Com uma linguagem simples,
mas audaz e vigorosa, o autor enuncia os princípios básicos da filosofia do
ateísmo. Este novo livro é um desafio ao pensamento universal, e lança no campo
de batalha não apenas os religiosos, mas também nossos educadores e líderes
políticos.
Muitos perguntam que
diferença faz se um homem acredita em um Deus ou não?
Faz uma grande diferença.
Faz toda a diferença do
mundo.
- É a diferença entre estar
certo e estar errado; é a diferença entre verdade e imaginação — fatos ou
ilusão.
- É a diferença entre a terra
ser plana e a terra ser redonda.
- É a diferença entre a Terra
ser o centro do Universo ou uma minúscula partícula em um vasto e inexplorado
oceano com multidões de sóis e galáxias.
- É a diferença entre o
conceito apropriado de vida ou conclusões baseadas em ilusões.
- É a diferença entre o
conhecimento comprovado e a fé da religião.
- É uma questão de Progresso
ou de Idade das Trevas.
A história humana comprova
que a religião perverte o conceito do homem a respeito da vida e do Universo;
que o transforma em um covarde submisso ante as forças cegas da natureza.
Se você acredita que há um
Deus; que o homem foi “criado”; que foi proibido de comer o fruto da “árvore do
conhecimento”; que foi desobediente; que é um “anjo caído”; que está pagando a
punição por seus “pecados” — então você devota seu tempo rezando para
satisfazer um Deus iracundo e ciumento.
Se, em contrapartida, você
acredita que o Universo é um grande mistério; que o homem é produto da
evolução; que nasce sem qualquer conhecimento; que a inteligência é fruto da
experiência — então você devota seu tempo e energia para melhorar sua condição,
na esperança de garantir uma pequena felicidade para si e para seus
semelhantes.
Essa é a diferença.
Se o homem foi “criado”,
então alguém cometeu um grave engano.
É inconcebível que qualquer
forma de inteligência desperdiçaria tanto tempo e esforço para produzir um
fragmento de vida tão inferior — com todas as “enfermidades herdadas pela
carne” e com toda a miséria e sofrimento que são parte tão essencial da vida.
Se o homem é um “anjo
caído” por ter cometido um “pecado”, então a enfermidade e o arrependimento são
parte do imperscrutável plano de Deus como punição imposta ao homem por sua
“desobediência”, e toda a vida do homem é devotada à expiação desse pecado a
fim de suavizar tal acusação ante o “Trono de Deus”.
A expiação do homem
consiste em fazer-se o mais miserável possível através da oração, do jejum, do
masoquismo, da flagelação e de outras formas de tortura.
Esta ilusão sádica faz com
que ele insista — sob medo de punição — para que os outros também sejam tão
miseráveis quanto a si próprio, pois teme que, se os outros falharem em ser
como ele, isso provocará a ira do seu Deus tirano, que castigará com mais
severidade.
O resultado inevitável é
que o homem não devota sua vida aos princípios essenciais do viver e do
bem-estar, mas à construção de templos e igrejas onde pode “elevar sua voz a
Deus” em um frenesi de fanatismo, eventualmente tornando-se uma vitima da
histeria.
Seu tempo e sua energia são
desperdiçados para purificar sua “alma” — a qual ele não possui — e para salvar
a si mesmo de uma punição futura no inferno — que existe somente em sua
imaginação.
As alucinações religiosas
tomam variadas formas.
Alguns não lavam a si
próprios; alguns lavam apenas seus dedos; alguns pensam que, quanto mais sujos,
mais “sagrados” são; alguns cortam seu cabelo, enquanto outros deixam-no
crescer; alguns recusam-se a ficar em pé, outros recusam-se a se sentar; alguns
amputam seus genitais, outros, seus seios; alguns arrancam seus dentes, outros
mortificam seus membros; alguns jejuam, outros se empanturram; alguns cobrem
suas cabeças com areia, outros, com farrapos e cinzas; alguns falam
continuamente, outros guardam silêncio; alguns são celibatários, outros são
libidinosos; alguns ficam de ponta-cabeça; alguns fazem marcas em si mesmos,
enquanto outros perfuram o nariz, os olhos e as orelhas.
Freiras cortam o cabelo
para se tornarem tão feias quanto possível — para se tornarem repulsivas ao
sexo oposto; há monges que fizeram voto de nunca olhar à face de uma mulher;
franciscanos ainda vestem cordas ao redor de seus corpos como um símbolo da
flagelação.
Dificilmente se encontra
uma forma insanidade ou ilusão que não tenha sido induzida por alguma espécie
de crença religiosa.
Rir no “Sabá”, por apenas
uma vez, era considerado o pecado dos pecados.
Quão certo estava Robert G.
Ingersoll quando disse que “O cristianismo produziu mais lunáticos do que
manicômios para interná-los”.
Por outro lado, não
acreditamos que o homem é um ser depravado. Não acreditamos que há um Deus
tirano e nem que há um inferno em que o homem irá sofrer as dores e punições do
tormento eterno. Não acreditamos que devemos tornar-nos tão miseráveis quanto
possível aqui na esperança de assegurar alguma felicidade no “além”.
Não acreditamos que a
enfermidade é uma punição pelo pecado.
Acreditamos que a
enfermidade é uma consequência natural dos processos da vida, e que as
“enfermidades da carne” são consequência inevitável do fato de as formas de
vida viverem umas às custas das outras — “No banquete da vida, todos os
convidados comem os pratos e são os pratos”.
Apenas através da
compreensão da natureza da enfermidade o homem tem sido capaz, mesmo que em
pequeno grau, de proteger-se contra sua própria destruição.
O uso da oração para curar
doenças foi responsável por epidemias que, em muitas ocasiões, quase
exterminaram a raça humana. A oração não tem mais efeito sobre a doença do que
tem sobre a saúde. Ela simplesmente permite que a doença siga seu curso e
aumente o sofrimento da vítima.
