no alto, ou no profundo. Sobre estas fontes também percebi um lugar onde não havia nem o firmamento do céu acima dele, nem o sólido chão abaixo dele; nem havia água acima; ou nada no vento; mas o lugar era desolado.

14- E lá eu vi sete estrelas, semelhantes a grandes montanhas, e como espíritos suplicando-me.

15- Então o anjo disse: Este lugar, até a consumação do céu e da terra, será a prisão das estrelas, e das hostes do céu.

16- As estrelas que rolam sobre fogo são aquelas que transgrediram o mandamento de Deus antes que seu tempo chegasse; pois elas não vieram em sua própria estação. Portanto, Ele ofendeu-se com elas, e amarrou-as até o período da consumação dos seus crimes no ano secreto.


Capítulo 19

1 Então Uriel disse: Eis aqui os anjos que coabitaram com mulheres, escolheram seus líderes;

2 E sendo numerosos em aparência (30) profanaram os homens e fizeram com que errassem; assim
eles sacrificaram aos demônios como aos deuses. Pois no grande dia a verá um julgamento, no qual eles serão julgados, até que sejam consumidos; e suas esposas também serãoju lga das, as quais levaram desencaminhadamente os anjos do céu para que as saudassem.

(30) Sendo numerosos em aparência. Ou, "assumindo muitas formas" (Knibb, p. 106).

3 E eu, Enoque, só vi a aparência do fim de todas as coisas. Não tendo visto nenhum homem enquanto via as coisas.


Capítulo 20

1 Estes são os nomes dos anjos Sentinelas:

2 Uriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre o clamor e o terror.

3 Rafael, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos homens.

4 Raguel, um dos santos anjos, o qual inflige punição ao mundo e às luminárias.

5 Miguel, um dos santos anjos, o qual, presidindo sobre a virtude humana, comanda as ações.

6 Sarakiel, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos filhos dos homens que 
transgridem.

7 Gabriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre Ikisat, (31) sobre o paraíso e sobre o querubim.

(31)Ikisat. As serpentes (Charles, p. 92; Knibb, p. 107).



 Capítulo 21

1 - Então eu fiz um circuito para um lugar no qual nada estava completo.

2 - E lá eu não vi nem as tremendas manufaturas do um céu exaltado, nem de uma terra estabelecida, mas um lugar desolado, preparado e terrível.

3 - Lá também vi sete estrelas do céu amarradas juntas, semelhantes a grandes montanhas, e semelhante ao fogo fervente. Eu exclamei: Por que espécie de crime elas foram amarradas, e por que foram removidas de seu lugar? Então Uriel, um dos santos anjos que estava comigo, e o qual conduzia-me, respondeu: Enoque, por que perguntas; por que arrazoas consigo mesmo, e ansiosamente indagas? Estas são aquelas estrelas que transgrediram o mandamento do altíssimo Deus; e estão aqui amarradas, até que o número infinito dos dias dos seus crimes esteja completo.

4 - Dali eu passei depois para um outro lugar terrível;

5 - Onde eu vi a operação de um grande fogo flamejante e resplandecente, no meio do qual havia uma divisão. Colunas de fogo lutando juntas para o fim do abismo, e profunda era sua descida. Mas sua medida e magnitude eu não fui capaz de descobrir, nem pude perceber sua origem. Então exclamei: Quão terrível é este lugar, e quão difícil explorá-lo!

6 - Uriel, um dos santos anjos que estava comigo, respondeu e disse: Enoque, por que estás alarmado e maravilhado com este terrível lugar, à vista deste lugar de sofrimento? Isto, disse ele, é a prisão dos anjos; e aqui eles serão mantidos para sempre.


Capítulo 22

1 - Dali eu me dirigi para outro lugar, onde vi a oeste uma grande e elevada montanha, uma forte rocha, e quatro lugares deleitosos.

2 - Internamente ele era profundo, espaçoso e plano: ele era profundo e escuro à vista.

