domingo, 30 de junho de 2013

JAVÉ: A invenção de Deus




Há aproximadamente 4 mil anos, a idéia de um Deus único e poderoso mudou a história do mundo. Saiba, enfim, como foi criada a ideia do criador

por Rodrigo Cavalcante


O todo-poderoso deus do Sol Amon-Rá, um dos criadores do mundo no antigo Egito, não passa hoje de mera curiosidade arqueológica. O mesmo fim levaram outros deuses egípcios, como Osíris e sua mulher Ísis. Tiamat e Apsu, deuses da criação na Mesopotâmia, também foram relegados ao ostracismo. Zurvan, o deus do tempo na Pérsia antiga, não conseguiu acompanhar o passar dos séculos com a mesma força. E os grandes deuses gregos e romanos, como Zeus (Júpiter, para os romanos), Afrodite (Vênus) e Apolo (Marte), apesar de gozarem ainda de status literário e mitológico no Ocidente, não são levados mais a sério como divindades – a não ser em episódios de desenhos animados como Os Superamigos, onde ainda são invocados por personagens como o Super-Homem, a Mulher-Maravilha e outros membros da Sala de Justiça.

Esse, definitivamente, não é o caso de Javé. O deus bíblico criador do céu e da terra segundo o Gênesis continua reinando absoluto para mais de 3 bilhões de judeus, cristãos e muçulmanos (ainda que estes últimos o chamem de Alá). Mesmo que você seja ateu, Javé continua moldando boa parte de sua vida. Afinal, a imagem de um ser todo-poderoso, masculino, onipotente, pai, permeia a cultura, o comportamento e a ética do Ocidente. Mas como a idéia de um único deus, cultuado inicialmente por pequenas tribos do Oriente Médio, viria a mudar a história do planeta? Como Javé superou os deuses dos maiores impérios da Antiguidade?


Deuses e Deus

Apesar de ninguém saber ao certo o momento em que os homens passaram a cultuar deuses, a maioria dos arqueólogos e antropólogos concorda que esse é um traço comum de todas as civilizações. Como escreveu a historiadora das religiões Karen Armstrong em seu livro Uma História de Deus, “parece que criar deuses é uma coisa que os seres humanos sempre fizeram. E, quando uma idéia religiosa deixa de funcionar para eles, simplesmente a substituem”.

Ishtar


As primeiras imagens de deuses esculpidas em pedras há mais de 10 mil anos na Europa, no Oriente Médio e na Índia em nada se parecem, contudo, com o velho barbudo e musculoso dos afrescos que Michelangelo pintou na Renascença. São imagens de mulheres nuas, gordas, grávidas e de seios fartos que simbolizavam a fertilidade – algo natural, segundo os arqueólogos, numa época em que a agricultura estava se desenvolvendo. Com o tempo, essa deusa mãe da fertilidade ganharia vários nomes: Inana na antiga Suméria, Ishtar na Babilônia, Anat em Canaã, Ísis no Egito e Afrodite na Grécia. E quase sempre dividia lugar com outros deuses.

Zeus


Na Grécia antiga, espécie de matriz do mundo ocidental, mais de uma dezena de deuses eram cultuados pelos cidadãos. Nenhum deles, contudo – incluindo o poderoso Zeus – era tão gigante, distante e sobrenatural como o deus da Bíblia. Para os gregos, os deuses não eram figuras imaculadas e perfeitas, mas apenas uma das “três raças” que habitavam o mundo, ao lado dos animais e dos homens. “Eles eram espécies de super-homens com qualidades e defeitos bem semelhantes aos nossos. Com a diferença, é claro, de que eram imortais”, diz o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, da Universidade Estadual de Campinas. Até mesmo a morada deles em nada se assemelha ao céu sobrenatural do deus bíblico. Para os gregos, ao menos 12 desses deuses viviam no monte Olimpo, uma montanha de verdade localizada na Grécia, com quase 3 mil metros de altitude.

E, por estarem mais próximos dos homens, a relação dos gregos com os deuses era semelhante à relação de alguns católicos com seus santos de preferência. Cada um deles tinha um papel bem definido e as oferendas seguiam a lógica das promessas: em troca de ofertas ao seu deus predileto, os devotos esperavam que sua parte no pacto fosse cumprida. Quando isso não acontecia, era comum que os deuses fossem criticados abertamente – assim como um empregado critica seu patrão por não ter retribuído seu esforço.

Adotados pelos romanos com outros nomes, esses deuses da Grécia logo se tornaram parte do ritual cívico do novo império que não parava de se expandir. Como os deuses não eram entidades imaculadas – e sim um tipo de homens superpotentes –, era comum atribuir a alguns imperadores (as pessoas mais poderosas à época) uma origem divina. Na prática, os rituais da administração pública costumavam se mesclar às cerimônias religiosas.

Mas, desde que os povos dominados pelos romanos que seguissem outras religiões pagassem seus impostos e não desafiassem o comando romano, seus cidadãos tinham o direito de seguir os deuses de sua preferência. Quando os romanos conquistaram a região que hoje faz parte de Israel, no século 1 a.C., eles inicialmente não fizeram muito caso com o culto dos judeus a um deus único no Templo de Jerusalém. Naquele tempo, ninguém podia ainda imaginar que o deus dos judeus seria levado, quatro séculos depois, para o centro do maior império do Ocidente.
Mas que deus era esse?


Deus tribal

Segundo as Escrituras, o pacto entre os judeus e Javé teria começado com um homem chamado Abraão, há cerca de 4 mil anos. Conta a tradição que ele foi chamado por Deus para deixar a cidade de Ur, na Mesopotâmia (atual Iraque), para fundar uma nova nação em uma terra desconhecida. Mais tarde, essa terra prometida seria chamada de Canaã. Ao obedecer e firmar uma aliança com esse deus único, Abraão recebeu a promessa de que sua “semente” iria prosperar por toda a Terra.

O deus que aparecera para Abraão é completamente diferente dos deuses gregos e romanos. Ele não compartilhava da condição humana e se colocava na posição onipotente de poder fazer qualquer exigência que quisesse. Qualquer uma mesmo. No caso de Abraão, por exemplo, Javé ordenou que seu filho Isaac fosse sacrificado pelo próprio pai como prova de sua fé. O resto da história é conhecida: no momento em que Abraão já estava com a faca em punho, Javé recuou do pedido e disse que tudo não passara de um teste.

Por isso mesmo, quem lê o Antigo Testamento (o Pentateuco, para os judeus) sabe que Javé não guarda semelhanças com o pai dócil ou amoroso que mais tarde o cristianismo iria propagar. “É um deus brutal, parcial e assassino: um deus de guerra, que seria conhecido como Javé Sabaoth, Deus dos Exércitos”, escreveu a historiadora Karen Armstrong. “É passionalmente partidário, tem pouca misericórdia pelos não favoritos, uma simples divindade tribal.”

Prova disso seriam as passagens como a que Javé manda pragas aos egípcios. Em outras, Javé se mostra até arrependido de sua criação, como quando ordenou a morte por afogamento de toda a humanidade por meio do dilúvio do qual só escapou a família de Noé e os animais que ele pôs em sua arca – isso antes ainda da aliança feita com Abraão.

Durante essa fase, Javé parece mais preocupado em ameaçar a raça humana para que ela não se desvie de suas instruções. Talvez seja por isso que o pacto de Abraão precisou ser reforçado por outros patriarcas. Caso de Moisés, para quem Deus preferiu escrever diretamente seus mandamentos nas tábuas do profeta, não deixando dúvidas sobre suas intenções.

O fato é que, quando os romanos chegaram a Israel, o deus do Templo de Jerusalém parecia muito mais rigoroso e cheio de exigências que os deuses gregos. Mesmo para os romanos, que admiravam a tradição judaica pela consistência de suas escrituras, a conversão àquele deus era uma tarefa nada fácil. “Como era necessário seguir uma série de regras, que iam da alimentação à circuncisão, poucos romanos eram atraídos para o judaísmo”, afirma o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Até que, no século 1, o advento de uma nova seita dentro do judaísmo iria tornar Javé popular muito além das fronteiras de Israel.




