LIVRO APÓCRIFO SUPOSTAMENTE RECEBIDO ATRAVÉS DE REVELAÇÃO.
Criação
do Mundo
Capítulo 1
COM
A GRAÇA de nosso Senhor Jesus, o Messias, iniciamos o livro sobre o
desenvolvimento das estirpes, isto é, a "Caverna dos Tesouros". O
livro foi composto pelo senhor Santo Efrém.
2
Senhor! Ampara-me com a tua força! Amém.
3
No princípio, no primeiro dia, no domingo santo, o primogênito de todos os
dias, Deus criou o céu e a terra, a água, o ar e a Luz, isto é, os Anjos e os
Arcanjos, os Tronos, os Príncipes, as Dominações e as Potestades, os Querubins
e Serafins, as ordenações e coortes dos Espíritos, e além disso, as trevas, a
luz, a noite, o dia, os ventos e as tempestades. Tudo isso foi criado no
primeiro dia.
4
Naquele domingo, pairou sobre as águas o Espírito Santo, uma das Pessoas da
Unidade Trina. E em virtude do seu flutuar sobre a superfície da água, esta foi
abençoada, de modo a tornar-se geradora. Toda a natureza da água ficou cálida e
fervente, e assim foi composto o fermento da Criação.
5
Assim como uma ave transmite o calor às suas crias estendendo sobre elas as
suas asas protetoras, de sorte que o calor que elas emanam sobre os ovos possa
formar os filhotes assim também, pela força do Espírito Santo, o fermento da
Criação foi unido à água, no momento em que Ele, o Parácleto, pairou sobre ela.
6
No segundo dia, Deus criou o céu inferior, e chamou o de firmamento. Isso
revela que este não tem a mesma natureza do céu superior, e que a sua aparência
difere da do céu acima dele, isto é, do céu superior, de fogo. Aquele segundo
céu é feito de luz, e este que se encontra abaixo dele é composto de substância
concreta; chama-se firmamento porque possui uma natureza espessa, aquosa.
7 E
Deus, no segundo dia separou as águas das águas isto é, as águas superiores das
águas inferiores. E no segundo dia, elas levantaram-se para o alto do céu como
uma densa massa de névoa; subiu e localizou-se acima do firmamento, no espaço.
Mas não se movia nem se derramava para lado algum.
8
No terceiro dia, Deus ordenou às águas abaixo do firmamento que se ajuntassem
num lugar, e que aparecesse a parte seca. Quando então a cobertura da água foi
retirada da superfície da terra, revelou-se que esta não era consistente e
firme, mas sim que possuía uma natureza úmida e flácida.
9 A
água então agregou-se nos mares, mas também debaixo da terra, e sobre a terra,
e acima da terra. E Deus criou no seio dela corredores, veios e canais, para o
fluxo das águas, e também para os vapores que emanam da terra, a partir desses
veios e cursos; criou também os calores e os frios, para o melhor benefício da
terra. Pois, na sua profundidade, a terra é como uma esponja, porque se apóia
sobre as águas.
10
No mesmo terceiro dia, Deus ordenou à terra que fizesse brotar ervas por baixo
dela. E assim, no seu seio, ela ficou prenhe de árvores, sementes, plantas e
raízes. No terceiro dia, Deus criou o sol, a lua e as estrelas.
11
E quando o calor do sol se estendeu sobre a superfície da terra, esta endureceu
a sua moleza, pois foi-lhe retirada a umidade e a fluidez das águas. Quando
esquentou o pó da terra, esta fez brotar árvores, plantas, sementes e raízes,
que no terceiro dia foram engendradas no seu selo.
12
No quinto dia, Deus deu ordens às águas, e estas produziram toda espécie de
peixes possíveis e frutos do mar, as baleias, o Leviatã e outros animais de
aparência horrorosa, bem como os pássaros do ar e as aves aquáticas.
13
No mesmo quinto dia, Deus criou da terra todo o gado, os animais selvagens e os
animais predadores, cada um segundo a sua espécie.
14
No sexto dia, na sexta-feira, Deus formou Adão do pó da terra, e Eva da sua
costela.
15
No sétimo dia, Deus descansou do seu trabalho, e assim esse dia foi chamado
Sabbath.
Capítulo
2
A
Criação do Homem
1 A
criação de Adão ocorreu da seguinte maneira:
2
Quando no sexto dia, sexta-feira, reinava a paz sobre todas as ordenações das
Potestades, Deus disse: "Vamos! Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança!" Com isso Ele dava a existência às excelsas Pessoas.
3
Quando os Anjos escutaram essa palavra, encheram-se de medo e tremor, e
disseram entre si: "Hoje veremos um grande prodígio, a forma de Deus,
nosso criador". E eles viram a mão direita de Deus estender-se e
alongar-se, e tudo o que foi criado abrangeu-se na sua direita.
4
Então eles viram como Ele, de toda a terra, tomou uma pitada de pó, de todas as
águas uma gotícula, de todos os ventos um pequeno sopro, e de todo o fogo um
diminuto halo de calor. E os anjos viram como esses quatro débeis elementos,
frio, calor, secura e umidade, foram depositados no côncavo da sua mão. Então
Deus plasmou Adão.
5
Mas com que outro objetivo teria Deus criado Adão desses quatro elementos, a
não ser para que todas as coisas do mundo lhe fossem submetidas?
6
Tomou um grãozinho de terra, para que todos os seres que procedem do pó
servissem a Adão; uma gota de água, para que tudo o que existe nos mares e nos
rios se lhe fosse apropriado; um sopro de vento, para que todas as coisas do ar
lhe fossem entregues; e um halo de calor, para que todas as naturezas e forças
ígneas estivessem a seu serviço.
7 E
Deus plasmou Adão com as suas mãos santas, segundo a sua imagem e semelhança.
Quando os Anjos constataram o seu aspecto magnífico, ficaram tocados pela
beleza da sua figura. Pois viram que a imagem do seu semblante era luminosa
como o brilho do sol, a luz dos seus olhos irradiava raios como a luz solar, e
o brilho do seu corpo era como o do cristal.
8
Ele se alongou e pôs-se de pé no centro da terra. E colocou os seus pés naquele
mesmo lugar em que foi erguida a cruz do nosso Salvador: daí é que Adão foi
criado em Jerusalém. Ali é que ele se revestiu das vestes da realeza; ali
foi-lhe colocada a coroa real sobre a cabeça. Ali ele foi constituído rei,
sacerdote e profeta; ali Deus fê-lo assentar-se sobre o trono da sua glória.
Ali Deus deu-lhe o domínio sobre toda a Criação.
9
Lá reuniram-se todos os animais selvagens, bem como o gado e as aves, e
apresentaram-se diante de Adão; então ele deu um nome a cada um e eles curvaram
a cabeça diante dele. Todas as espécies respeitavam-no e serviam-no.
10
Os Anjos e as Potestades ouviram a voz de Deus, quando falou a ele: "Adão!
Eu te constituí rei, sacerdote e profeta, bem como senhor, chefe e guia de
todos os seres vivos e de toda a Criação. Todas as criaturas deverão servir-te
como coisa tua; dei-te o domínio sobre tudo o que foi por mim criado".
11
Ao ouvirem essas palavras, os Anjos todos puseram-se de joelhos e o adoraram.
Capítulo
3
Adão
e Eva no Paraíso
1
Quando o Chefe da ordem inferior viu a grandeza que foi conferida a Adão, teve
inveja dele a partir daquele dia, não quis reverenciá-lo, e falou assim aos
seus potentados: "Não o adoreis, nem vos submetais a ele corno os anjos o
fizeram! Convém a ele adorar a mim, que persisto na luz e no espírito; não
convém a mim adorar o barro, adorar aquele que foi formado de um grãozinho de
pó".
2
Assim propôs o Orgulhoso e tornou-se insubmisso; dessa forma, ele afastou-se de
Deus, por seu livre-arbítrio. Então ele foi expulso e caiu, ele com todas as
suas hostes. A sua queda ocorreu no sexto dia, na segunda hora. Foram-lhe
tiradas as vestes da sua glória. O seu nome passou a ser Satanás, porque se
apartou; e Scheda, porque foi precipitado; e Daiwa, porque perdeu as vestes da
sua glória.
3 A
partir daquele dia, até hoje, eles ficaram nus e despidos, com uma aparência
horripilante. Enquanto Satã era expulso do céu, Adão era exaltado, sendo levado
ao Paraíso num carro de fogo. Aos louvores dos Anjos, às glorificações dos
Querubins, aos benditos dos Serafins, Adão deu entrada no Paraíso, sob júbilo e
cânticos honoríficos.
4
Quando ele chegou lá no alto, foi-lhe determinado de qual árvore não poderia
comer os frutos. A sua ascensão ao Paraíso ocorreu na terceira hora de
sexta-feira.
5
Deus então infundiu-lhe um sono, e ele adormeceu. Em seguida, Deus tomou uma
das suas costelas do lado do fígado, e com ela formou Eva. Quando, ao acordar,
Adão viu Eva, alegrou-se grandemente com ela. Adão e Eva permaneceram por três
horas no Paraíso, revestidos de glória e de esplendor.
6 O
Paraíso porém situava-se lá no alto, três pés acima das mais altas montanhas,
segundo a medida do Espírito. E o profeta Moisés disse: "Deus plantou o
Paraíso no meio do Éden, e nele colocou Adão, que Ele havia plasmado". Mas
o Éden é a santa Igreja, e a Igreja é a misericórdia de Deus, que Ele guardava
preparada para estendê-la a todos os homens.
7
Porquanto Deus soubesse, na sua sabedoria paternal, o que Satã planejava contra
Adão, antecipou-se e acolheu Adão no seio da sua misericórdia, segundo d'Ele
fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor! Tu te tornaste uma morada para
nós, para todo o sempre". Isto é: "Permitiste que morássemos na tua
misericórdia".
8 E
quando ele suplicava a Deus pela libertação dos homens, dizia: "Recorda-te
da tua Igreja, que de antemão fundaste!" Isso quer dizer: Recorda-te da
tua misericórdia, que havias preparado, para esparzi-la sobre a nossa fraca
geração. O Éden é a santa Igreja, e o Paraíso é o lugar da paz e a herança da
vida, que Deus preparou para todos os homens santos.
Capítulo
4
A
Tentação do Paraíso
1
Sendo Adão sacerdote, rei e profeta, Deus estabeleceu-o nas alturas do Paraíso,
para servir com honra, como o sacerdote na santa Igreja, e de que piedoso
Moisés dá testemunho: "Que ele a edifique", a saber, com o serviço
sacerdotal e louvores, "e que o guarde", isto é, o Mandamento que lhe
foi transmitido pela misericórdia divina. E Deus deixou Adão e Eva morarem no
Paraíso.
2
Verdadeira é essa palavra, e anunciadora da verdade: Aquela Árvore da Vida no
meio do Paraíso era o prenúncio da cruz da Salvação, a Árvore da Vida
propriamente dita, e esta foi erigida no meio da terra.
3
Quando Satã viu que Adão e Eva viviam em esplendor no Paraíso, ele, o Rebelde,
ficou dilacerado e morto de inveja. Então introduziu-se na serpente, e nela
morou; voou com ela pelo espaço até os limites do Paraíso.
4
Por que introduziu-se na serpente e nela se escondeu? Porque ele sabia que o
seu aspecto era horripilante. Se Eva tivesse visto a sua aparência, teria dele
fugido imediatamente. Quando alguém deseja ensinar o grego a um pássaro, busca
um espelho grande e coloca-o entre si e a ave; começa então a falar com ela.
Tão logo a ave escuta a sua voz, volta-se para trás, e vê a sua própria imagem
no espelho; e fica satisfeita de ver a suposta companheira falando com ela.
5
Presta naturalmente atenção e escuta as palavras daquele que está a falar com
ela; observa e apura o ouvido, e assim aprende a falar grego. Assim fez Satã,
introduzindo-se na serpente e morando nela; aguardou o momento certo, e quando
viu que Eva estava sozinha, chamou-a pelo nome.
6
Quando esta se voltou, viu nele a sua própria imagem; e ele dirigiu-lhe a
palavra e enganou-a com as suas palavras mentirosas, pois a natureza da mulher
é fraca. Quando ouviu da sua boca as coisas sobre a árvore, correu
imediatamente para ela e colheu o fruto da desobediência, da árvore da
transgressão do Mandamento, e comeu-o.
7
Imediatamente apareceram nuas as suas vergonhas, e ela viu a feiúra da sua
nudez. Então ela fugiu nua e foi esconder-se sob uma outra árvore, e cobriu a
sua nudez com as folhas dessa árvore. Em seguida ela chamou Adão, e este foi
até junto dela; então ofereceu-lhe a mesma fruta, e ele também comeu-a.
8
Depois de haver comido, as suas vergonhas também ficaram nuas. Então fizeram
para si aventais de folhas de figueira. E ficaram por três horas vestidos com
os aventais da vergonha.
9
Ao meio-dia, receberam a sentença definitiva. E Deus teceu para eles roupas de
cascas arrancadas das árvores, exatamente de fibras das árvores; pois nas
plantas do Paraíso havia fibras delicadas, mais delicadas do que o linho e as
vestes reais de seda. E Ele cobriu-os com esse tecido fino, que era como uma
capa a encobrir um corpo de dor.
Capítulo
5
A
Expulsão do Paraíso
1
Na terceira hora, eles deram entrada no Paraíso; por três horas gozaram suas
delícias; por três horas ficaram nuas as suas vergonhas, e na hora nona
aconteceu a sua expulsão.
2
Depois que saíram do Paraíso em grande tristeza, Deus falou com Adão,
consolou-o e disse: "Não te aflijas; Adão. Eu haverei de restabelecer a
tua herança. Considera que é grande o amor por ti! Por tua causa eu amaldiçoei
toda a terra; mas a ti eu preservei da maldição. Encerrei as pernas da serpente
na sua barriga, e dei-lhe como alimento o pó da terra, e coloquei sobre Eva o
jugo da submissão.
3
"Com certeza, tu transgrediste o meu Mandamento. Assim, deves sair; mas
não fiques aflito! Depois de cumpridos os tempos que estabeleci para vós, em
que deveis ficar fora, como estranhos sobre o mundo maldito, eu enviarei o meu
Filho. Ele virá para trazer-te a Salvação; habitará numa virgem e se revestirá
de um corpo. Por seu intermédio ocorrerá a tua libertação e o teu retorno.
4
"Mas ordena aos teus filhos que depois da tua morte unjam o teu corpo com
mirra e aloés e o depositem na Caverna! Nela permito-vos morar pelo tempo em
que devereis viver fora dos limites do Paraíso, na terra que se situa no
exterior. E aquele que restar naqueles dias, levará consigo o teu corpo e o
depositará no centro da terra, num lugar que eu lhe mostrarei. Pois lá
acontecerá a Salvação para ti e para todos os teus filhos."
5 E
Deus revelou a Adão todo o futuro, e que o Filho haveria de sofrer em seu
lugar. Depois que Adão e Eva saíram do Paraíso, foram fechadas as suas portas,
e um Querubim postou-se diante delas com uma espada de dois gumes. Adão e Eva
desceram do monte do Paraíso; encontraram uma caverna no alto de uma colina,
entraram nela, e lá se esconderam. Adão e Eva eram virgens.
6
Quando Adão sentiu desejo de conhecer Eva, foi buscar nos limites do Paraíso
ouro, mirra e incenso, colocou-os na caverna, abençoando-a e consagrando-a,
para que fosse a casa de oração para si e seus filhos, e chamou-a a "Caverna
dos Tesouros". Depois disso, Adão e Eva desceram daquela colina santa até
os seus limites inferiores, e lá Adão conheceu a sua mulher Eva.
7
Esta concebeu e deu à luz Caim, juntamente com sua irmã Lebuda. Depois
engravidou mais uma vez, e deu à luz Abel e sua irmã Celimat. Quando os filhos
já estavam crescidos, disse Adão a Eva: "Caim deverá casar-se com Celimat,
que nasceu junto com Abel, e Abel, com Lebuda, nascida com Caim!"
8
Então Caim falou para sua mãe Eva: "Eu me casarei com a minha irmã, e Abel
deve casar-se com a sua". Lebuda era realmente bonita. Quando Adão escutou
essas palavras ficou grandemente irado e disse: "Se casares com a irmã que
nasceu contigo, será uma transgressão do Mandamento.
9
"Tomai convosco frutos das árvores e jovens ovelhas, subi ao cume da
colina santa; entrai na Caverna dos Tesouros, e oferecei lá o vosso sacrifício!
Grai então na presença de Deus, e uni-vos depois às vossa mulheres."
10
Depois que Adão, o primeiro sacerdote, subiu ao cume da colina com os seus
filhos Caim e Abel, Satã entrou em Caim, insinuando-lhe que matasse o seu irmão
Abel, por causa de Lebuda, mas também porque o seu sacrifício não fora aceito,
mas repudiado por Deus, enquanto que o sacrifício de Abel foi aceito. E em Caim
recrudesceu a inveja de seu irmão.
11
Quando desceram à planície, Caim levantou-se contra o seu irmão Abel e matou-o,
golpeando-o com uma pedra de piquete. Imediatamente caiu sobre ele uma sentença
de morte. Viveu na angústia todos os dias da sua vida, e Deus expulsou-o para
as terras de Nod. Então ele tomou sua irmã consigo e foi morar naquela região.
Capítulo
6
A
Morte de Adão
1
Adão e Eva prantearam Abel durante cem anos. Depois Adão conheceu Eva mais uma
vez, e ela deu à luz Seth, que foi um homem bonito, agigantado, perfeito como
Adão. Ele foi o pai de todos os gigantes que antecederam o dilúvio.
2
De Seth nasceu Enos. Enos gerou Cainan, e Cainan gerou Mahalaleel. Estes são os
Patriarcas que nasceram no dias de Adão. Adão viveu nove centos e trinta anos,
até os cento e trinta e cinco anos de Mahalaleel.
3
Aproximou-se então o dia da sua morte. Vieram até ele seu filho Seth,
acompanhado de Enos, Cainan e Mahalaleel: foram abençoados por ele, que também
rezou por eles. Então ordenou ao seu filho Seth, dizendo-lhe: "Meu filho
Seth presta atenção ao que vou dizer! No teu último dia deverá transmitir esta
ordem a Enos este a Cainan, e Cainan Mahalaleel! Esta ordem dever passar a
todas as gerações!
4
"Quando eu estiver mor to, deverão embalsamar-me com canela e aloés, e
deposita o meu corpo na Caverna dos Tesouros! Aquele dentre todo os vossos
descendentes que estiver vivo naqueles dias, deverá, ao afastar-se destas
terras da proximidade do Paraíso, levar consigo o meu corpo depositá-lo no
centro da terra. Pois lá acontecerá a minha redenção, para mim e para todo os
meus descendentes.
5 E
tu, meu filho Seth, sejas o guia dos filhos do teu povo conduze-os no temor de
Deus de maneira pura e santa! Mantém os teus descendentes afastados dos
descendentes do assassino Caim!"
6
Ao ter-se notícia da morte próxima de Adão, foram ter com ele todos os seus
descendentes, seu filho Seth com Enos, Cainan e Mahalale e todos eles, suas
mulheres, filhos e filhas. Ele então abençoou a todos, e rezou por eles.
7
No ano novecentos e trinta, contados a partir da Criação, Adão despediu-se
deste mundo, aos quatorze dias de Nisan, à hora nona, numa sexta-feira. Na
mesma hora em que o Filho do Homem, na cruz, entregou o seu Espírito ao Pai,
também o nosso pai Adão devolveu a sua alma ao Criador, e separou-se deste
mundo.
8
Quando Adão morreu, o seu filho Seth ungiu-o com mirra, canela e aloés, segundo
o que lhe havia ordenado. Tendo sido ele o primeiro morto sobre a terra, foi
grande o luto por ele. A sua morte foi pranteada durante cento e quarenta dias;
depois disso, o seu corpo foi levado e sepultado na Caverna dos Tesouros.
9
Após ter sido inumado Adão, as famílias e os troncos dos filhos de Seth
separaram-se dos filhos do assassino Caim. Seth tomou o seu primogênito Enos,
com Cainan, Mahalaleel, suas mulheres e filhos, e conduziu-os ao alto da
Montanha Sagrada, para onde fora levado Adão.
10
Caim, porém, e seus descendentes permaneceram embaixo, na planície, onde Caim
matara Abel.