3 - Então Rafael, um dos santos anjos que estava comigo, respondeu e disse: Estes são os lugares deleitosos onde os espíritos, as almas dos mortos, serão reunidos; para eles ele foi formado e aqui serão reunidas todas as almas dos filhos dos homens.

4 - Estes lugares, nos quais habitam, eles ocuparão até o dia do julgamento, e até seu período escolhido.

5 - Seu período escolhido será longo, mesmo até o grande julgamento. E vi os espíritos dos filhos dos homens que estão mortos; e suas vozes rompem o céu, enquanto eles são acusados.

6 - Então inquiri de Rafael, o anjo que estava comigo, e disse: Que espírito é aquele, a voz do qual alcança o céu, e acusa?

7 - Ele respondeu, dizendo: Este é o espírito de Abel o qual foi morto por Caim seu irmão; o qual acusará aquele irmão, até que sua semente seja destruída da face da terra;

8 - Até que sua semente desapareça da semente da raça humana.

9 - Naquele tempo portanto eu inquiri a respeito dele, e a respeito do julgamento geral, dizendo: Por que um está separado ou outro? Ele respondeu: Trêssep araçõ es foram feitas entre os espíritos dos mortos, e assim os espíritos dos justos foram separados,

10 - Nomeadamente,por uma fenda na terra,por água, epor luz acima dela.

11 - E da mesma maneira os pecadores são separados quando morrem, e são sepultados na terra; julgamento não os surpreenderá em seu tempo de vida.

12 - Aqui suas almas estão separadas. Além disso, abundante é seu sofrimento até o tempo do grande julgamento, o castigo, e o tormento daqueles que eternamente execraram, cujas almas são munidas e amarradas lá para sempre.

13 - E assim tem sido desde o princípio do mundo. Assim, existe uma separação entre as almas daqueles que proferem reclamações, e daqueles que vigiam pela sua destruição, para sua matança no dia dos pecadores.

14 - Um receptáculo deste tipo foi formado para as almas dos injustos, e dos pecadores; daqueles que cometeram crime, e se associaram aos ímpios, com os quais eles se assemelham. Suas almas não serão aniquiladas naquele dia de julgamento, nem se levantarão deste lugar. Então eu bendisse a Deus,

15 - E falei: Abençoado seja o meu Senhor, o Senhor da glória e da retidão, cujo reino será para sempre e sempre.


Capítulo 23

1 - Dali eu fui para outro lugar, em direção ao oeste, até às extremidades da terra,
2 - Onde vi um fogo resplandecente correndo ao longo sem cessar, com um curso não intermitente, nem de dia nem de noite; mas sempre o mesmo, continuadamente.

3 - Eu indaguei,dizendo: O que é isto, que nunca cessa?

4 - Então Raguel, um dos santos anjos que estava comigo, respondeu,
5 - E disse: Este fogo flamejante que tu vês correndo em direção ao oeste é aquele de todas as 
luminárias do céu.


Capítulo 24

1 - Eu fui dali para outro lugar, e vi uma montanha de fogo que resplandece tanto de dia quanto de noite. Fui em direção a ela e percebi sete esplêndidas montanhas, as quais eram diferentes umas das outras.

2 - Suas pedras eram brilhantes e belas; todas eram brilhantes e esplêndidas à vista e formosa era sua superfície. Três montanhas estavam em direção ao leste, consolidadas e fortalecidas por estarem colocadas uma sobre a outra; três estavam em direção ao sul, consolidadas de maneira similar. Três eram igualmente vales profundos, os quais não se acercavam uma da outra. A sétima montanha estava no meio delas. Em comprimento elas todas se assemelhavam ao assento de um trono, e árvores odoríferas rodeavam-nas.

3 - Entre estas havia uma árvore de um odor incessante; nem daquelas que estavam no Éden, havia lá alguma, de todas as árvores de fragrância, que cheirava como esta. Suas folhas, suas flores, nunca ficam murchas, e seu fruto era belo.

