sábado, 23 de março de 2013

D E U S

A fé humana ultrapassa a discussão da existência dele.


No teto da Capela Sistina, em Roma, Ele tem a forma de um senhor barbado e grisalho, de corpo musculoso e rosto sereno que transmite a segurança e a autoridade de quem sabe que está acima de tudo. Já em rituais xamânicos de origem indígena, Sua força se manifesta nas plantas e nos animais e pode ser sentida por todos aqueles que mantêm relações com a natureza. Para 750 milhões de hindus, não há um só, mas vários Deles: Brahma, Shiva e Krishna, só para ficar nos mais famosos.



Não importa como é retratado, se como homem, luz ou apenas uma energia que emana sobre nós, o fato é que Deus está presente em quase todas as culturas do planeta. Em diferentes religiões e crenças, é freqüente a idéia da existência de uma força maior que ajuda os homens a se guiarem, seja nesta ou em outras vidas.


Durante séculos, na sociedade ocidental, Deus foi apresentado como o único responsável pelo sucesso da aventura humana na Terra. Até que a ciência começou a duvidar disso. Por volta de 1860, Charles Darwin e suas teorias da seleção natural e da evolução das espécies lançaram as primeiras dúvidas sobre a criação divina. A partir daí, cientistas começaram a negar à fé e à religião a possibilidade de explicar sozinha todos os fenômenos naturais. No século 20, filósofos como Nietzsche, Marx, Freud e Sartre chegaram a propor a “morte de Deus” e o início de uma “era da razão”. 

A idéia levanta polêmicas até hoje no mundo inteiro, mas não conseguiu diminuir a fé das pessoas, que passa atualmente por um processo de revitalização, até mesmo entre cientistas. Se Deus existe ou não, cabe a cada um decidir. A pergunta é, no entanto, tão interessante que um inusitado estudo matemático foi realizado há menos de 10 anos na tentativa de respondê-la. Em The Probability of God (A Probabilidade de Deus), o físico inglês Stephen Unwin revela que, segundo seus cálculos, Deus tem 67% de chances de existir!


Na obra, Unwin mostra com equações como chegou a essa conclusão, baseando-se para isso no chamado cálculo bayesiano, que começa com uma probabilidade de 1 para 1 e, depois, vai somando as evidências contra ou a favor da afirmação inicial. Ajudar os pobres? Ponto para o mundo onde Deus existe. Assassinos em série e políticos do mal que roubam de pobrezinhos? Hum, talvez Deus seja apenas imaginação de alguns... e por aí vai. O curioso é que o livro vem acompanhado de várias planilhas de Excel para que o leitor vá colocando suas respostas. Se o físico Stephen Unwin é doido ou oportunista, não vem ao caso. Mas não deixa de ser mais um jeito bastante interessante de continuarmos a refletir a respeito de uma das mais intrigantes questões humanas.



terça-feira, 19 de março de 2013

DEUS USA VOCÊ PARA ASSASSINAR PESSOAS INFIÉS.



"Tudo o que a humanidade sofreu com as guerras, com a pobreza, com a pestilência, com a fome, com o fogo e com o dilúvio, todo o pavor e toda a dor de todas as doenças e de todas as mortes – tudo isso se reduz a nada quando posto lado a lado com as agonias que se destinam às almas perdidas. Este é o consolo da religião cristã. Esta é a justiça de Deus – a misericórdia de Cristo. Este dogma aterrorizante, esta mentira infinita: foi isto que me tornou um implacável inimigo do cristianismo. A verdade é que a crença na danação eterna tem sido o verdadeiro perseguidor. Fundou a Inquisição, forjou as correntes e construiu instrumentos de tortura."

Robert Green Insersoll

...


VELHO TESTAMENTO - JUDAÍSMO


- “Porém, das cidades destas nações, que o Senhor, teu Deus, te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. Antes, destrui-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos fereseus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor, teu Deus” (Dt 20.16,17; cf. Nm 33.51-53).



- MATE  aquele que adorar outros deuses – (Êxodo 22:20)



- MATE cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. (Êxodo 32:27)




- MATE amigos e familiares que adorarem outros deuses diferentes do teu – (Deuteronômio 13:6-10)




 - (Deuteronômio 13.6-8) “Se teu IRMÃO, o filho de tua mãe. Ou teu FILHO, ou tua FILHA, ou tua ESPOSA a quem trazes no teu seio. Ou teu AMIGO a quem amas como a tua alma, te quiser persuadir, dizendo-te em segredo, vamos servir outros Deuses... TENS O DEVER DE MATAR... Apedrejá-lo-ás porque ele quis apartar-te do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito da casa da servidão.”




