Johannes Junius foi um burgomestre e suposto bruxo alemão que exerceu suas funções em Bamberg em 1614, 1617, 1621 e entre 1624 e 1628, além de
presidente do conselho entre 1608 e 1613, em 1615, 1616, 1618, 1619, 1620, 1622
e 1623.
Em 1628, o burgomestre de Bamburgo; Johannes Junius, foi acusado e
processado por bruxaria.
Esta é a carta que escreveu à filha antes de ser morto, um dos mais
importantes testemunhos das perseguições:
Cem mil vezes boa noite, minha adorada filha Verônica. Inocente, fui
preso, inocente, fui torturado, inocente, devo morrer. Pois quem quer que seja
trancafiado na prisão das bruxas é torturado até se decidir a inventar uma
confissão qualquer. Na primeira vez em que fui submetido à tortura, lá estavam
o doutor Braun, o doutor Kötzendörffer e outros dois estranhos. O doutor Braun
me perguntou: "Amigo, por que está aqui?" E eu respondi: "Por
falsas acusações e desgraça." "Escute", disse ele, "você é
um bruxo. Quer confessar espontaneamente? Senão traremos as testemunhas e o
carrasco".
Eu disse: "Não sou um bruxo, e minha consciência está tranquila com relação a isso. Nem mil testemunhas podem me assustar." Então chegou, Deus
do Céu, tende piedade, o carrasco, que esmagou meus polegares com as mãos
amarradas, de forma que o sangue jorrava das unhas e de todo lugar, e não pude
usar as mãos por quatro semanas, como pode ver pela minha letra. Então me
despiram, amarraram minhas mãos nas costas e me colocaram na polé. Pensei que
Céu e Terra tivessem chegado ao fim; oito vezes fui erguido e solto, tendo
sofrido terrivelmente. E assim confessei, mas era tudo mentira. Agora, querida
menina, conto o que confessei para fugir da dor e das torturas que não teria
conseguido suportar [...]
Eu deveria dizer quem tinha visto no sabá. Disse que não havia
reconhecido ninguém.
"Velho arguto, vou chamar de volta o carrasco. Diga-me, não estaria
lá o chanceler?" Então eu disse que sim, que estava. "E quem
mais?" Eu não reconhecia ninguém. Então ele disse: "Siga uma rua
depois da outra, começando pelo mercado, passando por toda uma rua e voltando
pela seguinte." Fui obrigado a dar o nome de várias pessoas. Então chegou a
rua comprida. Não conhecia ninguém que ali morasse, mas precisei dar o nome de
oito pessoas. E assim continuaram por todas as ruas, ainda que eu não pudesse
nem quisesse dizer mais nada. Então me entregaram ao carrasco, mandaram que ele
me despisse e raspasse todo meu corpo e me submetesse à tortura.
E tive de confessar os crimes que cometi. Eu nada disse. "Levantem
esse mentiroso!".
Então eu disse que deveria ter matado meus filhos, mas matei um cavalo.
Não adiantou nada [...] Eu também disse ter pego uma hóstia consagrada e
tê-la profanado.
Quando disse isso, deixaram-me em paz.
Querida menina, guarda esta carta em segredo, ou sofrerei outras
terríveis torturas, e meus carcereiros serão decapitados [...].
Boa noite, pois teu pai, Johannes Junius, não te verá mais.
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