4 - Seu fruto assemelhava-se ao cacho da palmeira. Eu exclamei: Vê! Esta árvore é vistosa de aspecto, agradável em suas folhas, e o aspecto de seus frutos é delicioso à vista. Então Miguel, um dos santos anjos que estava comigo, e um dos que presidem sobre elas, respondeu,

5 - E disse: Enoque, por que inquires a respeito do odor desta árvore?

6 - Por que estás inquisitivo para sabê-lo?

7 - Então eu, Enoque, respondi-lhe, e disse: Concernente a tudo eu estou desejoso de instrução, mas particularmente com respeito a esta árvore.

8 - Ele respondeu-me dizendo: A montanha que tu vês, o prolongamento da qual assemelha-se ao assento do Senhor, será o assento no qual se assentará o Santo e grande Senhor da glória, o eterno Rei, quando Ele virá e descerá para visitar a terra com bondade.

9 - E aquela árvore de agradável aroma, não de um odor carnal; lá ninguém terá poder para toca-la até o tempo do grande julgamento. Quando todos serão punidos e consumidos para sempre; isto será conferido sobre os justos e humildes. O fruto da árvore será dado ao eleito. Pois em direção ao norte, vida será plantada no santo lugar, em direção à habitação do eterno Rei.

10 - Então eles se regozijarão grandemente e exultarão no Santo. O doce odor entrará em seus ossos; e eles viverão uma longa vida na terra como seus antepassados; em seus dias não haverá tristeza, angústia, aborrecimento e nem punição os afligirá.

11 - E eu abençoei o Senhor da glória, o eterno Rei, porque ele preparou esta árvore para os santos, formou-a, e declarou que Ele a daria para eles.


Capítulo 25

1 - Dali eu fui para o meio da terra, e vi um feliz e fértil lugar, o qual continha ramos espalhando-se continuamente das árvores que estavam plantadas nele. Ali eu vi uma santa montanha, e debaixo dela a água do lado de traz fluía em direção ao sul. Eu vi no oriente outra montanha tão alta quanto aquela; e entre elas havia um profundo, mas não largo vale.

2 - Água corria para a montanha para o ocidente dela; e debaixo dela havia igualmente outra montanha.

3 - Lá havia um vale, mas não um vale largo, abaixo; e no meio deles havia outro profundo e seco vale em direção da extremidade da árvore. Todos esses vales, que eram profundos, mas não oblíquo, consistia de uma forte rocha, com a árvore que estava plantada nela. E eu maravilhei-me com a rocha e o vale, ficando extremamente surpreso.


Capítulo 26

1 - Então eu disse: O que significa esta terra abençoada, e todas estas altas árvores, e o vale amaldiçoado entre elas?

2 - Então Uriel, um dos santos anjos que estava comigo, respondeu: Este vale é o amaldiçoado dos amaldiçoados para sempre. Aqui serão reunidos todos os que pronunciaram com suas bocas linguagem imprópria contra Deus, e falaram rudes coisas da Sua glória. Aqui eles serão reunidos. Aqui será seu território.

3 - Nos últimos dias um exemplo de julgamento será feito em retidão diante dos santos, enquanto aqueles que receberam misericórdia, para sempre, todos os dias, abençoarão a Deus, o eterno Deus.

4 - E no período do julgamento eles abençoarão a Ele por sua misericórdia, como Ele distribuiu-a a eles. Então eu abençoei a Deus, dirigindo-me a Ele, e fazendo menção, como foi reconhecida, Sua grandiosidade.


Capítulo 27

1 - Dali eu fui à direção do leste para o meio da montanha no deserto, do qual somente o nível da superfície eu percebi.

2 - Ele estava cheio de árvores da semente aludida; e água jorrava sobre ela.

3 - Ali apareceu uma catarata composta de muitas cachoeiras voltadas tanto para o oriente quanto para o ocidente. Sobre um lado havia árvores; sobre o outro água e orvalho.