- MATE todos os habitantes de qualquer cidade que encontre que adore outro deus diferente do teu – (Deuteronômio 13:12-16)




- MATE a qualquer que tenha uma religião diferente da sua – (Deuteronômio 17:2-7)




- MATE os blasfemos. (Levíticos 24:16)




- MATE qualquer que se negue a unir a um sacerdote – (Deuteronômio 17:12-13)


- MATE todo e qualquer homem ou animal que porventura suba no Monte Sinai – (Êxodo 19:12 e 13)

- MATE o homem que se deitar com outro – (Levítico 20:13 e Deuteronômio 17:2)




- MATE seu filho se ele o desrespeitar, for desobediente e beberrão. (Deuteronômio 21:18-21)



  
-  MATE quem apanhar lenha no dia de sábado. (Números 15:35)




- MATE a feiticeira (Êxodos, 22:18)











- MATE o mentiroso (Salmos 5.6)



- MATE o boi que escornear um homem ou uma mulher. (Exo 21:28 )




-  MATE o dono do boi que escorneou um homem ou uma mulher. (Êxodo 21:29)




-  MATE velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, até exterminá-los; (Ezequiel 9:6)




- MATE quem se aproximar da tenda da congregação, para administrar o ministério do tabernáculo. (Números 3:10 e 38)

- MATE a noiva que enganou seu noivo dizendo ser virgem. (Deuteronômio 27:20,21)
 


- MATE a mulher que for estuprada na cidade, e não gritar alto suficiente. (Deuteronômio 22:23-24)




- MATE o homem que se deitar com uma mulher casada. (Levítico 20:10)

- MATE a mulher casada que se deitar com outro homem. (Levítico 20:10)

MATE com fogo a filha de um sacerdote que começar a prostituir-se. (Levítico 21:9)





- MATE  todo aquele que invocar espíritos de necromancia ou adivinhação. (Levíticos 20:27)



- MATE  seu filho ou filha que profetizarem mentiras em nome do Senhor. (Zacaria 13:3)


NÚMEROS 31

E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:

Vinga os filhos de Israel dos midianitas; depois recolhido serás ao teu povo.

Falou, pois, Moisés ao povo, dizendo: Armem-se alguns de vós para a guerra, e saiam contra os midianitas, para fazerem a vingança do Senhor contra eles.

Números 31:1-3
Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele.
Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.

Números 31:17,18
E disse Eleazar, o sacerdote, aos homens da guerra, que foram à peleja: Este é o estatuto da lei que o Senhor ordenou a Moisés.


A VINGANÇA DE DEUS CONTRA OS POVOS INIMIGOS SE REPETE SOBRE O COMANDO DE JOSUÉ


Seguindo orientação e ajuda de Deus, Josué destroi a cidade de Jericó e tudo quanto havia na cidade, mataram desde o homem até a mulher, desde o menino até o velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento (josué 1-6:21). Para que todos os povos da terra conheçam a mão de Deus, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias. (Josué 4:24)


“Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido” Josué 2:8.

Leitura sujerida
Quem matou mais, Deus ou o Diabo?




segunda-feira, 18 de março de 2013

DEUS PAROU O SOL ?



por Bert THompson, PhD 



No décimo capítulo do Velho Testamento do Livro de Josué, está relatado que o Sol "parou". Circula, com freqüência, a história de que cientistas da NASA, usando computadores para calcular as órbitas da Terra e do Sol, encontraram o que seria um "dia perdido". Depois de muitos exames, esses cientistas usaram seus computadores para descobrir o dia que faltava, provando que o registro bíblico é correto. Essa história é verdadeira?


De tempos em tempos, histórias como essa que foi descrita acima aparecem – em boletins e publicações religiosas ou mesmo na Internet – como se fossem factuais e verdadeiras. Não há dúvidas de que aqueles que a propagaram a conhecem intimamente e a têm como seu último baluarte de defesa da Bíblia contra as fundas e flechas dos infiéis. Contudo, ela não é verdadeira. As investigações revelam os detalhes que se seguem.


Histórias similares têm circulado por mais de meio século. No seu livro de 1936 – "A Harmonia da Ciência e Escritura", Harry Rimmer dedicou o último capítulo inteiro à "Moderna Ciência e o Longo Dia de Josué". Nessa discussão, Rimmer reconta a história bíblica de como Deus fez o Sol parar (Josué 10), e então faz as seguintes declarações concernentes ao milagre: "O testemunho final da ciência é que tal dia está faltando no registro do tempo. Por mais que o tempo se prolongue, o registro deste dia deve permanecer. O fato é atestado por eminentes homens de ciência, dois dos quais eu cito aqui". (1936, p. 280)


Dr. Rimmer então menciona dois cientistas – Sir Edwin Ball, um astrônomo britânico, e Charles A. I. Totten, um professor de Yale. Ele informa ter sido Ball o primeiro a noticiar que "quarenta e quatro horas foram perdidas no tempo solar". Rimmer então faz a pergunta: "Para onde eles foram, o que foi que causou esse estranho lapso, e como ele aconteceu? (p. 280). Rimmer então oferece o que ele chamou de sumário do livro de Totten onde, ele diz, a informação poderia ser encontrada para provar exatamente como o dia perdido foi descoberto. Rimmer dá até o dia e o mês exatos no qual a batalha de Josué foi travada – Quarta-feira, 22 de Julho (p.226).


Antes de responder a questão de que os cientista da NASA alegadamente descobriram o "dia perdido" de Josué, deixe-me fazer várias observações sobre esta antiga versão (da qual a mais nova obviamente foi adaptada – com considerável embelezamento).


Primeiro, Rimmer especificamente declara que está fazendo uma citação de Ball e Totten, apesar de nenhuma das declarações que fez terem sido colocadas entre aspas. Segundo, o livro de 1890 que Totten escreveu ("O Longo Dia de Josué e o Relógio do Sol de Ahaz")  nunca foi citado por Rimmer, o que parece um pouco estranho, considerando que Rimmer devotou um capítulo inteiro sobre o assunto no seu próprio livro.