Deus cristão

A nova corrente judaica defendia que Jesus de Nazaré, o galileu que acabara de ser crucificado pelos romanos, era o messias enviado por Javé para cumprir as profecias das escrituras. Não seria exagero dizer que, inicialmente, o cristianismo não passava de uma corrente judaica – ou melhor, uma ala do judaísmo, assim como um partido político tem alas que nem sempre estão afinadas com a presidência. É então que surge uma questão decisiva para o futuro de Jesus e do deus Javé. A pergunta-chave era: os convertidos ao cristianismo que não seguiam os tradicionais rituais judaicos (como a circuncisão) poderiam ser salvos?

Esse foi um dos principais temas discutidos pelos cristãos numa assembléia realizada por volta do ano 49 d.C., mais tarde conhecida pelo nome de Concílio de Jerusalém. Como diz o historiador Paul Johnson em seu livro História do Cristianismo, o tal concílio foi o primeiro ato político da história da Igreja. É aí que surge uma figura decisiva para a expansão do cristianismo e, por tabela, da crença do deus único Javé.

O nome dele era Paulo de Tarso, um homem cosmopolita recém-convertido, para quem os traços judaicos do cristianismo estavam arruinando seu trabalho de arrebanhamento de novos cristãos. Como provavelmente falava grego muito bem e era um dos poucos cristãos que conheciam diversas províncias do Império Romano, ele devia ter consciência das dificuldades que seu trabalho teria caso tivesse que obrigar os gentios a seguirem as práticas judaicas, principalmente a circuncisão. Para a maioria dos historiadores da religião, se as idéias de Paulo fossem censuradas no Concílio de Jerusalém, talvez o cristianismo permanecesse apenas como mais uma seita judaica, sem conseguir jamais a autonomia responsável pela sua expansão.

Mas a idéia central de Paulo, resumida na frase de que o verdadeiro cristão se justifica pela fé “e não pelos trabalhos da lei”, prevaleceu. Os gentios podiam agora se converter sem tantos empecilhos e o cristianismo ganhou novas fronteiras. “Paulo ajudou a tirar de Jesus a imagem de um messias para o povo hebreu, transformando-o num salvador de todos os povos”, diz Chevitarese. Com isso, o deus Javé também deixou de ser um fenômeno regional, ligado apenas ao povo hebreu, para ganhar caráter universal.

Quando, no ano 313, o imperador romano Constantino instruiu os governadores das províncias dominadas por Roma a dar completa tolerância aos cristãos, revogando todos os decretos anticristãos do passado, o cristianismo deu um passo decisivo para se tornar, em seguida, o credo oficial do império.

Com a expansão da nova fé, o deus “carrancudo” ganhou uma face completamente diferente, ao menos para os cristãos. De certa forma, a crucificação de Jesus foi vista como o momento em que Javé sentiu na pele o que é ser humano. Se, no passado, foi Deus que pediu a Abraão que sacrificasse seu filho como prova de sua fé, o cristianismo invertia essa lógica: agora era o próprio Javé que tivera o filho sacrificado como prova de amor. Mesmo as mensagens atribuídas a Jesus nos Evangelhos parecem ressaltar mais o amor divino que a lei divina. “Apesar de não ser correta a ideia de que o cristianismo promovera um rompimento total com a tradição judaica, é inegável que a figura de Cristo passa a imagem de um deus bem mais marcadamente amoroso que no passado”, diz Luiz Felipe Pondé, filósofo e professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Na tradição judaica, em que Jesus viveu, estava muito claro que o homem devia temer a Deus acima de tudo. Com Jesus, a mensagem passa a ser amar a Deus acima de tudo.”




Deus do Islã

Para os muçulmanos, o acordo firmado entre Javé e Abraão renovou-se e foi ampliado no século 7, quando o mercador Muhammad (em português, Maomé) teria recebido as revelações de Deus (agora, Alá) por meio do anjo Gabriel (para eles, Jibril) – desta feita, em língua árabe. Mais tarde, as revelações foram reunidas no livro sagrado do Islã: o Alcorão (ou recitação, em árabe).

A nova revelação do deus dos judeus e dos cristãos vinha preencher um vazio religioso que há muito perturbava os povos da Arábia. Até então, a região também era um centro de santuários de culto a diversas divindades. O mais importante desses locais sagrados, em Meca, era a Caaba (que significa “cubo”), e seu objeto especial de veneração era uma pedra preta, fragmento de um meteoro. “Pedras desse tipo eram adoradas pelos árabes nesse tempo em diversas regiões”, escreveu o francês Maxime Rodinson na biografia Mahomet, ainda sem tradução no Brasil. Ao lado da pedra, havia representações de diversas deusas, e o santuário era uma espécie de parada obrigatória entre os mercadores da região.

Mesmo assim, como escreveu a historiadora Karen Armstrong na biografia Maomé, boa parte dos árabes sentia-se um tanto renegada por nunca ter recebido uma mensagem direta e explícita de um único deus, como as revelações contidas nas sofisticadas escrituras judaicas e nos evangelhos. Por conhecerem as tradições tanto do judaísmo quanto do cristianismo, eles acreditavam que já era hora de Deus enviar um profeta com uma revelação exclusiva para os árabes. As mensagens recebidas por Maomé foram vistas como o momento em que isso aconteceu.

Para os muçulmanos, as mensagens de Deus contidas no Antigo e no Novo Testamento foram revistas e ampliadas com o Alcorão, que deve ser consultado no lugar das revelações anteriores. No livro sagrado do Islã, o deus de Abraão volta a ser bem mais específico nos seus mandamentos que as parábolas atribuídas a Jesus nos evangelhos. Nesse quesito, Alá se torna bem mais próximo do deus da Lei do Antigo Testamento (a Torá dos judeus). Entre os 6326 versículos do Alcorão, há desde instruções para o casamento até regras sobre como o governante deve agir na cobrança de impostos.

É provável que esse grau de detalhamento das instruções de Deus seja fruto do momento em que Maomé recebera as revelações. Alá, afinal, transmitiu seus novos mandamentos na época em que o profeta erguia um estado em Meca. A nova palavra de Deus, contudo, foi tão forte que os seguidores do Islã terminaram construindo um império. Pouco mais de 100 anos após a morte do profeta, seus seguidores levaram a mensagem do deus único para a África e para locais distantes no Oriente, como o Afeganistão e o Paquistão.

A expansão do Islã no último milênio – assim como a do cristianismo – fez com que o deus de Abraão não apenas vencesse a batalha com os outros deuses como também sobrevivesse a um poderoso inimigo: o mundo científico contemporâneo. Em um tempo em que a narrativa da criação está mais para a explosão caótica do Big Bang do que para o relato do Gênesis, ser ateu continua tão impopular que, como diz o cientista britânico (e ateu) Richard Dawkings, autor de Deus, um Delírio, os homossexuais parecem ter bem mais facilidade para “sair do armário” que os ateus. Quatro mil anos depois, o velho Javé continua em forma.

“Vou enviar o dilúvio, as águas, sobre a Terra, para exterminar de debaixo do céu toda carne que tiver sopro de vida, tudo o que há na terra deve parecer"

(Antigo testamento, Gênisis 6:2)
“Toma teu filho, teu único que amas, Isaac, e vai a terra de Moriá, e lá o oferecerás em holocausto sobre uma montanha que eu te indicarei”

(Toma, Gênisis 22:2)
“Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu filho único, para que todo o que nele crê não pareça, mas tenha vida eterna.”