Se os padres — de todas as
seitas — fossem isentos de doenças e imunes à morte, então poderia haver algum
fundamento para as alegações dos religiosos. Mas esses “homens de Deus” são
vítimas dos cursos naturais da vida, “assim como você e eu”. Não desfrutam de
privilégios. Eles sofrem das mesmas doenças; sentem as mesmas sensações; estão
sujeitos às mesmas paixões do corpo, às mesmas fragilidades mentais; são
vítimas das circunstâncias e do infortúnio; e se encontram com a inevitável
morte, assim como qualquer outra pessoa. Eles cometem os mesmos tipos de crime que
os outros mortais, e, especialmente, devido à sua “vocação”, muitos estão
notoriamente envolvidos no desvio de fundos de igrejas. Sua vocação também não
os protege das “paixões da carne”. A escandalosa conduta de muitos “homens de
batina”, no campo da torpeza moral, não raro termina em assassinato. Por
isso há tantos “homens de Deus” em nossas prisões, e por isso tantos pagaram a
penalidade suprema na cadeira elétrica.
Eles não escapam a qualquer
lei da vida; tudo que os outros precisam enfrentar, eles igualmente precisam.
Não podem proteger-se das forças da natureza e das leis da vida mais do que
qualquer um. Tudo que eles podem fazer, todos podem, também. Suas alegações de
que são “iluminados” ou “porta-vozes de Deus” na Terra são falsas e hipócritas.
Se eles não podem cumprir
suas promessas enquanto você está vivo, como poderão cumpri-las quando você
estiver morto?
Se aqui, onde poderiam
demonstrar seus poderes, eles são impotentes, quão ridículas são suas
afirmações de que suas promessas serão cumpridas no “além” — a morada
mitológica que existe apenas nas imaginações desonestas ou iludidas.
As ilusões da vida são
muitas e variadas.
As coisas nem sempre são o
que parecem ser, e sabe-se muito bem que as “aparências enganam”.
Por isso é tão difícil,
para algumas pessoas, compreender a natureza da enfermidade, e por isso levou
tanto tempo para que o homem compreendesse as verdadeiras condições da vida.
Este engano predomina em
questões de grande importância, e também em questões pouco relevantes.
Não há uma “voz da
natureza” para dizer ao homem o que é verdadeiro e o que é falso, nem para
alertá-lo sobre os perigos da vida. O homem deve encontrar a verdade ele
próprio, e isso apenas após amargas experiências.
Um dos primeiros equívocos
do homem, após seu assim chamado “despertar intelectual”, adveio da sua
incapacidade de conceber qualquer esquema de vida senão o seu próprio conceito
primitivo, de inteligência limitada.
Ele não conseguia conceber
a Terra e o Universo senão como tendo sido “criados” e, com seu sentimento de
vingança, não conseguia conceber o sofrimento da vida senão como punição por
alguma “desobediência”. Apesar de primitivo, ele não infligia sofrimento e
punição sobre inocentes. Este esquema diabólico poderia apenas vir de um Deus “misericordioso”.
Como ilustração deste
conceito do homem primitivo neste sentido está a ilusão que ele acalenta quando
acredita que o Sol “nasce e põe-se”, quando, na realidade, o Sol é
“estacionário”, pelo menos em relação ao nosso sistema planetário, e é a Terra
que se “move”, como Galileu tão corajosamente defendeu — o que custou sua
liberdade.
Há uma ilusão de que o Sol
brilha e a água cai das nuvens para fazer as flores desabrocharem.
Para o religioso isso é uma
indicação da “beleza” da natureza.
Não é nada disso.
Plantas venenosas e ervas
daninhas são igualmente nutridas pelo calor do Sol e pela umidade da água.
Isso, então, é uma
indicação da “feiúra” da natureza?
Certamente não.
Ambos são consequências
inevitáveis do meio-ambiente em que vivem. Não poderia ser de outro modo.
Será que o hipopótamo é uma
das obras-primas da natureza?
Será que sua face e sua
forma exprimem a perfeição da beleza e da graça?
Você consideraria esse
animal uma obra de arte viva se fosse o responsável por ele?
Ainda assim, se esse animal
pudesse falar, provavelmente diria que este meio-ambiente foi feito em seu
benefício e que suas maravilhosas características, particularmente sua boca,
foram especialmente “projetadas” para seu desfrute, e que seu corpo todo foi feito
“à imagem e semelhança de Deus”.
O fato de que o hipopótamo
sobreviveu todos esses milhões de anos do processo evolucionário, e continua
subsistindo hoje, é uma prova de que ele é tão favorecido pela natureza quanto
o homem.
Para a natureza, as flores
desabrochadas e as ervas daninhas são equivalentes, e a fragrância de uma e o
fedor da outra são igualmente importantes; se pudessem falar, ambas tentariam
seduzir a preferência da natureza para si.
Mas, na verdade, ambas
estariam erradas.
O Sol não brilha pra
dar-nos a luz e o calor necessários sem, também, iluminar alguns novos
problemas para que nossos tumultuados corações tenham de suportar; tudo no
Universo compartilha as mesmas inevitáveis consequências.
Enquanto é verdade que
“maus ventos nunca trazem o bem”, também é verdade que “o alimento de um homem
é o veneno de outro”.
Para a natureza, questões
de “grande importância” e questões de “pouca relevância” estão no mesmo nível.
Uma não é “favorecida” em detrimento da outra. É a sobrevivência do mais apto,
não do mais desejável.
Quando as condições são
favoráveis aos animais “selvagens”, eles prosperam matando outras formas de
vida, com as quais sobrevivem, e, quando as condições são favoráveis ao homem,
ele mata e sobrevive graças às formas de vida que julga existirem somente para
seu prazer e benefício.
Para a natureza, os germes
patogênicos, enquanto formas de vida, são tão importantes quanto as outras
formas de vida que “respiram e têm espírito”.
Quando as condições estão
favoráveis para o vírus influenza ou da gripe, temos o que se denomina
epidemia, e, quando temos condições favoráveis para o crescimento da peste
negra, temos o que poderíamos chamar de “Férias Romanas”, com a destruição de
um terço de nossa população.
Germes patogênicos são
apenas pequenos animais invisíveis.
São formas de vida que
prosperam sobre o solo do corpo humano.
Contra eles, a reza surte
tanto efeito quanto rezar para um tigre faminto pronto para devorá-lo.