Capítulo 28

1 - Então eu fui para outro lugar do deserto; em direção ao leste daquela montanha da qual eu havia me aproximado.

2 - Ali eu vi árvores escolhidas, (32) particularmente aquelas que produzem o cheiro doce opiato, incenso e mirra; e árvores diferentes umas das outras.

(32) Árvores escolhidas. Literalmente "árvores de julgamento" (Laurence, p. 35; Knibb, p. 117).

3 - E sobre elas havia a elevação da montanha ocidental, a não grande distância.


Capítulo 29

1 - Igualmente vi outro lugar com vales de água que nunca param, 

2 - Onde percebi uma agradável árvore, a qual em odor assemelha-se a Zasakinon. (33)

(33)Zasakin on . A árvore de mastic (Knibb, p. 118).

3 - Em direção ao vale eu percebi o cinamomo de doce odor. Sobre eles avancei em direção ao leste.


Capítulo 30

1 - Então vi outra montanha contendo árvores, da qual água fluía como Neketro.(34) Seus nomes eram Sarira, e Kalboneba.(35) E sobre esta montanha eu vi outra montanha, sobre a qual haviam árvores de Alva. (36) (34)Neketro. O néctar (Knibb, p. 119). (35) Sarira, e Kalboneba. Styrax e galbanio (Knibb, p. 119). (36)Alva. Aloé (Knibb, p. 119).

2 - Estas árvores estavam cheias como amendoeiras, e fortes; e quando elas produziam frutos eram
superiores a toda redondeza.


CAPÍTULO 31...


quarta-feira, 3 de junho de 2015

OS CRISTÃOS COMEM CRIANCINHAS ?








Por dois mil anos, milhões de crentes tentaram de todas as maneiras testemunhar a palavra de paz e amor supostamente pregada por Jesus.  Viam-se crentes nas cabeceiras dos doentes, recolhendo órfãos pelas ruas, curando os feridos depois das batalhas e saques.

Havia cristãos, como São Francisco, que davam casa e conforto aos que eram devorados pela lepra e comida a quem morria de fome. E muitos como ele atravessaram as linhas de frente das batalhas para promover a paz entre os exércitos. Existiam muitos fiéis que socorriam os sobreviventes das inundações, dos terremotos, das fomes. Havia ainda cristãos que tentavam impor um limite à brutalidade contra os escravos e servos da gleba oprimidos pelos possessores. Existiram cristãos que se expuseram abertamente a fim de obter a graça para um inocente condenado sem provas, apenas por fanatismo religioso.

Viram-se sacerdotes que construíram comunidades de índios e morreram com eles quando os conquistadores católicos decidiram que se agrupar em comunidades igualitárias e não pagar impostos constituía um crime contra Deus e a Coroa. Existiram sacerdotes que fundaram cooperativas e escolas para trabalhadores, que organizaram caixas de assistência mútua e ajudaram judeus e ciganos perseguidos a fugir... Mas essas pessoas, que por dois milênios contribuíram enormemente para melhorar a condição humana e civil dos mais fracos, raramente faziam parte dos vértices da Igreja.

Como aconteceu com todas as religiões do mundo que se tornaram "cultos do Estado", os centros de poder das principais igrejas cristãs foram conquistados por indivíduos inescrupulosos e maliciosos, dispostos a usar a fé e o misticismo com o único objetivo de obter riqueza e autoridade.

É claro que não se pode generalizar: existiram homens religiosos com grandes incumbências na esfera eclesiástica, que agiram com justiça e notável honestidade, e que sobretudo eram partidários — colocando em risco até mesmo a própria vida — do direito à dignidade e à sobrevivência dos pobres, golpeando, com palavras e atos concretos, "os ricos bem nutridos e poderosos, inimigos de Cristo e dos homens" (de uma homilia de Santo Ambrósio). Mas também é verdade que, por séculos, os papas continuaram vendendo os cargos religiosos a quem oferecia mais, e para ser ordenado bispo bastava pagar, não era necessário nem ser padre. Por dinheiro, Júlio II consagrou cardeal um rapazinho de 16 anos. Assim, no final das contas, muitos enganadores conseguiram até chegar a ser eleitos papas e macularam suas vidas com crimes horrendos.