(Novo Testamento, João 3:16)
“Todos que crêem em Allah, no Dia do Juízo final e praticam o bem receberão a sua recompensa do seu Senhor.”
(Alcorão, Sura 2:16)

Krishna


Tudo ou nada

Para os hindus, há vários deuses. Para os budistas, eles são mortais

Por muito tempo, a passagem do politeísmo (culto a vários deuses) para o monoteísmo (a idéia de um único deus) foi vista por filósofos e historiadores como uma espécie de evolução, um marco na transição de sociedades mais primitivas para outras mais avançadas. Hoje, os pesquisadores reconhecem que há uma boa dose de preconceito nessa concepção, já que não há como provar que a crença em vários deuses antecedeu a crença em um único. Até porque ainda hoje muitas religiões no mundo permanecem cultuando diversos deuses. Caso do hinduísmo, que conta com centenas de divindades e é seguido por mais de 745 milhões de pessoas no mundo, a maioria na Índia. Na mesma Índia, nasceu outra religião no século 4 a.C. que ganhou o mundo sem pregar que a salvação da alma depende do culto a um ou mais deuses: o budismo. De acordo com os ensinamentos de Sidarta Gautama, o jovem rico que abandonou sua casa e teria atingido a iluminação, tornando-se o Buda, a libertação de todo o sofrimento não está garantida nem mesmo para os deuses e semideuses, categorias superiores à dos humanos. Segundo o budismo, qualquer um pode, desde que tenha mérito espiritual, entrar no mundo dos deuses. Mas o conforto lá em cima não seria eterno, já que os próprios deuses também estariam submetidos ao ciclo de renascimento e morte do samsara, espécie de roda viva que aprisiona todos os seres. Para atingir a iluminação e se libertar do samsara, o budismo prega que seus seguidores orem não a um deus específico, e sim aos guias espirituais, os bodisatvas – seres que já atingiram a iluminação e retornaram ao samsara apenas para ajudar outros a se libertarem das obstruções para chegar lá.


Homem solteiro, velho e poderoso

Por que Deus é sempre visto dessa forma?

Sua feição e os cabelos grisalhos revelam que ele deve ter mais de 60 anos. Seu corpo, apesar de robusto, preserva os músculos de um homem que o usou para trabalhar, seja construindo algo, seja lutando como um guerreiro. Embora não tenha uma esposa, quase nunca está só. Vive cercado de anjos que o acompanham como executivos seguindo o diretor numa visita à filial da empresa. Apesar de forte, consegue o que quer com o mínimo de esforço físico. Um simples levantar de dedo ou uma mudança de semblante pode decidir o destino do mundo. Sem dúvida, ele tem muito poder. O deus pintado por Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano, não é popular por acaso. Seu gênio artístico revela toda a força, poder, onipotência e masculinidade do Javé bíblico. Mas por que Javé é sempre representado como um homem? “Mesmo que os monoteístas insistissem que seu deus transcendia o gênero sexual, ele iria permanecer essencialmente masculino”, escreveu a historiadora das religiões Karen Armstrong. “Em parte, isso se devia às origens dele com um deus da guerra tribal.” Há cerca de 4 mil anos, quando a figura de Javé foi ganhando suas feições, as mulheres começariam a ser vistas nos impérios da Antiguidade como pessoas de segunda classe. O advento das cidades, assim, fez com que a força marcial e física superasse as qualidades femininas. Como resultado, as antigas deusas da fertilidade veneradas por milhares de anos na Europa e no Oriente foram desbancadas pela força bruta de Javé. Desde então, masculinidade e poder andam juntos.





Saiba mais

Livros

• Uma História de Deus, Karen Armstrong, Companhia das Letras, 1994
Trajetória de quatro milênios de Deus sob a ótica do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.
• História da Vida Privada 1, org. Philippe Áries e Georges Duby, Companhia das Letras, 1993
Um belo panorama sobre o papel da religião e dos deuses no cotidiano da Roma antiga.
• Mitologia e Religião na Grécia Antiga, Jean-Pierre Vernant, Martins Fontes, 2006
Breve e clássico ensaio sobre o papel dos deuses na Grécia.
• Deus, Uma Biografia, Jack Miles, Companhia das Letras, 2002
Uma das melhores análises de Deus do ponto de vista da literatura.


O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE FALAR EM LÍNGUAS

Falar em Línguas


ABUSO MENTAL DE CRIANÇAS

Quase todos os grupos religiosos tentam "provar" que são a religião verdadeira.  Freqüentemente, eles apelam para algum tipo de sinal, milagre ou experiência sobrenatural.  Os católicos, por exemplo, citam o aparecimento de Maria; os mórmons alegam as visitas de um anjo a Joseph Smith; os espíritas têm uma variedade de sinais e manifestações do sobrenatural; a Igreja Universal do Reino de Deus, todas as noites, realiza curas, expulsões de demônios e milagres; as igrejas pentecostais tradicionais têm línguas, curas, e o batismo do Espírito Santo.  E a lista continua.  Certamente, não é Deus aquele que realiza todas estas demonstrações, em todos estes diferentes grupos.  Como podemos saber com certeza se um sinal ou uma língua ou um fenômeno sobrenatural é de Deus ou não?


A existência de falsos sinais, prodígios de mentira e milagres falsificados não surpreenderá os estudantes sérios da Bíblia.  Numerosos textos bíblicos advertem sobre estas coisas (Mateus 24:4; 2 Coríntios 11:13-15; 2 Timóteo 3:13; Apocalipse 13:13-14; 16:13-14).  Se acreditarmos na Bíblia, podemos esperar uma abundância de falsos milagres.



Então, como saberemos quais sinais são verdadeiros e quais não são?  Primeiramente, comparando o ensinamento do operador do sinal com as Escrituras para ver se sua mensagem é verdadeira.  João nos adverte para testar os espíritos: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito;  antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 João 4:1).  Ele revela o teste a usar:  "Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve.  Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro" (1 João 4:6).  O teste é a revelação escrita pelos apóstolos.  Os cristãos de Beréia são um bom exemplo:  "Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram, de fato, assim" (Atos 17:11).  Paulo operou sinais em Beréia, mas os cristãos dali determinaram se Paulo era de Deus ou não, comparando sua pregação com as Escrituras.  (Deuteronômio 13:1-5; Jeremias 23:25-32; 1 Coríntios 12:1-3; 1 Tessalonicenses 5:21 podem ser estudados para mais ajuda neste ponto).


Infelizmente, muitas pessoas vêem acontecimentos espantosos e, automaticamente, concluem que eles vêm de Deus.  Precisamos perceber que coincidência, pensamento positivo, ilusão fraudulenta e o Diabo podem falsificar milagres bíblicos.  Contudo, as falsificações nunca poderão igualar-se aos milagres reais. Deus mostrou que seu Filho era inigualável por meio de sinais que hoje ninguém sequer pretende realizar:  transformar água em vinho, multiplicar pães e peixes, caminhar sobre as águas, curar instantaneamente um cego, surdo e leproso, e ainda ressuscitar um morto.



Temos que voltar ao modelo da Bíblia, que é testar o sinal pela Palavra de Deus, e não modificar a Palavra de Deus para ajustá-la ao sinal.  A Bíblia é o padrão segundo o qual toda a pretensão de ter um sinal ou um prodígio de Deus deve ser testada.  Por favor, estudem as Escrituras cuidadosamente, com o desejo de permitir que elas sejam o juiz final da validade de qualquer sinal ou prodígio.


Neste estudo, testemos o falar em línguas das igrejas Pentecostais pela Bíblia.  Veremos seis diferenças entre as línguas da Bíblia e as línguas das igrejas de hoje:



O Dom de Línguas


Hoje em Dia É Diferente

  · Regras de Uso

  · Tipo das Línguas

  · Modo de Receber

  · Propósito

  · Pessoas que Recebem

  · Época
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Regras de Uso

(1 Coríntios 14:26-40)

· Específicas:

v. 27  Não mais do que dois ou três por culto

v. 27  Sucessivamente

v. 28  Se não houver intérprete, fique calado

v. 34-35 As mulheres não falam na igreja


· Princípios Gerais:

v. 26  Tudo para edificação

v. 40  Com decência e ordem

Em 1 Coríntios 14:26-40 encontram-se vários regulamentos para o uso das línguas da Bíblia.  Existem regras específicas e princípios gerais.  Quase todas estas regras a serem obedecidas no uso das línguas da Bíblia são habitualmente violadas por aqueles que pretendem falar línguas da Bíblia.  Em vez de limitar o número dos que falam em línguas a 2 ou 3 pessoas por culto, as igrejas de hoje, às vezes, têm dúzias falando no mesmo culto.  Em vez de falar um de cada vez, atualmente falam muitos simultânea-mente.  Em vez de falar em línguas somente quando um tradutor está presente, muitas igrejas onde se falam em línguas falam quer haja um intérprete, quer não.  

A proibição de Deus das mulheres falarem nos cultos da igreja é tão flagrantemente desrespeitada que, em alguns cultos, a maioria dos que falam em línguas é mulheres.  As regras gerais, também, são violadas freqüente-mente.  Os propósitos das línguas são mais de mostrar excitação e emoção do que edificar.  E, em muitos cultos em que se falam línguas, há pouquíssima ordem.  