O projétil de uma arma de
fogo seria muito mais eficiente contra o tigre, e o conhecimento da natureza
dos germes patogênicos e a descoberta dos métodos para destruí-los são
comparáveis à invenção da arma de fogo em sua utilidade contra bestas ferozes.
O conhecimento evita a
nossa destruição protegendo-nos contra inimigos invisíveis, enquanto a invenção
das armas de fogo evita a nossa destruição protegendo-nos contra as bestas
ferozes.
Os germes patogênicos e o
tigre faminto têm o mesmo objetivo determinado — sua destruição; um lhe comendo
“aos poucos” e o outro lhe destroçando “aos bocados”.
Os resultados são
idênticos.
Não é necessário tentar
“moralizar” alguma diferença.
Em nosso presente esquema
de vida, como Ingersoll tão eloquentemente afirma, sabemos que: “As mãos que
auxiliam são muito melhores que os lábios que rezam”.
Nossos corpos são “carne”
para os germes patogênicos que nos devoram assim como, para nós, os animais são
carne para saciar nosso apetite.
Ou, como diria Shakespeare:
“…no broto mais doce
Mora o cancro famélico.”
Mora o cancro famélico.”
Num conceito mais amplo e
compreensível de doença, Shakespeare diz que ela é como:
“Um Deus onipotente
Reunindo em suas nuvens…
Exércitos de pestilência; e irão atacar
Seus filhos antes de nascerem…”
Reunindo em suas nuvens…
Exércitos de pestilência; e irão atacar
Seus filhos antes de nascerem…”
Quem somos nós para dizer
qual é o favorito neste esquema da vida, qual dos dois é o preferido pela
natureza — os germes patogênicos ou o homem? Qual dos dois poderia ser o mais
importante se os objetivos visados são os mesmos?
O germe patogênico veio à
existência pelo mesmo processo que o homem. Ele é parte da natureza tanto
quanto um bebê recém-nascido. Não podemos viver sem luz
do Sol e água, e tampouco o podem os germes patogênicos.
E talvez não sejamos mais
do que “germes patogênicos” no meio-ambiente em que vivemos. Os germes
patogênicos, em sua constituição fundamental, compartilham conosco os mesmos
padrões básicos que compõem a vida.
Para a natureza, a noite é
tão importante quanto o dia, e a vida do germe que denominamos patogênico é tão
importante quanto a vida do corpo do qual ele se alimenta.
Ambos seguem as mesmas leis
da vida; nascem, reproduzem-se e morrem.
Há formas de vida que vivem
à noite, e que são tão favorecidas pela natureza quanto aquelas que vivem de
dia.
Na natureza existe
extravagância em todos os graus — desde o completamente ridículo até o monstruosamente
assustador. Esta é a prova da ausência de “design” na natureza, pelo menos no
que concerne o homem.
Quando o homem perceber que
não é o “favorito” de Deus, que não foi especialmente criado, que o Universo
não foi feito em seu benefício e que ele está sujeito às mesmas leis naturais
às quais estão todas as outras formas de vida, então, e apenas então, ele
compreenderá que deve colocar em si mesmo, e apenas em si, toda a
responsabilidade por quaisquer tipos de benefícios que pretende conquistar; e
devotar seu tempo e sua energia para ajudar a si e aos seus semelhantes a
satisfazer as exigências da vida e esforçar-se para resolver os difíceis e
intrincados problemas de estar vivo.
O reconhecimento de um
problema é o primeiro passo para sua solução.Não somos anjos “caídos” e
tampouco fomos “criados” perfeitos. Pelo contrário, somos o
produto de milhões de anos de evolução cega.
Somos os descendentes e os
herdeiros de todos os defeitos de nossos ancestrais primitivos — a evolução da
miríade de formas de vida, do infinitesimal ao mamute, do verme ao dinossauro.
O passo mais importante no
desenvolvimento de um homem é o reconhecimento do fato de que nascemos sem
conhecimento, e que a aquisição deste é um processo lento e doloroso.
Se tudo que o homem precisa
sobre a Terra fosse “a sabedoria de Deus”, então por que seria necessário o
estabelecimento de instituições educacionais?
A não ser que a criança
seja ensinada a falar, ela nunca será capaz a exprimir-se no idioma de sua
terra natal. Sem ensinar à criança os fundamentos da linguagem, ela seria
incapaz de comunicar seus pensamentos aos outros. Sem treinamento apropriado,
seus “grunhidos” de expressão não teriam qualquer significado, e o único modo
através do qual poderia expressar-se seria usando seus instintos primitivos de
apontar e de fazer sinais.
O cérebro necessita do
mesmo tipo de treinamento que qualquer outra parte do corpo que requeira
exercício para desenvolver-se. A nutrição da mente é tão necessária quanto a
nutrição do corpo.
Assim como há algumas
comidas que foram adulteradas e refinadas de tal modo que, quando ingeridas,
não proporcionam qualquer nutrição ao corpo, também há verdades que foram
adulteradas pela religião e pela superstição de tal modo que se tornaram
completamente inúteis no sentido de nutrir a mente com inteligência.
A educação tornou-se o
objetivo primário da civilização.
Como disse Thomas Paine: “A
sabedoria não se compra num só dia”.
A Igreja sabe que um homem
educado é um homem descrente. Por isso há um esforço
contínuo da parte do clero no sentido de adulterar a educação com superstição.
Para preservar sua insustentável posição, devem manter o povo agrilhoado por
uma forma de escravidão mental.
Medo e superstição — ambos
são formas de uma doença contagiosa. A ignorância do homem
produziu medos naturais dos elementos da natureza. O que não podia compreender,
atribuía a espíritos malevolentes cujo objetivo primário era puni-lo e
prejudicá-lo. Nesta ótica, parece realmente incrível que ele tenha sido capaz
de avançar de seu estado de ignorância primitiva.
Seus medos produziram
monstros tão fantásticos que primeiro foi necessário despir sua mente
atormentada destes aterrorizantes mitos de fantasmas e deuses antes de ser
capaz de adquirir mesmo os mais simples rudimentos do conhecimento.