O papa Woityla pediu perdão a Deus pelos pecados cometidos no passado por aqueles que representavam a ou pertenciam à Igreja. Mas, por maior que seja a lista dos atos nefastos cometidos, não podemos pretender que ela seja exaustiva.

Então, demo-nos o trabalho de reunir o maior número de documentos que produzam uma ideia menos vaga do "pecado" que maculou a Igreja. Ao realizar esta pesquisa, deparamo-nos com um quadro de traços chocantes, povoado com um número inacreditável de episódios por vezes grotescos, mas sempre trágicos.

As histórias que contaremos não se encontram em todos os livros. Ao contrário, os textos que narram esses fatos (salvo raras exceções) foram colocados no limbo por especialistas.

Mas por que embarcamos em tal aventura? Decerto, não por um anticlericalismo doentio. Hoje, até mesmo no clero inaugurou-se um debate muito fértil sobre a pesquisa histórica do percurso das religiões. Em toda parte, nascem grupos de fiéis que tentam pôr em prática a suposta palavra de Jesus contida no Novo Testamento e constroem solidariedade, liberdade, paz, superando obstáculos que ainda se interpõem à criação de um mundo onde a vida anterior à morte também seja digna de ser vivida. Mas, para que essa renovação seja profícua, é indispensável mergulhar profundamente no clima histórico, político e religioso que determinou o sacrifício de tantos mártires, vítimas da parte corrupta e autoritária do clero, muitas vezes com o auxílio dos grupos no poder.

Aquela consciência e aquela cultura, capazes de impedir que tais horrores se repitam, só podem ser construídas por meio da análise e do discernimento da natureza e gravidade dos abusos.

No ano de 476, o Império Romano do Ocidente, há tempos já corrompido e devastado pelas lutas de poder, deixa de existir até oficialmente. Os "bárbaros" zinhos, confiantes em seu valor em sua homogeneidade social, chegam em ondas, mas logo são arrebatados pela febre da traição e da desconfiança. Nenhum império resiste muito tempo.

Mas entre as lutas religiosas e políticas, amplificadas pelas invasões "bárbaras", pode acontecer que um rei traído por seus súditos e abandonado pelos mercenários decorra aos camponeses, oferecendo a eles liberdade e a propriedade da terra, e obtendo em troca exércitos invencíveis. O envolvimento dos camponeses na política, a explosão do artesanato, das manufaturas, da cultura dos ofícios e da invenção de novas técnicas levam o povo a amadurecer uma ideia mais digna de si próprio e um senso de justiça mais profundo.

Assim, por volta do ano mil, este novo modo de conceber e viver o mundo se funde ao que resta das ideias do cristianismo primitivo. Desenvolvem-se movimentos que unem a ideia do retorno ao cristianismo puro e a vontade de organizar uma sociedade sem rei, generais ou escravidão. Basicamente, a população dos fracos começa a se rebelar contra o poder sagrado e abençoado dos nobres patrões, inspirados pelo indispensável clero. Eles também descobrem que os poderosos, como guerreiros profissionais, não são muito valorosos: os artesãos e camponeses reunidos na comuna, armados de lanças e bem treinados, muitas vezes conseguem abatê-los como a fantoches.


Hereges

E já que os nobres não servem para nada, por que não se livrar deles? E para que servem os padres, que muitas vezes são bispos e condes ao mesmo tempo? Ninguém mais acredita na santidade deles, já que, sob as vistas de todos, cometem todo tipo de pecado.

E assim nasce a ideia de que os sacramentos, se administrados por pessoas indignas, não têm nenhum valor. "Ignorem o indigno exemplo deles", grita logo um teólogo "sigam o que dizem os ministros de Deus, não o que eles fazem".