Capítulo
7
Seth
e a sua Geração
1
Seth era então o guia dos filhos do seu povo, e conduziu-os na retidão e
santidade. Por causa de sua retidão e santidade, receberam um nome que era mais
honroso do que todos os outros nomes; foram chamados "filhos de
Deus", tanto eles como suas mulheres e filhos.
2
Assim, eles permaneceram sobre aquela montanha, em toda a pureza, santidade e
temor de Deus. Eles subiram lá no alto a fim de louvar a Deus, nos limites do
Paraíso, em vez das hostes dos Demônios que foram precipitados do céu.
3
Lá eles permaneciam na paz e no ócio, e não tinham nenhum outro trabalho e
ocupação a não ser louvar e bendizer a Deus, juntamente com as coortes dos
Anjos; pois eles ouviam constantemente a voz deles, quando entoavam hinos de
louvor no Paraíso. Este não se situava muito acima deles, apenas cerca de
trinta pés, segundo a medida do Espírito.
4
Eles não tinham lá qualquer trabalho ou preocupação, e não precisavam nem
semear nem colher; alimentavam-se daqueles frutos amáveis das belas árvores de
toda a espécie, e deliciavam-se com o agradável perfume que emanava do Paraíso.
Eram santos, porque foram santificados; suas mulheres eram honradas, seus
filhos puros e suas filhas castas e honestas.
5
Entre eles não havia tumultos, nem inveja, nem rancor, nem inimizade; entre
suas mulheres e filhas não existia nenhum desejo impuro, nem palavras lascivas.
Nem entre eles se ouviam quaisquer blasfêmias ou mentiras. O seu único
juramento era: "Pelo sangue inocente de Abel!"
6
Todos os dias, pela manhã bem cedo, subiam ao alto da montanha, com suas
mulheres e filhos, para orar na presença de Deus. Ficavam então abençoados pelo
corpo do seu pai Adão; levantavam os olhos, olhavam para o Paraíso e louvavam a
Deus. Assim faziam todos os dias de sua vida.
7
Seth viveu novecentos e doze anos; depois adoeceu para a morte. Foram então
para junto dele seu filho Enos, com Cainan, Mahalaleel, Jared e Enoque,
acompanhados de todas as suas mulheres e filhos. Foram abençoados por ele; orou
por eles, transmitiu-lhes encargos e adjurou-os com as seguintes palavras:
"Conjuro-vos pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós descerá
desta montanha santa para junto dos filhos do assassino Caim; bem conheceis a
nossa inimizade com eles, desde o dia em que ele matou Abel".
8
Então, ele abençoou o seu filho Enos, transmitindo-lhe a incumbência em relação
ao corpo de Adão; constituiu-o guia dos filhos do seu povo, enquanto adjurava-o
pelo sangue inocente de Abel a que os conduzisse na pureza e santidade, para
que eles permanecessem constantemente fiéis ao corpo de Adão, jamais dele se
afastando.
9
Após isso, Seth morreu com a idade de novecentos e doze anos, aos vinte e sete
dias do mês abençoado de Ab, numa segunda-feira, na terceira hora, contando
Enoque vinte anos.
10
Seu primogênito Enos embalsamou o seu corpo e depositou-o na Caverna dos
Tesouros, junto ao seu pai Adão. Foi pranteado durante quarenta dias.
Capítulo
8
A
Morte de Caim
1
Enos assumiu diante de Deus o serviço na Caverna dos Tesouros; tomou-se o guia
do seu povo e seus filhos e observou todos os Mandamentos que lhe foram
transmitidos por seu pai Seth. Assim, ele conduziu os filhos do seu povo com
toda pureza e santidade, exortando-os à constância na oração.
2
Nos dias de Enos, no seu oitocentésimo vigésimo ano, Lamech, o cego, matou o
assassino Caim nos campos de Nod. Sua morte ocorreu da seguinte maneira: Lamech
guiava-se pelo seu filho, um menino, e esse menino dirigia-lhe o braço em
direção da caça, toda vez que descobria alguma. Foi quando ouviu-se a voz de
Caim, que perambulava pelo mato, pois em parte alguma ele tinha paz.
3
Lamech, porém, cego, tomou-o por uma fera que perambulava pelos matos. Então
levantou o braço, preparou seu. arco, retesou-o e disparou naquela direção.
Acertou Caim entre os olhos, e este caiu e morreu. Contudo Lamech julgava haver
acertado uma fera, e disse ao menino: "Vamos até lá para ver que animal
acertamos!'
4
Quando chegaram e verificaram o ocorrido, disse-lhe o rapaz que o guiava:
"Ai, meu senhor! Tu mataste Caim." Então ele fez um gesto, batendo as
suas mãos uma contra a outra, e com isso acertou o menino, que morreu na hora.
5
Enos viveu novecentos e cinco anos; depois adoeceu de morte. Então chegaram
junto dele o seu primogênito Cainan, com Mahalaleel, Jared, Enoque e Matusalém,
acompanhados das suas mulheres e filhos.
6
Todos foram abençoados por ele; orou por eles e adjurou-os dizendo: "Eu
vos conjuro, pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós desça deste
monte santo para a planície, na área dos filhos do assassino Caim, e que não
vos mistureis com eles. Guardai-vos disso! Bem conheceis a inimizade que temos
com eles, desde o dia em que ele matou Abel."
7
Então ele abençoou o seu filho Cainan, transmitiu-lhe as incumbências relativas
ao corpo de Adão, para que servisse na sua presença todos os dias da sua vida e
guiasse os filhos do seu povo na pureza e santidade. Enos morreu com a idade de
novecentos e cinco anos, no terceiro dia do primeiro Ticbri, num Sabbath,
quando Matusalém contava cinqüenta em três anos.
8
Então o seu primogênito Cainan embalsamou-o e enterrou-o na Caverna dos
Tesouros, junto de Adão e do seu pai Seth. E foi pranteado durante quarenta
dias.
Capítulo
9
Cainan
e Mahalaleel
1
Cainan assumiu na presença de Deus o serviço da Caverna dos Tesouros. Ele era
um homem honrado e prudente, conduziu os filhos do seu povo no temor de Deus, e
cumpriu todas as recomendações do seu pai Enos. Cainan viveu novecentos e vinte
anos; depois adoeceu de morte.
2
Então chegaram junto dele todos os Patriarcas, seu filho Maco anos, no segundo
dia de Nisan, num domingo, na hora terça, quando Noé contava trinta e quatro
anos. O seu primogênito Jared embalsamou-o e sepultou-o na Caverna dos
Tesouros. Foi pranteado por quarenta dias.
6
Então Jared assumiu o serviço de Deus. Ele era um homem íntegro e perfeito em
todas as virtudes, constante-mente voltado para a oração, tanto de dia quanto
de noite. Por causa da sua excelente direção do povo, Deus deu-lhe uma vida
mais longa do que a dos seus antecessores.
7
Aos quinhentos anos de Jared, os descendentes de Seth quebraram o juramento com
que os seus pais os adjuraram, e começaram a descer da montanha para os lugares
da maldade dos filhos do assassino Cromo.
8
Assim deu-se a queda dos filhos de Seth. Quando Jared havia completado quarenta
anos, encerrava-se o primeiro milênio, que abrangia de Adão até Jared.
Capítulo
10
Deterioração
da Humanidade
1
Naqueles dias surgiram os cúmplices do pecado e os discípulos de Satanás; este
era o seu mestre e introduziu-se neles, habitou neles, e neles espalhou os
efeitos do erro, pelos quais se operou a queda dos filhos de Seth.
2
Jubal e Tubalcaim, dois irmãos e filhos de Lamech, o cego, o que havia matado
Caim, praticavam toda espécie de música. Jubal construiu flautas, citaras e
pífaros. E os demônios introduziram-se neles, e ali se instalaram.
3
Quando eram sopradas, as flautas davam voz aos demônios; e quando eles tangiam
as cítaras, os demônios cantavam por elas. E Tubalcaim construiu címbalos,
matracas e tambores. E assim recrudescia a depravação dos filhos de Caim, bem
como a sua devassidão, e de outra coisa não se ocupavam a não ser da luxúria.
4
Não se submetiam mais a dever algum, e não tinham nem chefe nem guia. Em
contrapartida reinava o comer, o beber, a intemperança, a bebedeira, a dança, a
cantoria, a risota demoníaca e as gargalhadas que davam prazer ao diabo, bem
como o vozerio insano dos homens guinchando atrás das mulheres.
5 E
com isso alegrava-se sobremaneira Satanás, por ter encontrado a maneira de
espalhar os efeitos da desordem; por meio disso conseguiu atrair os filhos de
Seth para baixo da Montanha Sagrada. Enquanto que lá no alto eles serviam a
Deus, em contraste com aquela horda de decaídos, e eram amados por Deus,
honrados pelos Anjos e chamados filhos de Deus, segundo deles fala o piedoso
Davi nos salmos: "Eu disse que sois deuses, e todos em conjunto filhos do
Altíssimo".
Capítulo
11
Cainitas
e Sethitas Depravados
1 E
reinava a impudicícia entre os filhos de Caim; as mulheres corriam atrás dos
homens sem a menor vergonha e misturavam-se com eles numa orgia selvagem;
praticavam a fornicação abertamente, sem pudor algum. Dois, até três homens
caíam em cima de uma mulher; e da mesma forma as mulheres corriam atrás dos
homens, pois lá naquele lugar estavam reunidos todos os demônios.
2
Os espíritos impuros meteram-se dentro das mulheres, e as mais velhas entre elas
eram ainda mais assanhadas que as, jovens. Os pais e os filhos conspurcavam
suas mães e suas irmãs; os filhos não reconheciam os seus pais, e os pais não
distinguiam os seus filhos. Satanás tornou-se o chefe desse antro.
3
Sopravam as flautas em meio ao vozerio, tocavam as cítaras sob o influxo dos
demônios, percutiam os tambores e as matracas, em colaboração com os espíritos
maus. E o ruído das gargalhadas elevava-se nos ares, e foi ouvido no alto da
Montanha Sagrada. Quando os filhos de Seth escutaram aquele poderoso vozerio e
aquelas gargalhadas, vindos do campo dos filhos de Caim, cem dentre eles,
homens fortes e vigorosos, reuniram-se e tomaram a resolução de descer até a
área dos filhos de Caim.
4
Jared, ao ter conhecimento dessa decisão, ficou grandemente perturbado e
esconjurou-os dizendo: "Adjuro-vos, pelo sangue inocente de Abel, a que
nenhum de vós desça desta Montanha Sagrada. Lembrai-vos dos juramentos aos
quais nos ligaram os nossos pais Seth, Enos, Cainan e Mahalaleel!"
5
Então Enoque também dirigiu-lhes a palavra: "Ouvi, ó filhos de Seth! Todo
aquele que transgredir a ordem de Jared e violar os juramentos dos nossos Pais,
descendo desta montanha, nunca mais poderá retomar a ela!"
6
Mas eles não quiseram ouvir nem a ordem de Jared, nem as palavras de Enoque,
mas tiveram audácia de desobedecer ao mandamento. Dessa forma, cem homens,
varonis e fortes, desceram da montanha.
7
Lá embaixo viram as filhas de Caim, que eram de bonita aparência, e que
descobriam as suas vergonhas sem o mínimo pudor. Então os filhos de Seth
atiraram-se à perdição, por meio da fornicação com as filhas de Caim.
8
Mas depois disso pretendiam ainda voltar à Montanha Sagrada, apesar de decaídos
por terem-na abandonado. Nesse momento, porém, diante de seus olhos, os rochedos
do monte sagrado revestiram-se de fogo.
9
Depois de se haverem conspurcado com a imundícia da luxúria, Deus não permitiu
mais que voltassem ao lugar sagrado. E uma vez mais, muitos outros tiveram o
atrevimento de seguir-lhes o exemplo, e desceram a montanha; também eles
caíram.
Capítulo
12
Jared
e Enoque
1
Jared viveu novecentos e sessenta anos; depois aproximou-se o dia do seu
falecimento. Então foram ter com ele todos os chefes de família, seu
primogênito Enoque, Matusalém, Lamech e Noé, com todas as suas mulheres e
filhos.
2
Ele abençoou a todos, orou por eles, e disse: "Eu vos conjuro, pelo sangue
inocente de Abel, que não havereis de descer desta montanha santa. Todavia, eu
sei que Deus não vos deixará ficar mais por muito tempo neste lugar sagrado. Vós
havereis de transgredir o mandamento dos vossos Pais; sereis afastados para as
terras estrangeiras e não vos será mais permitido habitar nas proximidades do
Paraíso.
3
"Recomendo-vos porém todo o zelo para que aquele dentre vós que [for o
último a] sair deste lugar santo leve consigo o corpo do nosso pai Adão,
juntamente com aqueles objetos de culto que se encontram na Caverna dos
Tesouros, para que sejam transportados para aquele lugar que foi determinado
por Deus, e ali sejam depositados. Tu, meu filho Enoque, não te afastes nunca
do corpo de Adão, e serve a Deus de maneira pura e santa todos os dias da tua
vida!"
4
Jared morreu com a idade de novecentos e sessenta anos, aos trinta dias de
Ijjar, numa sexta-feira à noite, quando Noé contava trezentos e sessenta e seis
anos. Então seu filho Enoque embalsamou-o e sepultou-o na Caverna dos Tesouros.
E guardaram luto por ele durante quarenta dias. Então Enoque assumiu o
ministério de Deus na Caverna dos Tesouros.
5
Mas os filhos de Seth desviaram-se do caminho reto e desejaram descer. Então
Enoque, Matusalém, Lamech e Noé afligiram-se por eles. E Enoque serviu diante
de Deus durante cinqüenta anos, até o tricentésimo quinto ano de Noé.
6
Quando Enoque percebeu que Deus queria chamá-lo a si, convocou Matusalém,
Lamech e Noé, e falou-lhes: "Eu sei que Deus está irado com esta geração,
e que recairá sobre ela uma sentença sem piedade. Vós sois os cabeças e os
remanescentes dessa geração, pois nesta montanha não nascerá mais nenhum outro
homem para ser o guia do seu Povo. Mas tende todo empenho para servirdes diante
de Deus em pureza e santidade!"
7
Depois que Enoque pronunciara essas palavras, Deus transportou-o para as
regiões da Vida, nas belas moradas que se encontram no Paraíso, na terra que se
situa acima da morte.
Capítulo
13
Noé
1
De todos os filhos de Seth, sobraram na montanha gloriosa somente esses três
Patriarcas, Matusalém, Lamech e Noé; os demais haviam descido para as terras
dos filhos de Caim.
2
Quando Noé viu que os pecados da sua raça eram grandes, conservou sua alma na
virgindade durante quinhentos anos. Então Deus falou com ele e disse:
"Casa-te com Haikal, a filha de Namos, irmão de Matusalém, e neta de
Enoque!
3 E
Deus fez-lhe uma revelação a respeito do dilúvio, que tencionava mandar, e
disse: "Quando forem transcorridos cento e trinta anos, provocares um
dilúvio. Constrói para ti uma arca para salvar os filho da tua casa! Mas faze-a
lá em baixo, na terra dos filhos de Caim! Todavia, a madeira de verá ser
colhida na montanha santa!
4
"Deve ser edificada da seguinte maneira: o seu comprimento será de
trezentos côvados, segundo a medida do: teus côvados, a sua largura de
cinqüenta côvados, e sua altura de trinta. Do seu topo abatê-las um côvado!
Faze três compartimentos no seu interior; o de baixo será para os animais
selvagens e para o gado, o do meio para os pássaros e o de cima para os filhos
da tua casa!
5
"Constrói também no seu interior uma câmara para os utensílios e uma para
depósito dos alimentos! Faze também um sino de ébano imune ao caruncho! O seu
comprimento deverá ser de três côvados e sua largura de um e meio! De dentro
dele deverá pender um martelo! Tocarás esse sino três vezes durante o dia, uma
de manhã para que se reúnam os operários da construção da arca, uma ao meio-dia
para o seu almoço, e outra à tarde para que se dirijam ao seu descanso!
6
"Ao ouvirem o som do sino, tão logo por ti tocado, perguntarão: Que foi
que fizeste?' Responde-lhes: Deus prepara-se para mandar um dilúvio de
águas'." E Noé fez segundo Deus lhe ordenara.
7 Então,
no espaço de cem anos, nasceram-lhe três filhos, Sem, Cam e Jafet, e escolheu
para eles mulheres dentre as filhas de Matusalém. Lamech viveu setecentos e
setenta anos, e morreu deixando seu pai Matusalém, ainda vivo, quarenta anos
antes do dilúvio, aos vinte e um dias de Elul, numa quinta-feira, quando Sem, o
primogênito de Noé, contava sessenta e oito anos de idade. Então seu
primogênito, Noé, embalsamou-o, sepultou-o na Caverna dos Tesouros; e foi
pranteado durante quarenta dias.
Capítulo
14
Os
Gigantes
1 A
partir de então, somente Matusalém e Enoque permaneceram sobre o monte,
porquanto todos os demais filhos de Seth abandonaram as fronteiras do Paraíso e
desceram para a planície, para junto dos filhos de Caim. Os filhos homens de
Seth então misturaram-se com as filhas de Caim. Elas engravidaram e deram à luz
homens avantajados, uma raça de gigantes, semelhantes a torres.
2
Por esse motivo, escribas antigos incorreram em erro quando escreveram que os
Anjos desceram do céu, uniram-se às filhas dos homens, que por essa união
geraram aqueles gigantes. Isso não é verdade; falaram disso sem terem
conhecimento. Vede bem, meus irmãos, ao lerdes isso, e ficai cientes de que
algo assim não está na natureza de seres espirituais!
3 E
nem isso está na natureza dos demônios impuros, que praticam malefícios e se
comprazem com o adultério. Não existem entre eles os gêneros masculino e
feminino; e desde a sua queda, o número deles não aumentou nem em um sequer.
Pudessem os demônios unir-se sexualmente com as mulheres, não teriam deixado
inviolada nenhuma virgem em toda a raça humana.
Capítulo
15
A
Incumbência de Noé
1
Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove anos; aproximou-se então o dia do
seu falecimento. Chegaram para junto dele Noé, Sem,
Cam e Jafet, com suas mulheres. Pois de todos os descendentes de Seth que não
haviam descido da montanha restavam somente essas oito pessoas; e até a chegada
do dilúvio, não lhes nasceu mais nenhum filho.
2
Reuniram-se ao redor de Matusalém e foram por ele abençoados; abraçou a cada um
e beijou-os com muitas lágrimas, enquanto deplorava a queda dos filhos de Seth.
Então orou por eles e disse-lhes: "De todas as famílias e gerações dos
nossos Pais sobraram apenas oito pessoas. Que o Senhor, Deus dos nossos Pais,
vos abençoe!
3
"O Deus, que por si só criou os nossos Pais Adão e Eva — e eles foram
fecundos e multiplicaram-se, e assim foi por eles enchida toda a terra santa
das imediações do Paraíso — faça-vos também fecundos e numerosos, e seja toda a
terra preenchida por vós, e possais ser salvos do terrível Julgamento da Ira
que cairá sobre essa geração provocadora!
4
"Que Ele esteja convosco e vos proteja! Que o dom que Deus outorgou ao
nosso Pai Adão vos acompanhe ao sairdes deste lugar santo! E que a bênção
tríplice que Deus conferiu ao vosso Pai Adão, a saber, a Realeza, o Sacerdócio
e a Profecia seja o fermento que permanecerá infundido na vossa estirpe e na
estirpe dos vossos filhos.
5
"Ouve bem, Noé, tu, e predileto do Senhor! Eu me separo agora deste mundo,
como todos os meus Pais. Apenas vós sereis salvos, tu e teus filhos, tua mulher
e as mulheres deles. Cumpre tudo o que hoje te ordeno! Deus mandará vir um
dilúvio.
6
"Quando eu morrer, unge o meu corpo e sepulta-o na Caverna dos Tesouros,
junto dos meus Pais! Toma contigo a tua mulher, os teus filhos e as mulheres
dos teus filhos, e desce desta Montanha Sagrada! Leve contigo o corpo do nosso
Pai Adão, juntamente com esses três objetos sagrados, o ouro, e incenso e a
mirra; deposita o corpo de Adão no meio da Arca e sobre ele os objetos!