Os medos e a ignorância do
homem fizeram dele uma presa fácil para os padres. Sua credulidade era tamanha
que acreditava em tudo que lhe fosse dito. E rapidamente tornou-se um
escravo desses mentirosos e hipócritas.
O que esses padres lhe
disseram?
Disseram-lhe que Deus havia
feito uma revelação especial em um livro chamado Bíblia, e que era necessário
acreditar em cada palavra deste livro a fim de que sua alma pudesse ser salva.
Disseram-lhe que, se desobedecessem a seus comandos, iriam sofrer uma punição
eterna no inferno, onde “o fogo nunca apaga e o verme nunca morre”.
Disseram-lhe também que ler
aquele livro era um pecado, e que o padre havia sido especialmente ordenado por
Deus para interpretar o significado de cada palavra.
E qual foi a interpretação
que os padres fizeram do texto desse livro?
Foi a de que o homem era um
ser corrompido e pecaminoso, e que, para ser salvo da punição post-mortem,
tinha de dar uma parte substancial dos frutos de seu trabalho para o padre
rezar por ele e interceder em seu favor a Deus, de modo a mitigar a punição à
qual ele já estava destinado.
Um diabólico esquema
fraudulento para se viver às custas do suor e do trabalho dos outros. Um esquema tão lucrativo
que os padres começaram usar a força para manter seu poder.
Como resultado, vieram à
existência as duas tiranias gêmeas: a igreja e o estado.
Parece inacreditável que
tamanha tolice tenha realmente sido imposta sobre a sofrida humanidade — e tudo
isso não passaria de tolice, se não fosse tão trágico.
O homem tornou-se tão
temente que pensou que não seria capaz de viver sem a “proteção” dos padres, e,
como disse Ingersoll, “enquanto as pessoas quiserem papas, sempre haverá
hipócritas que alegremente estarão dispostos a tomar seu lugar…”.
Ingersoll também declarou:
“Os padres fingiam estar entre a ira dos deuses e a impotência dos homens. O
padre era o advogado do homem na corte do céu. Levava ao mundo invisível uma
bandeira de paz, um protesto e um pedido; retornava com um comando, com
autoridade e com poder. O homem caiu aos seus joelhos, e o padre, tirando
vantagem da reverência inspirada pela sua suposta influência com os deuses,
transformou seus semelhantes em aduladores hipócritas e escravos”.
Enquanto houver alguma
pessoa sofrendo uma injustiça; enquanto houver alguma pessoa forçada a suportar
uma culpa desnecessária; enquanto houver alguma pessoa sujeita a uma dor
imerecida — a adoração de Deus será uma humilhação desmoralizante.
Enquanto houver um erro no
Universo; enquanto for permitido que exista qualquer coisa errada; enquanto
houver ódio e antagonismo entre a humanidade — a existência de um Deus será uma
impossibilidade moral.
Ingersoll disse: “A
injustiça sobre a Terra torna a justiça dos céus impossível”.
A inumanidade do homem para
com o homem continuará enquanto o homem amar a Deus mais do que ama a seus
semelhantes.
Amar a Deus significa
desperdiçar amor.
“Por Deus e pela nação”
significa uma sujeição dividida — 50% patriota.
“Deus” é a palavra mais
abusada na linguagem do homem.
A razão para isso é que ela
é capaz de perpetrar muito abuso. Não há outra palavra na
linguagem humana que seja tão vazia de significado e tão inexplicável quanto a
palavra “Deus”.
É o começo e o fim do nada.
É o Alfa e o Omega da ignorância.
Para essa palavra, existem
tantos significados quando existem mentes. E, como cada pessoa tem uma opinião
própria sobre o que a palavra Deus supostamente significa, então vê-se que é
uma palavra sem premissa, sem fundamento e sem substância.
Ela não tem validade.
Ela é todas as coisas para
todas as pessoas; é tão inexpressiva quanto indefinível.
É a mais perigosa das
palavras nas mãos dos inescrupulosos; é um coringa que funcionas como ás.
É a palavra peçonhenta que
paralisou o cérebro do homem.
“Ser temente ao Senhor” não
é o início da sabedoria; pelo contrário, fez do homem um escravo rastejante;
transformou em lunáticos desvairados aqueles que tentaram interpretar o que
Deus “é” e o que supostamente seria nosso “dever” para com ele.
Fez o homem prostituir as
coisas mais preciosas da vida — o fez sacrificar sua esposa, seus filhos e seu
lar.“Em nome de Deus” significa
em nome do nada — isso fez o homem desperdiçar o precioso elixir da vida, pois
não existe Deus algum.
Ingersoll não conseguia
entender a mente daqueles que, tendo sido informados a respeito da verdade,
preferiam permanecer na ignorância e sob o encantamento da superstição. Não
conseguia entender por que as pessoas não aceitavam as “novas verdades com
alegria”.
Entretanto, ele também
sabia que, uma vez a mente da pessoa tivesse sido envenenada pela superstição
religiosa, tornava-se quase impossível libertá-la do paralisante medo que
destruía sua capacidade de pensar.
Atualmente já foi
estabelecido por evidências verificáveis que a religião embrutece o cérebro e
que é um grande obstáculo no caminho do progresso intelectual.
Quanto mais religiosa é uma
pessoa, mais está atolada na ignorância e na superstição, e menor é seu senso
de responsabilidade moral. Quanto mais inteligente é uma pessoa, menos é
religiosa. Eis um velho ditado: “Onde há três cientistas, há dois ateístas”.
Os países cujos governos
são dominados pela religião e pelas instituições religiosas são os mais
atrasados. Em contrapartida, os países cujo povo é mais esclarecido e cujos
governos baseiam-se em princípios de secularismo — separação da Igreja e do
Estado — são os mais progressivos.
E permitam-me dizer: quando
um homem é intelectualmente livre, o progresso que ele fará é incalculável.
O que poderia ser mais
ilustrativo que isto: houve mais progresso desde a Declaração de Independência
e a Revolução Americana do que houve nos últimos cinco mil anos!
Sim, mais progresso
intelectual e material foi feito pelo homem desde o estabelecimento da
República Americana do que durante todos os anos dos faraós egípcios, e
incluindo também todo o tempo “da grandiosidade que foi a Grécia e da glória
que foi Roma”.
