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Um texto da Superinteressante de abril de 2002, sobre comer
ou não carne trouxe uma notinha interessante para esta época de Natal:
"As tribos nômades de cavaleiros que
habitavam a Eurásia há 6.000 anos juntavam gado selvagem e o criavam nos pastos
naturais. Esses pastores cultuavam um deus-touro, chamado Mitra, símbolo da
força, da masculinidade, do poder. A necessidade de pastos novos a cada vez que
acabava o antigo fazia deles expansionistas por natureza e, no início da era
cristã, eles já tinham se espalhado da Índia, Babilônia a Portugal. Com isso, o
culto a Mithra tornou-se muito popular no Império Romano. Para contê-lo, a
Igreja adotou sua data sagrada, o dia de Mithra - 25 de dezembro. Estava
estabelecido o Natal. Depois, no Concílio de Toledo, em 447, a Igreja publicou
a primeira descrição oficial do diabo, a encarnação do mal: um ser imenso e
escuro, com chifres na cabeça. Como Mitra."
Esse texto pode insinuar que Mitra seja o
próprio demônio, mas não é o caso. Mitra era um deus do bem, criador da luz
(por isso mesmo era associado ao Sol), em luta permanente contra a divindade
obscura do mal. Seu culto estava associado à crença na existência futura
absolutamente espiritual e libertada da matéria. Protetor dos justos, agia como
mediador entre a humanidade e o Ser Supremo. Ele encarnou-se para viver entre
os homens e enfim morreu para que todos fossem salvos. Os persas o adoravam por
influência dos babilônios, os primeiros astrólogos da antiguidade. Seu nome, de
raiz indo-européia, significa: "troca", "contrato" e
"amizade" (seria daí que surgiu o costume de trocar presentes?). Era
o correspondente iraniano do deus sumério Tamuz.
Os Romanos tinham a "Festa da
Saturnália" em honra do deus Saturno. Este festival era celebrado entre 17
e 23 de Dezembro. Nos últimos dois dias trocavam-se presentes em honra de
Saturno. Já em 25 de Dezembro acontecia a celebração do nascimento do sol
invencível (Natalis Solis Invicti). Posteriormente, à medida que as
tradições romanas iam sendo suplantadas pelas tradições orientais importadas,
os maiores festejos realizavam-se em honra do Deus Mitra, cujo nascimento se
comemorava a 25 de Dezembro. O culto de Mitra - que se tornou difundido como o
deus da luta e o protetor dos soldados - penetrou em Roma no 1º século AC. A
data entrou no calendário civil romano em 274, quando o Imperador Aureliano
declarou aquele dia o maior feriado em Roma, comparável ao nosso Carnaval. Os
adeptos do mitraísmo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a
mais longa e mais fria do ano, onde ficavam fazendo oferendas e preces pela
volta da luz e do calor do Sol.
Em 313 d.C. Constantino, imperador de Roma,
decretou o Édito de Milão, dando liberdade de culto aos cristãos e trocando,
dessa forma, a perseguição pela tolerância tão desejada. Segundo uma lenda,
antes da batalha de Mexêncio, ele teve uma visão da cruz contra o sol, e uma
mensagem que dizia, "com este sinal vencerás". Constantino era
adorador do deus Sol. De certa forma, o que temos hoje é justamente isso: a
união de Mitra (Sol) e Jesus (Cruz) no Catolicismo.
E é provavelmente por isso que a Igreja
Católica adotou Mitra como "padrinho", já que as missas são
celebradas no domingo, dia dedicado ao Sol, e aquele chapeuzinho que os papas,
cardeais e bispos usam é chamado de Mitra. As "coincidências" não
param por aí:
Mitra também nasceu de uma virgem;
Pastores, que assistiram ao evento, foram os primeiros que o adoraram; O líder
do culto Mitráico era chamado de Papa e ele governava de um
"mithraeum" na Colina Vaticano, em Roma; Uma característica
iconográfica proeminente no Mitraismo era uma grande chave, necessária para
destrancar os portões celestiais pelo qual se acreditava passar as almas dos
defuntos; Os Mitraistas consumiam uma comida sagrada (Myazda) que era
composta de pão e vinho; Assim como os cristãos, eles celebraram a morte
reconciliada de um salvador que ressuscitou em um domingo; Um grande centro
principal da filosofia Mitraica ficava em Tarso - Cidade natal de São Paulo -
que agora é Sudeste da Turquia.
O acontecimento mais marcante da história
de Mitra foi a luta simbólica contra o touro sagrado (o primeiro ser criado por
Ahura Mazda) que ele derrotou e sacrificou em prol da humanidade. Todavia, como
nos antigos textos persas o próprio Mitra era o touro, esse gesto adquire o
dúplice significado de vitória sobre o mundo terreno e de auto-sacrifício da
divindade a fim de redimir o gênero humano de seus pecados (assim como Jesus):
Esse touro pastava tranquilo num prado.
Mitra precipitou-se sobre o animal, tomou pelos chifres e saem ambos em
desabalada carreira, até que o animal, esgotado, caiu de joelhos. Por ordem do
deus supremo, que enviou o corvo, seu mensageiro, Mitra enterrou a faca no
animal. Da sua medula e do seu sangue germinarão todas as plantas úteis aos
mortais, de modo especial o trigo e a vinha. Os animais maléficos enviados por
Ahriman, o escorpião, a serpente, a formiga etc., tentam prevenir esses felizes
efeitos bebendo o sangue derramado e envenenando a fonte do poder gerador. Mas
é em vão.
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Mitra papal |
A alma do touro, transportada ao céu,
continuará a proteger a vida agrícola. Depois vem a seca e o dilúvio. Mitra, em
figura de arqueiro, fere um rochedo e dele jorra água. A seca foi vencida.
Prende homens e animais numa arca e estes são salvos do dilúvio. No termo de
sua carreira, Mitra abandona a terra num carro de fogo conduzido pelo Sol. Após
ciclos sucessivos, Mitra deverá reaparecer na terra para sacrificar, mais uma
vez, o touro misterioso, cuja gordura, misturada ao suco da planta Haoma,
restituirá a vida, a existência imortal, aos fiéis de Mitra. Do céu, então,
cairá fogo devorador e consumirá todos os seres maus, homens e demônios,
juntamente com o princípio do Mal, Ahriman (bastante figurado, mas em síntese
nada diferente da simbologia cristã).
Só pra constar: Engraçado como essa coisa
de trindade já estava presente muito antes de Jesus, aparecendo no Egito (Isis,
Osíris e Horus) e na Suméria, com Tamuz, que é filho de Ninrod (equivalente ao
deus Sol) e Semírames (Mãe/esposa, equivalente à lua). Ninrod morreu de forma
violenta, mas Semiramis criou o mito da sua sobrevivência pós-morte, ao afirmar
que ele passaria a existir como um ente espiritual, alegando que um grande
pinheiro cresceu de um dia para o outro de um pedaço de árvore morta. Esse
pinheiro era o símbolo vivo da passagem de Ninrode para outra forma de vida.
Todos os anos, por ocasião do seu aniversário, o espírito de Ninrode visitava o
pinheiro e deixava nele oferendas. A data do aniversário é (por acaso) 25 de
dezembro.
Fonte
Saindo da Matrix