7
"Tu e teus filhos ficarão na Arca do lado do nascente tua mulher e as
mulheres dói teus filhos ficarão do lado do poente! Vossas mulheres não deverão
procurar-vos, nem vós: a elas! Não comereis nem bebereis com elas, nem com ela:
vos deitareis, até o dia em que sairdes da Arca! Pois essa geração provocou a
ira de Deus, É é indigna de permanecer nas proximidades do Paraíso e dos Anjos.
8
"Quando tiverem baixado as águas do dilúvio, saí da Arca e habitai aquela
terra; mas, tu, Noé, bem-amado do Senhor não deverás afastar-te da Arca e do
corpo do nosso Pai Adão! Mas serve a Deus dentro da Arca, de maneira pura e
santa, todos os dias da tua vida!
9
"Aqueles objetos sagrados deverão ser depositados no Oriente! Ordena ao
teu primogênito Sem que, após a tua morte, leve consigo o corpo do nosso Pai
Adão e o transporte ao centro da terra! Lá deixe permanecer um homem da sua
descendência, para ali prestar serviço! Este deverá permanecer casto durante
todos os dias da sua vida, não poderá tomar mulher nem derramar sangue; e nem
lá poderá haver casa de moradia!
10
"Lá ele também não poderá oferecer sacrifícios de animais selvagens ou de
pássaros, mas oferecerá a Deus pão e vinho! Pois ali realizar-se-á a salvação
de Adão e de todos os seus filhos. O Anjo do Senhor o precederá e mostrar-lhe-á
a salvação de Adão e de todos os seus filhos. O Anjo do Senhor o precederá e
mostrar-lhe-á o lugar que representa o ponto central da terra.
11
"E aquele que entra para o serviço do corpo de Adão deverá vestir-se de
peles de animais; não poderá aparar os cabelos da sua cabeça, nem cortar as
suas unhas; deverá também permanecer solitário, por ser um servidor do Deus
Altíssimo."
Capítulo
16
A
Partida de Noé
1
Quando Matusalém acabou de dar essas incumbências a Noé, faleceu com lágrimas
nos olhos e tristeza no coração. Ao morrer, no décimo quarto dia de Adar, num
domingo, ele contava novecentos e sessenta e nove anos de idade, no
septuagésimo nono ano de vida de Sem, filho de Noé.
2
Então seu neto Noé ungiu o corpo de Matusalém com mirra, canela e aloés; depois
Noé e seus filhos sepultaram-no na Caverna dos Tesouros, e prantearam-no
durante quarenta dias. Passados os dias de luto por ele, Noé penetrou na
Caverna dos Tesouros e abraçou e beijou os corpos santos de Seth, Enos, Cainan,
Mahalaleel, Jared, e do seu pai Lamech, enquanto seus olhos derramavam lágrimas
de grande dor.
3
Então Noé tomou o corpo de nosso Pai Adão, bem como o de Eva; seu primogênito
Sem carregou o ouro, Cam a mirra e Japhet o incenso; e assim abandonaram a
Caverna dos Tesouros.
4
Ao descerem da Montanha Sagrada, prorromperam num choro convulsivo, por
verem-se privados do lugar sagrado e da morada dos seus Pais. Ergueram os seus
olhos para o Paraíso, choraram com dor, deploraram com tristeza, dizendo: "Descansa
em paz, ó tu, Paraíso santo, morada do nosso Pai Adão, que te perdeu ao ser
privado da glória por contaminar-se de pecado!
5
"Vê, inclusive na sua morte ele é expulso das tuas fronteiras, e
juntamente com seus filhos, exilado no estrangeiro, na terra cheia de vícios,
sendo os seus descendentes empurrados de cá para lá, na dor, na doença, no
trabalho, no cansaço e na desgraça. Descansa em paz, ó Caverna dos Tesouros!
6
"Descansa em paz, ó morada e herança dos nossos Pais! Descansai em paz, O,
vós, amigos e bem-amados do Deus vivo! Rezai pelo resto, os que sobraram de
todos os vossos descendentes! Rogai por nós em vossa prece, ó vós, nossos
intercessores junto a Deus!
7 "Descansa em paz, Seth, tu, o cabeça
dos Pais! Descansa em paz, Enos, guia da retidão! Descansai em paz Cainan,
Mahalaleel, Jared, Matusalém, Lamech e Enoque, servos de Deus! Implorai com
pena de nós!
8
"Descansa em paz, tu, Montanha Sagrada! Descansa em paz, ó porto e abrigo
dos Anjos! O Pais, rogai por nós em dor, pois que ficaremos privados do vosso
convívio! E nós haveremos de lamentar-nos com grande tristeza, por sermos
atirados a uma terra estéril, onde teremos de conviver com os animais
selvagens."
9
Enquanto desciam da montanha santa, beijavam suas rochas e abraçavam suas belas
árvores. Assim, enquanto derramavam lágrimas amargas, com grande dor e
profundamente contristados, chegaram à planície.
10
Então Noé entrou na Arca e depositou o corpo de Adão no meio dela, e sobre ele
as oferendas sagradas. Naquele mesmo ano em que Noé deu entrada na Arca,
encerrava-se o segundo milênio; este abrangia o período a partir da
descendência de Adão até o dilúvio, segundo nos transmitiram aqueles setenta
escribas sábios.
Capítulo
17
O
Dilúvio
1
Em uma sexta-feira, no décimo sétimo dia do mês abençoado de Ijjar, Noé entrou
na Arca. Pela manhã entraram no compartimento inferior os animais selvagens e
os animais domésticos; ao meio-dia, os pássaros e todos os insetos, no
compartimento do meio; e à tarde, Noé e seus filhos se dirigiram à parte oriental
da Arca e sua mulher com as mulheres dos seus filhos para a parte ocidental.
2 O
corpo de Adão foi colocado entre eles, porque todos ali representavam os
mistérios da Igreja, pois, nas igrejas, as mulheres ficam do lado do poente e
os homens do lado do nascente, para que os homens não vejam o rosto das
mulheres e as mulheres não vejam o rosto dos homens.
3
Assim, na Arca, os homens ocupavam a parte oriental, e as mulheres a parte
ocidental. E assim como o púlpito se erige no meio, o corpo de Adão também foi
colocado no meio.
4 E
da mesma forma como nas igrejas reina a paz entre os homens e as mulheres,
assim também reinava a paz na Arca, entre os animais selvagens, os pássaros e
os demais seres vivos.
5
Assim como lá, reis, sacerdotes, pobres e mendigos permanecem em pé de
igualdade, em unidade e paz, da mesma forma na Arca leões, panteras e outros
animais ferozes viviam em perfeita paz com os animais domésticos, os fortes com
os inferiores e fracos, o leão com o boi, o urso com o cordeiro, o filhote do
leão com o bezerro, a cobra com a pomba, o gavião com o pardal.
6
Quando Noé com os seus filhos, sua mulher e as mulheres dos seus filhos haviam
entrado na Arca, no décimo sétimo dia de Ijjar, à tarde, foram fechadas as
portas, e Noé juntamente com seus filhos encontraram-se numa triste prisão.
7
Uma vez cerradas às portas da Arca, abriram-se às comportas do céu, rasgaram-se
os abismos e irrompeu a massa oceânica das grandes águas que circundam a terra.
Abertas as comportas do céu, escancarados os abismos da terra, foram soltos os
ventos, romperam as tempestades e o oceano rugia e transbordava.
8
Então os filhos de Seth, contaminados pela imundície da luxúria, correram para
a Arca e suplicaram a Noé que lhes abrisse as portas.
E
quando viram o volume das águas que os cercavam e que prorrompiam de todos os
lados, foram tomados de terrível angústia e procuraram subir à montanha do
Paraíso; mas não conseguiram.
9 A
Arca estava fechada e lacrada, e na sua cobertura estava postado um Anjo do
Senhor, como timoneiro. E enquanto as ondas rugiam ao seu encontro, e eles
começavam a submergir na massa revolta e terrível, cumpria-se a seu respeito a
palavra de Davi: "Eu disse: Vós sois deuses, todos filhos do Altíssimo;
mas por terdes feito isso e desejado a fornicação com as filhas de Caim, assim
vós também, como aqueles, sereis destruídos e morrereis da mesma forma que eles
morreram".
Capítulo
18
Fim
do Dilúvio
1 A
Arca, pela grande força da água, foi levantada acima da terra. Então
afogaram-se todos os homens, bem como os animais selvagens, os pássaros, o gado
e os insetos; de modo geral, tudo o que se encontrava sobre a terra pereceu. E
as águas do dilúvio elevaram-se vinte e cinco côvados acima de todos os cumes
das altas montanhas, segundo a medida do Espírito. As torrentes avançaram e a
água levou a Arca para o alto, até alcançar as imediações do Paraíso.
2
Quando as águas foram abençoadas e purificadas pelo Paraíso, volveram atrás,
beijaram as rochas do Paraíso e partiram para a devastação de toda a terra. E a
Arca flutuou pelas asas do vento sobre as águas, do Oriente para o Ocidente, do
Norte para o Sul, descrevendo assim uma cruz sobre as ondas. A Arca pairou
cento e cinqüenta dias sobre a água, e no sétimo mês, ou seja, no décimo sétimo
dia de Tischri, chegou a um lugar de pouso, sobre o monte Cardo.
3
Então Deus ordenou que as águas se separassem. As águas superiores voltaram ao
seu lugar no alto do céu, de onde procederam; as águas que romperam das
profundezas da terra dirigiram-se para os abismos inferiores; e as águas do
oceano a ele tornaram.
4
Sobre a terra ficaram apenas aquelas águas que desde o princípio lhe foram
destinadas, por aceno divino, para a sua necessidade; as outras, até o décimo
mês, Schebat, tinham baixado gradativamente.
5
No primeiro dia de Schebat, começaram a aparecer os cumes das montanhas mais
altas, e passados quarenta dias, aos dez de Adar, Noé abriu a janela oriental
da Arca e despediu um corvo, para que lhe trouxesse notícias. Ele voou e não
mais voltou.
6
Quando as águas diminuíram um pouco mais sobre a terra, ele soltou uma pomba;
mas esta não encontrou nenhum lugar de pouso, e voltou para junto de Noé, na
Arca. Depois de sete dias, ele despediu mais uma vez a pomba; e ela voltou,
trazendo no bico um ramo de oliveira.
7
Essa pomba representa para nós os dois Testamentos. No primeiro, o Espírito que
falava pelos Profetas, junto àquele povo que provocou a ira de Deus, não
encontrou pousada;mas no segundo, Ele baixou tranqüilamente sobre os povos,
através das águas do Batismo.
Capítulo
19
A
Aliança com Noé
1
No seiscentésimo ano de vida de Noé, no primeiro dia de Nisan, haviam secado as
águas na superfície de toda a terra. No segundo mês, ou seja em Ijjar, no mesmo
em que Noé tinha entrado da Arca, no décimo sé-timo dia, num domingo santo,
deixaram a Arca ele, sua mulher, seus filhos e suas mulheres.
2
Quando deram entrada na Arca, entraram separadamente, Noé com os seus filhos,
sua mulher com as mulheres dos seus filhos. E os homens não conheceram suas
mulheres, até saírem da Arca. Naquele mesmo dia abandonaram a Arca todos os
animais selvagens, os animais domésticos, todos os pássaros e os restantes
seres vivos.
3
Depois de haverem descido da Arca, Noé começou a cultivar a terra. Construíram
também uma cidade e chamaram-na Temanon, por causa das oito pessoas que saíram
da Arca. Depois Noé erigiu um altar e ofereceu sobre ele ao Senhor um
sacrifício de animal puros e pássaros, e Deus acolheu o seu sacrifício. E Ele
estabeleceu com Noé uma Aliança por todos os tempos, e jurou "Nunca mais
permitirei que aconteça um dilúvio".
4
Da seguinte forma Eli estabeleceu a Aliança com Noé afastou do arco a flecha da
ira, nas nuvens, desprendeu dele a corda da indignação e estendeu-o sobre as
nuvens; e nele não mais havia nem flecha nem corda; pois quando antigamente
esse arco estava retesado no firmamento contra a geração dos filhos do
assassino Caim, estes viram a flecha da ira, assestada à corda da indignação.
Capítulo
20
A
Maldição de Cam
1
Após o dilúvio, e após terem saído da Arca, eles semearam, plantaram uma vinha
e espremeram o vinho novo; aproximou-se então Noé e bebeu dele; depois que
tomou, ficou embriagado. Enquanto dormia, descobriram-se as suas vergonhas;
então o seu filho Cam viu a nudez do pai, não a cobriu, mas riu-se e fez troça.
2
Saiu e foi chamar os seus irmãos, para que eles também rissem do seu pai.
Porém, quando Sem e Japhet ouviram isso, ficaram muito perturbados; tomaram de
um manto e entraram, caminhando de costas, procurando esconder o rosto para não
verem a nudez do seu pai. Jogaram o manto sobre ele e o cobriram.
3
Quando Noé acordou do sono do vinho, sua mulher contou-lhe tudo o que havia
acontecido; mas ele mesmo já sabia o que se tinha passado. Então irou-se
profundamente contra o seu filho Cam e disse: "Maldito seja Canaã! Que ele
seja o servo dos servos dos seus irmãos!"
4
Por que motivo, pela culpa de Cam, justamente Canaã foi amaldiçoado? Quando ele
era um rapaz crescido e chegara ao uso da razão, Satã introduziu-se nele e
passou a ser o seu mestre no pecado. Ele renovou a obra da casa de Caim,
confeccionou flautas e cítaras.
5
Então os diabos e demônios entraram nelas e lá se estabeleceram; tão logo o
vento soprava dentro delas, os demônios cantavam e emitiam a sua voz forte. E
quando as cítaras eram tangidas, os diabos atuavam por meio delas.
6
Noé, ao tomar conhecimento dessas práticas de Canaã, entristeceu-se
profundamente, pois que se renovavam as obras da perversidade pelas quais
ocorrera a queda dos filhos de Seth, pois pela cantoria, dança e pelo
assanhamento dos filhos de Caim, Satã levou os "Filhos de Deus" à
perdição. E, pela música das flautas avolumaram-se os pecados da geração
antiga, a ponto de Deus irar-se e mandar o dilúvio.
7
Agora Canaã, por ter tido o atrevimento de fazer isso, foi amaldiçoado, e a sua
descendência passou a ser a serva dos servos; trata-se dos egípcios, etíopes e
mysios. E por ter sido Cam atrevido e zombeteiro em relação ao seu pai, foi
denominado e conhecido até hoje como "o impudico".
8
Noé, porém, por intermédio do sono da sua embriaguez, indica a cruz do Messias,
como dele fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor despertou como alguém
que dormia, como um homem que lançou pela boca o seu vinho."
9
Ousam dizer os hereges que "Deus foi crucificado". Mas Davi nesse
passo chama-o "Senhor", como também diz o apóstolo Pedro: "Deus
constituiu-o Senhor e Messias", referindo-se a esse Jesus, que vós
crucificastes. Não diz "Deus", mas "Senhor", com o que está
a mencionar a unidade hipostática, que se juntam numa única filiação.
10
Mas Noé, ao despertar do seu sono, amaldiçoou Canaã e rebaixou os seus
descendentes à condição de servos; depois dispersou-os entre os povos. E quando
Nosso Senhor ressuscitou da morada dos mortos, Ele amaldiçoou os judeus e
espalhou os seus descendentes entre os povos.
11
Mas, como dito, os descendentes de Canaã foram os egípcios; eles foram
disseminados por toda a terra para servir como servos dos servos.
12
E o que significava a servidão da servidão? Esses egípcios serão escorraçados
por toda a terra, e carregarão fardos no pescoço. Os outros, aos quais foi
imposto o jugo da submissão, não andam a pé, ao serem mandados em viagem pelos
seus amos, e não carregam fardos no pescoço, mas montam a cavalo com honra,
semelhantemente aos seus senhores.
13
Mas os descendentes de Cam são os egípcios que carregam fardos e que ao viajar
andam a pé, e com isso seu pescoço se curva sob o peso. Assim, eles são
enxotados das portas dos filhos dos seus irmãos.
14
Esse castigo foi imposto aos descendentes de Cam por causa da insensatez de Canaã,
tornando-se dessa forma os servos dos servos.
Capítulo
21
O
Testamento de Noé
1
Depois de sair da Arca, Noé viveu mais trezentos e cinqüenta anos; depois ele
adoeceu para morrer, e reuniram-se junto dele Sem, Cam, Japhet. Arpachsad e
Salé.
2
Então Noé chamou perto de si o seu filho primogênito Sem, e falou-lhe em
segredo: "Escuta bem, meu filho, o que agora vou dizer-te! Quando eu
estiver morto, entra na Arca em que fostes salvos e retira de lá o corpo do
nosso Pai Adão! Mas não deverás ser visto por homem algum.
3
"Toma contigo pão e vinho, como provisão de viagem Em seguida, leva
contigo Melchizedek, o filho de Malach pois, de todos os teus descendentes, ele
foi por Deus escolhido para servir, na sus presença, ao corpo do nosso Pai
Adão!
4
"Depois parte e deposita o no ponto central da terra, e faze com que
Melchizedek habite! O Anjo do Senhor ir adiante de vós, para mostrar-vos o
caminho que devereis seguir bem como o lugar onde devei ser colocado o corpo de
Adão, a saber, no ponto central da terra.
5
"Lá se concentram quatro extremidades, pois quando Deus criou a terra,
emanou d'Ele a sua força, e a terra brotou dessa força prolongando-se em quatro
direções, como polias e colunas. Mas nesse ponto a sua força se fixou e
permaneceu em repouso. Ali realizar-se-á a redenção de Adão e de todos os seus
filhos. Essa história foi transmitida geração após geração, desde Adão até nós.
6
"Adão passou essa incumbência a Seth, Seth a Enos, este a Cainan, este a
Mahalaleel, este a Jared, este a Enoque, este a Matusalém, este a Lamech e
Lamech a mim; e assim, transmito-te hoje essa mesma incumbência. Essa história
nunca mais será contada entre os vossos descendentes. Tu, porém, aviate e
deposita secretamente o corpo de Adão lá onde Deus te indicar, até o dia da Redenção!"
7
Após Noé ter transmitido tudo isso ao seu filho Sem, morreu com a idade de
novecentos e cinqüenta anos, no segundo dia de Ijjar, em um domingo.
Capítulo
22
Inumação
de Adão por Sem no Gólgota
1
Depois da morte de Noé, Sem cumpriu o que o seu pai lhe ordenara. Penetrou de
noite na Arca, retirou o corpo de Adão, depois lacrou-a de novo com o selo de
seu pai, sem que fosse percebido por ninguém.
2 A
seguir, chamou Cam e Japhet e disse-lhes: "Irmãos! Meu pai ordenou-me que
eu partisse para as terras além do mar, para ver a situação da terra e dos
rios, e tomasse depois para junto de vós. Minha mulher e os filhos da minha
casa ficarão convosco, sob vossos cuidados!"
3
Responderam-lhe então os seus irmãos: "Leva contigo um bom número de
homens! Pois a região é infértil e desabitada; também existem lá animais
selvagens". Respondeu-lhes Sem: "O Anjo do Senhor irá comigo e
proteger-me-á de todo o mal".
4
Disseram então os seus irmãos: "Assim sendo, vai em paz! Que o Senhor,
Deus dos nossos Pais, esteja contigo!" Então Sem disse a Malach, filho de
Arpachsad e pai de Melchizedek, bem como à sua mãe Jozadak: "Dai-me
Melchizedek, para que me acompanhe e me sirva de companhia ao longo da
viagem!"
5
Disseram-lhe então os pais Malach e Jozadak: "Fique ele contigo, e vai em
paz!" Então Sem ordenou aos seus irmãos dizendo-lhes: "Irmãos! Quando
o meu pai morreu, obrigou-me por juramento a que nem eu nem qualquer um dos
vossos descendentes penetrasse na Arca, e foi selada com o seu selo". E
disse-lhes ainda: "Homem algum poderá dela aproximar-se".
6
Em seguida, Sem tomou o corpo de Adão e, juntamente com Melchizedek, abandonou
o seu povo, de noite. Então apareceu-lhes o Anjo do Senhor, que foi à frente
deles; o caminho lhes era muito leve, porque o Anjo do Senhor dava-lhes forças,
até chegarem àquele lugar.
7
Chegados ao Gólgota, o ponto central da terra, o Anjo indicou o lugar a Sem.
Quando este depositou o corpo do nosso Pai Adão no alto desse lugar, o chão
abriu-se em quatro direções, na forma de uma cruz; nele Sem e Melchizedek
colocaram o corpo de Adão.