E há razões boas e válidas
para isso.
Foi porque “em 1776 nossos
patriarcas retiraram os deuses da política”. O princípio básico da República
Americana é a liberdade do homem na sociedade.
A Declaração de
Independência foi o produto da emancipação intelectual, e é por isso que a data
de nossa existência não deveria ser contada a partir do mítico nascimento de Jesus
Cristo, mas a partir do dia de nossa independência!
Este deveria ser o ano
cento e setenta e oito em nosso calendário!
Apesar dos sinais de
desencorajamento aqui e acolá, as sementes da liberdade plantadas pela
Revolução Americana irão enraizar-se e, em todo o mundo, se o homem aprender a
proteger zelosamente sua liberdade, a paz e o progresso virão para todos.
Como poderia haver uma
ilustração mais significante do que esta: praticamente no período de nossas
vidas — e certamente desde a Declaração de Independência — o homem alcançou as
mais magníficas realizações no campo da ciência e do progresso jamais vistas em
toda a história humana.
Não em sua ordem nem de
acordo com sua significância, lembro-me das seguintes coisas:
A anestesia foi descoberta.
Alguém compreende o que
significa aliviar a dor e o sofrimento de um homem? A anestesia é a mais humana
de todas as conquistas, e quão compassiva foi esta conquista.
Por essa grande descoberta
devemos agradecer ao Dr. W. T. G. Morton.
Os religiosos opuseram-se
ao uso da anestesia dizendo que Deus enviava a dor como punição pelo pecado, e
consideravam o maior dos sacrilégios utilizá-la — tentem imaginar isso,
transformar em pecado o alivio da miséria humana! Que perversão monstruosa!
Apenas este exemplo deveria ser suficiente para convencer qualquer um da
diferença entre acreditar em Deus ou não.
Nenhum crente em Deus teria
gastado suas energia para descobrir a anestesia. Ele estaria com um medo mortal
da ira de Deus por interferir em seu “plano divino” de fazer o homem sofrer por
ter comido o fruto da “árvore do conhecimento”.
O ponto crucial do assunto
está contido neste exemplo.
O homem busca aliviar seus
semelhantes do sofrimento da enfermidade e dos tormentos da agonia mental. Os
crentes em Deus estão satisfeitos com o fato de o sofrimento do homem ser
ordenado, e assim aceitam a vida e suas adversidades e tribulações como uma
punição por estarem vivos.
O medo da ira de Deus tem
sido uma enorme travanca ao progresso.
Quando o Dr. James Young
Simpson tentou banestesiar uma parturiente, o clero de seu tempo, com a boca
espumando, brigou com ele com vituperações e abusos por tentar violar o
mandamento direto de Deus de que “entre dores deves trazer as crianças à luz” —
baseados no imbecil texto da Bíblia. Mas Dr. Simpson persistiu apesar dos
delírios dos religiosos lunáticos de seu tempo.
A importância da aplicação
da anestesia para aliviar as dores do parto por Dr. Simpson e seu aberto
desafio aos religiosos estão além da medida das palavras.
Os raios X foram
descobertos em nosso tempo.
O professor Wilhelm
Roentgen merece nosso eterno débito de gratidão por sua contribuição. Sua
aplicação, somente no campo da medicina, faz dela uma das maiores contribuições
ao bem-estar da humanidade.
A descoberta da composição
do sangue — também feita em nosso tempo — pelo Dr. Karl Lansteiner foi
responsável pelo salvamento de incontáveis milhares de vidas.
O sangue era temido pelos
religiosos, e era colocado um tabu sobre todos aqueles que o tocassem, como
tendo sido contaminados.
Até dissecção do corpo
humano foi proibida pela religião.
O estudo da anatomia humana
é algo de nosso tempo, e os frutíferos resultados desta exploração científica
da estrutura física do homem são incalculáveis.
É desnecessário — eu
imagino — explicar por que o estudo do corpo humano é algo tão recente. Até a
emancipação da mente do homem da escravidão e das algemas da religião,
ensinava-se e cria-se como “verdade religiosa” — defendida sob pena de punição
eterna — que, se o corpo humano fosse dissecado, Deus não seria capaz de
reconhecê-lo no dia de sua ressurreição!
Tal foi a paralisante
ameaça da religião que prevaleceu sobre a mente do homem.
A descoberta da
constituição química dos alimentos — e sua aplicação à nutrição — contribuiu
mais à saúde da raça humana do que todos os Deuses, sacerdotes e padres desde a
aurora da existência.
A medicina preventiva
alcançou resultados maravilhosos na promoção da saúde e no prolongamento da
vida das pessoas.
A higiene e sua aplicação
salvaram milhões e milhões da enfermidade e da morte prematura. Ela conteve a
“mão de Deus” em sua loucura disseminadora de mortes pelas doenças epidêmicas.
Charles Darwin publicou “A
Origem das Espécies”, e o grande princípio da evolução foi promulgado.
A emancipada medicina
moderna reduziu a taxa de mortalidade infantil em mais de 50 por cento e foi a
responsável por aumentar em mais de duas vezes a expectativa de vida do homem
dentro do século passado.
Apenas pensem nisso! Todas
essas coisas aconteceram dentro do período de nossas próprias vidas!
Tudo isso e muito mais
desde o dia da independência americana!
E ouçam as palavras do Dr.
Paul D. White, fundador da American Heart Association [Associação Americana do
Coração]. Ele disse:
“Aqueles médicos dentre nós
que se graduaram na escola médica há trinta ou quarenta anos, ao olharem para
trás, agora veem a inacreditável ignorância sobre as doenças cardíacas que
então existia. Surgiu mais conhecimento desde então do que em todos os séculos
anteriores.”
No passado, o homem
aprendia que o coração, assim como a voz, era um “dom divino”, e que era
demasiado sagrado para ser sondado pelo homem. E quais foram os resultados
disso? Milhões, que poderiam ter sido salvos, morreram; milhões, que viveram
como enfermos incapacitados, poderiam ter vivido uma vida normal se o homem, no
passado, tivesse tido a coragem que tem hoje de buscar alívio dos terrores da
doença.