O forte contraste entre as regras de Deus para as línguas da Bíblia e as regras que são segui-das pelas línguas modernas deveriam fazer-nos perguntar: Por quê?  Por que, se temos os mesmos dons, não seguimos as mesmas regras?  Se as igrejas que mais freqüentemente dizem que falam em línguas flagrantemente desrespeitam a Bíblia no uso destas línguas, poderia ser que essas próprias línguas não fossem de Deus?

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Tipo das Línguas


· Na Bíblia:  Idiomas Verdadeiros


Atos 2

  v. 4 ­  "em outras línguas"

  v. 6 ­  "cada um ouvia falar na sua própria língua"

  v. 8 ­  "ouvimos falar, cada um em nossa própria língua"

  v. 9-11­ lista das nações

  v. 11 ­  "ouvimos falar em nossas próprias línguas"


1 Coríntios 14

  v. 2,4,5, etc.­  "língua" quer dizer "idioma"

  v. 13 ­  "interpretar" quer dizer "traduzir"

  v. 11 ­  "estrangeiro" quer dizer "alguém que fala uma linguagem diferente"

  v. 21 ­  Referência à linguagem assíria

  v. 10 ­  "Há . . . muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido"


· Hoje:  Sílabas sem Sentido

De que tipo eram as línguas da Bíblia?  Com alguma exceção ocasional, as igrejas Pentecostais de nossos dias nem sequer pretendem falar em linguagens conhecidas de hoje, mas em sons incompreensíveis (combinações de sílabas sem significado próprio, ao menos para principiantes). Mas as línguas da Bíblia sempre significavam falar em idiomas verdadeiros, entendidos por pessoas que sabiam falar aquelas linguagens (Apêndice 1).  Em Atos 2, pessoas de muitas nações tinham se reunido em Jerusalém para a celebração do dia de Pentecoste.  Ali, pela primeira vez, homens batizados pelo Espírito Santo começaram "a falar em outras línguas".  

O texto mostra clara-mente que a audiência era composta de pessoas que falavam diferentes línguas:  "E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos e elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia,  da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios" (Atos 2:8-11).  

E as Escrituras dizem: "Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua(Atos 2:6); "e como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?" (Atos 2:8); "como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?" (Atos 2:11).  

Atos 2 foi o protótipo do falar em línguas no Novo Testamento.  E, em Atos 2, falar em línguas significava falar em linguagens que poderiam ser entendidas.  Em 1 Coríntios 14, a Bíblia mostra também que essas línguas eram idiomas verdadeiros.  Notem os significados das palavras usadas:  "língua" (nos versículos 2,4,5,6,9,13,18,19 . . .) significa "idioma"; "interpretar" (versículo 13) significa traduzir de uma língua para outra; "estrangeiro" (versículo 11) significa alguém de um país diferente, que fala uma linguagem diferente.  Ele ilustra esta passagem, citando uma profecia de Isaías que se referia à linguagem assíria:  "Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor" (versículo 21 ­ Isaías 28:11).  

Finalmente, ele categoricamente, disse:  "Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido" (1 Coríntios 14:10).  Pessoas que falavam línguas da Bíblia eram capazes de falar em linguagens reais, sem estudo ou treinamento.  Muito interessante, mesmo as igrejas que hoje são muito ativas no "falar em línguas" nunca enviam um missionário sem dar-lhe treinamento, de modo que ele possa falar a linguagem do povo ao qual ele está sendo enviado.  As línguas da Bíblia eram linguagens reais.  Portanto, as "línguas" das igrejas de hoje não são línguas da Bíblia.
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Modo de Receber

· Batismo no Espírito Santo

Apóstolos no dia de Pentecoste (Atos 2)  ­ para revelar o evangelho

A família de Cornélio (Atos 10) ­ para mostrar a aceitação dos gentios


· As Mãos dos Apóstolos

  Samaritanos (Atos 8:14-18)

Discípulos em Éfeso (Atos 19:1-7)


. . . Mas Hoje . . .

· Só há um batismo ­ Efésios 4:5 (na água para remissão dos pecados ­ Mateus 28:18-20; Atos 2:38; Efésios
5:26)
· Os apóstolos morreram ­ estão na fundação da igreja (Efésios 2:20; Apocalipse 21:14)


As línguas não poderiam ser recebidas hoje em dia como foram as línguas da Bíblia.  As línguas da Bíblia foram recebidas ou por pessoas sendo batizadas pelo Espírito Santo (Atos 2:1-4) ou pela imposição das mãos dos apóstolos (Atos 8:14-18; 19:1-7).  É claro que ninguém poderia receber línguas hoje pela mão dos apóstolos, uma vez que eles morreram e estão na fundação da igreja (Efésios 2:20; Apocalipse 21:14).  

Muitas pessoas, que hoje pensam possuir línguas da Bíblia, acreditam tê-las recebido pelo batismo do Espírito Santo.  Mas na Bíblia, o batismo pelo Espírito Santo ocorreu somente duas vezes:  aos apóstolos, em Atos 2, para capacitá-los a revelar o Novo Testamento e a Cornélio e sua família, em Atos 10, para mostrar a aprovação, por Deus, da conversão dos gentios.  Depois destes dois casos, a Bíblia diz que agora só existe um batismo (Efésios 4:5), o batismo na água para remissão dos pecados (Mateus 28:18-20; Atos 2:38; Efésios 5:26).  Portanto, se alguma pessoa falasse em línguas da Bíblia hoje em dia não poderia havê-las recebido da maneira pela qual eram recebidas na Bíblia.

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Propósito

· Na Bíblia

Confirmar a Palavra (Marcos 16:17-20; Atos 2; 1 Coríntios 14:22; Hebreus 2:3-4)

  . . . Hoje, a palavra já tem sido confirmada


Edificar a Igreja (1 Coríntios 14:5-6, 26)


. . . Hoje, a palavra já tem sido revelada para a edificação


· Hoje

Adoração de Deus

Demonstração de salvação

Glória pessoal


O propósito das línguas da Bíblia era diferente do propósito das línguas de hoje.  Nos primeiros dias da Cristandade, o Novo Testamento estava em processo de revelação.  Ninguém poderia recorrer ao Novo Testamento escrito, para testar a verdade do ensinamento de um homem, uma vez que ainda não estava escrito.  Por isso foram dados aos apóstolos e aos profetas sinais especiais, tais como as línguas, para mostrar que sua mensagem vinha de Deus.  

Sinais dados por Deus deveriam confirmar a palavra dos apóstolos e dos profetas revelando o Novo Testamento.  Nota:  "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem:  em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma cousa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.  

De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus.  E eles, tendo partido, pregaram em toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam" (Marcos 16:17-20).  

"De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos e sim para os que crêem" (1 Coríntios 14:22). "Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?  A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por distribuições do Espírito Santo segundo a sua vontade" (Hebreus 2:3-4).  

Isto é, exatamente, o que aconteceu quando os apóstolos falaram em línguas, no dia de Pentecoste.  Sua habilidade para falar em outras línguas, apesar de serem galileus, provou que a nova mensagem que eles estavam revelando era de Deus.  Cada vez que uma nova mensagem é revelada, Deus, tipicamente, dá prova da autenticidade de seus mensageiros.  

Moisés, por exemplo, operou muitos sinais para mostrar que os mandamentos que Deus estava revelando por meio dele vinham, de fato, de Deus.  Jesus operou muitos sinais e foi, finalmente, ressuscitado, para provar sua afirmação de que era o Filho de Deus.  Igualmente, os apóstolos e profetas do primeiro século operaram sinais e prodígios, incluindo as línguas, para demonstrar que Deus estava, na verdade, revelando sua nova mensagem através deles.  Mas Deus nunca continuou a confirmar sua revelação por novos sinais a cada geração sucessiva.  

Sua Palavra, uma vez confirmada, é considerada provada para todas as gerações.  Assim, nenhuma geração posterir de israelitas podia testemunhar a separação das águas do Mar Vermelho ou os milagres do Monte Sinai (Êxodo 13-14, 20).  Ninguém, desde o primeiro século, viu o corpo ressuscitado de Jesus.  Da mesma maneira, a Palavra revelada pelos apóstolos já foi confirmada e nenhum sinal novo está sendo dado para "reconfirmá-la". 