Terceiro, não há referências bibliográficas de Rimmer sobre os trabalhos de Ball e Totten – novamente pouco usual, uma vez que Rimmer baseia toda sua argumentação na validade dos declarações daqueles autores.


Quarto, inúmeros outros escritores têm feito sérios esforços para determinar a validade da afirmação de Rimmer, tanto quanto aquelas de Ball e Totten, mas sem sucesso. Por exemplo, Bernard Ramm, no livro "A Visão Cristã da Ciência e das Escrituras",  discute o ponto-de-vista de Dr. Rimmer e sua referência a Totten. Ramm incluiu suas conclusões pessoais considerando a documentação oferecida por Rimmer, Totten e Ball nomenclatura bem escolhida. Ele observou: "Isso eu não fui capaz de verificar para minha própria satisfação… Dr. Kulp tentou checar essa teoria em Yale [empregador de Totten] e na Inglaterra [residência de Sir Edwin Ball], e não encontrou nada que verificasse isso". (1959, página 109 a 117).


Não há dúvidas que o próprio Rimmer acreditou na veracidade da história. Mas a documentação que deveria ter servido como prova estava, seriamente e obviamente, faltando.


Como tal história se originou é muito mais difícil de saber do que como ela circula. Quando uma história é "corroborada" com o nomes de pessoas de credibilidade e fatos relevantes, o povo não se preocupa em investigá-la. Uma vez aceita, ela então é usada no que o crédulo na Bíblia vê como um justa defesa da palavra de Deus.


Com todas as evidências agora disponíveis, a história de Ball, Totten e Rimmer simplesmente não são verdadeiras, e não podem mais ser usadas nem em defesa da Bíblia nem na defesa da palavra de Deus. O mesmo pode ser dito acerca da versão moderna da história. Novamente, alguns fatos anteriores são necessários. Quando o relato, da maneira como fez o Dr, Rimmer, foi publicado pela primeira vez, causou aparentemente grande excitação, e foi aceita sem contestação por aqueles que estavam ansiosos em mostrar como a ciência "comprova" uma verdade bíblica. Depois que essa excitação inicial diminuiu, a história foi esquecida, ou deixada de lado, e eventualmente relegada na pilha de relíquias da história. Sua permanência lá, contudo, foi breve. Alguém (até agora ninguém sabe quem) redescobriu a história, tirou fora a poeira, deu a ela algum embelezamento (sem dúvida para fazê-la mais de acordo com os conhecimentos científicas modernos), colocou nomes (de indivíduos, empresas e cidades), e então, intencionalmente, embutiu nela referência a uma agência governamental bastante popular, que foi/é bastante conhecida pelo público (a NASA – Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço). Com a reedição da história agora completa, colocou nela uma credibilidade que poucos pensaram em duvidar ou questionar.


A versão moderna da história sugere que cientista da NASA, no Goddard Space Flight Center, em Greenbelt, Maryland, estavam usando computadores sofisticados para plotar posições do Sol, da Lua e outros planetas, 100, 1000 anos no futuro, para calcular as trajetórias de naves espaciais. Subitamente os computadores pararam completamente. Porque desligaram, eles tinham descoberto o "dia perdido" no tempo. Os técnicos não sabiam como corrigir o problema. Mas um dos cientistas presentes, havia freqüentado a escola dominical quando era criança, e lembrava-se da história na qual Deus fez o Sol parar por aproximadamente um dia. Quando ele sugeriu isso como uma possível solução, os outros cientistas o ridicularizaram. Contudo esses mesmos cientistas abriram a Bíblia em Josué 10 e leram a história.


Os técnicos então alimentaram os computadores com os novos dados (cuidadosamente fabricados no "dia perdido" de Josué), e as máquinas uma vez mais passaram a funcionar perfeitamente — ou quase. Os computadores subitamente pararam, mais uma vez, porque eles não haviam descoberto um dia completo; alguma coisa estava faltando. Aparentemente (assim diz a história) os computadores encontraram somente 23 horas e 20 minutos. Em outras palavras, 40 minutos ainda estavam faltando. Mas o cientista da escola dominical sugeriu a resposta a esse enigma. Ele lembrou-se que na Bíblia, em 2 Reis 20, havia uma narrativa em que o Rei Ezekias, tendo sido prometida a suspensão da sua morte, teria pedido um sinal do céu. Deus então fez o Sol se mover dez graus para trás – ou exatamente 40 minutos! Essa informação foi colocada nos computadores, e a partir de então eles passaram a funcionar normalmente.


Essa mentira foi amplamente divulgada na década de 60 e início de 70 como resultado dos esforços de Harold Hill, então presidente da Curtis Engine Company em Halenthorpe (Baltimore), Maryland. No seu livro de 1974, "Como viver como filho de um rei", Hill devotou um capítulo inteiro à estória (páginas 65-77), e explicou como ela foi difundida. Ele declarou que na ocasião falou para estudantes secundaristas e universitários sobre assuntos relacionados à Bíblia e à ciência, e que a estória do "dia que faltou" da NASA foi uma das que ele falou com mais freqüência (páginas 65-66). De alguma maneira (mesmo Hill nunca soube como), Mary Kathryn Bryan, uma colunista do Evening World, de Spencer, Indiana, recebeu um relato por escrito da estória de Hill e o publicou em sua coluna.