8 Tão logo ali o depositaram, os quatro
lados do chão moveram-se e cobriram o corpo do nosso Pai Adão; então
fecharam-se as portas da terra exterior. E esse lugar foi chamado
"Calvário", porque ali fora depositada a cabeça de todos os homens;
"Gólgota", porque era redondo; "Aterro", porque sobre ele
foi pisada a cabeça da serpente má, Satã; e "Sábata", porque ali
seriam reunidos todos os povos.
9
Disse então Sem a Melchizedek: "Tu és o servidor do Deus Altíssimo, pois
Deus escolheu unicamente a ti para prestares serviço na sua presença neste
lugar. Permanece aqui para sempre, e por toda a tua vida não te afastes deste
lugar!
10
"E também não tomes mulher! Não cortes teus cabelos! Não derrames sangue
aqui! Não sacrifiques nem animais selvagens, nem pássaros, mas oferece
constantemente pão e vinho! E não construas nenhuma casa neste lugar! O Anjo do
Senhor descerá sempre e cuidará de ti."
11
Então Sem abraçou Melchizedek, beijando-o e abençoando-o; depois disso, voltou
para junto dos seus irmãos. Então os pais de Melchizedek, Malach e Jozadak,
perguntaram: "Onde está o menino?" ele respondeu-lhes: "Morreu
durante a viagem, e eu o enterrei". Então eles o prantearam com muitas
lágrimas.
Capítulo
23
A
Geração de Sem
1
Sem viveu seiscentos anos; depois morreu. Seu filho Arpachsad, com Salé e
Heber, sepultaram-no. Arpachsad havia gerado Salé com a idade de trinta e cinco
anos; o total da sua vida alcançou quatrocentos e trinta anos.
2
Ele morreu e foi enterrado por seu filho Salé e Heber e Peleg na cidade de
Arpachsad, que ele havia edificado em seu nome. Salé gerou Heber, na idade de
trinta anos; o total da sua vida alcançou quatrocentos e trinta anos.
3
Quando morreu, o seu filho Heber, com Peleg e Regu, sepultaram-no na cidade de
Selichon, que ele edificara em seu nome. Heber, com a idade de trinta e quatro
anos, gerou Peleg; a sua vida inteira alcançou quatrocentos e sessenta e quatro
anos. Ele morreu e foi enterrado pelo seu filho Peleg, Regu e Serug, na cidade
de Heberin, que ele havia edificado em seu nome. Peleg, com a idade de trinta
anos, gerou Regu; a sua vida inteira chegou a duzentos e trinta e nove anos; e
depois morreu.
4
Nos dias de Peleg, todas as estirpes e descendência dos filhos de Noé
transferiram-se do Oriente e assentaram-se numa planície na região de Senaar;
lá habitaram e tinham unidade de palavras e língua. Desde Adão, todos eles
falavam a mesma língua, a saber, a língua siríaca, que é o aramaico; pois essa
é a rainha de todas as línguas.
5
Erram os escribas antigos quando dizem que o hebraico foi a primeira das
línguas, e com isso misturaram o erro da ignorância aos seus escritos, pois
todas as línguas do mundo procederam do siríaco, e todas as palavras dos livros
relacionam-se com essa língua.
6
Na escrita dos sírios, o lado esquerdo prolonga o direito, e da direita de Deus
aproximam-se todos os filhos da esquerda, os gregos, os romanos e os hebreus; a
direita aqui prolonga a esquerda.
7
Nos dias de Peleg foi construída a torre em Babel; lá confundiram-se as suas
línguas, e dali foram espalhados por toda a terra. Esse lugar chamou-se Babel,
porque lá foram confundidas as línguas. Depois da separação das línguas, Peleg
morreu em grande tristeza, com lágrimas nos olhos e dor no coração, porque nos
seus dias a terra ficou dividida.
8
Foi enterrado por seu filho Regu, Serug e Nachor, na cidade de Pelegin, por ele
edificada em seu nome.
9
Havia então sobre a terra setenta e duas línguas e setenta e duas cabeças de
estirpe, e cada nação de língua diferente escolheu para si um cabeça como rei.
A linhagem de Japhet abrangia trinta e sete povos e reinos: Gomer, Javan,
Madai, Tubal, Mesech e Tiras, bem como todos os reinos dos alaneus; todos esses
são descendentes de Japhet.
10
Filhos de Cam são Cus, Misraim, Put e Canaã, com todos os seus descendentes. Os
filhos de Sem são Elam, Assur, Arpachsad, Lud e Aram, com todos os seus
descendentes. Os filhos de Japhet ocupam os confins do Oriente, do monte Nod,
nos limites orientais, até o Tigre, e, pelos limites do Norte, da Báctria ao
Gadir.
11
Os filhos de Sem habitam desde o Pars, no Oriente, até o mar, no Ocidente; a
eles pertence o ponto central da terra; possuem o reino e a realeza. Os filhos
de Cam ocupam toda a parte Sul, e ainda uma pequena parte do Oeste.
12
Regu viveu duzentos e trinta anos, e gerou Serug. Nos dias de Serug, no seu
centésimo trigésimo ano, reinou o primeiro rei sobre a terra, Nirnrod, o
gigante, que imperou durante sessenta e nove anos; a capital do seu reino foi
Babel.
13
Ele viu no céu algo que se parecia com uma coroa; mandou então chamar o tecelão
Sisan, e este teceu-lhe uma semelhante e a colocou sobre a sua cabeça. Por isso
se diz que a coroa lhe veio do céu. Nos dias de Regu, chegou ao término o
terceiro milênio.
Capítulo
24
Início
do Culto dos ídolos
1
Nos seus dias, os misreus, isto é, os egípcios, elegeram para si o seu primeiro
rei, chamado Puntos; reinou sessenta e oito anos sobre eles. Nos dias de Regu
reinou também um rei em Sabá, Ophir e Chavila. Em Sabá reinaram sessenta das
filhas de Sabá, e durante muitos anos reinaram mulheres em Sabá, até o reinado
do filho de Davi, Salomão.
2
Sobre os filhos de Ophir reinou o rei Leforão, que construiu Ophir em pedras de
ouro; pois todas as pedras de Ophir são de ouro. Sobre os filhos de Chavila reinou
Chavil, construtor de Chavila. Regu morreu com a idade de duzentos e trinta e
nove anos; foi enterrado por seu filho Serug, mais Nachor e Tharé, na cidade de
Orgin, que ele erigira em seu nome.
3
Serug viveu trinta anos, e então gerou Nachor; sua vida inteira alcançou
duzentos e trinta anos. Nos dias de Serug sobreveio no mundo o receio em face
dos ídolos; pois nos seus dias, os homens começaram a fabricar imagens para si.
4
Mas a introdução dos ídolos no mundo começou porque os homens estavam espalhados
por toda parte, e não possuíam nem mestres nem legisladores, nem qualquer outro
que lhes mostrasse o caminho da verdade, por onde deviam caminhar.
Por
isso é que caíram em erros audaciosos.
5
Alguns deles, no seu desvio, adoravam o sol, outros a lua e as estrelas, outros
a terra e os animais selvagens, os pássaros, os insetos, as árvores, as rochas,
os animais marinhos, as águas e os ventos. Por essa forma, Satã cegou os seus
olhos, fazendo com que errassem nas trevas do engano, por não terem esperança
na Ressurreição.
6
Quando alguém deles morria, fabricavam uma imagem que se parecesse com ele e
colocavam-na sobre a sua sepultura, para que não se desvanecesse dos seus olhos
a sua lembrança. Quando o erro se havia disseminado sobre toda a terra, esta estava
repleta de ídolos de toda espécie, masculinos e femininos.
7
Serug faleceu com a idade de duzentos e trinta anos, e foi sepultado por seu
pai Nachor, Tharé e Abraão, na cidade de Saregin, que em seu nome havia
construído. Nachor gerou Tharé, na idade de vinte e nove anos. Nos dias de
Nachor, no seu septuagésimo ano, quando Deus viu que os homens adoravam os
ídolos, aconteceu um grande terremoto. Todos cambaleavam, caíam e perdiam o
juízo; mas outra coisa não fizeram a não ser aumentar a sua iniqüidade.
8
Nachor morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; foi enterrado por seu
filho Tharé e por Abraão. Tharé, aos setenta e cinco anos, gerou Abraão.
Capítulo
25
O
Surgimento das Imagens dos Ídolos
1
Nos dias de Thares, aos seus noventa anos, surgiram as poções e magias sobre a
terra, na cidade de Ur, que Horon, filho de Ebers, havia construído. Nessa
cidade morava um homem muito rico, que morrera naquele tempo, e seu filho então
fez dele uma imagem em ouro, colocou-a sobre a sua sepultura e postou ali um
jovem para que a vigiasse.
2
Então Satã introduziu-se na estátua e habitou nela e começou a falar com o
jovem através da imagem do pai. Entretanto, vieram os ladrões e levaram embora
tudo o que o — jovem guardava; então ele atirou-se sobre a sepultura do pai e
começou a chorar.
3
Então Satã, falando com ele, disse: "Não chores na minha presença, mas
vai, traze o teu filhinho e imola-o para mim em sacrifício! Ser-te-á então
restituído tudo o que te foi tirado".
4
Ele então fez tudo conforme Satã lhe dissera; sacrificou o seu filhinho e
banhou-se no seu sangue. Então Satã saiu imediatamente daquela imagem e entrou
no jovem e começou a ensinar-lhe poções, magias, passes, a arte dos caldeus,
fados, sortilégios e destinos.
5
Naquele tempo, os homens começaram a sacrificar os seus filhos aos demônios e a
invocar os ídolos, pois os malignos entravam em todas as imagens e lá
habitavam.
6
Aos cem anos de Nachor, ao ver Deus que os homens sacrificavam os seus filhos
aos demônios e que adoravam os ídolos, abriu os reservatórios dos ventos e a
porta das tempestades. Então um ciclone invadiu toda a terra, quebrou as
imagens e os lugares de sacrifício dos demônios, ajuntou os ídolos, as imagens
e os altares, acumulando-os em grandes outeiros até os dias de hoje.
7
Os mestres denominam esse ciclone o "dilúvio de vento". Há pessoas
todavia que deliram, dizendo que esses outeiros surgiram nos dias do dilúvio;
quem assim diz, erra longe da verdade, pois antes do dilúvio não existiam
ídolos sobre a terra, e ele não foi mandado por causa de deuses falsos, mas por
causa da impudicícia das filhas de Caim.
8
De outro lado, naquele tempo não existiam homens naquela terra, sendo ela vazia
e deserta; pois os nossos Pais já anteriormente haviam sido expulsos para o
estrangeiro, por não serem dignos de permanecer nas proximidades do Paraíso.
Eles foram levados pela Arca às montanhas de Kardo, e a partir de lá
espalharam-se por toda a terra.
9
Esses outeiros porém surgiram por causa dos ídolos, e debaixo deles escondem-se
todas as imagens de falsos deuses daquele tempo. Também os demônios, que
habitavam os ídolos, estão nesses outeiros; não há nenhum outeiro que não
contenha demônios.
Capítulo
26
Surgimento
do Culto do Fogo
1
Nos dias do gigante Nimrod, apareceu um fogo que saía da terra. Então Nimrod
desceu, viu o fogo e invocou-o; e estabeleceu sacerdotes para lá prestarem
serviço e esparzir incenso. Desde aquele tempo, os persas começaram a venerar o
fogo, até os dias de hoje.
2 O
Reisisan encontrou uma fonte em Derogin; construiu um cavalo branco e colocou-o
sobre ela, e todo aquele que ali se banhava adorava o cavalo. Desde esse tempo,
os persas começaram a venerar esse cavalo.
3
Nimrod foi a Jokdora, que vem a ser Nod. Quando chegou junto ao mar, encontrou
ali Jetã, filho de Noé. Ele desceu e banhou-se nesse mar; depois ofereceu um
sacrifício e adorou Jetã.
4
Então disse-lhe Jetã: "Tu és rei, e a mim veneras?" Respondeu-lhe
então Nimrod: "Por tua causa eu vim até aqui". Então Jonton ensinou a
Nimrod a sabedoria e a ciência dos oráculos, e disse-lhe: "Não tomes mais
a mim!"
5
Quando ele voltou para o Leste e começou a utilizar esse oráculo, muitos se
admiraram. Idascher, o sacerdote, servia junto àquele fogo que nasceu da terra.
Viu como agora Nimrod se ocupava com aquelas altas e velhas artes. Então ele
suplicou ao demônio, que apareceu junto àquele fogo, lhe ensinasse a sabedoria
de Nimrod.
6 E
como os demônios soem desgraçar pelo pecado todos os que deles se aproximam,
disse o maligno a esse sacerdote: "Nenhum homem pode tomar-se sacerdote ou
mago a não ser que antes se deite com sua mãe, com sua filha e com sua
irmã". O sacerdote Idascher assim o fez.
7 A
partir desse momento, os sacerdotes, os magos e os persas começaram a fornicar
com suas mães, irmãs e filhas. Esse mago Idascher começou por perscrutar as
constelações, bem como os fados, destinos, acasos, e todas essas coisas das
práticas dos caldeus.
8
Todo esse ensinamento do erro pertence aos demônios, e todo aquele que o põe em
prática será castigado com eles. Mas nenhum mestre ortodoxo se opôs àqueles
oráculos de Nimrod, porque foi-lhe ensinado por Jetã; eles mesmos o utilizavam.
Os persas chamavam-no oráculo, os romanos astronomia.
9 A
astrologia, porém, praticada pelos magos é bruxaria, ensino do erro e dos
demônios. Há todavia pessoas que dizem existir na realidade a sorte, o destino,
mas estão equivocadas.
10
Nirnrod edificou no Leste cidades-fortes: BabeI, Nínive, Resen, Selêucia,
Atesiphon e Aserbadschan; construiu também três fortalezas.
Capítulo
27
Abraão
1
Tharé, pai de Abrão, viveu duzentos e cinqüenta anos; depois morreu. Abrão e
Lot sepultaram-no em Haran. Ali Deus falou com Abrão e disse-lhe:
"Abandona a terra e a casa da tua família e vai para a terra que eu te
indicarei!"
2
Então ele tomou os filhos da sua casa, sua mulher Sarai e o filho do seu irmão,
Lot, e subiu para a região dos amoritas. Contava setenta e cinco anos, quando
se encaminhou para o oeste do rio Eufrates.
3
Oitenta anos tinha ele quando perseguiu os reis e resgatou o seu sobrinho Lot.
Naquele tempo todavia ele não tinha filhos, porque Sarai era estéril.
4
Quando ele voltou do combate com os reis, os desígnios de Deus chamaram-no, e
ele se dirigiu ao alto do monte Jebus. Lá o rei de Salém, Melchizedek, o
sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao seu encontro. Quando Abrão viu Melchizedek.
correu para junto dele, caiu sobre a sua face e venerou-o: depois ergueu-se do
chão, abraçou-o e beijou-o; em seguida foi por ele abençoado.
5
Depois que Melchizedek abençoou Abrão, este deu-lhe a décima parte de tudo o
que possuía, para que lhe permitisse participar dos santos mistérios, do pão do
sacrifício e do vinho da Salvação.
6
Após abençoado por Melchizedek, e recebidos os santos mistérios, Deus falou a
Abrão, dizendo-lhe: "Grande é o teu prêmio; recebeste agora a bênção de
Melchizedek e a comunhão do pão e do vinho. Eu também agora desejo abençoar-te
e fazer com que seja numerosa a tua descendência".
7
Quando Abrão tinha oitenta e seis anos de idade, nasceu-lhe Ismael, de Agar. O
faraó tinha dado Agar a Sarai por serva. Sarai porém era irmã de Abrão por
parte de pai; pois Tharé havia desposado duas mulheres.
8
Quando Jauna, a mãe de Abrão, morreu, Tharé tomou outra mulher e chamou-a
Naharjath; desta nasceu Sarai. Por isso é que ele disse: "Ela é minha
irmã, filha do meu pai, mas não filha de minha mãe".
Capítulo
28
O
Sacrifício de Isaac
1
Abraão tinha noventa e nove anos de idade quando Deus entrou em sua casa e deu
a Sara um filho. Cem anos tinha Abraão quando nasceu-lhe Isaac. Isaac contava
vinte e dois anos, quando o seu pai o levou consigo ao monte Jebus, junto de
Melchizedek, o servo do Deus Altíssimo.
2 O
monte Jebus situa-se de fato nas montanhas dos amoreus, e sobre esse lugar foi
erigida a Cruz do Messias. Ali brotou uma árvore, que carregou o cordeiro que
salvou Isaac. Esse lugar é o ponto central da terra, a sepultura de Adão, o
Altar de Melchizedek, Gólgota, Calvário, Sábata.
3
Lá Davi viu o Anjo que portava a espada de fogo, e lá Abraão levou o seu filho
Isaac, para imolá-lo; ele viu a Cruz do Messias e a redenção do nosso Pai Adão.
A árvore era o prenúncio da Cruz de Nosso Senhor, o Messias, e o cordeiro nos
seus ramos representava o mistério da Encarnação do Verbo único.
4
Por isso Paulo exclamou, dizendo: "Se eles tivessem tido entendimento, não
teriam crucificado o Rei da Glória". Cale-se a boca dos hereges, que em
seu delírio atribuem sofrimentos Aquele que é eterno! Quando o Messias tinha
oito dias de idade, José, esposo de Maria, decidiu circuncidar o menino,
segundo a Lei; circuncidou-o, de acordo com os usos da Lei. E assim também
Abraão levou o seu filho para o sacrifício, representando com isso a morte na
Cruz do Messias.
5
Por isso é que o Messias anunciou abertamente diante dos judeus reunidos:
"Abraão, vosso Pai, desejou ardentemente presenciar os meus dias; ele os
viu e alegrou-se com isso". Lá revelou-se a Abraão o dia da redenção de
Adão; ele o viu e alegrou-se profundamente; e foi-lhe mostrado também que o
Messias sofreria em lugar de Adão.
Capítulo
29
A
Fundação de Jerusalém
1
No mesmo ano em que Abraão levou o seu filho para a imolação, Jerusalém foi
fundada. O início da edificação começou da seguinte forma: quando Melchizedek
apareceu e se mostrou aos homens, vieram ter com ele Abimelech, rei de Gedar,
Arnraphel, rei de Sinear, Arioch, rei de Delassar, Kedor
Laomer, rei de Elam. Tarel, rei dos geleus, Bera, rei de Sodoma, Birsa, rei de
Gomorra, Sineag, rei de Dama, Gemair, rei de Seboim, Salach. rei de Bela,
Tabik, rei de Darfos, e Baktor, rei do Deserto.
2
Esses doze reis chegaram a Melchizedek, rei de Salém e servo do Deus Altíssimo,
e quando eles viram a sua figura e ouviram as suas palavras, suplicaram-lhe que
fosse junto com eles. Ele respondeu-lhes: "Não tenho permissão de
afastar-me daqui para um outro lugar".
3
Então apressaram-se em mútuas consultas para a decisão de construir-lhe uma
cidade, enquanto comentavam entre si: "Ele é na realidade o rei de toda a
terra e pai de todos os reis". Assim, eles edificaram-lhe uma cidade e
constituíram Melchizedek seu rei, e ele chamou-a Jerusalém.
4
Quando Magog, o rei do Sul, ouviu falar disso, veio ter com ele, admirou o seu
porte, conversou com ele e fez-lhe oferendas e deu-lhe presentes. Dessa forma,
Melchizedek era honrado por todos os povos e chamado de "pai dos
reis".
5 E
isso que foi dito pelo Apóstolo: "Os seus dias não têm começo e não têm
fim". Aos néscios todavia pareceu que ele não foi um homem, e dele
afirmaram erroneamente que era Deus.
6
Absolutamente não! Mas os seus dias não têm nem começo, nem fim, pois, não é
dita uma palavra sobre como ele foi levado da casa dos seus pais por Sem, filho
de Noé, nem sobre sua idade quando partiu para o Oriente, nem sobre os seus
anos quando partiu deste mundo.
7
Por ter sido ele o filho de Malach e neto de Arpachsad, filho de Sem, e não o
filho de um dos Patriarcas, diz o Apóstolo que nenhum homem da estirpe de seu
pai serviu diante do Altar. O nome do seu pai não está consignado no registro
das gerações, porque os evangelistas Mateus e Lucas só mencionaram os
Patriarcas. Por isso também é que os nomes do seu pai e de sua mãe são
desconhecidos.