No século X, começam a nascer em toda a Europa grupos de fiéis que pregam e aplicam a comunidade do bem, a fraternidade, e recusam a autoridade eclesiástica. Combatendo esses movimentos, as hierarquias eclesiásticas e nobres (que muitas vezes são a mesma coisa) se organizam para exterminar os habitantes de regiões inteiras, condenando os sobreviventes ao suplício público.

No ápice dessa perseguição, muitas pessoas são torturadas e assassinadas de formas horrendas apenas por terem apoiado a tese de que Jesus e os apóstolos não possuíam riquezas ou bens materiais. O mero fato de ter uma Bíblia em casa já bastava para levantar as suspeitas de se ser um inimigo da Igreja. Se essa Bíblia ainda fosse traduzida para o latim vulgar, ou seja, uma língua entendida pelo povo, e não tivesse autorização, a condenação por heresia era certa.

Os cristãos comunitários queriam se inspirar no Evangelho, sem intermediários. E muitas, muitas vezes, pagaram por isso com a própria vida. Um martírio que enfraquece aquele dos primeiros cristãos sob o Império Romano.

Contra os hereges, em dado momento, chegou a ser inventado um instrumento repreensivo de perfeição diabólica: a Inquisição. Os inquisidores eram, ao mesmo tempo, policiais, carcereiros, acusadores e juízes. Qualquer besteira já era suficiente para acabar em suas garras: um boato, uma carta anônima, um comportamento ligeiramente diferente do normal. Até ser devoto demais era considerado comportamento duvidoso. O suspeito era considerado culpado se não conseguisse provar a própria inocência. E quem testemunhava em favor de um suposto herege podia, por sua vez, tornar-se suspeito e sofrer um processo.

Na verdade, as perseguições aos hereges começam logo depois da criação da Igreja de Estado e terminam no século XVIII, com as últimas ondas de caça às bruxas. As histórias dos processos e das perseguições realizadas pela organização eclesiástica e pelo "Santo Tribunal" são tão absurdas e contraditórias que não nos permitem nenhuma análise verossímil. É impossível fazer um balanço confiável dessas guerras e perseguições, e decerto milhões de pessoas foram assassinadas em mais de mil anos de crueldade desumana.

.   Caio Júlio César, De bello Gallico, trad. S. Giametta, Tascabili Bompiani, livro VI, parágrafos 34 e 35.






COM DEUS NÃO SE BRINCA



FALÁCIA "POST HOC ERGO PROPTER HOC"

TRADUZINDO (DEPOIS DISSO LOGO POR CAUSA DISSO), assim fica mais fácil de entender, tornando essa falácia auto explicável. Verifica-se esta falácia quando uma pessoa cita uma ocorrência que aconteceu depois da outra, sugerindo que se sucederam ou aconteceram por causa da primeira.

O exemplo mais corriqueiro encontrado entre os cristãos é aquele que lista vários exemplos de supostas blasfêmias e que culminaram com os mais horrendos castigos divinos, inclusive, todos com o resultado morte.




- John Lenon, o cristianismo vai acabar, hoje somos mais popular que Jesus Cristo. (Morreu)
- Tancredo Neves teria dito que se tivesse 500 votos do PDS nem Deus o tiraria da Presidência da República. (Morreu)
-Cazuza teria oferecido uma barrufada de maconha a Deus. (Morreu)
- Marilyn Monroe teria dito depois de uma pregação do evangelho - "Não preciso do seu Jesus". (Morreu logo depois)
- Bon Scott fez uma música onde dizia preferir o inferno. (foi encontrado morto)
- O navio Titanic - O construtor teria dito: Nem Deus poderá afundar meu navio. (Sabemos o que aconteceu)
- A mãe teria dito para a filha que ia para uma festa com os amigos: Filha vai com Deus e a filha teria dito só se for no porta-malas, resultado o carro sofreu um acidente e Deus protegeu uma bandeja com 18 ovos que estava no porta-malar do carro e castigou com a morte os ocupantes do veículo sinistrado.