Tal é o fascinante
progresso que se manifesta quando o homem confia em seu próprio esforço para
resolver seus problemas, sejam eles concernentes à saúde ou às questões sociais
ou políticas.
Foi apenas nos últimos
quarenta anos que o Dr. James B. Herrick diagnosticou apropriadamente a causa
da trombose coronária, de onde se derivou o grandioso progresso que desde então
tem sido alcançado no combate a esta grande assassina.
Desejo colocar sobre o Dr.
Herrick minha coroa de agradecimentos pelas suas grandes conquistas na
medicina.
Que maravilhas têm sido
alcançadas desde a invenção da máquina a vapor, do automóvel, do rádio, da
televisão, dos dispositivos eletrônicos e dos milhares de outras descobertas e
invenções que são demasiado numerosas para serem mencionadas.
O benefício educacional da
cinematografia ultrapassa de longe apenas seu valor recreativo, e sua
utilização em praticamente todos departamentos educacionais faz dela uma das
mais valiosas invenções do homem.
Pensemos sobre a descoberta
de Benjamin Franklin da relação entre a eletricidade e o raio e sobre a
condenação arremessada contra ele por desafiar o “Príncipe do Poder do Ar”.
E os irmãos Wright e a
medonha penalidade que iriam sofrer por “Voar até a face de Deus”.
O relâmpago, outrora temido
como a colérica manifestação de um Deus enfurecido, foi reproduzido em
laboratório por Charles P. Steinmetz, o ímpio mago da eletricidade.
O telefone, a telegrafia
sem fio, o motor a vapor, a refrigeração, as máquinas de lavar e de costurar, o
tear mecânico e a miríade de aplicações para as forças elétrica e atômica farão
do homem o dono de seu destino, uma vez tenha se livrado do mito de um Deus
tirano.
Ingersoll expressou melhor
as invenções do homem e suas utilidades quando disse que: “A ciência pegou o
relâmpago dos deuses e, com o corisco — e liberdade e pensamento e inteligência
e amor — agora vasculha sob todas as ondas do mar; a ciência, o
livre-pensamento, pegou uma lágrima não-remunerada que escorria em um rosto e
converteu-a em vapor, e então criou o gigante que gira, com braços incansáveis,
as incontáveis engrenagens do trabalho”.
Retire-se do homem as
descobertas e invenções do século passado e ele irá pensar que retornou ao
barbarismo.
Vejam o que a invenção da
luz elétrica por Thomas A. Edison fez pelo homem — prolongou sua vida, deu mais
horas ao dia, aumentou seu conforto mais que qualquer outra coisa anteriormente
conhecida ou imaginada; foi algo que contribuiu imensuravelmente para sua
alegria de viver.
Mesmo a fictícia
performance de Josué de parar o Sol e a lua reduz-se a nada quando comparada a
esta sublime descoberta.
Também não devemos esquecer
a invenção de Edison para reproduzir a voz humana — e permitam-me dedicar um
momento de homenagem para dizer que tive a grande honra de conhecer Thomas A.
Edison, o qual me honrou chamando-me de seu amigo.
Se a impressão foi aclamada
com uma das grandes invenções da humanidade, que podemos dizer do fonógrafo?
Enquanto a impressão preserva os pensamentos do homem no papel, o fonógrafo
preserva não apenas seus pensamentos, mas também sua voz!
A música não é mais
“desperdiçada no ar deserto”.
Thomas A. Edison — o maior
dos benfeitores entre os homens — arrancou da natureza o seu segredo mais bem
guardado — o mistério da voz humana.
Ele refutou a ideia de que,
como antes se acreditava, a voz humana, assim como o coração, era um “dom
divino”. Demonstrou que a voz humana era apenas um mecanismo sonoro natural, o
qual funcionava com o ar dos pulmões quando passava pelas “cordas” da garganta
e da laringe, da mesma forma que os sons são produzidos pelas cordas de um
instrumento musical.
Como resultado da invenção
de Edison, o próprio homem já produziu artificialmente todas as manifestações
da voz humana!
Se a voz era parte do
“plano divino”, como poderíamos justificar sua ausência na girafa? Este animal
não tem laringe e, deste modo, não tem cordas vocais; consequentemente, não
pode falar ou fazer sons com sua garganta!
A girafa é uma prova da
ausência de design na natureza e da cegueira das forças evolucionárias da vida.
Para listar todas as
grandes descobertas no campo da ciência e da medicina durante o último século —
como a aspirina, a insulina, a penicilina e a estreptomicina — seria necessária
a atenção integral de um historiador médico e uma verdadeira enciclopédia para
registrar isso tudo.
Todavia, ainda há muitas
doenças que afligem o homem a respeito das quais ele não tem nenhum
conhecimento. Elas devoram e devastam seu corpo e sua mente com dor e tortura
excruciantes, e ele está completamente indefenso contra elas. Ele não apenas
ignora sua origem, mas também não sabe qual é a sua natureza nem como se
proteger de seus ataques. Ele tem de sentar-se como um criminoso condenado e,
em agonizante tortura, esperar pela sua morte abençoada.
Se o homem e todas as
outras formas de vida sobre este planeta são apenas um subproduto de um “grande
plano” de uma “inteligência suprema”, então eu denuncio tal esquema como
tirânico e selvagem.
Por que deveríamos ser
feitos para sofrer dores e punições lancinantes na vida sem qualquer benefício
e, por fim, ter todos os nossos esforços negados pela morte, fazendo do
objetivo de nossas vidas, de nossas esperanças, de nossos desejos, de nossas
ambições e de nossas aspirações nada mais que uma sinistra piada?
Ó reza, teu nome é malogro!
Ó Deus, tua arte é um mito
de crueldade!
Não se encontrará uma única
menção dessas grandes conquistas humanitárias nesses assim chamados “Livros dos
Livros”; nem uma única referência sobre a natureza e a cura da enfermidade; nem
uma palavra acerca daquelas invenções que tiraram um grande fardo das costas do
homem.
A há uma boa razão para
isso.