8 O
Apóstolo contudo não diz que ele não tinha pais, mas tão-somente que no
registro genealógico de Mateus e Lucas os seus nomes não constam.
9
No centésimo ano de Abraão, apareceu no Oriente um rei por nome Kurnros. Este
construiu Somosata e Caludias, segundo o nome da sua filha Kalod, e Perre,
segundo o nome do seu filho Poron. No qüinquagésimo ano de Regus, Nirnrod subiu
e construiu Nísibe e Edessa.
10
Cercou Haran, que é Edessa, com o muro de Haranith, mulher de Dasan, o
sacerdote da montanha. Os habitantes de Haran erigiram para ela uma estátua e
passaram a venerá-la. Baltin foi entregue a Tammuz; mas porque Beelschemin a
amava, Tammuz fugiu dele. Então ela ateou o fogo e Haran ardeu.
Capítulo
30
Isaac
1
Quando morreu Sara, mulher de Abraão, este tomou por esposa a Cetura, filha de
Baktor, rei do Deserto. Dela nasceram-lhe Simron, Jaksan, Medan e Midian,
Jesbak e Suach. Destes procederam aos árabes.
2
Quando Isaac chegou aos quarenta anos de idade, Eliezer, um dos descendentes de
Abraão, foi ao Oriente buscar Rebecca; Isaac então tomou-a por esposa. Quando
Abraão morreu, Isaac sepultou-o ao lado de Sara. Quando Isaac tinha sessenta
anos, Rebecca ficou grávida de Esaú e Jacó.
3
Nas suas angústias antes do parto, ela foi procurar Melchizedek. Este rezou por
ela, e depois disse: "Dois povos estão no teu ventre, e duas nações serão
segregadas das tuas coxas, isto é, procederão do teu corpo; e uma será mais
forte do que a outra, e a mais velha deverá ser submetida a mais nova",
isto é, Esaú deverá servir a Jacó.
4
Quando Isaac tinha sessenta e sete anos de idade, foi construída Jericó por
obra de sete reis, a saber, o rei dos hititas, o rei dos amoreus, o rei dos
gergestitas, o rei dos jebuseus, o rei dos cananeus, o rei dos hititas e o rei
dos fereseus.
5
Cada um deles ergueu um muro ao redor da cidade. Anteriormente porém já o filho
do rei do Egito, Mesrin, havia fundado a cidade de Jericó. No deserto, Ismael
converteu o moinho manual em moinho de trabalho escravo.
6
No centésimo ano de vida de Isaac, este abençoou a Jacó, que contava quarenta
anos de idade. Depois de recebida essa bênção do seu pai, ele desceu ao
Oriente. Quando certo dia ele foi ao deserto de Beerseba, ali pegou no sono; ao
adormecer, tomou de uma pedra para servir-lhe de encosto para a cabeça.
7
Então em sonho ele presenciou uma visão: da terra partia uma escada e a sua
extremidade alcançava o céu. Os Anjos de Deus desciam e subiam por ela, e no
alto dela estava o Senhor. Então Jacó acordou do seu sono e disse: "Em
verdade, esta é a morada de Deus".
8
Depois tomou a pedra que lhe servira de encosto, ergueu um altar, ungiu-o com
óleo, fez uma promessa, dizendo: "De tudo o que possuo oferecerei uma
décima parte a esta pedra".
9
Para os que entendem, é evidente: a escada vista por Jacó representa a Cruz do
Redentor; os Anjos que por ela subiam e desciam são os servidores, como
Zacarias, Maria, os Magos e os Pastores. O Senhor postado no alto da escada é o
Messias, que pende do alto da Cruz, para depois descer ao mundo inferior e
redimir-nos.
10
Depois de haver Deus mostrado ao piedoso Jacó a Cruz do Messias, através da
escada e dos Anjos, bem como sua descida aos infernos para a nossa salvação, a
Igreja, a casa de Deus, e o altar da pedra, a oferta dos dízimos e a unção pelo
óleo, Jacó seguiu o seu caminho para o Oriente, e lá Deus mostrou-lhe o
Batismo, pois ele viu três rebanhos que estavam junto a um poço.
11
Uma grande pedra estava colocada na abertura do poço; Jacó foi lá e removeu a
pedra, dando de beber às ovelhas do irmão de sua mãe. Depois de haver! dado de
beber às ovelhas, ele tomou Rachel e beijou-a.
12
O "poço" era o Batismo, que ficara oculto às gerações e às estirpes.
O piedoso Jacó e os três rebanhos de ovelhas dão-nos a imagem das três subdivisões
do Batismo, o dos homens, o das mulheres e o das crianças.
13
O fato de Jacó ter visto Rachel, que vinha com as ovelhas, mas não havê-la
abraçado e beijado antes de ter removido a pedra da boca do poço e dado de
beber às ovelhas, indica a lei dos membros da Igreja, segundo a qual só abraçam
e beijam as ovelhas do Messias após o Batismo, depois de terem imergido e se
revestido da força da água; só então abraçam e beijam os filhos da Igreja.
14
Durante sete anos Jacob serviu a Labão, e só então lhe foi concedida aquela que
ele amava; isto significa que aos judeus, que prestaram servidão ao faraó, rei
do Egito, e depois saíram desse país, não foi concedido o testamento da Igreja
esposa do Messias, mas somente o velho testamento, gasto e deteriorado.
15 Isso representa a primeira filha recebida
por Jacob: os seus olhos eram feios, enquanto que os olhos de Rachel eram
bonitos e o seu rosto brilhante. Sobre o primeiro testa-mento fora estendido um
véu, de sorte que os filhos de Israel não puderam ver a sua beleza; o segundo
testamento, porém, é pura luz.
Capítulo
31
Jacó
e seus Filhos
1
Jacó tinha setenta e sete anos de idade quando recebeu a bênção de seu pai. Na
idade de oitenta e nove anos, gerou de Lia o seu primogênito, Ruben. São os
seguintes os filhos de Jacob: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulon;
esses foram gerados por Lia: José e Benjamim são os filhos de Rachel; Dan e
Naphtali são de BaIla, escrava de Rachel.
2
Passados vinte anos, Jacó tomou para junto do seu pai Isaac. A vida toda de Isaac
alcançou cento e oitenta anos, tendo Levi trinta e um anos de idade; faleceu
quando Jacó contava cento e vinte anos. Vinte e três anos após a volta de Jacó
de Haran, José foi vendido aos madianitas; isso aconteceu em vida de Isaac, e
todos deploraram profundamente.
3
Quando Isaac morreu, Jacó e Esaú, e seus outros filhos, sepultaram-no junto de
Abraão e Sara. Sete anos mais tarde, faleceu Rebecca, e foi enterrada junto de
Abraão, lsaac e Sara. Rachel também morreu e foi sepultada junto deles.
4
Judá, filho de Jacó, casou-se com a Cananéia Batsua; seu pai. Jacó,
entristeceu-se por ter ele tomado uma mulher da estirpe de Canaã. Falou então
Jacó a Judá: "Não permita o Deus dos nossos pais Abraão e Isaac que a
geração de Canaã se misture com os meus descendentes!"
5
Da Cananéia Batsua nasceram-lhe Her, Onan e Sela. Judá escolheu Thamar para seu
primogênito Her, como esposa; mas por este viver em coito sodomita com ela,
Deus o fez morrer.
6
Então Judá entregou Thamar a Onan; mas cada vez que este tinha o seu sêmen
quente, a ponto de introduzi-lo em Thamar, lançava-o fora; então Deus fê-lo
morrer também. Assim, Deus não permitiu que a estirpe de Canaã se misturas-se
com a estirpe de Jacó; pois este havia suplicado ao Senhor que a geração de
Canaã, primogênito de Cam, "o impudico", não se mesclasse com os
descendentes do tronco dos Pais.
7
Deus fez com que Thamar fosse para a rua; então Judá deitou-se com ela de
maneira impura. Ela engravidou e deu à luz Farés e Zeracho Jacó, com todos os
seus descendentes, desceu ao Egito, para junto de José, e lá permaneceu por
dezessete anos.
8
Morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; José tinha cinqüenta e seis
anos quando o seu pai morreu, noduodécimo ano de Kahat. Os médicos sábios do
Faraó embalsamaram-no e José levou-o de volta, sepultando-o junto de Abraão e
do seu pai lsaac.
Capítulo
32
Os
Troncos de Jacó
1
Existem escritores que afirmam que, a partir da morte de Jacó, as estirpes se
intercalaram e misturaram-se entre si; mas assim não procede à luz da verdade,
pois há dois ramos de gerações: uma "das estirpes" e outra "dos
filhos de Israel".
2
Quando saíram do Egito, Judá gerou Farés, este gerou Hesron, este Aram, Aram
gerou Aminadab, e este Nahasson, que foi príncipe em Judá. Aminadab deu a irmã
de Nahasson a Eleazar, o filho do sacerdote Aarão; dela nasceu o sumo sacerdote
Piuechas; este, com a sua oração, manteve afastada a peste.
3
Mostrei-te, portanto, que de Aminadab, pela irmã de Nahasson, procedeu o
sacerdócio dos filhos de Israel, e do irmão dela, Nahasson, a realeza. Dessa
forma, o sacerdócio e a realeza dos filhos de Israel são oriundos de Judá.
4
Nahasson gerou Selia, e Selia gerou Boaz. Observa agora como a realeza procedeu
de Boaz e da moabita Ruth, pois Boaz, já velho, casou-se com Ruth, para que Lot,
sobrinho de Abraão, pudesse participar do ramo da realeza!
5
Assim, Deus não recusou ao justo Lot a recompensa pelo seu trabalho; pois
sacrificara-se em terra estrangeira. juntamente com Abraão, e acolhera em paz o
Anjo do Senhor. Lot. o justo, também não foi censurado por ter deitado com suas
filhas.
6
Deus concedeu à semente desses dois, que dela se originasse o ramo dos reis.
Dessa forma, o Messias nasceu da semente de Lot e de Abraão, pois, da moabita
Ruth nasceu Obed, de Obed nasceu Isai, de Isai Davi, e de Davi, Salomão. Estes
procedem da linhagem da moabita Ruth, filha de Lot.
7
Da amonita Naema, outra das filhas de Lot, que Salomão tomou por mulher, nasceu
Jeroboão, que foi re: depois de Salomão. Salomão teve muitas mulheres,
setecentas por casamento e trezentas como concubinas; porém, das mil mulheres
que tomou não gerou filhos, a não ser da amonita Naema.
8
Por que Deus não lhe concedeu nenhum filho das outras` Para que a má semente
dos cananeus, jebuseus, amoreus heteus, gergeseus, e de outros povos repudiados
por Deus, não se misturasse à linhagem genealógica do Messias.
Capítulo
33
Moisés
1
Os ramos de gerações do: filhos de Israel são os seguintes: Levi, Amram, Moisés
Josué, filho de Nun, e Caleb filho de Jephunne. Estes nasceram no Egito.
2
Quando Moisés nasceu foi colocado no rio. Então a egípcia Sipor, filha do
Faraó, recolheu-o, e ele permaneceu na casa do Faraó por quarenta anos. Depois
disso, ele matou o egípcio Phetkom, chefe dos padeiros do Faraó.
3
Quando a corte do Faraó ficou sabendo, e como Makri, a filha do Faraó conhecida
por "a trombeta do Egito" que havia criado Moisés já tivesse morrido,
ele teve medo e fugiu para Madian, para junto do cushita Reguei, sacerdote de
Madian.
4
Desposou a cushita Sipora, filha do sacerdote; dela nasceram dois filhos,
Gerson e Eliezer, e quando Moisés contava cinqüenta e dois anos de idade,
nasceu no Egito Josué, filho de Nun. Moisés estava com oitenta anos quando Deus
falou-lhe da sarça ardente, e de temor diante d'Ele a sua língua ficou presa.
Por isso ele disse a Deus: "Vê, meu Senhor! Desde o dia em que me
dirigiste a palavra, fiquei gago".
5
Ele permaneceu quarenta anos no Egito; quarenta anos na casa do sacerdote de
Madian; e outros quarenta como condutor do povo. Morreu com a idade de cento e
vinte anos, sobre o monte Nebo. Josué, filho de Nun, foi condutor dos filhos de
Israel durante vinte e sete anos.
6
Depois da morte de Josué, Cusan, o cruel, assumiu o comando dos filhos de
Israel durante oitenta anos. Depois, pelo período de quarenta anos, Israel foi
conduzido por Athniel, filho de Cena e irmão de Caleb, filho de Jephunne.
7
Depois, por dezoito anos, os filhos de Israel ficaram submetidos aos moabitas.
Em seguida, Ehud, filho de Gera, dirigiu os israelitas pelo espaço de oitenta
anos, e quando Ehud chegou aos vinte seis anos de idade, o quarto milênio
terminou.
Capítulo
34
Os
Juizes, Davi e Salomão
1
Nabin, o estéril, deteve então o poder por vinte anos; Deborah e Barak por
quarenta anos. Depois, os israelitas ficaram submetidos aos madianitas por sete
anos, e Deus os libertou por meio de Gedeão; este os conduziu durante quarenta
anos.
2
Em seguida, reinaram seu filho Abimelech durante três anos; Thola, filho de
Pua, durante vinte e três anos; e o gileadita Jair durante vinte e dois anos.
Depois, uma vez mais, os israelitas foram subjugados pelos amonitas, durante
dezoito anos. Deus libertou-os por intermédio de Jephta, que sacrificou sua
filha; ele os conduziu por seis anos.
3
Ebzan, que é Nahasson, conduziu-os depois por sete anos; Elon, que procedia de
Zebulon, por dez anos; e Adbon por oito. Em seguida, os israelitas foram
submetidos pelos filisteus, por quarenta anos; Deus libertou-os por obra de
Sansão, que depois os conduziu durante vinte anos.
4
Após isso, passaram dezoito anos sem um chefe; em seguida apresentou-se o
sacerdote Heli, que os dirigiu durante quarenta anos. Depois veio Samuel, e
conduziu-os por vinte anos; nos dias de Samuel, os israelitas provocaram a ira
de Deus, que os havia libertado da escravidão do Egito.
5
Escolheram Saul, filho de Cis, como seu rei, e ele reinou quarenta anos. No
tempo de Saul vivia Golias, o gigante dos filisteus; apresentava-se com
arrogância, ofendendo Israel e blasfemando contra Deus.
6
Então ele foi morto por Davi, filho de Isai, e por causa disso, ele foi
glorificado pelas filhas de Israel, e sucedeu Saul. Saul foi morto pelos
filisteus, porque abandonou Deus, buscando refúgio junto aos demônios.
7
Davi reinou quarenta anos sobre os israelitas, e depois dele Salomão,
igualmente por quarenta anos. Salomão realizou grandes maravilhas. Também
mandou buscar o ouro das montanhas auríferas de Ophir; o transporte em navios
durou trinta e seis meses.
8
Edificou Tadmor, no deserto, e lá executou obras portentosas e magníficas.
Quando Salomão chegou nos limites das montanhas de Seir, encontrou o altar que
Pirozakar, Pioraza e Jazdod haviam erguido. Estes haviam sido mandados pelo
gigante Nirnrod junto ao sacerdote da montanha Seir, Bileam, pois ouvira dizer
que este escrutava as constelações.
9
Quando chegaram nos confins de Seir, ergueram lá um altar ao sol. Salomão,
depois de ver esse altar, mandou construir ali uma cidade e chamou-a de
Heliópolis, isto é, cidade do sol. Edificou também Aradus, no meio do mar.
10
Ele era famoso e enaltecido, e a fama de sua sabedoria alcançou todos os cantos
da terra. E a rainha de Sabá foi procurá-lo. Salomão tinha especial
consideração pelo rei de Tiro, Hiram.
11
Hiram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de Davi até os
de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a esquecer que era um
homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sentou no trono de Deus no meio
do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo
35
O
Esplendor de Salomão
1
Nos dias de Hiram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos reis. Isso
porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um molusco purpúreo
que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu focinho ficou tinto do sangue
do molusco.
2
Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho do
cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a sobre a
sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam acreditavam que de
sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3
Quando Hiram ouviu falar disso, mandou buscá-lo: ao ver aquela lã, ficou pasmado e admirado.
Reuniram-se então todos os tintureiros e admiraram-se com o fato; saíram para
pesquisar o assunto, encontraram tais moluscos e ficaram muito contentes;
Salomão entusiasmou-se sobremaneira.
4 A
comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois, cem ovelhas,
cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta medidas de outra farinha e
trezentos cântaros de vinho, afora os veados, corças, gamos e o produto da caça
do campo.
5
Ele se tornou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os mandamentos do
seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados por Deus.
6
Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se divertiam;
escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e renegou o Deus do seu pai
Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia sacrifícios a ídolos e imagens e
adorava a obra das mãos humanas.
7
Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em Jerusalém pelo
período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono o seu filho Roboão.
Capítulo
36
Roboão
e os seus Sucessores
1
Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a infâmia a
Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios.
2
Riram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de Davi até os
de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a esquecer que era um
homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sento no trono de Deus no meio
do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo
37
O
Esplendor de Salomão
1
Nos dias de Riram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos reis. Isso
porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um molusco purpúreo
que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu focinho ficou tinto do sangue
do molusco.
2
Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho do
cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a sobre a
sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam acreditavam que de
sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3 Quando
Riram ouviu falar disso, mandou buscá-lo; ao ver aquela lã, ficou pasmado e
admirado. Reuniram-se então todos os tintureiros e admiraram-se com o fato;
saíram para pesquisar o assunto, encontraram tais moluscos e ficaram muito
contentes; Salomão entusiasmou-se sobre-maneira.
4 A
comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois, cem
ovelhas,cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta medidas de outra
farinha e trezentos cântaros de vinho, afora os veados, corças, gamos e o produto
da caça do campo.
5
Ele se tomou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os mandamentos do
seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados por Deus.
6
Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se divertiam;
escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e renegou o Deus do seu pai
Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia sacrifícios a ídolos e imagens e
adorava a obra das mãos humanas.
7
Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em Jerusalém pelo
período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono o seu filho Roboão.
Capítulo
38
Roboão
e os seus Sucessores
1
Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a infâmia a
Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios e com o cheiro do
paganismo. E o reino de Davi foi partido.
2
No quinto ano do seu governo, o rei do Egito, Sisak, marchou contra Jerusalém e
saqueou todos os tesouros do serviço do Templo do Senhor, bem corno todos os
tesouros reais de Davi e Salomão, os vasos de ouro e de prata, enquanto se
vangloriava e dizia: "Eu não tiro a vossa propriedade, mas somente as
riquezas que os vossos pais levaram do Egito".
3
Roboão morreu na impiedade do seu pai Salomão; depois dele reinou o seu filho
Abias. Ele arruinou Jerusalém com a impureza e impiedade, porque a filha de
Absalão, Maecha, era sua mãe. Morreu na impiedade do seu pai.
4
Depois dele, reinou em Jerusalém o seu filho Asa, por quarenta anos. Ele fez o
que agradava aos olhos do Senhor, baniu de Jerusalém a impudicícia e manteve o
seu povo afastado da impiedade; pois ele era observante dos Mandamentos de
Deus.
5
Expurgou o seu reino da impiedade e dela zombava diante de todo o povo, por
causa dos sacrifícios oferecidos a ídolos. Zerach levantou-se contra ele; mas
Deus humilhou-o diante de Asa. Asa morreu na sua retidão, como o seu
antepassado Davi.
6
Depois dele, subiu ao trono o seu filho Josaphat. Este andou nos caminhos do
seu pai Asa e agiu de acordo com o que era agradável a Deus. Entretanto, Deus
irou-se com ele, porque amava a casa de Achab; por isso, não lhe foi concedido
por Deus buscar o ouro de Ophir.
7
Ele construiu navios, na intenção de expedi-los; mas elegi se despedaçaram em
Asiongaber. Quando subiu ao trono ele tinha trinta e dois anos; sua mãe foi
Asuba, filha de Silchis. Josaphat morreu na sua retidão; depois dele reinou o
seu filho Jorão.
8
Tinha trinta e dois anos quando chegou ao poder, e reinou em Jerusalém durante
oito anos; não fez o que era agradável aos olhos de Deus. Fazia sacrifícios nos
altares do diabo, e morreu na impiedade.