Só e somente só, pelo motivo de um evento surgir logo após outro não quer dizer que os acontecimentos estejam interligados.

Para que se possa estabelecer uma relação de causa e efeito entre dois ou mais acontecimentos não basta um ter ocorrido após o outro ou em sequência. Necessário se faz que se demonstre de forma a não restar dúvidas que um foi causado pelo outro.



FIQUE POR DENTRO


INTRODUÇÃO A LÓGICA E FALÁCIA




ARGUMENTAÇÃO LÓGICA

Prof. Tácio Maciel

O que significa argumentar?
Argumentar é apresentar uma proposição como sendo consequência de uma ou mais proposições.

Proposição é uma frase em que ela é afirmativa ou negativa, com a possibilidade de alguém dizer se ela é verdadeira ou falsa.

Agora vou criar algumas proposições e criar alguma conclusão a respeito dela. Isso é argumentar. As argumentações podem ser verdadeiras ou falsas, enquanto que os argumentos são válidos ou inválidos.

O argumento mais famoso e que tem em todos os livros de lógica é esse:

1 - Todos os homens são mortais
     - Sócrates é um homem
     - Logo, Sócrates é mortal

Notem que as frases foram colocadas como sendo consequência de outras frases ou sejas, uma proposição que é consequência de outras proposições.

As proposições que se baseiam para tirar as conclusões são chamadas de premissas.  A premissa "Sócrates é mortal" é chamada de conclusão, porque vem logo após de uma conjunção conclusiva logo, então, portanto...





SILOGISMO

- Todo cachorro mia



- Os gatos não miam



Portanto, cachorro não são gatos. (ARGUMENTO VÁLIDO)



SOFISMA OU FALÁCIAS

- Toda pessoa elegante se veste bem



- João se veste bem



Logo, João é elegante. (ARGUMENTO INVÁLIDO)








segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Evangelho de Maria Madalena (fragmento)








O Salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.

Pedro lhe disse: “Já que nos explicaste tudo, diz-nos isso também: o que é o pecado do mundo?” Jesus disse: “Não há pecado, sois vós que o criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado ‘pecado’. Por isso, Deus-Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la à sua origem”.

Em seguida disse: “Por isso adoeceis e morreis […] Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurai força das diferentes manifestações da Natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.”

Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: “A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do Caminho, dizendo: ‘Por aqui’ ou ‘Por lá’, pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas”. Após dizer tudo isso, partiu.

Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: “Como vamos pregar aos gentios o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se eles não o procuraram, vão poupar a nós?” Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois Sua Graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens”.

Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as Palavras do Salvador.

Pedro disse a Maria: “Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos”.

Maria Madalena respondeu, dizendo: “Esclarecerei a vós o que está oculto”. E ela começou a falar essas palavras: “Eu…”, disse ela, “Eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: ‘Mestre, apareceste-me hoje numa visão’.

Ele respondeu e me disse: ‘Bem-aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a mente, há um tesouro’. Eu lhe disse: ‘Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou com o espírito?’ Jesus respondeu e disse: “Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos – assim é que tem a visão […]”.

E o desejo disse à alma: ‘Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?’ A alma respondeu e disse: ‘Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste.’ Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. “De novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância. A potência inquiriu a alma, dizendo: ‘Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!’

E a alma disse: ‘Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.’ “Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta é a comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira.

Elas perguntaram à alma: ´De onde vens, devoradora de homens, ou onde vais, conquistadora do espaço?’ A alma respondeu, dizendo: ‘O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado…, e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno’.”

Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos: “Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam ideias estranhas”. Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas.

Ele os inquiriu sobre o Salvador: “Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?” Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: “Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?”

Levi respondeu a Pedro: “Pedro, sempre foste exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí tê-la amado mais do que a nós. É, antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o Homem Perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou”.

Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.