Mais tarde, Hill observou, "vários noticiários pegaram a estória e ela apareceu em centenas de lugares" (página 69, no original). Ao relato, sem dúvida, foi proporcionado uma certa quantidade de credibilidade embutida, quando Hill sugeriu, relativamente ao programa espacial em Goddard: "Eu estava envolvido desde o início, através de arranjos contratuais com minha empresa" (1974, página 65). [Quando isso foi verificado, viu-se que a conexão de Hill com a NASA era, na melhor das hipóteses, tênua; sua empresa nunca teve nenhum contrato para prestar serviços em geradores elétricos em nenhuma agência governamental. Ele nunca foi contactado de nenhuma maneira para missões de operação ou planejamento].


Todos os esforços para confirmar a origem da história falharam. Depois que um artigo sobre o assunto apareceu, em Abril de 1970, no "Bible-Science Newsletter", vários leitores da revista escreveram a Hill. Num artigo subseqüente, a revista fez menção ao fato de que, depois que o artigo foi publicado em 1970, alguns leitores finalmente receberam uma carta de Hill na qual ele declarava não ter sido o criador da estória. No seu livro publicado em 1974, ele confessa não haver testemunhado o incidente da NASA pessoalmente, e afirmou ainda que não podia se lembrar quando nem onde foi a primeira vez que a ouviu, mas insistiu que "minha incapacidade de fornecer documentação do incidente do ‘dia que faltou’, de maneira nenhuma diminui sua autenticidade" (página 71).


O artigo publicado na edição de Julho de 1989 na revista "Bible-Science Newsletter" reportou que


Dr. Bolton Davidheiser escreveu para o escritório da NASA em Greenbelt, Maryland, onde o fato supostamente ocorreu. Eles responderam que não sabiam nada sobre o senhor Harold Hill e não podiam corroborar as referências sobre o "dia perdido"… No concludente parágrafo da carta da NASA lê-se: ‘Apesar de fazermos uso de posições planetárias como fator necessário para a determinação das órbitas das naves espaciais em nossos computadores, não descobrimos que nenhum astronauta ou cientista espacial em Greenbelt estivesse envolvido na estória do "dia perdido" atribuída ao Sr. Hill’ (Bartz, 1989, página 12).


A origem da história é dúbia na melhor das hipóteses (e espúria na pior). Os fatos, onde verificáveis, estão incorretos. E aqueles alegadamente envolvidos no encontro do "dia perdido" de Josué admitem não saberem nada sobre tais eventos. Outrossim, qualquer pessoa que afirme que os comutadores, de alguma maneira, podem "encontrar" um dia "perdido" erra por não entender como os computadores funcionam. Como comentou Paul Bartz:


"Computadores não são máquinas mágicas que podem adivinhar coisas que estão escondidas das pessoas. Maravilhosas como elas são, estão limitadas aos conhecimentos que damos a elas. Computadores dependem de nós para adquirirem conhecimento. Enquanto um computador pode ser usado para gerar um calendário, desde hoje até uma data distante no passado, o que não é uma prática incomum, um computador não pode nos dizer se algum tempo está faltando ou não. Na verdade, o computador teria que ser programado com todo tipo de ajustes, considerando várias mudanças no calendário ocidental, sobre os últimos dois mil anos. Simplificando, a estória é tecnicamente impossível, não interessando quão sofisticado seja seu computador" (1989, página 12).


A única conclusão que se pode chegar, respeitando os fatos disponíveis, é que essa história é falsa e não deve ser divulgada. Nós prestamos um desserviço à palavra de Deus quando tentamos "defendê-la" com estórias como essa que, com um pouco de senso comum e uma pequena quantidade de pesquisa, pode ser mostrada não ter nenhum fundamento factual, qualquer que seja ele. 


***

REFERÊNCIAS:

Bartz, Paul (1989), "Questions and Answers," Bible-Science Newsletter, 27[7]:12, July.

Hill, Harold (1974), How to Live Like a King’s Kid (South Plainfield, NJ: Bridge Publishing).

Ramm, Bernard (1954), The Christian View of Science and Scripture (Grand Rapids, MI: Eerdmans).

Rimmer, Harry (1936), The Harmony of Science and Scripture (Grand Rapids, MI: Eerdmans).

Totten, Charles A.L. (1890), Joshua’s Long Day and the Dial of Ahaz (New Haven, CT: Our Race Publishing Co.).


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domingo, 10 de março de 2013

DEUS NÃO É AMOR

As diferenças entre Jesus e Javé,
na leitura do crítico Harold Bloom 

Jerônimo Teixeira
  



A influência é o tema obsessivo de Harold Bloom. Desde A Angústia da Influência, de 1973, o crítico literário americano vem construindo uma elaborada teoria em que os embates titânicos entre um escritor em busca de originalidade e seus grandes antecessores constituem a mola mestra que impulsiona toda a literatura ocidental. 

Jesus e Javé – Os Nomes Divinos (tradução de José Roberto O'Shea; Objetiva; 276 páginas; 35,90 reais), que está chegando às livrarias brasileiras, pode ser lido como um exame da matriz de todos os casos de influência: a relação entre o Novo Testamento cristão e a Bíblia hebraica. Os teólogos cristãos diriam que, nesse caso, não existem angústia nem influência: o Novo Testamento é apenas a coroação natural do Antigo.