A Bíblia também mostra que as línguas interpretadas (traduzidas) edificavam a igreja (1 Coríntios 14) por meio da revelação das mensagens de Deus.  Mensagens que foram mais tarde escritas para nós, no Novo Testamento.  Desde que a Palavra já foi revelada e confirmada, qual propósito têm as "línguas" modernas? De acordo com o ensinamento em muitas igrejas Pentecostais, as línguas são para louvar a Deus e para mostrar a evidência da salvação.  Os propósitos das línguas da Bíblia eram diferentes do propósito das "línguas" modernas.

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Pessoas que Recebem
· Igreja Universal do Reino de Deus

· Igreja Quadrangular

· Igreja Deus é Amor

· Assembléia de Deus

· Igrejas contra a doutrina da trindade

· Católicos carismáticos


Línguas iguais, mas doutrinas diversas!

Hoje, as "línguas" são usadas por muitas e diferentes igrejas que pregam e ensinam doutrinas contraditórias.  Igrejas desde a Igreja Universal do Reino de Deus até a Assembléia de Deus, e desde a Deus é Amor até as igrejas que negam a Trindade, todas têm as mesmas línguas.  Muitos católicos falam línguas nas igrejas católicas carismáticas.  Estaria o Espírito Santo dando seu sinal de aprovação a igrejas que pregam coisas que contradizem completamente umas às outras?  Muitas das doutrinas e práticas destas igrejas não só contradizem umas às outras, mas contra-dizem também a Bíblia.

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Época
Finalmente, porém talvez o mais importante, a Bíblia especificamente ensina que as línguas deveriam continuar somente durante aquela época.  Note cuidadosamente 1 Coríntios 13:8-13.  No versículo 8, Paulo disse que as línguas cessariam:"havendo línguas, cessarão".  

No versículo 10 ele mostra quando:  Quando vier o que é perfeito.  Isto está intensamente claro.  As línguas eram para durar somente até que o perfeito viesse.  A dificuldade está em determinar a que o "perfeito" se refere.  Em geral, muitas coisas poderiam ser perfeitas (completas).  Poderíamos ter uma casa perfeita, um carro perfeito ou, talvez, uma completa e perfeita pizza.  

Perfeito é uma qualidade que pode ser (e assim está na Bíblia) usada para qualificar muitas coisas.  Desta maneira, há um contraste entre o que é "em parte" e o que é "o perfeito".  Em qualquer área, o perfeito é sempre a soma das partes.  Assim, se sabemos quais eram as partes, podemos juntá-las e encontrar o perfeito.  As partes eram o conhecimento e a revelação (profecia) da vontade de Deus.  

Naquele tempo, a revelação de Deus estava se fazendo conhecida justamente uma parte de cada vez.  A própria  primeira carta aos Coríntios era uma dessas partes.  Se as partes, então, se referem à revelação da Palavra de Deus, parte por parte, o perfeito tem que ser a revelação completa de Deus, o Novo Testamento.  Portanto, quando o Novo Testamento se completou, o dom das línguas cessou, de acordo com o plano de Deus.








sexta-feira, 28 de junho de 2013

EVANGELHO, SEGUNDO TOMÉ, O DÍDIMO

Sabemos que não foram escritos apenas 4 evangelhos, alguns historiadores falam eu 80 e outros em mais de 100. Os que não foram queimados foram simplesmente abandonados e estão aparecendo, como é o caso do evangelho de Tomé.


APENAS PARA AVIVAR A MEMÓRIA

Tomé era aquele apóstolo de Jesus que só acreditava no que via. Pois bem, neste evangelho, cita a suposta fala de Jesus em parábolas e muitos outros versículos que foram utilizados na versão simplificada do famoso Concílio de Nicéia. Quem já leu os evangelhos canônicos,(1) com certeza vai identificar muitos versículos contidos neste evangelho de Tomé.


O Evangelho do Apóstolo Tomé
(Apostolo Dídimo Judas Tomé)
Texto Gnóstico encontrado em Nag Hammad, 1945



Estas são as palavras secretas que Jesus o Vivo proferiu e que Díddmo
Judas Tomé escreve:

I
 E ele disse: "Quem descobrir o significado interior destes ensinamentos não provará a morte."

II
Jesus disse: "Aquele que busca continue buscando até encontrar. Quando encontrar, ele se perturbará. Ao se perturbar, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo."

III
Jesus disse: "Se aqueles que vos guiam disserem, ‘Olhem, o reino está no céu,’ então, os pássaros do céu vos precederão, se vos disserem que está no mar, então, os peixes vos precederão. Pois bem, o reino está dentro de vós, e também está em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, então, sereis conhecidos e compreendereis que sois filhos do Pai vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis essa pobreza."

IV
 Jesus disse: "O homem idoso não hesitará em perguntar a uma
criancinha de sete dias sobre o lugar da vida, e ele viverá. Pois muitos dos
primeiros serão os últimos e se tornarão um só."

V
Jesus disse: "Reconheça o que está diante de teus olhos, e o que está oculto a ti será desvelado. Pois não há nada oculto que não venha ser manifestado."

VI
Seus discípulos o interrogaram dizendo: "Queres que jejuemos? Como devemos orar? Devemos dar esmolas? Que dieta devemos observar?"

Jesus disse: "Não mintais e não façais aquilo que detestais, pois todas as coisas são desveladas aos olhos do céu. Pois não há nada escondido que não se torne manifesto, e nada oculto que não seja desvelado."

VII
Jesus disse: Bem-aventurado o leão que se torna homem quando consumido pelo homem; maldito o homem que o leão consome, e o leão torna-se homem.

VIII
E ele disse: "O homem é como pescador sábio que lança sua rede ao mar e a retira cheia de peixinhos. O pescador sábio encontra entre eles um peixe grande e excelente. Joga todos os peixinhos de volta ao mar e escolhe o peixe grande sem dificuldade. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."

IX
Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, encheu sua mão e semeou. Algumas sementes caíram na estrada; os pássaros vieram e as recolheram. Algumas caíram sobre rochas, não criaram raízes no solo e não produziram espigas. Outras caíram em meio a um espinheiro, que sufocou as sementes e os vermes as comeram. E outras caíram em solo fértil e produziram bons frutos; renderam sessenta por uma e cento e vinte por uma."

X
Jesus disse: "Eu lancei fogo sobre o mundo, e eis que estou cuidando dele até que queime."

XI
Jesus disse: "Este céu passará, e aquele acima dele passará. Os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão. Nos dias em que consumistes o que estava morto, vós o tornastes vivo. Quando estiverdes morando na luz, o que fareis? No dia em que éreis um vos tornastes dois. Mas quando vos tornardes dois, o que fareis?"

XII
Os discípulos disseram a Jesus: "Sabemos que tu nos deixarás. Quem será nosso líder?"

Jesus disse-lhes: "Não importa onde estiverdes, devereis dirigir-vos a Tiago, o justo, para quem o céu e a terra foram feitos."

XIII
Jesus disse a seus discípulos: "Comparai-me com alguém e dizei-me com quem me assemelho."

Simão Pedro disse-lhe: "Tu és semelhante a um anjo justo."
Mateus lhe disse: "Tu te assemelhas a um filósofo sábio."
Tomé lhe disse: "Mestre, minha boca é inteiramente incapaz de dizer
com quem te assemelhas."

Jesus disse: "Não sou teu Mestre. Porque bebeste na fonte borbulhante que fiz brotar, tornaste-te ébrio. (128) E, pegando-o, retirou-se e disse-lhe três coisas. Quando Tomé retornou a seus companheiros, eles lhe perguntaram: "O que te disse Jesus?" Tomé respondeu: "Se eu vos disser uma só das coisas que ele me disse, apanhareis pedras e as atirareis em mim, e um fogo brotará das pedras e vos queimará."

XIV
Jesus disse-lhes: "Se jejuardes, gerareis pecado para vós; se orardes, sereis condenados; se derdes esmolas, fareis mal a vossos espíritos. Quando entrardes em qualquer país e caminhardes por qualquer lugar, se fordes recebidos, comei o que vos for oferecido e curai os enfermos entre eles. Pois o que entrar em vossa boca não vos maculará, mas o que sair de vossa boca – é isso que vos maculará."