Os escritores da Bíblia não
só desconheciam tais coisas, mas também tinham um conceito pervertido da vida e
do Universo. Seu conceito era o de que o homem era uma vítima da poluição do
sangue e que sua única possível salvação era através expiação sangue.
Lembro-me de uma vez ter
visto um pequeno panfleto intitulado “O que a Bíblia Ensina sobre a Moral”. Ao
abri-lo, descobri que não tinha nada senão páginas em branco! Seria bom se
outro panfleto fosse publicado e intitulado “O que a Bíblia Revela sobre as
Doenças, a Medicina e a Saúde”, e devem ser usadas apenas páginas em branco
para representar o que ela diz sobre estes assuntos vitais.
Pelo contrário, esses
benefícios foram denunciados pelos defensores da Bíblia e pelos representantes
da divindade da Bíblia como sendo contrários aos “Desígnios Divinos”.
A Bíblia não afirma
claramente que o homem deve trabalhar pelo pão que come apenas com o suor do
seu rosto?
Aqui está a citação bíblica
exata: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão…”, e por quê? Apenas porque
buscou conhecimento.
E o Deus da Bíblia não
coloca sobre o homem uma maldição pelo conhecimento que lhe foi um grande
conforto e benefício?
Aqui está outra citação
bíblica: “… maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os
dias da tua vida”.
A Bíblia é uma mentira. É
uma farsa e uma fraude.
Eu denuncio este livro e
seu Deus.
Detesto-o profundamente.
Todo homem e mulher que
contribuíram para o alívio da dor e do sofrimento da humanidade foram infiéis
ao Deus Bíblico!
Toda nova invenção, toda
nova descoberta em benefício do homem viola esses editos bíblicos!
Busquem o conhecimento,
desafiem esse Deus tirano — essa é a única salvação.
É a condenação bíblica da
busca pelo conhecimento — que paralisou a mente humana durante as épocas
passadas e atravancou o progresso — que faz da Bíblia o mais pervertido, o mais
detestável, o mais pernicioso e o mais nefasto livro jamais publicado.
Ele tem sido uma maldição
para a humanidade.
É um dever de todos os
indivíduos bravos e honestos fazer tudo que esteja a seu alcance para destruir
a influência desde livro profundamente estúpido e vicioso, com seus conceitos
infantis a respeito da vida e seus absurdos sobre o Universo.
É seu dever fazer tudo que
esteja a seu alcance para cessar sua desmoralizante e paralisante influência
sobre a vida do homem.
Nunca alçaremos a liberdade
intelectual até que a perversidade desse livro tenha sido descartada juntamente
com a crença na planicidade da Terra.
Se não quisermos parar as
rodas do progresso; se não quisermos voltar à Idade das Trevas; se não
quisermos voltar a viver sob uma tirania — então devemos proteger nossa
liberdade e não permitir que a Igreja tome o controle do nosso governo.
Se o permitirmos, perderemos
o maior legado jamais deixado à raça humana — a liberdade intelectual.
Deixem-me, agora, dizer
outra coisa.
Se toda a energia e saúde
desperdiçadas com a religião — em todas as suas variadas formas — tivessem sido
gastas para compreender a vida e seus problemas, hoje estaríamos vivendo em
condições que pareceriam mais uma utopia.
A maioria de nossos
problemas sociais e domésticos já teria sido resolvida e, de modo tão
importante, nossa compreensão e nossas relações com os outros povos do mundo
teriam, atualmente, alcançado a paz universal.
O homem teria uma melhor
compreensão dos seus motivos e das suas ações, e teria aprendido a refrear seus
instintos primitivos de vingança e retaliação. Hoje ele já saberia que guerras
de ódio, agressão e ambição apenas produzem mais ódio e mais sofrimento humano.
O homem esclarecido e
completamente emancipado dos medos de um Deus e do dogma do ódio e da vingança
faria de si próprio um irmão para seus semelhantes.
Ele dedicaria suas energias
às descobertas e às invenções, as quais a teologia anteriormente condenava como
um desafio a Deus, mas que provaram ser benéficas a ele.
Ele não seria mais um
escravo de Deus, vivendo a adulá-lo por medo!
Construir uma igreja quando
uma escola é necessária é perpetrar um roubo à educação.
Construir uma igreja quando
um hospital é necessário é retirar dos lábios ressecados dos enfermos o copo de
alívio e do sofredor a compassiva mão que ajuda.
Quando o objetivo da
conduta do homem for melhorar as condições dos seus semelhantes e não o
apaziguamento de um Deus mitológico, ele será mais compreensivo e indulgente
com as fragilidades, os erros e as ações dos outros e, pelo mesmo motivo,
nutrirá mais gratidão pelos seus esforços.
Desenvolverá uma maior
consciência preventiva para erros e injúria. A vida e o viver tomarão uma
grandiosa significância, e nossos esforços e energias serão devotados à criação
de tanta alegria e felicidade quanto for possível para todos os seres vivos.
A não ser que se faça da
morte uma lição para a vida, então a vida é desperdiçada.
Por que deveríamos vir à
existência apenas para sermos destruídos? Um morre, outro nasce — para quê?
Umas poucas horas miseráveis — então esquecimento!
Com o reconhecimento de que
tudo acaba com a morte, ninguém deveria conscientemente impedir atos que
trariam benefícios, alegria ou felicidade aos outros. Na morte, o ato hesitante
já não pode mais ser realizado — a palavra de louvor é tão impossível quanto o
retorno do ontem.
Que perversidade justificou
a inflição de dor, sofrimento e morte contra aqueles que nada fizeram de
errado?
Se a morte põe fim a tudo,
por que lutar enquanto estamos vivos? Por que encurtar a vida com dor e
sofrimento desnecessários?
Quão fúteis são os pequenos
problemas individuais, com seus ódios e ciúmes, quando tudo cessa com a morte!
Todas as orações do mundo
não podem eliminar uma injustiça.
Todo erro é irreparável.
Os mortos não podem
perdoar.
Todas as lágrimas e
suspiros são inúteis.