9
Depois dele reinou o seu filho Ocozias; chegou ao poder com a idade de vinte e
dois anos, e ficou um ano em Jerusalém. Nesse único ano obrou grandes males
diante do Senhor. Por causa do exercício da maldade e impiedade, Deus
entregou-o nas mãos dos seus inimigos, que o mataram.
10
Depois da sua morte, sua mãe mandou matar todos os filhos da casa real de Davi;
pensava poder assim extirpar a realeza dos judeus. Não deixou vivo nenhum
rebento da casa real, a não ser Joás, que Joseba, filha de Jorão e neta de
Josaphat, havia salvo secretamente e escondido em sua própria casa.
11
Assim, a irmã de Achab reinou sete anos em Jerusalém, e conspurcou-a de
impudicícia, pois ordenou que as mulheres praticassem a formicação abertamente
e sem receio, e que os homens cometessem o adultério com as mulheres do seu
próximo, porque nenhuma culpa lhes seria imputada.
12
Ela agiu em Jerusalém com todo o despudor de Jezabel e com a impiedade da casa
de Achab.
Capítulo
39
Joás
e seus Sucessores
1
Depois de sete anos, os habitantes de Jerusalém começaram a pensar quem
escolheriam como rei. Quando o sacerdote Jojada ouviu falar disso, reuniu todo
o povo na Casa do Senhor, no Templo edificado por Salomão.
2
Quando todos estavam reunidos, falou-lhes o sacerdote Jojada da seguinte
maneira: "Quem pensais que deve ser rei e assentar-se no trono de Davi, a
não ser um rei e filho de rei?" Quando ele lhes apontou o próprio,
alegraram-se profundamente, e então os chefes de cem e os chefes de mil
encaminharam-se até lá.
3
Os ordenanças e soldados da guarda conduziram o rei à Casa do Senhor, cercado
de todos os corpos militares de armas em guarda. então o sacerdote Jojada fê-lo
assentar-se sobre o trono do seu pai Davi.
4
Ele tinha sete anos de idade quando foi proclamado rei. Reinou por quarenta
anos em Jerusalém; sua mãe era Sibea, de Beerseba; mas Atalja havia sido
assassinada. Joás, todavia, afastou-se do agir correto que o sacerdote Jojada
lhe havia recomendado; depois que este morreu, derramou o sangue inocente dos
seus filhos.
5
Joás morreu, e depois dele reinou o seu filho Amasias. Ele tinha vinte e cinco
anos quando chegou ao poder, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua mãe
chamava-se Joadan. Quando Amasias morreu, sucedeu-lhe o seu filho Ozias (Azarias).
6
Ele tinha dezesseis anos quando chegou ao trono, e reinou durante cinqüenta
anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Jechalja. Ele praticou o bem diante do
Senhor. Foi porém muito audacioso, penetrou no Santo dos Santos, tomou o
turíbulo das mãos do sacerdote de Deus e passou a incensar o Templo do Senhor.
7
Por ter feito isso, o seu corpo ficou coberto de lepra. E ao Profeta Isaías foi
retirado o dom da profecia, por não havê-lo exortado; depois azias morreu.
Depois dele, reinou o seu filho Jothan; contava vinte e cinco anos quando
chegou ao poder, e reinou dezesseis anos em Jerusalém; sua mãe foi Jerusa,
filha de Zadok. Ele praticou o bem diante do Senhor.
8
Jothan morreu, e depois dele reinou o seu filho Acaz; tinha vinte anos quando
subiu ao trono. Reinou dezesseis anos em Jerusalém; sua mãe era Aphin, filha de
Levi. Ele praticou o mal diante do Senhor, e fazia sacrifícios aos demônios.
9
Contra ele levantou-se o rei da Assíria, Tiglatpilesar. O próprio Acaz, em um
escrito, declarou-se seu servo, e assim o assírio o subjugou. Mandou ao rei da
Assíria ouro e prata retirados da Casa do Senhor; durante o seu reinado, os
israelitas foram levados ao cativeiro.
10
E o rei mandou que o povo de Babel ocupasse aquela terra, em lugar dos
israelitas: então leões ameaçavam matá-los. Por isso, o rei da Assíria
enviou-lhes o sacerdote Uri, que lhes ensinou leis.
Capítulo
40
Ezequias
1
Acaz morreu, e depois dele reinou o seu filho Ezequias. Ezequias tinha vinte e
cinco anos quando chegou ao poder. Reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua
mãe foi Abi, filha de Zacarias. Ele praticou a retidão diante do Senhor,
derrubou os altares e quebrou a serpente de bronze que Moisés havia feito no
deserto, pois os israelitas a adoravam, e baniu de Jerusalém a impiedade.
2
No seu quarto ano, o rei dos assírios, Salmanassar, invadiu Jerusalém e levou
para o cativeiro o resto de Israel; arrastou-os para Madian, além da Babilônia.
No vigésimo ano de Ezequias, irrompeu Senaquerib, rei dos assírios, e
apossou-se de todas as cidades e povoados de Judá; somente Jerusalém foi
poupada, por causa da oração de Ezequias.
3
Ele porém ficou mortal-mente doente; estava profunda-mente triste e chorava
muito. Existem pessoas que o censuram; mas não procuram saber qual era o motivo
da sua profunda tristeza. A razão do abatimento de Ezequias era que ele não
tinha nenhum filho que pudesse sucedê-lo, no momento em que se sentia à morte.
4
Quando com os olhos da sua alma percebeu que não tinha nenhum filho que pudesse
reinar depois dele, entristeceu-se profundamente, e chorando disse: "Ai de
mim! Morrerei sem filhos: e aquela bênção que possuíamos ao longo de quarenta e
seis gerações ser-me-á tirada hoje, e por meu intermédio extinguir-se-á a
realeza de Davi. Comigo encerra-se hoje o ramo das gerações dos reis de
Judá".
5
Era essa a tristeza de Ezequias. Depois de ficar restabelecido da sua
enfermidade, decorreram mais quatorze anos, quando então nasceu-lhe Manassés.
Ezequias morreu em grande sossego. por deixar um filho que se assentaria sobre
o trono de seu pai Davi.
Capítulo
41
Manassés
e seus Sucessores
1
Manassés tinha doze anos de idade quando chegou ao poder, e reinou vinte e
cinco anos em Jerusalém: sua mãe chamava-se Hephsiba. Ele foi pior e mais ímpio
que todos os seus antecessores; ergueu altares aos diabos, fazia sacrifícios
aos ídolos, encheu Jerusalém de sacrilégios e provocou a ira de Deus.
2
Ao ser advertido pelo Profeta Isaías, perseguiu-o e mandou atrás dele pessoas
perversas. Essas serraram o profeta Isaías com um serrote, da cabeça aos pés,
sobre um cepo. Ele tinha cento e vinte anos quando o serraram, e durante
noventa anos foi profeta de Deus.
3
Mas Manassés arrependeu-se por ter mandado matar lsaías: vestiu uma roupa de
penitência, impôs-se um jejum, e durante o resto da sua vida comeu o pão com
lágrimas, por ter praticado o mal e ter matado o Profeta. Manassés morreu, e o
seu filho Amon passou a ser o rei.
4
Este tinha vinte e dois anos quando subiu ao poder, e reinou dois anos em
Jerusalém: sua mãe foi Mesulemeth. Amon praticou o mal diante do Senhor, e
mandou os seus filhos caminharem sobre o fogo. Morreu, e depois dele reinou o
seu filho Josias, que contava oito anos quando subiu ao trono, e reinou trinta
e um anos em Jerusalém; sua mãe era Jedida, a filha de Adaja de Baskat.
5
Ele praticou o bem diante do Senhor, e caminhou nas sendas do seu pai Davi; não
se desviava nem à esquerda, nem à direita. Foi morto pelo Faraó, o Coxo, e
depois da sua morte, reinou o seu filho Joacaz.
6
Tinha vinte e dois anos quando chegou ao poder, e reinou por três meses em
Jerusalém; sua mãe era Amital, a filha de Jeremias de Libna. Ele praticou o mal
diante do Senhor, como o fizera Manassés. O rei do Egito, Faraó o Coxo, fê-lo
prisioneiro em Riblat, terra de Hemat, ainda quando era rei em Jerusalém, e impôs
ao país um tributo de cem talentos de prata e dez talentos de ouro.
7
Em seguida Faraó, o Coxo, estabeleceu como rei a Eliachim, filho de Josias, ao
invés do seu pai, e deu-lhe o nome de Joiakim. Quanto a JoAcaz, levou-o embora;
chegou ao Egito, e lá morreu. Joiakim deu ao Faraó ouro e prata; mas por ordem
do Faraó, distribuiu o tributo por todo o país. Assim, cada pessoa da terra
trazia ouro e prata, conforme suas posses, segundo determinação do Faraó, o
Coxo.
Capítulo
42
A
Queda de Jerusalém
1
Joiakim tinha vinte e cinco anos quando foi colocado no poder, e reinou por
onze anos em Jerusalém; sua mãe era Zebida, filha de Fadaías de Ruma. Praticou
o mal diante do Senhor, como o fizeram seus pais.
2
No seu tempo, Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu Jerusalém. Joiakim
permaneceu três anos submetido a ele. Depois se rebelou e levantou-se contra
ele. Então Deus, por causa dos seus delitos, permitiu que marchassem contra ele
legiões de soldados.
3
Depois Joiakim morreu e foi para junto dos seus pais; depois dele reinou o seu
filho Jojakin. O rei do Egito, porém, nunca mais saiu dos limites do seu país,
pois o rei da Babilônia tirou-lhe tudo o que possuía, desde o rio do Egito até
o rio Eufrates.
4
Jojakin tinha dezoito anos quando chegou ao poder, e reinou três meses em
Jerusalém: sua mãe foi Nechusta, filha de Elnatan de Jerusalém. Praticou o mal
diante do Senhor, como o fizera seu pai. Nesse tempo, Nabucodonosor, rei da
Babilônia, marchou contra Jerusalém.
5 E
esse rei arrastou o seu povo ao cativeiro, no ano oitavo do seu reinado.
Saqueou também todo o tesouro do Templo do Senhor bem como os tesouros do
palácio real. Levou para a Babilônia toda Jerusalém, Jojakin, sua mãe, suas
mulheres, seus principais e todos os guerreiros válidos; a todos levou à Babilônia,
como prisioneiros.
6
Então o rei da Babilônia estabeleceu em seu lugar o tio dele, Matanias, como
rei; e deu-lhe o nome de Sedecias. Sedecias tinha vinte anos quando foi
colocado no poder, e reinou onze anos em Jerusalém; sua mãe foi Amital, filha de
Jeremias, de Libna.
7
Praticou o mal diante do Senhor, como havia feito Jojakin. Assim, fez recair a
ira do Senhor sobre Jerusalém. E Sedecias rebelou-se contra o rei da Babilônia.
Então, no nono ano do seu reinado, Nabucodonosor, rei da Babilônia, irrompeu
contra Jerusalém.
8 A cidade foi então fechada e sitiada, até
o undécimo ano do reinado de Sedecias. Quando depois foi invadida, todos os
seus defensores fugiram, de noite, na direção dos campos rasos. Mas a legião
dos caldeus perseguiu o rei e rendeu-o na planície de Jericó.
9
Então ele foi apartado de toda a sua corte e. como prisioneiro, foi arrastado à
presença do rei da Babilônia, em Riblat; e ali foi sentenciado. Os filhos do
rei Sedecias, por ordem do rei caldeu, foram trucidados sob os seus olhos.
Depois o rei vazou os olhos do próprio Sedecias, acorrentou-o e levou-o para a
Babilônia.
Capítulo
43
Ciro
1
Então Simeão, o sumo sacerdote, fez um pedido ao chefe militar, pois este lhe
assegurava a liberdade de palavra. Devolveu-lhe então todos os livros das
escrituras sagradas, e não os queimou. A seguir Simeão, o sumo sacerdote,
amarrou-os todos juntos e atirou-os numa cisterna.
2
Jerusalém foi depois destruída e completamente devastada, e ninguém mais sobrou
dentro dela a não ser o Profeta Jeremias, que ali morava, e que durante vinte
anos proferiu lamentações sobre ela. Passado esse tempo, o Profeta Jeremias
morreu, na Samaria; foi enterrado pelo sacerdote ar em Jerusalém, cumprindo
juramento que o Profeta lhe solicitara.
3
Até a última destruição de Jerusalém, os escribas hebreus, gregos e sírios
detiveram a verdade e reuniram condições de apresentar o registro das gerações
dos troncos e dos povos. Mas, a partir dessa destruição, não houve mais nenhuma
verdade nos seus escritos; assinalaram apenas os Patriarcas das tribos e não
mostraram de onde procedia a linhagem dos sacerdotes.
4
Jojakin ficou prisioneiro durante trinta e sete anos; após a sua libertação,
casou-se com Gulith, filha de Eliachim, e dela gerou Salatiel, na Babilônia.
Jojakin morreu; e Salatiel casou-se depois com Hetbath, filha de Helkana, e
dela gerou Zorobabel.
5
Zorobabel casou com Malkat, filha do escriba Esdras; mas não chegou a gerar
dela nenhum filho, na Babilônia, pois nos dias de Zorobabel, príncipe de Judá,
reinava na Babilônia Ciro, o persa. Ciro casou-se com a filha de Salatiel, e
irmã de Zorobabel, segundo a lei persa, e fé-la rainha.
6
Então ela pediu a Ciro que permitisse o retomo dos israelitas. Zorobabel era
seu irmão; por isso ela estava tão zelosa. e preocupada com a volta do
cativeiro. Ciro amava sua mulher como a si mesmo, e cumpriu sua vontade.
7
Despachou arautos por toda a terra da Babilônia, anunciando que todos os
israelitas se ajuntassem. Quando estavam reunidos, falou Ciro a Zorobabel,
irmão de sua mulher: "Prepara-te para conduzir de volta os filhos do teu
povo! Torna em paz a Jerusalém! Reconstrói a cidade dos teus Pais; habita nela
e sejas o seu rei!"
8
Por ter Ciro possibilitado o retorno dos israelitas, Deus disse: "Eu
inscrevi o meu servo Ciro entre os justos". E Ciro foi denominado
"Meu pastor, o ungido do Senhor", porque sua semente, através de
Mesainat, irmã de Zorobabel, foi incorporada à semente de Davi.
9
Os israelitas partiram então da Babilônia, sendo Zorobabel o seu rei, e sendo
sumo sacerdote Josué, filhos de Josadak, um descendente de Aarão, segundo o
Anjo indicou ao Profeta, dizendo-lhe: "Estes são filhos da unção".
Quando saíram do cativeiro, no segundo ano de Ciro, chegava ao fim o quinto
milênio.
Capítulo
44
Esdras
e Zorobabel
1
Ao partirem, eles não possuíam mais nenhum escrito dos profetas. Então o
escriba Esdras dirigiu-se àquela cisterna e lá encontrou um fumigador ardendo,
e dele emanava uma fumaça perfumada.
2
Tomou então por três vezes daquela cinza dos livros sagrados, e levou-a à boca.
De imediato foi-lhe concedido por Deus o espírito da profecia, e assim ele pôde
restabelecer todos os escritos dos profetas. A luz que se encontrava naquela
cisterna era a luz da santidade do Templo do Senhor.
3
Zorobabel era o rei em Jerusalém, Josué, filho de Josadak, o sumo sacerdote, e
Esdras, o escriba do Pentateuco e dos Profetas. Quando os israelitas saíram da
Babilônia, celebraram uma Páscoa. Os israelitas celebraram durante sua vida as
três seguintes Páscoas: uma no Egito, nos tempos de Moisés; outra, sob o
reinado de Josias; e a terceira, quando foram libertados da Babilônia.
4
Depois a Páscoa foi-lhes abolida por toda a eternidade. Desde o primeiro
cativeiro de Jerusalém, em que Daniel foi lançado à prisão, até o reinado do
persa Ciro, decorreram setenta anos, segundo a profecia de Jeremias.
5
Os israelitas iniciaram a reconstrução do Templo nos dias de Zorobabel, de
Josué, filho de Josadak, e do escriba Esdras. A reconstrução durou quarenta e
seis anos, como está escrito no santo Evangelho. Mas a linhagem das sucessivas
gerações uma vez mais foi perdida de vista pelos escribas; não conseguiram
mostrar-nos de quem os cabeças das estirpes tomaram as suas mulheres, nem de
onde estas procederam.
6
Eu, porém, conservei a série verdadeira, e a todos posso mostrar a realidade
dos fatos: No tempo em que os israelitas retomaram da Babilônia, Zorobabel
gerou Abiud, de Malkat, filha do escriba Esdras. Abiud casou com Sakiat, filha
do sacerdote Josué, que foi filho de Josadak, e dela gerou Eliachim.
7 Eliachim
casou com Halab, filha de Domib, e dela gerou Azor; Azor casou com Jalpat,
filha de Hasor, e dela gerou Zadok; Zadok casou com Celtin, filha de Domim, e
dela gerou Achin; Achin casou com Heskat, filha de Tail, e dela gerou Eliud;
Eliud casou com Bestin, filha de Hasol, e dela gerou Eleazar.
8
Eleazar casou com Dihat, filha de Tola, e dela gerou Matthan; Matthan casou com
Sabrat, filha de Pinechas, e dela gerou dois filhos gêmeos, Jacó e Joaquim;
Jacó casou com Hadbit, filha de Eleazar, e dela gerou José; Joaquim casou com
Dina, filha de Pachod, e dela gerou Maria, da qual nasceu o Messias.
Capítulo
45
Registro
das Gerações após o Exílio
1
Já que nenhum dos escribas antigos encontrou os ramos das gerações dos
descendentes de seus Pais, os judeus instaram junto aos filhos da Igreja para
que comprovassem que os pais da bem-aventura — da Maria fazem parte daquelas
gerações.
2
Insistiram para que os filhos da Igreja pesquisassem a linhagem dos Pais, para
comprovar a verdade dos fatos; pois eles diziam que Maria era filha adulterina.
Agora. porém, calar-se-á a boca dos judeus, e eles deverão admitir que Maria
procede da casa de Davi e de Abraão.
3
Os judeus não possuem o registro das gerações, que lhes proporcionaria a
verdade sobre a linhagem masculina dos seus pais, porque por três vezes os seus
escritos foram queimados pelo fogo: a primeira vez ocorreu nos dias de Antíoco,
que promoveu uma perseguição contra eles, profanou o Templo do Senhor e
obrigou-os a fazer sacrifícios aos ídolos; a segunda vez, nos dias a terceira
vez, nos dias de Herodes, quando Jerusalém foi arrasada.
4
Os judeus estavam em grande aflição, pois não possuíam nenhum ramo verdadeiro
da geração dos descendentes dos seus pais. Procuravam com grande empenho
descobrir a verdade dos fatos, mas não conseguiram.
5
Muitos eram os seus escribas, mas cada um escrevia à sua maneira. Não chegavam
a um acordo, por não terem como apoiar-se nas bases da verdade. Mas os nossos
escribas, os filhos da Igreja, também não tinham condições de mostrar-nos a
verdade segura e indiscutível, nem mesmo em relação à maneira como o corpo de
Adão fora transportado até o Gólgota, nem quanto à identidade dos pais de
Melchizedek, e nem quanto à procedência dos pais da bem-aventurada Maria.
6
Quando os israelitas, pressionados pela Igreja, não conseguiram encontrar a
verdade, apressaram-se a escrever erros e fantasias, e isso [...] para nós
[...] essa série de sessenta e três gerações; ela começa com Abraão e chega até
o Messias. Mas onde cada um deles foi buscar sua mulher e de quem ela era
filha, isso nem os escribas gregos, nem hebreus, nem sírios conseguiram
mostrar.
7
Mas assim como cada um dos mestres divinos da Igreja pôde estabelecer uma
verdade que servisse de fundamento — e ofereceram aos fiéis uma arma com a qual
pudessem lutar e combater os seus inimigos — assim também o Messias
concedeu-nos a graça de poder esclarecer, no seu rico tesouro, aquilo que para
eles era impossível.
8
Empenhamo-nos com todo zelo em fazer aquilo que para eles era impossível,
acompanhando o diligente esforço do nosso irmão Nemésio, ilustre no Messias.
9
Embora tivesse eu sido prejudicado por minha própria inconstância, tu não te
afastastes um momento sequer do amor pelo ensino, mas com certeza pela benévola
simpatia que manifestas para comigo, esforcei-me sinceramente no cumprimento da
incumbência que me deste, e assim posso dar-te notícia por escrito do
resultado.