XV
Jesus disse: "Quando virdes aquele que não foi nascido de uma mulher, prostrai-vos com a face no chão e adorai-o: é ele o vosso Pai."

XVI
Jesus disse: "Talvez os homens pensem que vim lançar a paz sobre o mundo. Não sabem que é a discórdia que vim espalhar sobre a Terra: fogo, espada e disputa. Com efeito, havendo cinco numa casa, três estarão contra dois e dois contra três: o pai contra o filho e o filho contra o pai. E eles permanecerão solitários."

XVII
Jesus disse: "Eu vos darei o que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram, o que as mão não tocaram e o que nunca ocorreu à mente do homem."

XVIII
Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos como será o nosso fim."
Jesus disse: "Haveis, então, discernido o princípio, para que estejais procurando o fim? Pois onde estiver o princípio ali estará o fim. Feliz daquele que tomar seu lugar no princípio: ele conhecerá o fim e não provará a morte."

XIX
Jesus disse: "Feliz o que já era antes de surgir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minhas palavras, estas pedras estarão a vosso serviço. Com efeito, há cinco árvores para vós no Paraíso que permanecem inalteradas inverno e verão, e cujas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará a morte."

XX
Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos a que se assemelha o reino do céu."

Ele lhes disse: "Ele se assemelha a uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes. Mas, quando cai em terra cultivada, produz uma grande planta e torna-se um refúgio para as aves do céu."

XXI
Maria disse a Jesus: "A quem se assemelham teus discípulos?"

Ele disse: "Eles se parecem com crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo vierem, dirão: ‘Entregai nosso campo.’ Elas se despirão diante deles para que eles Possam receber o campo de volta e para entregá-lo a eles. Por isso digo: se o dono da casa souber que virá um ladrão, velará antes que ele chegue e não deixará que ele penetre na casa de seu domínio para levar seus bens. Vós, portanto, permanecei atentos contra o mundo. Armai-vos com todo poder para que os ladrões não consigam encontrar um caminho para chegar a vós, pois a dificuldade que temeis certamente ocorrerá. Que possa haver entre vós um homem prudente. Quando a safra estiver madura, ele virá rapidamente com sua foice em mãos para colhê-la. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."

XXII
Jesus viu crianças sendo amamentadas. Ele disse a seus discípulos:
"Esses pequeninos que mamam são como aqueles que entram no Reino."
Eles lhe disseram: Nós também, como crianças, entraremos no Reino?"
Jesus lhes disse: "Quando fizerdes do dois um e quando fizerdes o interior como o exterior, o exterior como o interior, o acima como o embaixo e quando fizerdes do macho e da fêmea uma só coisa, de forma que o macho não seja mais macho nem a fêmea seja mais fêmea, e quando formardes olhos em lugar de um olho, uma mão em lugar de uma mão, um pé em lugar de um pé e uma imagem em lugar de uma imagem, então, entrareis (no Reino).

XXIII
Jesus disse: Escolherei dentre vós, um entre mil e dois entre dez mil, e eles permanecerão como um só."

XXIV
Seus discípulos disseram-lhe: "Mostra-nos o lugar onde estás, pois precisamos procurá-lo."

Ele disse-lhes: "Aquele que tem ouvidos, ouça! Há luz no interior do homem de luz e ele ilumina o mundo inteiro. Se ele não brilha, ele é escuridão."

XXV
Jesus disse: "Ama teu irmão como à tua alma, protege-o como a pupila de teus olhos."

XXVI
Jesus disse: "Tu vês o cisco no olho de teu irmão, mas não vês a trave em teu próprio olho. Quando retirares a trave de teu olho, então verás claramente e poderás retirar o cisco do olho de teu irmão."

XXVII
Jesus disse: "Se não jejuardes com relação ao mundo, não encontrareis o Reino. Se não observardes o sábado como um sábado, não vereis o Pai."

XVIII
Jesus disse: "Assumi meu lugar no mundo e revelei-me a eles na carne. Encontrei todos embriagados. Não encontrei nenhum sedento, e minha alma ficou aflita pelos filhos dos homens, porque estão cegos em seus corações e não têm visão. Pois vazios vieram ao mundo e vazios procuram deixar o mundo. Mas no momento eles estão embriagados. Quando superarem a embriaguez, então mudarão sua maneira de pensar."

XXIX
Jesus disse: "Seria uma maravilha se a carne tivesse surgido por causa do espírito. Mas seria a maior das maravilhas se o espírito tivesse surgido por causa do corpo. Estou realmente surpreso pela forma como essa grande riqueza fez morada nessa pobreza."

XXX
Jesus disse: "Onde há três deuses, eles são deuses. Onde há dois ou um, estou com ele."

XXXI
Jesus disse: "Nenhum profeta é aceito em sua cidade; nenhum médico cura aqueles que o conhecem."

XXXII
Jesus disse: "Uma cidade construída e fortificada sobre uma montanha elevada não pode cair nem pode ser escondida."

XXXIII
Jesus disse: "Proclamai sobre os telhados aquilo que ouvirdes com vosso próprio ouvido. Pois ninguém acende uma lâmpada e coloca-a debaixo de um cesto, tampouco coloca-a num lugar escondido, mas num candelabro, para que todos que venham a entrar e sair vejam sua luz."

XXXIV
Jesus disse: "Se um cego guia outro cego, ambos cairão numa vala."

XXXV
Jesus disse: "Não é possível que alguém entre na casa de um homem forte e tome-a à força, a menos que lhe ate as mãos; então será capaz de saquear sua casa."

XXXVI
Jesus disse: "Não vos preocupeis de manhã até a noite e de noite até a manhã com o que vestireis."

XXXVII
Seus discípulos disseram: "Quando tu te revelarás a nós e quando te veremos?"
Jesus disse: "Quando vos despirdes sem vos envergonhardes e tomardes vossas vestes e, colocando-as sobre vossos pés, pisardes sobre elas como criancinhas, então (vereis) o filho daquele que vive e não tereis medo."

XXXVIII
Jesus disse: "Muitas vezes haveis desejado ouvir essas palavras que vos digo, e não tendes outro de quem ouvi-las. Pois virão dias em que me procurareis e não me encontrareis."

XXXIX
Jesus disse: "Os fariseus e os escribas tomaram as chaves da gnosis. Eles não entraram nem deixaram entrar aqueles que queriam entrar. Vós, no entanto, sede sábios como as serpentes e mansos como as pombas."

XL
Jesus disse: "Uma parreira foi plantada fora do Pai, porém, não sendo saudável, ela será arrancada pela raiz e destruída."

XLI
Jesus disse: "Quem tiver algo em sua mão receberá mais, e quem não tiver nada perderá até mesmo o pouco que tem."

XLII
Jesus disse: "Tornai-vos passantes."

XLIII
 Seus discípulos disseram-lhe: "Quem és tu para dizer-nos tais coisas?"
[Jesus disse-lhes:] "Não percebeis quem sou eu pelo que vos digo, mas vos tornastes como os judeus! Com efeito, eles amam a árvore e odeiam seus frutos ou amam os frutos, mas odeiam a árvore."

XLIV
Jesus disse: "Quem blasfemar contra o Pai será perdoado e quem blasfemar contra o Filho será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado nem na terra nem no céu."

XLV
Jesus disse: "Não se colhe uvas dos espinheiros nem figos dos cardos, pois eles não dão frutos. O homem bom retira o bem do seu tesouro; o malvado retira o mal de seu tesouro malévolo, que está em seu coração, e diz maldade. Pois da abundância do coração ele retira coisas más."

XLVI
Jesus disse: "Dentre os que nasceram da mulher, desde Adão até João, o Batista, não há ninguém superior a João, para que não abaixe os olhos [diante dele]. Mas eu digo, aquele dentre vós que se tornar uma criança conhecerá o Reino e se tornará superior a João."

XLVII
Jesus disse: "É impossível para um homem montar dois cavalos ou retesar dois arcos. E é impossível que um servo sirva a dois senhores, pois ele honra um e ofende o outro. Ninguém bebe vinho velho e logo em seguida deseja beber vinho novo. E não se coloca vinho novo em odres velhos, para que não arrebentem; nem se coloca vinho velho em odres novos, para que não o estraguem. E não se cose pano velho em veste nova, porque ela está arriscada a rasgar."