O perdão não pode ser
concedido por lábios imóveis; o elogio não pode ser escutado por ouvidos que já
não podem mais ouvir; a alegria não pode mais ser sentida quando o coração
deixou de bater; a felicidade de um abraço carinhoso não pode mais ser sentida
quando os braços estão cruzados e os olhos estão eternamente fechados.
Você deve decidir se quer
Deus ou se quer o homem.
Se quer ser livre ou se
quer ser escravo.
Se quer o progresso ou se
quer a estagnação.
Enquanto o homem amar um
fantasma no céu mais do que ama seu próximo, nunca haverá paz sobre a Terra;
enquanto o homem adorar um tirano como sua “Paternidade Divina”, nunca haverá a
“Irmandade dos Homens”.
Você deve fazer a escolha,
deve tomar sua decisão.
Deus ou o homem? Igrejas ou
lares? Preparação para a morte ou felicidade por viver?
Se o homem precisar de um
exemplo para poder pesar o benefício de um e do outro, precisa apenas ler as
páginas da história para ver a prova de como a religião retardou o progresso e
provocou ódio entre os homens.
Quando a teologia governava
o mundo, o homem era escravo. As pessoas viviam em
cabanas e casebres. Vestiam-se com trapos e
peles; devoravam cascas e roíam ossos; os padres tinham vestimentas de seda e
cetim; carregavam mitras de ouro e pedras preciosas — roubadas dos pobres — e
viviam da fartura da Terra!
Aqui e acolá aparecia um
homem bravo para questionar sua autoridade. Lenta e dolorosamente,
esses mártires da emancipação intelectual destruíram o encantamento da
superstição, prenunciando a Era da Razão e a Aurora da Ciência.
O homem tornou-se o único
deus que o homem pode conhecer.
Não mais se ajoelha de
medo.
Começou a gozar dos frutos
de seu próprio trabalho.
Descobriu modos de aliviar
a dureza do trabalho contínuo; começou a desfrutar de alguns confortos na vida
— e, pela primeira vez, encontrou sobre esta Terra alguns momentos para a
felicidade.
É muito mais importante
aprender como viver do que aprender como rezar.
Um novo dia e uma nova era
amanheceram para ele.
Seus trabalhos produziram
enormes dividendos.
Olhou para o céu pela
primeira vez, e viu que era azul! Vasculhou os céus e não encontrou qualquer
Deus. Já não temia mais as manifestações da natureza.
As estrelas, entretanto,
não são o alfabeto no qual devemos ler o destino do homem. Não apenas rejeitamos a
ideia de que o homem é punido por seus “pecados”, mas enfaticamente afirmamos
que o pecado é uma coisa que não existe.
Há erros e injustiças, mas
não pecados.
O pecado — assim como o
purgatório e o inferno — foi inventado pelos padres, primeiramente para
assustar, e depois para roubar seu sustento.
Não tememos esses mitos e
maldições, e é por isso que devotamos nosso tempo e energia para ajudar nossos
semelhantes.
É por isso que construímos
instituições educacionais e buscamos, através de um lento e doloroso processo,
ensinar ao homem a verdadeira natureza do Universo e a noção correta acerca de
seu lugar como membro na sociedade. Ao mesmo tempo, tentamos fortificar sua
mente com coragem para resistir às adversidades, aos desafios e às tribulações
da vida. Ninguém pode negar que se trata de uma tarefa difícil e árdua, pois
não podemos corrigir todos os “erros de Deus” na simples duração de uma vida.
Como Ingersoll sucintamente
afirma: “A natureza não pode perdoar”.
Lembremo-nos disto: não
somos seres humanos depravados.
Não temos nenhum pecado
para ser pago.
Não é necessário ter medo.
Não há fantasmas — nada de
sagrado ou afim.
Pare de fazer-se um
miserável por “amor a Deus”. Expulse esse monstro
despótico de sua mente e usufrua a inestimável liberdade de ser um humano emancipado.
O único dever que temos é
aquele para conosco e para com nossa família. O que você deve a si mesmo
é fazer o seu melhor; o que você deve à sua família é empenhar-se para fazê-la
feliz.
Emancipe-se dessas crenças
estupidificantes e proteja suas crianças da contaminação pela religião.
Não fique de joelhos,
levante-se e olhe o mundo inteiro cara a cara. Extraia da vida toda a
alegria e toda a felicidade que puder.
Goze dos frutos de seu
trabalho sem desperdiçá-los no mito do céu; não dê apoio aos parasitas de Deus.
Não faça qualquer mal a
outro ser humano conscientemente; não prejudique deliberadamente o seu próximo.
Todas formas de vida têm
sentimentos, não as faça sofrer.
Como disse Shakespeare:
“O pobre escaravelho, sobre
o qual pisamos,
Em sofrimento corporal, encontra uma dor tão grande
Quanto a de um gigante.”
Em sofrimento corporal, encontra uma dor tão grande
Quanto a de um gigante.”
A bondade é um solvente
mágico.
Apesar de sabermos que às
vezes a “ingratidão é mais forte que os braços do traidor”, também sabemos que
a “compaixão é bênção em dobro; ela abençoa aquele que dá e aquele que recebe”,
e também deve-se lembrar que, enquanto a lealdade é a mais importante das
virtudes, a paciência é a mais valiosa.
Torne-se um ser humano
corajoso e, neste mundo imperfeito e problemático, faça o seu melhor — sob toda
e qualquer circunstância.
Seja corajoso o suficiente
para viver e corajoso o suficiente para morrer, sabendo que, quando a hora
derradeira chegar, você fez o melhor que pôde e que o mundo é um lugar melhor
porque você viveu.
Um Deus não faria melhor.
Estarei entre você e as
guardiãs do céu.
Não tenho medo.
Irei defendê-lo enquanto
estiver vivo.
Assumirei toda a
responsabilidade.
Meus serviços são
gratuitos.
Se errar, ponham a culpa em
mim.
Quebre correntes da
superstição, da escravidão mental — da religião.
Irrompa como um ser humano
livre e independente.
Dignifique-se como um homem,
e justifique sua vida sendo um irmão de toda a humanidade e um cidadão do Universo.
autor: Joseph Lewis
tradução: André Cancian
Tamanha beleza em palavras, só posso agradecer com lágrimas
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