Grande parte de Jesus e Javé é dedicada a derrubar essa idéia, a partir de comparações entre os dois personagens do título. Embora a análise de Bloom se prenda à letra do texto bíblico, suas implicações ultrapassam o campo estrito da literatura – e até da religião. Com sua verve polêmica, o autor afronta um arraigado lugar-comum: o de que existe uma "tradição judaico-cristã". "Isso é um mito usado para fins políticos, e eu detesto intensamente a política", disse o crítico a VEJA. "Não existe nenhuma continuidade entre o judaísmo e o cristianismo." 

O cristianismo, afirma Bloom, reorganizou a Bíblia hebraica para transformá-la em uma espécie de preâmbulo da salvação cristã – o Antigo Testamento. Os profetas, por exemplo, foram deslocados do centro da Bíblia hebraica para o fim do Antigo Testamento, imediatamente antes dos Evangelhos – e essa mudança simples transformou-os em arautos da vinda de Jesus. Mas a junção dos dois Testamentos é, segundo o crítico, artificial. Escrito em grego, o Novo Testamento – e em especial as epístolas de São Paulo – tem dívidas com o pensamento helênico.

A idéia de um Deus Pai etéreo e espiritual, que se consolidou na tradição cristã, tem mais afinidade com a filosofia idealista de Platão do que com a imagem hebraica da divindade. Javé, o Deus hebraico, era um personagem muito humano. Seu poder é incomensurável, mas ele tem uma realidade corpórea muito palpável. Divide uma refeição com Abraão na tenda desse patriarca e se apresenta para Josué como um guerreiro de espada em punho.

Esse Deus caprichoso e violento não é o objeto de estudo da teologia, disciplina abstrata inventada pelos gregos. E tampouco é uma divindade amorosa como aquela que os cristãos cultuam: em certas passagens da Bíblia, a distância que ele mostra em relação ao seu povo escravizado por invasores estrangeiros justifica o apelido que o poeta inglês William Blake – um dos favoritos de Bloom – lhe deu: Nobodaddy, palavra composta que se traduziria mais ou menos como "pai de ninguém".

É claro que Jesus também tem uma personalidade muito humana, que em alguns pontos até pode ser aproximada de Javé – especialmente no Evangelho de São Marcos. O exame que Bloom faz desse livro revela um personagem muito diferente daquele consolidado pela fé: um profeta enigmático, que cultiva o silêncio. Jesus mostra muito pouco afeto por seus discípulos, que parecem escolhidos por sua incapacidade de entender o que o mestre prega – em um dos lances mais excêntricos e iconoclastas do livro, Bloom diz que o brutamontes Sylvester Stallone seria o ator ideal para interpretar o apóstolo Pedro no cinema.

A morte na cruz, porém, é o que separa definitivamente Javé e Jesus. O Deus temperamental da Bíblia hebraica jamais teria essa disposição para o sacrifício – ou, como diz Bloom, para o suicídio. Jesus e Javé, portanto, não são feitos da mesma substância, como prega a doutrina cristã. E o cristianismo ainda se afastaria da fé judaica ao instaurar o que seria de fato uma volta ao politeísmo: Deus Pai divide seu poder com o filho, o Espírito Santo – e até com a Virgem Maria. O judaísmo, portanto, estaria mais próximo do Islã, com sua crença unívoca em Alá, do que do cristianismo. "Mas é claro que ninguém hoje, seja muçulmano ou judeu, se sente disposto a falar em uma 'tradição judaico-islâmica'", diz Bloom.

A leitura de Jesus e Javé está destinada a incomodar os religiosos mais ortodoxos, sejam eles judeus ou cristãos. No entanto, Bloom não contesta uma só linha dos textos sagrados – apenas enfatiza certos aspectos que a fé normativa negligencia. Ele admira pensadores anti-religiosos como Nietzsche e Freud, mas não os segue até o fim na negação de qualquer idéia de divindade.

Bloom se define com um paradoxo: um judeu que não confia na Aliança firmada entre Deus e o seu povo. No epílogo do livro, ele se diz assombrado por pesadelos em que Javé aparece nas mais diversas formas, inclusive com a cara e o charuto de Freud. Javé e Jesus são figuras incontornáveis – respostas para uma sede de transcendência que nem mesmo a literatura de Shakespeare, tão amada por Bloom, parece suficiente para suprir.

Trecho de Jesus e Javé – Os Nomes Divinos, de Harold Bloom


PARTE I JESUS
Capítulo 1
Quem Foi Jesus e o que Ocorreu com Ele?


Não há fatos comprovados acerca de Jesus de Nazaré. Os poucos fatos que constam da obra de Flávio Josefo, fonte da qual todos os estudiosos dependem, são suspeitos, pois o historiador era José ben Matias, um dos líderes da Rebelião Judaica, que salvou a própria pele por ter bajulado os imperadores da Dinastia Flaviana: Vespasiano, Tito e Domício.

Depois que um indivíduo proclama Vespasiano como o Messias, ninguém deve mais acreditar no que tal pessoa escreve a respeito da sua própria gente. Josefo, mentiroso inveterado, assistiu, tranqüilamente, à captura de Jerusalém, à destruição do Templo e à matança dos habitantes.