XLVIII
Jesus disse: "Se os dois fizerem as pazes nesta casa, eles dirão a montanha: ‘Move-te!’ e ela se moverá."

XLIX
Jesus disse: "Bem aventurados os solitários e os eleitos, pois encontrareis o Reino. Pois, viestes dele e para ele retornareis."

L
Jesus disse: "Se vos perguntarem: ‘De onde vindes?’ respondei: ‘Viemos da luz, do lugar onde a luz nasceu dela mesma, estabeleceu-se e tornou-se manifesta por meio de suas imagens’. Se vos perguntarem: ‘Vós sois isto?’ digam: ‘Nós somos seus filhos e somos os eleitos do Pai vivo’. Se vos perguntarem: ‘Qual é o sinal de vosso Pai em vós?’, digam a eles: ‘É movimento e repouso’."

LI
Seus discípulos disseram-lhe: "Quando ocorrerá o repouso dos mortos e quando virá o novo mundo?"

Ele disse-lhes: "Aquilo que esperais já chegou, mas não o reconheceis."

LII
Seus discípulos disseram-lhe: "Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos falaram de ti."

Ele disse-lhes: "Omitistes aquele que vive em vossa presença e falastes dos mortos."

LIII
Seus discípulos disseram-lhe: "A circuncisão é benéfica ou não?"

Ele disse-lhes: "Se ela fosse benéfica, os pais gerariam filhos já circuncisos de sua mãe. Mas a verdadeira circuncisão, a espiritual, tornou-se inteiramente proveitosa."

LIV
Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres, pois vosso é o Reino do céu."

LV
Jesus disse: "Aquele que não odiar seu pai e sua mãe não poderá se tornar meu discípulo. E quem não odiar seus irmãos e irmãs e tomar sua cruz, como eu, não será digno de mim."

LVI
Jesus disse: "Aquele que conseguiu compreender o mundo encontrou (somente) um cadáver, e quem encontrou um cadáver é superior ao mundo."

LVII
Jesus disse: "O Reino do Pai é semelhante ao homem que tem [boa] semente. Seu inimigo veio durante a noite e semeou joio por cima da boa semente. O homem não deixou que arrancassem o joio, dizendo: ‘temo que acabeis arrancando o joio e também o trigo junto com ele. No dia da colheita as ervas daninhas estarão bem visíveis e serão, então, arrancadas e queimadas."

LVIII
Jesus disse: "Bem-aventurado o homem que sofreu e encontrou a vida."

LIX
Jesus disse: "Prestai atenção àquele que vive enquanto estais vivos, para que, ao morrerdes, não fiqueis procurando vê-lo sem conseguir."

LX
Eles viram um samaritano carregando um cordeiro a caminho da Judéia. Ele disse a seus discípulos: "Por que o homem está carregando o cordeiro?"

Eles disseram-lhe: "Para matá-lo e comê-lo."

Ele disse-lhes: "Enquanto o cordeiro estiver vivo, ele não o comerá, mas somente depois que o tiver matado e que o cordeiro se tornar um cadáver."

Eles disseram-lhe: "Ele não poderia fazer de outro modo."

Ele disse-lhes: "Vós, também, buscai um lugar para vós no repouso, a fim de que não vos torneis um cadáver e sejais devorados."

LXI
Jesus disse: "Dois repousarão sobre um leito: um morrerá, o outro viverá."
Salomé disse: "Quem és tu homem, e de quem és filho? Tu te acomodaste em meu banco e comeste à minha mesa?"

Jesus disse-lhe: "Eu sou aquele que existe a partir do indivisível. Recebi coisas de meu pai."
[ ... ] "Eu sou seu discípulo."
[ ... ] "Por isso digo que, se for destruído, ele estará pleno de luz, mas, se ele estiver dividido, estará pleno de trevas."

LXII
Jesus disse: "Eu digo meus mistérios aos [que são dignos de meus] mistérios. Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita."

LXIII
Jesus disse: "Havia um rico que tinha muito dinheiro. Ele disse:
‘Empregarei meu dinheiro para semear, colher, plantar e encher meu celeiro com o fruto da colheita, para que não me venha a faltar nada’. Essas eram suas intenções, mas naquela mesma noite ele morreu. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça."

LXIV
Jesus disse: "Um homem tinha convidados. E quando a ceia estava pronta, mandou seu servo chamar os convidados. O servo foi ao primeiro e disse-lhe: ‘Meu mestre te convida’. O outro respondeu: ‘Tenho dinheiro aplicado com alguns comerciantes. Eles virão me procurar esta noite para que eu lhes dê minhas instruções. Apresento minhas desculpas por não ir à ceia.

O servo foi até outro e disse: ‘Meu senhor está te convidando’. Este disse-lhe: ‘Acabo de comprar uma casa e precisam de mim hoje. Não terei tempo’.

O servo foi a outro e disse-lhe: ‘Meu senhor está te convidando’. Este disse-lhe: ‘Um amigo vai se casar e coube-me preparar o banquete. Não poderei ir à ceia, peço ser desculpado.

O servo foi a outro ainda e disse-lhe: ‘Meu senhor está te convidando’. Este disse-lhe: ‘Acabo de comprar uma fazenda e estou saindo para buscar o rendimento. Não poderei ir, por isso me desculpo’.

O servo retornou e disse a seu senhor: ‘Os que convidaste para a ceia mandam pedir desculpas’.  O senhor disse ao servo: ‘Vai lá fora pelos caminhos e traze os que encontrares para que possam ceiar. Os homens de negócios e mercadores não entrarão no recinto de meu Pai’."

LXV
Ele disse: "Um homem de bem tinha uma vinha. Ele a alugou a camponeses para que cuidassem dela e pagassem-lhe com uma parte da produção. Ele enviou seu servo para que os arrendatários entregassem-lhe o fruto da vinha. Eles pegaram seu servo e o espancaram, deixando-o à beira da morte. O servo voltou e contou a seu senhor o ocorrido. O senhor disse: ‘Talvez não o tenham reconhecido’. Ele enviou outro servo. Os camponeses também o espancaram. Então o proprietário enviou seu filho e disse: ‘Talvez eles tenham respeito por meu filho’. Como os camponeses sabiam que aquele era o herdeiro da vinha, pegaram-no e mataram-no.

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."

LXVI
Jesus disse: "Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram; ela é a pedra angular."

LXVII
Jesus disse: "Se alguém que conhece o todo ainda sente uma deficiência pessoal, ele é completamente deficiente."

LXVIII
Jesus disse: "Bem-aventurados os que são odiados e perseguidos. Mas os que vos perseguirem não encontrarão lugar."

LXIX
Jesus disse: "Bem-aventurados aqueles que foram perseguidos em seu interior. São eles que realmente conheceram o pai. Bem-aventurados os famintos, porque se encherá o ventre de quem tem desejo."

LXX
Jesus disse: "Aquilo que tendes vos salvará se o manifestardes. Aquilo que não tendes em vosso interior vos matará se não o tiverdes dentro de vós."

LXX1
Jesus disse: "Destruirei esta casa e ninguém será capaz de reconstruí-la
[...]"

LXXII
[Um homem disse-lhe]: "Dize a meus irmãos para que partilhem os bens de meu pai comigo."

Ele lhe disse: "Ó, homem, quem me institui partilhador?"

Voltando-se para seus discípulos, disse-lhes: "Eu não sou um partilhador, sou?"

LXXIII
Jesus disse: "A colheita é grande mas os operários são poucos. Portanto, implorai ao senhor para que envie operários para a colheita."

LXXIV
Ele disse: "Ó senhor, há muitas pessoas ao redor do bebedouro, mas não há nada na cisterna."

LXXV
Jesus disse: "Muitos estão aguardando à porta, mas são os solitários que entrarão na câmara nupcial."

LXXVI
O Reino do pai é semelhante ao comerciante que tinha uma consignação de mercadorias e nelas descobriu uma pérola. Esse comerciante era astuto. Ele vendeu as mercadorias e adquiriu a pérola maravilhosa para si. Vós também deveis buscar esse tesouro indestrutível e duradouro, que nenhuma traça pode devorar nem o verme destruir."