10
Escuta, meu irmão Nemésio! Esses ramos de gerações que te transcrevo não foram
ainda descobertos por nenhum dos outros mestres. As mencionadas sessenta e três
gerações, das quais deriva a humanidade do Messias, conheceram a seguinte
sucessão:
11
Adão gerou Seth. Seth casou-se com Celimat, que nasceu junto com Abel, e dela
gerou Enos. Enos casou-se com Anna, filha de Jobal e neta de Choch, filha de
Seth, e dela gerou Cainan. Cainan casou com Perjat, filha de Kotim e neta de
Jarbal, e dela gerou Mahalaleel. Este casou-se com Sechatpar, filha de Enos, e
dela gerou Jared. Jared casou-se com Sebida, filha de Kuchlone neta de Cainan,
e dela gerou Enoque.
12
Enoque casou-se com Sadkin, filha de Topich e neta de Mahalaleel, e dela gerou
Matusalém. Este casou-se com Sakut, filha de Sokin e neta de Enoque, e dela
gerou Lamech. Lamech casou-se com Cipa, filha de Tautab e neta de Matusalém, e
dela gerou Noé. Este casou-se com Haikal, filha de Namos, e dela gerou Sem, Cam
e Japhet. Sem gerou Arpachsad, este Salé, este Heber, este Peleg, este Regu,
este Serog, que gerou Tharé.
13
Tharé casou-se com duas mulheres, Jona e Salmut; de Jona gerou Abraão e de
Salmut, Sara. Abraão casou-se com Sara e gerou Isaac. lsaac casou-se com
Rebecca e gerou Jacó, que se casou com Lia e gerou Judá. Judá gerou Farés, de
Thamar. Farés gerou Hesron.
14
Hesron gerou Aram, este Aminadab, este Nahasson, este Salmon, e Salmon gerou
Boaz, de Rahab. Boaz casou-se com Ruth, a filha de Lot, e gerou Obed. Obed
gerou Isai, e este gerou o rei Davi, que se casou com Betsabá e dela gerou
Salomão. Salomão gerou Roboão, este Abias, este Asa, este Josaphat, este Jorão,
este Ocozias, este Joás, este Amasias, este azias, este Jotham, este Acaz, este
Ezequias, este Manassés, este Amon, este Josias, este Joiakim, este Jeconias,
este Salatiel, este Redabja, este Zorobabel, este Abiud, este Eliachim, este
Azor, este Zadok, este Achim, este Eliud, este Eleazar, este Matthan, e este a
Sibrat, filho de Pinechas; ele gerou Jacó e Joaquim.
15
Jacó casou-se com Hadbit, filha de Eleazar, e gerou José, noivo de Maria.
Joaquim casou-se com Dina, que vem a ser Anna, filha de Pachod; sessenta anos
depois de casados, ela deu à luz Maria, da qual nasceu o Messias. Sendo José
filho do tio de Maria, a ele foi ela entregue por ordem divina para que ficasse
sob os seus cuidados, pois Deus sabia que Maria seria perseguida pelos judeus.
16
Vês agora, irmão Nemésio, como os pais da bem-aventurada Maria procederam da
linhagem genealógica dos descendentes de Davi? Vê! Situei-te agora sobre os
fundamentos da verdade, a que nenhum dos outros escribas conseguiu chegar.
Podes constatar como essas sessenta e três gerações se sucedem, desde Adão até
o nascimento do Messias! Também para os judeus é uma satisfação poder averiguar
a descendência das estirpes dos seus Pais.
17
Vês, irmão Nemésio, que foi nos dias de Ciro que chegou ao fim o quinto
milênio? De Ciro até a Paixão de nosso Salvador transcorreram quinhentos anos,
segundo a previsão de Daniel, que profetizou — e disse: "Após sessenta e
duas semanas, o Messias será morto". Essas semanas correspondem aos
quinhentos anos.
18
Vês por que deve calar-se a boca dos judeus, pois ousaram dizer que o Messias
até hoje ainda não veio, então devem eles necessariamente escolher de duas uma:
ou aceitam a profecia de Daniel, ou rejeitam-na. A sua profecia, na realidade,
cumpriu-se, e as semanas transcorreram; o Messias foi morto e a Cidade Santa
foi destruída por obra de Vespasiano.
Capítulo
46
O
Messias
1
Vês agora, nosso irmão Nemésio, amante do saber, que no quadragésimo segundo
ano do Império de Augusto nasceu o Messias, em Belém de Judá, como está escrito
no santo Evangelho. Dois anos antes do nascimento do Messias apareceu a estrela
aos Magos; viram no firmamento uma estrela que brilhava mais do que todas as
outras.
2
No meio dela havia uma jovem, que trazia no colo um menino, e este tinha uma
coroa na sua cabeça. Era costume dos reis antigos e dos magos caldeus escrutar
nas constelações tudo quanto iria ocorrer.
3
Quando eles viram a estrela, turbaram-se grandemente e se encheram de temor, e
a Pérsia toda entrou em alvoroço. Os reis, os magos, os sábios caldeus e persas
ficaram abalados, encheram-se de temor em face do sinal que presenciavam, e
disseram: "Teria o rei de Nínive declarado guerra ao país de Nimrod?"
4
Os magos e os caldeus apressaram-se em ler os seus livros de sabedoria; pela
força da sabedoria dos seus escritos conseguiram o seu objetivo e chegaram a
uma conclusão que se apoiava no chão firme da verdade. Efetivamente, pois, os
magos caldeus, através do curso daquela estrela, que reputavam um sinal
zodiacal, leram a verdade dos fatos, antes mesmo de conhecê-los pessoalmente.
5
Também os natuas detêm esse conhecimento, de tal sorte que, antes da vinda de
um tufão ou da armação de uma tempestade, reconhecem pelo curso das estrelas o
perigo que os ameaça. Quando então os Magos leram os oráculos de Nimrod,
encontraram neles que em Judá haveria de nascer um rei. E assim, foi-lhes
revelado todo o curso do plano de Salvação do Messias.
6
Imediatamente eles partiram do Oriente, segundo as tradições que herdaram dos
seus pais; subiram na direção das montanhas de Nod, que se encontram no Norte e
que abrem o caminho para o Ocidente, e lá tomaram ouro, mirra e incenso.
7
Daí podes reconhecer, irmão Nemésio, que eles conheceram antes todo o mistério
do plano de Salvação do nosso Redentor, o que se revela pelos presentes que traziam:
o ouro para um rei, a mirra para um médico e o incenso para um sacerdote.
8
Eles tiveram ciência da sua natureza, e reconheceram que era ao mesmo tempo
rei, médico e sacerdote, pois quando o filho do rei de Sabá era ainda menino,
seu pai levou-o a um rabino, e ele então entendeu o livro dos hebreus melhor do
que todos os seus comandados e concidadãos.
9
Ele disse aos seus servidores que também em todos os livros jubilares estava
escrito que o Rei haveria de nascer em Belém. Foram os seguintes os que
ofereceram presentes ao Rei; eram reis e filhos de reis: Hormizd de Makozdi,
rei da Pérsia, chamado o "rei dos reis", e que residia lá abaixo, em
Adhorgin; Jazdegerd, rei de Sabá; e Peroz, rei de Seba, que se localiza no
Oriente.
10
Quando eles se dispuseram a partir, o reino dos gigantes, um exército forte,
ficou agitado e intranqüilo; igualmente, todas as cidades do Oriente ficaram em
alvoroço por causa da atitude deles. Também Jerusalém e Herodes espantaram-se
com a chegada deles. Herodes, por seu lado, recomendou-lhes: "Ide em paz e
procurai diligentemente o menino, e quando o tiverdes encontrado, vinde a mim e
dizei-me, para que eu também possa ir até lá e adorá-lo!" Ele, porém,
apenas guardava astúcia no seu coração, e suas palavras apenas fingiam uma
intenção de venerá-la.
Capítulo
47
Os
Três Magos
1
Quando os Magos se puseram a caminho, havia em Judá uma grande movimentação por
causa do édito de César Augusto, ordenando que cada homem se recenseasse em sua
terra e em sua cidade de origem. Por isso é que Herodes ficou tão preocupado. e
disse aos magos: "Ide e informai-vos bem!"
2
Eles se chamavam Magos por causa dos trajes que todos os reis pagãos portavam;
quando faziam sacrifícios e traziam oferendas aos seus deuses, vestiam uma
vestimenta dupla, por baixo a da realeza e por cima a da magia. Assim também
eles, quando chegaram até o Messias, portavam os dois trajes, para poderem
oferecer os seus presentes.
3
Quando se afastaram de Jerusalém e de Herodes, apareceu-lhes a estrela, que era
o guia a indicar-lhes o caminho, e alegraram-se profundamente. A estrela ia
adiante deles. até que chegaram a uma gruta: então eles viram o Menino envolto
em panos e depositado numa manjedoura.
4
Enquanto subiam, imaginavam consigo pelo caminho que presenciariam um
espetáculo grandioso ao lá chegarem, a pompa real e as instalações de um
palácio de governo. Pois nascido o Rei, assim pensavam, encontrariam no país de
Israel uma corte real, aposentos lavrados em ouro, o Rei e o filho do Rei
vestidos de púrpura, divisões do exército e corpos de guarda obedientemente às
ordens do Rei, e no palácio a presença dos grandes da terra que o honravam com
seus presentes, a mesa real preparada com finos manjares, com ser-vos e servas
reverentemente a postos.
5 E
isso que os Magos pensavam encontrar. Mas nada disso encontraram, ao contrário,
viram algo de muito mais grandioso. tão logo entraram na gruta. Viram José ali
sentado cheio de admiração e Maria de olhos contemplativos. Mas não havia
instalações luxuosas preparadas para eles, nenhuma mesa posta e sinal algum de
pompa real à mostra.
6
Apesar de toda essa humildade e pobreza, não tiveram nenhuma dúvida em seus
corações; aproximaram-se com reverência, adoraram-no e mandaram trazer os seus
presentes: ouro, incenso e mirra. Maria e José ficaram muito constrangidos por
nada terem a oferecer-lhes; mas os magos alimentaram-se das suas provisões de
viagem.
7 O
Messias havia completado oito dias quando os Magos Lhe trouxeram os presentes.
Ao mesmo tempo em que José circuncidava o Menino, Maria recebia os presentes.
José circuncidara-o de fato segundo a Lei.
8 E
chamou isso de circuncisão, embora nada fosse subtraído ao Menino, pois assim
como um ferro que penetra uma chama de fogo, separa-a mas não a corta, assim
também foi a circuncisão do Messias, sem que nada Lhe fosse tirado.
9
Nos três dias em que os Magos permaneceram junto d'Ele, viram as Potestades
celestes subindo e descendo junto ao Messias, e ouviam o coro dos Anjos, que
louvavam dizendo: "Santo, santo, santo é o Senhor, Deus Todo-Poderoso; o
céu e a terra estão cheios de sua Glória". Foram possuídos então de grande
temor, acreditaram verdadeiramente no Messias e disseram: "Este é o Rei
que desceu do céu e se fez Homem".
10
E Peroz disse-lhes: "Agora eu sei que a profecia de Isaias é verdadeira;
pois, quando eu estava na escola dos hebreus, li Isaías e lá encontrei o
seguinte: `Um menino nos nasceu; um filho nos foi dado; o seu nome é Admirável,
Conselho, Deus, Eterno, Herói'.
11
"Em outro lugar está escrito: Vede, uma virgem ficará grávida e dará à luz
um filho, e o seu nome é Emmanuel, isto é, Deus conosco. Mas sendo Ele como um
homem, e os Anjos do céu descendo até junto d'Ele, isso mostra que na realidade
Ele é o Senhor dos Anjos e dos homens."
12
E todos os Magos creram e disseram: "Este é verdadeiramente Deus; pois,
sobre a terra já nos nasceram tantas vezes reis, heróis e filhos de heróis; mas
nunca ouviu-se dizer que os Anjos desceram até eles." Em seguida
levantaram-se e adoraram-na como Senhor e Rei de todo o mundo. Prepararam
depois as suas provisões e voltaram para sua terra, pelo caminho do deserto.
Capítulo
48
Herodes
1
Há pessoas que discutem sobre onde estava o Messias quando foram assassinados
os meninos. Mas está escrito que Ele não se encontraria na terra de Judá. Por
isso Ele foi para o Egito, para que se cumprisse a Escritura: "Do Egito eu
chamei o meu Filho".
2
Saibais! Quando o Messias chegou ao Egito, os ídolos daquela terra foram
derrubados, caíram ao chão e quebraram-se, para que se cumprisse a Escritura:
"Vede, o Senhor caminhou sobre nuvens ligeiras e chegou ao Egito e os
deuses egípcios tremeram diante dele". Ele não voltou do Egito, mas lá
permaneceu até a morte de Herodes; depois deste, subiu ao trono o seu filho
Arquelau.
3
Lembra-te, irmão Nemésio, de que eu disse que todos os homens, súditos de
Herodes, estavam num recenseamento! Este foi completado no prazo de cinqüenta
dias. Antes que o recenseamento fosse terminado e concluído, e antes que
Herodes o tivesse lacrado e enviado a Roma, a César Augusto, Herodes não
procedeu à busca do Messias, e até aquele momento não haviam sido assassinadas
as crianças; foi no decurso daquela movimentação do censo que o Messias nasceu.
4
Passados quarenta dias depois do seu nascimento, Ele chegou ao Templo do
Senhor, onde o ancião Simeão, filho de Josué e neto de Josadak, O tomou nos
braços. Nos dias de Simeão ocorreu a volta dos prisioneiros da Babilônia; ele
tinha quinhentos anos quando segurou nos seus braços o Messias.
5
Então falou o Anjo a José: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe, e foge
para o Egito!" Quando terminou o recenseamento, os judeus foram liberados,
de sorte que cada um pôde voltar para a sua região e lugar de domicílio. Então
Herodes indagou sobre os Magos e foi-lhe dito: "Eles voltaram para suas
terras".
7
Diante disso, ficou profundamente irritado e mandou de imediato seus emissários
com a ordem de matar todos os meninos de Belém e das vilas circunvizinhas. Ao
inspecionar as crianças, e não encontrando entre elas João, filho de Zacarias,
disse: "Realmente, o filho dele reinará em Israel." Pois ele tinha
ouvido algo do que fora dito pelo Anjo a Zacarias, quando lhe prometera João.
8
Assim, ele mandou um emissário a Zacarias, com a ordem de dizer-lhe:
"Traze-me João!" Zacarias respondeu: "Eu sou sacerdote e sirvo
no Templo do Senhor; não sei onde estão o menino e sua mãe". Por esse
motivo, Zacarias foi morto entre os degraus e o Altar.
9
Izabel tomou consigo João e foi para o deserto. Herodes foi imediatamente
atingido pelo castigo de Deus, sem compaixão; caiu doente. Seu hálito era
pestilento e seu corpo estava sendo devorado pelos vermes; assim, ele foi
castigado com um tormento indizível, a ponto de as pessoas não conseguirem mais
aproximar-se dele por causa do seu cheiro horrível.
10
Nesse cruel sofrimento, sua alma foi descansar nas trevas exteriores. Mas ainda
antes de morrer conseguiu praticar grande maldade, pois ordenara ao seu filho
Arquelau e à sua irmã Salomé: "Tão logo eu estiver morto, sejam eliminados
todos aqueles que eu mandei colocar na prisão!"
11
Na realidade, ele havia separado uma pessoa de cada casa e posto na cadeia,
dizendo: "Eu sei muito bem que os judeus alegrar-se-ão imensamente com a
minha morte. Mas para que eles não exultem enquanto estareis tristes e em
pranto, todos os encarcerados deverão ser mortos, para que após a minha morte
todos guardem luto, embora não o queiram !"
12
As suas ordens foram cumpridas. Isso feito, não houve uma única casa em toda
Judá onde não reinasse o luto, como aconteceu no Egito no tempo de Moisés.
Capítulo
49
Batismo,
Vida Pública e Morte do Messias
1
Quando Herodes morreu e José recebeu a notícia da sua morte, voltou para a
Galiléia. Chegando aos seus trinta anos, o Messias foi batizado por João, que
esteve toda a sua vida no deserto, alimentando-se de uma raiz, chamada Camus, e
que era mel silvestre.
2
No duodécimo ano do Império de Tibério, o Messias padeceu. Como podes
reconhecer agora, irmão Nemésio, nos dias de Jared, no seu quadragésimo ano,
chegou ao fim o primeiro milênio; no sexcentésimo ano de Noé, o fim do segundo
milênio; no septuagésimo quarto ano de Regu, o fim cio terceiro milênio; no
vigésimo sexto ano de Eliud, o fim do quarto milênio; no segundo ano de Ciro, o
fim do quinto milênio; e no ano quinhentos do sexto milênio padeceu o Messias
na sua Humanidade!
3
Saibas também que o Messias em Nazaré viveu no seio de Maria, que nasceu em
Belém e foi depositado numa manjedoura, que Simeão segurou-o nos seus braços no
Templo de Salomão, que foi criado na Galiléia, e que foi ungido por Maria Magdalena!
Celebrou a Páscoa na casa de Nicodemos, irmão de José de Arimatéia; foi preso
na casa de Anás; na casa de Caifás foi açoitado com uma cana.
4
Abraçado às colunas do Pretório de Pilatos foi flagelado com um açoite. Na
primeira sexta-feira, no décimo quarto dia de Nisan, nosso Salvador padeceu. Na
primeira hora de sexta-feira, Deus formou Adão do barro, e na primeira hora de
sexta-feira o Messias recebeu a cusparada dos filhos de Adão.
5
Na segunda hora de sexta-feira, reuniram-se os animais selvagens, os animais
domésticos e os pássaros ao redor de Adão, e ele deu-lhes o nome, enquanto eles
curvavam a cabeça; e na segunda hora de sexta-feira, congregaram-se os judeus
contra o Messias, rangendo os dentes contra Ele,segundo a palavra do piedoso Davi:
"Touros grandes me rodearam, bois gordos me cercaram".
6
Na terceira hora de sexta-feira, foi colocada a coroa da Glória na cabeça de
Adão: e na terceira hora de sexta-feira foi colocada a coroa de espinhos sobre
a cabeça do Messias. Três horas esteve Adão no Paraíso, em esplendor e glória;
três horas esteve o Messias no Foro, quando foi chicoteado com um açoite.
7
Na sexta hora Eva subiu à árvore da transgressão do Mandamento; na sexta hora o
Salvador subiu à Cruz, a Árvore da Vida. Na sexta hora Eva deu a Adão o fruto
da morte amarga; na sexta hora a turba ímpia deu ao Messias vinagre e fel.
8
Por três horas Adão esteve sob a árvore da sua vergonha, nu por três horas o
Messias esteve na haste da Cruz, nu. Do flanco direito de Adão procedeu Eva, a
mãe cujo filho era mortal; do flanco direito do Messias procedeu o Batismo,
cujos filhos são imortais.
9
Numa sexta-feira Adão e Eva pecaram; numa sexta-feira o seu pecado foi
redimido. Numa sexta-feira Adão e Eva morreram; numa sexta-feira eles
reviveram. Numa sexta-feira a morte assumiu o poder sobre eles; numa
sexta-feira foram libertados do seu poderio.
10
Numa sexta-feira Adão e Eva saíram do Paraíso; numa sexta-feira nosso Senhor
desceu à sepultura. Numa sexta-feira foram desnudadas as vergonhas de Adão e Eva:
numa sexta-feira o Messias fez com que voltassem a se vestir.
11
Numa sexta-feira Satanás revelou as vergonhas dos dois; numa sexta-feira o
Messias desnudou Satanás e todas as forças, cobrindo-os publicamente de
vergonha. Numa sexta-feira as portas do Paraíso foram fechadas; numa
sexta-feira elas foram abertas, e por elas entrou o bom ladrão.
12
Numa sexta-feira foi entregue ao Querubim a espada de dois gumes; numa
sexta-feira o Messias triunfou pela lança e quebrou o fio da espada. Numa
sexta-feira foram dados a Adão o sacerdócio, a realeza e a profecia; numa
sexta-feira o sacerdócio, a realeza e a profecia foram subtraídos aos judeus.
13
Na hora nona de sexta-feira Adão desceu das alturas do Paraíso para as terras
planas; na hora nona de sexta-feira o Messias desceu do alto da Cruz para as
regiões inferiores da terra, junto àqueles que jaziam no pó.