Os especialistas afirmam que Josefo tinha pouco ou nada a ganhar com as informações fragmentadas acerca do galileu Josué (Yeshuá, em hebraico, Jesus, em grego), mas o historiador que traiu seu povo era tão sorrateiro que suas motivações (se é que as tinha) permanecem enigmáticas. Josefo esclarece que Jesus de Nazaré era filho de José e Maria (Míriam), e irmão de Jacó (Tiago), foi batizado por João, e depois passou a atrair pupilos, atuando como mestre sapiencial, sendo, finalmente, crucificado sob ordens do sátrapa romano, Pôncio Pilatos.

A leitura e reflexão sobre materiais aos quais tive acesso levam-me a duvidar que Jesus constasse da multidão de vítimas de Pilatos. O carismático rabino de Nazaré era perito em evasiva e equivocação, era também um hábil sobrevivente, desde a infância, quando os pais lhe disseram que, embora artesão, sua descendência o colocava em lugar de destaque na casa real de Davi, cuja prole carregava consigo a bênção insofismável de Javé.

Primogênito de pais davídicos, Jesus era candidato ao extermínio nas mãos dos seguidores de Herodes e outras autoridades romanas. Entre os judeus, nunca existira um Messias mais relutante e mais legítimo. A idéia de comandar uma guerra nacionalista contra os romanos e os brutamontes mercenários que lhes serviam contrariava, inteiramente, a natureza daquele gênio espiritual judaico, que, involuntariamente e, sem dúvida, infeliz por sê-lo, era o rei legítimo dos judeus.

Jesus não integrou a resistência, ao contrário do que, inicialmente, fez Josefo, embora viesse a abandonar os companheiros aguerridos, tais como Simão bar Giora e João de Gischala, líderes da Guerra Judaica contra Roma, salvando a pele, à custa da própria integridade e da estima dos judeus.

Tampouco dispomos de fatos comprovados sobre os ensinamentos de Jesus; sequer sabemos se ele teria nascido quatro anos antes do início da Era Comum, ou com que idade teria sido crucificado, levando em conta o registro cronológico de 33 anos.

Conforme reza a lenda, desconfio que fosse sábio o bastante para escapar da execução, e que tenha se dirigido ao norte helenizado da Índia, limite extremo das grandes conquistas de Alexandre, onde algumas tradições situam seu sepulcro.

Nesse particular, sigo a tradição gnóstica, simplesmente porque os ditos gnósticos de Jesus, no Evangelho de Tomé, parecem-me mais autênticos do que toda a gama de pronunciamentos atribuídos ao rabino de Nazaré nos Evangelhos Sinóticos e no mais-que-tardio Evangelho de João.

Não há uma sentença a respeito de Jesus, em todo o Novo Testamento, composta por alguém que tenha conhecido pessoalmente o relutante Rei dos Judeus, a menos que (suposição improvável) a Epístola de Tiago seja, com efeito, de autoria de Tiago, seu irmão, e não de um dos seguidores de Tiago, os ebionitas, ou "homens pobres", alguns dos quais sobreviveram ao holocausto de Jerusalém ao fugir para Pella, na Jordânia, obedecendo ao comando profético de Tiago.

Segundo os estudiosos, as epístolas de São Paulo datam de quarenta anos após a morte de Jesus, os Evangelhos têm datação fixada em cerca de uma geração posterior, e o sumamente helenístico (e quase gnóstico) Evangelho de João data de um século, ao menos, após o possível desaparecimento do mestre itinerante dos pobres e dos excluídos. Não há motivos razoáveis para se questionar o consenso dos especialistas, mesmo que outra pessoa não tenha sido crucificada no lugar de Jesus, conforme sugere, maliciosamente, a tradição gnóstica. Tiago, o Justo, líder dos judeu-cristãos de Jerusalém, na verdade poderia ter sido filho, ou até mesmo neto, de Jacó (Tiago), irmão do próprio Jesus.

Leitores de hoje em dia, quer cristãos, judeus ou muçulmanos, quer céticos ou fiéis, precisam voltar ao ponto de partida para decifrar a história secreta do pregador carismático que, agindo com sabedoria, declinou de se tornar Rei dos Judeus, mas que, ironicamente, talvez tenha sofrido como tal, nas mãos dos romanos.

Capítulo 2 As Buscas e os que Buscam Jesus

A menos que a pessoa atue como um profissional da busca de Jesus, cujo sustento, auto-respeito e saúde espiritual sejam uma questão de vocação, convém alterar quaisquer planos relativos à participação nesse estranho empreendimento. As advertências sensatas sobejam; uma das minhas favoritas é expressa pela sorrateira ironia expressa em um ensaio escrito por Jacob Neusner — homem imensamente erudito — e incluído em um livrinho contumaz por ele publicado sob o título Judaism in the Beginning of Christianity  (O judaísmo no início do cristianismo, 1984). No quarto capítulo, Neusner nos oferece "A Figura de Hillel: Contrapartida à Questão do Jesus Histórico". O admirável Hillel, contemporâneo de Jesus, foi um fariseu exemplar. Até mesmo uma obra honrosa, como o American Heritage College Dictionary (terceira edição, 1993), apresenta duas definições de "fariseu" absolutamente inúteis e inverídicas, e inaplicáveis a Hillel:

1. Membro de antiga seita judaica que enfatizava uma rígida interpretação e obediência à Lei de Moisés.

2. Pessoa hipócrita e moralista.

Não culpo os editores do mencionado dicionário. À exceção de Paulo e Marcos, o Novo Testamento difama, cruel e continuamente, os fariseus. No entanto, proponho que a primeira definição descarte a palavra "rígida" e a substitua por "santificante". Neusner demonstra que o grande Hillel, conquanto, sem dúvida, tenha existido, para todos os efeitos, é uma invenção de rabinos que viveram no século II da Era Comum (e mais tarde).