LXXVII
Jesus disse: "Eu sou a luz que está sobre todos eles. Eu sou o todo. De mim surgiu o todo e de mim o todo se estendeu. Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai a pedra e me encontrareis lá."

LXXVIII
Jesus disse: "Por que viestes ao deserto? Para ver um caniço agitado pelo vento? E para ver um homem vestido com roupas finas como vosso rei e vossos homens importantes? Esses usam roupas finas, mas são incapazes de discernir a verdade."

LXXIX
Uma mulher na multidão disse-lhe: "Bem-aventurado o ventre que te portou e os seios que te nutriram."

Ele disse-lhe: "Bem-aventurados os que ouviram a palavra do Pai e que realmente a guardaram. Pois virão dias em que direis: "Bem-aventurado o ventre que não concebeu, e os seios que não amamentaram."

LXXX
Jesus disse: "Aquele que reconheceu o mundo encontrou o corpo, mas aquele que encontrou o corpo é superior ao mundo."

LXXXI
Quem enriqueceu, torne-se rei, mas quem tem poder que possa renunciar a ele."

LXXXII
Jesus disse: "Aquele que está perto de mim está perto do fogo, e aquele que está longe de mim está longe do Reino."

LXXXIII
Jesus disse: "As imagens manifestam-se ao homem, mas a luz que está nelas permanece oculta na imagem da luz do Pai. Ele tornar-se-á manifesto, mas sua imagem permanecerá velada por sua luz."

LXXXIV
Jesus disse: "Quando vedes vossa semelhança, vós vos rejubilais. Mas, quando virdes vossas imagens que surgiram antes de vós, e que não morrem nem se manifestam, quanto tereis de suportar!"

LXXXV
Jesus disse: "Adão surgiu de um grande poder e de uma grande riqueza, mas ele não se tornou digno de vós. Pois, se tivesse sido digno, não teria experimentado a morte."

LXXXVI
Jesus disse: "[As raposas têm suas tocas] e as aves têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem nenhum lugar para pousar sua cabeça e descansar."

LXXXVII
Jesus disse: "Miserável do corpo que depende de um corpo e da alma que depende desses dois."

LXXXVIII
Jesus disse: "Os anjos e os profetas virão a vós e darão aquelas coisas que já tendes. E dai vós também a eles as coisas que tendes e dizei a vós mesmos: ‘Quando virão tomar o que é deles?’"

LXXXIX
Jesus disse: "Por que lavais o exterior da taça? Não compreendeis que aquele que fez o interior é o mesmo que fez o exterior?"

XC
Jesus disse: "Vinde a mim, pois meu jugo é fácil e meu domínio é suave, e encontrareis repouso para vós."

XCI
Eles disseram-lhe: "Dize-nos quem tu és, para que possamos crer em ti."

Ele disse-lhes: "Vós decifrastes a face to céu e da terra, mas não reconhecestes aquele que está diante de vós e não soubestes perceber este
momento."

XCII
Jesus disse: "Buscai e encontrareis. No entanto, aquilo que me perguntastes anteriormente e que não vos respondi então, agora desejo vos dizer mas vós não me perguntais sobre aquilo."

XCIII
[Jesus disse]: "Não deis aos cães o que é sagrado, para que eles não o joguem no lixo. Não atireis pérolas aos porcos, para que eles ..."

XCIV
Jesus [disse]: "Quem busca, encontrará, e [quem bate] terá permissão para entrar."

XCV
[Jesus disse]: "Se tendes dinheiro, não o empresteis a juro, mas dai-o àquele de quem não o recebereis de volta."

XCVI
Jesus disse: "O Reino do Pai é como [uma certa] mulher. Ela tomou um pouco de fermento, [escondeu-o] na massa, e fez com ela grandes pães.

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"

XCVII
Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma certa mulher que estava carregando um cântaro cheio de farinha. Enquanto estava caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e percebeu que ele estava vazio."

XCVIII
Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão poderia realizar a tarefa.
Então ele matou o homem poderoso."

XCIX
Os discípulos disseram-lhe: "Teus irmãos e tua mãe estão aguardando lá fora."
Ele disse-lhes: "Estes que estão aqui que fazem a vontade de meu Pai são meus irmãos e minha mãe. São eles que entrarão no Reino de meu Pai."

C
Eles mostraram uma moeda de ouro a Jesus e disseram-lhe: "Os homens de César exigem-nos tributos."
Ele disse-lhes: "Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de
Deus, e dai a mim o que é meu."

CI
[Jesus disse]: "Quem não odeia seu [pai] e sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. E quem não ama seu [pai e] sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. Porque minha mãe [ ... ], mas [minha] verdadeira [mãe] deu-me a vida."

CII
Jesus disse: "Ai dos fariseus, porque eles são como um cachorro dormindo na manjedoura dos bois, pois eles não comem nem permitem que os bois comam."

CIII
Jesus disse: "Feliz do homem que sabe por onde os ladrões vão entrar, porque dessa forma [ele] pode se levantar, passar em revista seu domínio e armar-se antes deles invadirem."

CIV
Eles disseram a Jesus: "Vem, oremos e jejuemos hoje."
Jesus disse: "Qual foi o pecado que cometi ou em que fui vencido?
Porém, quando o noivo deixar a câmara nupcial, então que eles jejuem e orem."

CV
Jesus disse: "Quem conhece o pai e a mãe será chamado filho de prostituta."

CVI
Jesus disse: "Quando fizerdes de dois, um, vos tornareis filhos do homem, e quando disserdes: ‘Montanha, move-te!’, ela se moverá."

CVII
Jesus disse: "O Reino é como um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas, a maior de todas, extraviou-se. Ele deixou as noventa e nove e foi procurá-la, até encontrá-la. Depois de ter passado por todo esse incômodo, ele disse à ovelha: ‘Eu me interesso por ti mais do que pelas noventa e nove’."

CVIII
Jesus disse: "Quem beber de minha boca tornar-se-á como eu. Eu mesmo me tornarei ele, e as coisas que estão ocultas ser-lhe-ão reveladas."

CIX
Jesus disse: "O Reino é como o homem que tinha um tesouro [escondido] em seu campo sem saber. Após sua morte, deixou o campo para seu [filho]. O filho não sabia [a respeito do tesouro]. Ele herdou o campo e o vendeu. O comprador ao arar o campo encontrou o tesouro. Começou então a emprestar dinheiro a juros a quem queria."

CX
Jesus disse: "Quem encontrou o mundo e tornou-se rico, que renuncie ao mundo."

CXI
Jesus disse: "Os céus e a terra se dobrarão diante de vós. E aquele que vive do Vivo não conhecerá a morte. Jesus não disse: ‘Quem se encontra é superior ao mundo?’"

CXII
Jesus disse: "Ai da carne que depende da alma; ai da alma que depende da carne."

CXIII
Seus discípulos disseram-lhe: "Quando virá o Reino?"
[Jesus disse]: "Ele não virá porque é esperado. Não é uma questão de dizer: ‘eis que ele está aqui’ ou ‘eis que está ali’. Na verdade, o Reino do Pai está espalhado pela terra e os homens não o vêem."

CXIV
Simão Pedro disse-lhes: "Que Maria saia de nosso meio, pois as mulheres não são dignas da vida." Jesus disse: "Eu mesmo vou guiá-la para torná-la macho, para que ela também possa tornar-se um espírito vivo semelhante a vós machos. Porque toda mulher que se tornar macho entrará no Reino do Céu."




NOTA (1)

Os livros do Novo Testamento, pelo grau de credibilidade são classificados em:

Canônico que são aqueles que são livros inspirados por Deus;

Protocanônicos que são livros catalogados em primeiro lugar, ou sempre catalogados;

Deuterocanônicos que são livros catalogados em segunda instâncias, depois de haver uma modificação nos seus termos para se adequar a fé cristã e finalmente os

Apócrifos que são livros ocultos, isto é, não lidos nas assembléias públicas de culto, reservado à leitura particular. Em conseqüência, livro não canônico, não catalogado, embora tenha aparência de livro canônico (Evangelho segundo Tomé, Evangelho da Infância, Assunção de Moisés...)