Capítulo
50
O
Gólgota
1
Como vês, o Messias foi em tudo semelhante a Adão, como está escrito. No lugar
em que Melchizedek servia como sacerdote, em que Abraão levou seu filho Isaac
para imolá-lo, lá foi plantada a haste da Cruz. Esse lugar é o ponto central da
terra, e lá é o ponto de encontro de suas quatro partes.
2
Pois, quando Deus criou a terra, irradiou de Si a sua força, e a terra
preencheu-se dessa força. Lá no alto do Gólgota permaneceu a força de Deus, e
ficou em repouso, e lá juntaram-se os quatro cantos do mundo; esse lugar
representa as extremidades da terra.
3
Quando Sem transportou o corpo de Adão para lá, aquele lugar era o portão da
terra; ele abriu-se. Depois que Sem e Melchizedek haviam depositado o corpo de
Adão no ponto central da terra, as suas quatro partes abriram-se e o cobriram.
4 E
fechou-se novamente o portão, de sorte que nenhum dos filhos de Adão pudesse
abri-lo. Quando sobre ele foi erguida a Cruz do Messias, a Cruz do Redentor de
Adão e de sua descendência, abriram-se as portas daquele lugar por sobre Adão.
5 E
estando plantada sobre ele a haste da Cruz, e o Messias através da lança
alcançou a vitória, fluiu do seu lado sangue e água, derramando-se abaixo na
boca de Adão, e assim representando para ele o Batismo; por essa forma, ele foi
batizado.
6
Depois que os judeus pregaram o Messias no lenho da Cruz, repartiram entre si,
aos pés dela, as suas vestes, segundo está escrito. Sua túnica era de púrpura,
vestimenta de um rei. Quando o cobriram com o manto da realeza, Pilatos não
permitiu que fosse uma veste simples, mas sim uma vestimenta real, de púrpura
ou escarlate.
7
Tanto por uma quanto por outra, foi manifestada a sua realeza, pois nenhum
outro homem, a não ser um rei, pode vestir-se de púrpura. Diz um dos
evangelistas: "Vestiram-na com um manto de púrpura"; essa palavra é
verdadeira e inteiramente digna de crédito.
8
Outro diz que era' de escarlate; também este disse a verdade. "A de
escarlate" representa para nós o sangue, e "a de púrpura", a
água; a vermelha era como o sangue, a purpúrea, pálida como a água. "A de
escarlate" anuncia-nos a natureza feliz e imortal; "a de
púrpura", a humanidade triste e mortal.
9
Observa bem, irmão Nemésio, que o escarlate simboliza a vida! Diziam os
clientes da prostituta Rahab: "Deixa dependurada a corda escarlate janela
abaixo"; precisamente a corda pela qual haviam de descer, após terem sido
alegremente recebidos por ela. Isso representa uma imagem de nosso Senhor, o
Messias, e a corda escarlate é a imagem do seu sangue precioso e vital.
Capítulo
51
A
Redenção
1
Teceram uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a sua cabeça e vestiram-na
com um manto real; mas não tinham consciência do que estavam fazendo. Dobravam
os joelhos, adoravam-na, e sem serem coagidos por ninguém diziam com a sua
boca: "Salve, Rei dos judeus!"
2 E
nota bem, meu irmão! Nem depois da sua morte Ele foi privado das prerrogativas
reais. Os judeus e os soldados. os guardas de Herodes e de Pilatos discutiam
sobre como cortar a túnica do Messias e reparti-la entre si, porque a beleza
dela a todos agradava.
3
Igualmente o centurião, que montava a guarda junto à Cruz, testemunhou e disse
diante de todos os presentes: "Verdadeiramente, este Homem é o Filho de
Deus". Disse-lhes também: "As leis não permitem cortar a túnica real.
Lançai as sortes sobre ela, para ver a quem toca!"
4
Quando os judeus e os servos do rei lançaram os dados, a sorte recaiu para um
sol-dado, guerreiro de Pilatos. A túnica de Nosso Senhor não tinha costuras,
tecida integralmente de alto a baixo.
5
Quando, no lugar em que estava depositada e guardada, havia falta de chuva,
traziam-na ao céu limpo, e na mesma hora em que era erguida ao céu, chovia
copiosamente. Igualmente o próprio soldado, a quem ela coube pela sorte, sempre
que a cidade necessitava de chuva, trazia-a para fora e ela operava o milagre.
6
Por isso, ela lhe foi tirada à força por Pilatos, e este a mandou ao imperador
Tibério. Essa túnica simboliza para nós a fé verdadeira, que povo algum pode
cindir. Três dádivas muito preciosas foram antigamente concedidas aos judeus: a
realeza, o sacerdócio e a profecia.
7 A
profecia através de Moisés, o sacerdócio através de Aarão, e a realeza através
de Davi. Esses três dons, de que as gerações e estirpes dos israelitas se
beneficiaram durante um longo período, foram-lhes subtraídos num só dia.
8
As três coisas se acabaram e tornaram-se alheias a eles: a profecia pela Cruz,
o sacerdócio pela intenção de rasgar a túnica e a realeza pela coroa de
espinhos. Também o Espírito da Reconciliação, que habitava no Santo dos Santos
do Templo, abandonou-os, afastou-se e rasgou o véu do Santo em duas partes.
Igualmente a Páscoa desvaneceu-se e os abandonou; não tinham mais Páscoa a
festejar.
9
Saibas, irmão! Quando Pilatos quis impeli-los a entrar no palácio oficial, eles
retrucaram-lhe: "Nós não podemos pisar no Pretório, porque ainda não
celebramos a Páscoa". Ao obterem a permissão de Pilatos quanto à execução
de nosso Senhor, eles correram rapidamente ao Santuário e de lá retiraram as
Tábuas e a Arca da Aliança, e com elas construíram a Cruz para o Messias.
10
Em verdade, convinha que as mesmas tábuas que carregaram o Testamento
carregassem também o Senhor do Testamento. A Cruz do Messias compunha-se de
duas hastes, ambas da mesma altura, profundidade, comprimento e largura.
11
O apóstolo Paulo esforçou-se com razão para mostra aos povos a força da Cruz, e
soubessem todos que sua altura, sua profundidade, sua largura e seu comprimento
abrangiam toda a terra. Quando eles ergueram o Messias, Luz brilhante de toda a
terra, e O colocaram na luminária da Cruz, apagou-se e escurece a luz do sol, e
um manto de trevas estendeu-se sobre toda a terra.
12
Três cravos foram pregados no corpo do nosso Salvador, dois em suas mãos e um
em ambos os pés. Os cravos dos ladrões eram dois, um na mão direita e outro na
mão esquerda.
Capítulo
52
A
Culpa dos Judeus
1
Ofereceram-lhe vinagre e fel numa esponja. Pelo vinagre que Lhe deram, ficava
indicado que a antiga vontade deles modificara-se, passando do caminho reto
para o caminho da maldade; e através do fel indicava-se o amargor da ser-pente
obstinada, que neles habitava.
2
Comprovaram que também eles Lhe pertenceram, a Ele, que é a vinha boa da qual
os Profetas, os Reis e os Sacerdotes beberam o vinho que alegra os corações.
Mas, por serem maus herdeiros, não quiseram trabalhar na "vinha do meu
amor".
3
Em vez de uvas, produziram abrolhos; e o vinho que espremeram dos abrolhos era
azedo. Quando pregaram o Herdeiro na Cruz, misturaram para Ele essa borra com o
seu vinho ruim, e deram-lhe de beber do vinho da videira dos povos; mas Ele
recusou. "Dai-me da vinha que o meu Pai trouxe do Egito!"
3 O
Messias sabia que n'Ele haveria de realizar-se a profecia de Moisés, que
dizia-lhe respeito: "Vossas uvas são uvas amargas, e os seus bagos são
fel; vosso veneno é o veneno dos dragões e a vossa cabeça é a de uma víbora; é
isso que retribuís ao Senhor".
4
Vês, irmão Nemésio, como o piedoso Moisés previu com os olhos do espírito o que
no futuro haveria de acontecer ao Messias: "E isso que retribuís ao
Senhor". A vinha era um espinheiro, a saber, a comunidade dos
crucificadores; suas filhas eram as uvas amargas e seus filhos os frutos azedos.
5
Caifás, seu chefe, a víbora traiçoeira; todos eles maus, cheios do veneno de
Satanás, que é o dragão monstruoso. Ao invés da água da rocha que eles beberam
no deserto, deram-lhe vinagre por bebida; em lugar do maná e das codornas, fel.
6
Mas não lhe deram de beber numa taça, e sim numa esponja, indicando assim que a
bênção dos seus pais se afastara deles. Isso está a significar o seguinte:
quando um receptáculo está vazio e tendo acabado o seu vinho, ele é lavado e
purificado com uma esponja. Assim também quando os judeus crucificaram o
Messias, Ele esvaziou sua realeza, seu sacerdócio e sua profecia, bem como a
messianidade, e retirou-os deles. Dessa maneira, restaram apenas os vasos dos
seus corpos, espoliados e vazios.
7
Quando se cumpriu a Lei e o tempo dos Profetas, e quando Adão foi despertado e
viu a vertente de água viva que lhe fora derramada do alto para a sua salvação,
o Messias triunfou pela lança, e do seu flanco escorreram sangue e água. Mas
estes não estavam misturados.
8
Por que verteu primeiro o sangue e depois a água? Por duas razões: primeiro,
porque através do sangue seria dada a vida a Adão, e depois, após a vida e a
Ressurreição, viria a água para o seu Batismo; em segundo lugar, Ele mostrou
com isso que pelo sangue, existe a imortalidade, mas que pela água, é a
mortalidade passível de sofrimento.
9 O
sangue e a água fluíram para a boca de Adão, e assim ele foi redimido e
revestiu-se das vestes da Glória. O Messias escreveu-lhe a carta da redenção
com o seu próprio sangue e colocou-a nas mãos do ladrão.
Capítulo
53
De
Adão até o Messias
1
Quando tudo se havia consumado, foi escrita à Comunidade uma carta de divórcio;
ela foi repudiada e despojada das suas vestes de glória, como dela já havia
dito Davi, pelo Espírito Santo: "Até as quatro quinas do Altar; até ali
vigorarão as Festas dos Judeus".
2
"Até as quinas do Altar", isto é, até a Cruz do Messias. A saber: de
Adão e Seth, de Seth a Enos, de Enos a Cainan, de Cainan a Mahalaleel, de
Mahalaleel a Jared, de Jared a Enoque, de Enoque a Matusalém, de Matusalém a
Lamech, de Lamech a Noé, de Noé a Sem, de Sem a Arpachsad, de Arpachsad a Salé,
de Salé a Heber, de Heber a Peleg, de Peleg a Regu, de Regu a Serug, de Serug a
Nachor, de Nachor a Tharé, de Tharé a Abraão, de Abraão a Isaac, de Isaac a Jacó,
de Jacó a Judá, de Judá a Farés, de Farés a Hesron, de Hesron a Aram, de Aram a
Aminadab, de Aminadab a Nahasson, de Nahasson a Salmon, de Salmon a Boaz, de
Boaz a Obed, de Obed a Isai, de Isai a Davi, de Davi a Salomão, de Salomão a
Jeroboão, de Jeroboão, a Abia, de Abia a Asa, de Asa a Josaphat, de Josaphat a
Jorão, de Jorão a Ocozias, de Ocozias a Joás, de Joás a Amazias, de Amazias a
azias, de azias a Jotham, de Jotham a Acaz, de Acaz a Ezequias, de Ezequias a
Manassés, de Manassés a Amon, de Amon a Josias, de Josias, a JoAcaz, de JoAcaz
a Joiakim, de Joiakim a Jojakin, de Jojakin a Salatiel, de Salatiel a
Zorobabel, de Zorobabel a Abiud, de Abiud a Eliachim, de Eliachim a Azor, de
Azor a Zadok, de Zadok a Achin, de Achin a Eliud, de Eliud a Eleazar, de
Eleazar a Matthan, de Matthan a Jacó e Joaquim, de Joaquim a Maria, de Maria ao
Presépio, do Presépio à Circuncisão, da Circuncisão ao Templo, do Templo ao
Egito, do Egito à Galiléia, da Galiléia a Jerusalém, de Jerusalém ao Jordão, do
Jordão ao Deserto, do Deserto à Judéia, da Judéia à Pregação, da Pregação ao
Cenáculo, do Cenáculo à Páscoa, da Páscoa ao Pretório, do Pretório à Cruz, da
Cruz ao Sepulcro, do Sepulcro ao Cenáculo, do Cenáculo ao Céu, e do Céu ao
Trono, onde se assenta à direita de seu Pai.
3
Vês, irmão Nemésio, como se sucedem as gerações e estirpes? De Adão até os
judeus, e dos judeus, uma após outra, até à morte na Cruz do Messias. A partir
desse momento, cessaram as Festas dos judeus, segundo Davi já havia profetizado
sobre elas: "Ligai as Festas com cadeias, até as pontas do Altar".
4 As cadeias são as estirpes, que se conectam umas às outras; o Altar é a Cruz do
Messias. Até a Cruz do Messias, as Festas dos judeus eram realizadas com
Sacerdócio, Realeza, Profecia e Páscoa.
5 A
partir da morte na Cruz do Messias, todas elas foram subtraídas aos judeus,
como dito acima, e para eles no futuro não haverá mais Rei, Sacerdote, Profeta
e Páscoa, segundo a profecia de Daniel: "Após sessenta e duas semanas o
Messias será morto, e a Cidade Santa ficará destruída até o fim da
guerra," isto é, por todos os séculos dos séculos.
Capítulo
54
O
Sepultamento do Messias
1
Cumprida a Lei e cumprido o tempo dos Profetas, e o Messias morto na Cruz,
José, irmão de Nicodemos e de Cléofas, foi ter com Pilatos; pois ele era
Conselheiro, possuía o selo de Pilatos e tinha grande liberdade de palavra
junto dele. Pediu o corpo do nosso Salvador; Pilatos então ordenou que lhe
fosse entregue.
2
Depois de haver retirado o corpo, Pilatos ordenou também que lhe fosse destinado
o horto onde se encontrava o sepulcro de nosso Salvador. O horto na realidade
era propriedade de José, tendo-lhe cabido por herança, pelo levita Pinechas,
primo de José.
3
José era de Jerusalém, mas fora nomeado Conselheiro em Arimatéia; todas as correspondências
emitidas durante o governo de Pilatos eram carimbadas com o selo que estava em
poder dele. Quando o corpo de Nosso Senhor foi descido da Cruz, os judeus
correram até lá, pegaram a Cruz e levaram-na ao Templo, porque ela era feita
das tábuas da Arca da Aliança.
4
Nicodemos preparou o corpo de Nosso Senhor; José envolveu-o num pano de linho
novo e puro, e depositou-o num sepulcro nunca antes usado, que fora construído
para o sepultamento de Josué, filho de Nun. Este, todavia, tendo visto com os olhos
do espírito, e tendo intuído o curso do plano de Salvação do Messias, tomara a
pedra que acompanhou os israelitas no deserto e colocou-a na entrada da
sepultura; por isso é que ele mesmo não foi enterrado ali.
5
Depois que José, Nicodemo e Cléofas sepultaram o Messias, colocaram essa pedra
na entrada do sepulcro. Vieram então os sumos sacerdotes e a comitiva de
Pilatos e lacraram a sepultura e a pedra.
6
Agora, irmão Nemésio, admira e louva a Deus por isso: as traves da Cruz do
Messias foram incorporadas às tábuas da Arca do culto divino e ao recinto do
Santuário da Reconciliação! Trata-se daquilo que Deus havia ordenado a Moisés.
Devia fazer um corselete do julgamento e da paz: de julgamento, para os judeus
que O crucificaram; de paz, para os que n'Ele acreditam.
7 A
sua Cruz era da madeira do Santuário, e seu sepulcro era novo, destinado que
fora para a sepultura de Josué, filho de Nun. A rocha, que é o Messias,
distribuiu água no deserto para seiscentas mil pessoas; agora ela é um Altar
que dá vida a todos os homens. Essa palavra do Apóstolo, dizendo que aquela
pedra era o Messias, é verdadeira e muito digna de crédito.
8
José fora nomeado Conselheiro em Arimatéia, Nicodemo, Doutor da Lei em
Jerusalém, e Cléofas, Escriba dos Judeus em Emaús. Nicodemo havia preparado
para o Messias no Cenáculo tudo o que era necessário para a Páscoa.
9
José envolveu-O e sepultou-O na sua herança, e Cléofas recebeu-O em sua casa.
Quando Ele ressurgiu do reino dos mortos, esses eram para Ele como irmãos na
verdade e na pureza.
10
Quando José O desprendeu da Cruz, destacou também o letreiro que estava afixado
por sobre a sua cabeça, isto é, no alto da Cruz do Messias; fora redigido por
Pilatos em grego, latim e hebraico. Por que Pilatos não escreveu nenhuma
palavra em siríaco?
11
Porque os sírios não tinham nenhuma participação no sangue do Messias, e porque
Pilatos era um homem sábio e amante da verdade. Ele não quis escrever nenhuma
mentira, como fazem os maus juizes; agiu muito mais de acordo com o que está na
lei de Moisés: "Aqueles que condenam os justos..."
12
Na qualidade de assassinos de Deus, ali deveriam constar os seus nomes. E
Pilatos escreveu isso, afixando a inscrição por sobre o Messias, que foi morto
por Herodes, o grego, por Caifás, o judeu, e por Pilatos, o romano. Mas os
sírios não tiveram nenhuma parte na sua morte; disso é testemunha Abgaro, o rei
de Edessa. Ele quis marchar contra Jerusalém e destruí-la, por haver os judeus
crucificado o Messias.
Capítulo
55
A
Descida de Cristo aos Infernos e sua Ressurreição
1 A
descida do Messias ao inundo inferior não foi em vão, mas ao contrário, foi a
causa de muitos benefícios para a nossa geração. A sua descida aos lugares
inferiores da terra eliminou o poder da morte e distribuiu o perdão àqueles que
haviam pecado sem conhecerem a Lei.
2
Ela destruiu o mundo inferior, exterminou o pecado, envergonhou Satanás,
perturbou os demônios, removeu os altares dos sacrifícios e holocaustos,
preparou a volta de Adão e esvaziou as Festas dos judeus. Quando no terceiro
dia ressurgiu do sepulcro, Ele apareceu a Cefas e a João.
3
Quando o Messias ainda estava no sepulcro, e os guardas sentados ao seu redor,
Simão Cefas decidiu em seu coração oferecer vinho aos guardas, para que se
embebedassem e caíssem no sono; ele queria depois abrir o sepulcro e retirar o
corpo do Messias, sem danificar o lacre, para que os judeus não pudessem dizer:
"Os seus discípulos o roubaram."
4
Enquanto os guardas comiam e bebiam, o Messias ressuscitou e mostrou-se a
Cefas, que acreditou verdadeiramente que Ele era o Messias, o Rei do céu e da
terra. Cefas, porém, não se aproximou do sepulcro. Depois disso, Ele apareceu
abertamente aos guardas; dirigiu-se aos seus discípulos no Cenáculo; e ali foi
tocado por Tomé.
5
Depois apareceu-lhes também sobre o mar. Por tê-la Simão Cefas negado três
vezes diante dos judeus, Ele o confirmou por três vezes diante dos discípulos.
Entregou nas suas mãos e confiou-lhe todo o seu rebanho, dizendo-lhe na
presença dos seus discípulos: "Apascenta os meus cordeiros, as minhas ovelhas,
os meus cordeirinhos!" Trata-se dos homens, das mulheres e das crianças.
6
Quarenta dias após a Ressurreição, Ele confiou aos Apóstolos a imposição de
mãos do sacerdócio, subiu ao céu e assentou-se à direita de seu Pai. Em
seguida, os Apóstolos se reuniram e foram ao Cenáculo com Maria, a Virgem
Santa.
7
Simão Cefas batizou Maria e João, o jovem, e levou-a para sua casa. Decidiram
jejuar, até receberem todos juntos o Espírito, o Paráclito, no dia de
Pentecostes, ali mesmo onde estavam reunidos. Foram-lhes distribuídas línguas,
e cada um partiu para ensinar os povos, de acordo com a língua que lhes fora
dada; e assim não houve desentendimento entre eles por toda a eternidade.
8
Fim da escrita do presente livro sobre o ordenamento e a seqüência das gerações,
desde Adão até o Messias. Ele se chama "Caverna dos Tesouros".
9
Honra seja dada a Deus por toda a eternidade! Amém.