Hillel é o Jesus do judaísmo, de vez que Yeshuá de Nazaré, sem sombra de dúvida, existiu, mas, na prática, foi uma invenção do Novo Testamento. Recomendo o livro de Charlotte Allen, The Human Christ  (O Cristo humano, 1998), relato judicioso e inteligente (escrito por uma católica) da comédia humana que constitui "a busca do Jesus histórico". Ao aludir à "comédia humana" e a Balzac, não o faço por depreciação, apenas por lamentar que Balzac já não esteja conosco, para compor uma saga ficcional capaz de superar a pitoresca e infinda aventura retratada por Charlotte Allen e outros.

Temos um enxame de cristãos, de todas as denominações, judeus mais diversos, secularistas, romancistas (bons e ruins) e multidões que poderiam fazer parte de uma obra-prima de Balzac, se pudéssemos ressuscitar o mago da narrativa francesa, autor que eu, de todo o coração, aprecio mais do que Stendhal, Flaubert e Proust, ainda que a vivacidade de Stendhal, o talento artístico de Flaubert e a sabedoria de Proust superem Balzac.

A busca incessante do Jesus "verdadeiro", "histórico", não contaminado pelo dogma, é similar à minha incapacidade perpétua de apreender o protéico Vautrin, o mais vivaz personagem de Balzac, na interminável procissão de gênios que figuram na Comédia Humana. Vautrin é Balzac transformado em um homoerótico mestre do crime, conhecido como "Esquiva-Morte", tanto pela polícia quanto pelo submundo. Cada crítico/leitor vê o seu próprio Vautrin, e cada pesquisador que busca o Jesus "histórico", invariavelmente, descobre a si mesmo em Jesus. Como poderia ser diferente? Isso nada tem de deplorável, especialmente nos Estados Unidos, onde, ao longo dos últimos dois séculos, Jesus tem atuado como um protestante sem denominação específica.

 Se tal afirmação parece irônica, minha intenção é, exclusivamente, literal, e não desaprovo a nossa tendência natural de entabular conversas particulares com um Jesus nosso. Não penso que isso torne os norte-americanos mais amáveis ou generosos, mas, somente em casos extremos, os torna piores. A não ser pelo Hamlet shakespeariano, não me ocorre outra figura tão volátil quanto Jesus; ele, de fato, pode ser tudo, para todos os seres humanos.

Da minha parte, por motivos literários e espirituais, prefiro o Evangelho de Tomé a todo o Novo Testamento canônico, porque o referido Testamento apresenta-se repleto de um ódio mal informado contra os judeus, ainda que seja composto, quase na íntegra, por judeus que fogem de si mesmos, desesperados por agradar as autoridades romanas que os exploravam.

Leio, com admiração, a obra de estudiosos católicos, tais como padre Raymond Brown e padre John P. Meier, mas me pergunto por que não admitem o quão pouco é possível saber, de fato, acerca de Jesus. O Novo Testamento tem sido revirado por séculos de estudo minucioso, mas de todo esse trabalho não resulta o mínimo de informação que exigiríamos no caso de qualquer outra questão similar.

Ninguém sabe quem escreveu os quatro Evangelhos, e ninguém é capaz de precisar quando e onde foram compostos, tampouco que tipo de fontes lhes servem de base. Nenhum dos autores conheceu Jesus; sequer ouviram-no pregar. O historiador Robin Lane Fox defende a hipótese contrária, em favor do Evangelho de João, mas o argumento constitui uma das raras aberrações de Fox. Até mesmo Flávio Josefo, escritor brilhante e mentiroso inveterado, mostra-se muito mais interessado em João Batista do que em Jesus, objeto de não mais que um punhado de menções supérfluas.

Raramente, antigos profetas judaicos e supostos messias transformavam-se em anjos, e jamais no próprio Javé, motivo pelo qual Jesus Cristo (e não Jesus de Nazaré) é um Deus cristão, e não judaico.

A grande exceção é Enoque, que caminhava ao lado de Javé, e foi por ele alçado ao céu, sem ter de passar pelo incômodo da morte. Nas alturas, Enoque é Metatron, anjo tão excelso que chega a ser "o Javé Menor", com um trono só para si. Consta que o rabino Elisha ben Abuyah, o mais célebre dos antigos minim (gnósticos) judaicos, tenha ascendido, a fim de verificar que Metatron e Javé sentavam-se em tronos posicionados lado a lado. Ao retornar, o rabino gnóstico (conhecido pelos oponentes como Acher, "o Outro", ou "o Estranho") proclamou a heresia suprema: "Há dois Deuses no céu!"

No livro The Human Christ, Charlotte Allen nos faz lembrar, corretamente, que os Evangelhos estabelecem "Jesus Cristo acima da Torá". Uma vez que a Torá é Javé, a noção situa Cristo acima e além de Javé, o que vai de encontro à complexidade trinitária. Quem quer que tenha sido o Jesus histórico, certamente, teria rejeitado tamanha blasfêmia (conforme ele o faz no Alcorão). Parece um absurdo que Jesus, fiel apenas a Javé, assim como o foram Hillel e Akiba, tenha usurpado Deus. Contudo, Jesus não é o usurpador, tampouco o foi São Paulo (ao contrário do que pensavam Nietzsche e George Bernard Shaw). À semelhança do mentor, João Batista, Jesus é oriundo dos judeus, e veio para os judeus. O cristianismo se baseia na afirmação de que Jesus não foi recebido por sua própria gente, mas todas as evidências apresentadas pelo cristianismo são polêmicas, suspeitas e inadmissíveis em qualquer tribunal de justiça.

A indústria acadêmica não tem por hábito se dispersar, e sempre haverá buscas do Jesus verdadeiro. Por mais honrosas que sejam, aqui as dispenso. Até mesmo os melhores especialistas (penso, primeiramente, em E. P. Sanders e padre Meier) vêem-se forçados a aceitar como válidas determinadas passagens do Novo Testamento, em lugar de outras, e as explicações dos critérios adotados são sinuosas. Forçosamente, os resultados são confusos.

Desagrada-me a argumentação proposta por padre Meier em favor da historicidade de Judas Iscariotes, que, na minha visão e de outros — judeus ou gentios —, surge como uma ficção maléfica que tem contribuído para justificar o extermínio de judeus há dois mil anos. Sanders jamais me deprime, mas fico perplexo quando ele exalta o carisma singular de Jesus, baseando-se na lealdade dos discípulos. Não devemos esquecer a advertência do sociólogo Max Weber contra a "rotinização do carisma". Carismáticos existem em abundância, e Hitler magnetizou toda uma geração de alemães. É pífia a argumentação em prol da singularidade de Jesus como conseqüência de seu carisma.

No entanto, ao escrever este livro, que, absolutamente, não é para mim uma busca, surpreendi-me tanto com Jesus quanto com Javé. Embora eu nele não confie nem o ame, Javé não pode ser dispensado, pois, ausente ou presente, é indistinguível da realidade, seja esta ordinária ou um arremedo de transcendência.

Ao menos duas versões distintas de Jesus, que constam do quase gnóstico Evangelho de Tomé e do extraordinariamente críptico Evangelho de Marcos, parecem-me autênticas, embora amiúde sejam antitéticas. Javé é morte-nossa-morte e vida-nossa-vida, mas não sei quem foi ou é Jesus Nazareno.

Não o considero antitético nem comparável a Javé: os dois se encontram em sistemas cósmicos distintos. Javé nada tem de grego: Homero, Platão, Aristóteles, estóicos e epicuristas são, para ele, estranhos. Jesus, a exemplo do contemporâneo Hillel e de Akiba, este surgido um século mais tarde, emerge de um judaísmo helenizado, ainda que o grau de contaminação por elementos gregos seja questionado e questionável.

Javé é incognoscível, por mais que nos aprofundemos na Torá, no Talmude e na Cabala. Será Jesus — comparado ao Jesus Cristo da teologia — cognoscível? O Jesus norte-americano é conhecido intimamente, na qualidade de amigo e amparo, por dezenas de milhões de pessoas.

O Jesus norte-americano é por vezes mais orientado por Paulo do que pelos Evangelhos: os batistas moderados baseiam-se na Epístola dos Romanos; os pentecostais, que grassam por todos os Estados Unidos, na realidade, substituem Jesus pela crença cinética no Espírito Santo; os mórmons, a mais norte-americana e surpreendente das seitas, consideram o Livro do Mórmon, de Joseph Smith (ou do Anjo Moroni), o Outro Testamento de Jesus Cristo, mas, em Pérola de Grande Valor e Doutrina e Assembléias, dispõem de escrituras inusitadas, das quais a atual hierarquia da Igreja se esquiva.

Atualmente, considera-se que Joseph Smith tenha ascendido e se transformado em Enoque, e talvez no maior dos anjos, Metatron, ou Javé Menor, uma visão cabalística. Não conheço muito bem esses conceitos ora irradiados de Salt Lake City, mas Joseph Smith e Brigham Young acreditavam na doutrina de que Adão e Deus são, em última instância, a mesma pessoa. O humano e o divino se interpenetram na visão de Joseph Smith de maneira muito mais radical do que na insistência da Igreja Católica de que Cristo é, ao mesmo tempo, "homem verdadeiro" e "Deus verdadeiro". Porque fiéis norte-americanos (inclusive espíritos elevados, tais como Emerson e Whitman) acreditavam que o melhor e mais primordial de si mesmos não era natural, e sim divino, é possível, para muitos de nós, interagir livre e intensamente com Jesus. Talvez não seja esse o "Jesus histórico", objeto das buscas dos estudiosos, mas, a meu ver, está bem próximo ao "Jesus vivo" que fala no Evangelho de Tomé.

 Fonte
Revista Veja Edição 1944 .