quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

34 ARGUMENTOS POUCO CONVINCENTES A FAVOR DE DEUS.





Ateísmo — a ausência de crença em deuses — se baseia na falta de evidências de que deuses existam, falta de motivos para crer em deuses e nas dificuldades e contradições geradas pelo conceito de deus. No entanto, o ateísmo permanece uma hipótese, sujeita a mudanças se argumentos teístas convincentes surgirem.


A seguir, apresentamos alguns dos argumentos que ateus examinaram e algumas das razões pelas quais os rejeitaram.


1) Deus das Lacunas
 (Deus sendo o “almoço grátis”)

A maioria das “provas” de que deuses existem se baseiam, pelo menos em parte, no argumento do Deus das lacunas. Este argumento diz que se nós não temos a resposta para alguma coisa, então “Foi Deus”. “Deus” se torna a explicação padrão, mesmo sem evidências. Mas será que dizer que “Foi Deus” é realmente uma resposta?


William Dembski, defensor do “Design Inteligente”, publicou um livro chamado “Não existe almoço grátis”. Entretanto, Deus é o “almoço grátis” derradeiro. Consideremos isto:

  • Não sabemos do que deuses são compostos.
  • Não sabemos quais são os atributos dos deuses.
  • Não sabemos quantos deuses existem.
  • Não sabemos onde estão os deuses.
  • Não sabemos de onde vêm os deuses ou, visto de outra forma, como é possível que eles sempre tenham existido.
  • Não sabemos de que modo os deuses criam ou modificam as coisas.
  • Não sabemos o que é o “sobrenatural” e nem de que forma ele consegue interagir com o mundo natural.

Em outras palavras, não sabemos absolutamente nada sobre deuses — e, no entanto, um monte de gente atribui um monte de coisas a um ou mais deuses.


Portanto, dizer que “foi Deus” é responder a uma pergunta com outra pergunta. Não traz nenhuma informação e apenas complica ainda mais a pergunta original.


O argumento do Deus das lacunas afirma que não apenas nós não temos uma resposta não sobrenatural hoje, mas que nós nunca descobriremos uma resposta não sobrenatural no futuro porque uma resposta não sobrenatural não é possível. Assim, para contestar um argumento “Deus das lacunas”, temos apenas que mostrar que é possível imaginar uma resposta não sobrenatural.


Por exemplo: abrimos uma porta e vemos um gato dormindo num canto. Fechamos a porta, abrimos de novo 5 minutos depois e notamos que o gato agora está dormindo no outro canto. Uma pessoa diz “Deus moveu o gato sem acordá-lo” (mas não prova). Outra diz “É bem possível que o gato tenha acordado, andado até o outro canto e dormido de novo”. Deste modo, embora ninguém tenha visto o que realmente aconteceu, o argumento “Deus das lacunas” foi descartado pela possibilidade de se explicar o fenômeno sem apelar para causas sobrenaturais.


2) Ter fé numa coisa não a torna realidade

O fato é que ninguém nem ao menos sabe se é possível existirem deuses. Só porque conseguimos imaginar alguma coisa, não significa que ela seja possível. Por exemplo, podemos nos imaginar atravessando paredes sólidas, mas isto não quer dizer que vamos conseguir. Assim, só porque conseguimos imaginar um deus, não significa que ele tenha que existir.


Como não há provas quanto à existência de nenhum deus, um crente típico tem que presumir a existência de pelo menos nove coisas até chegar ao deus em que ele acredita. São nove passos separados porque um passo não implica no passo seguinte.

  • O primeiro passo é acreditar na existência de um mundo sobrenatural.
  • O segundo passo, que existam seres de algum tipo nesse mundo.
  • O terceiro, que estes seres sejam conscientes.
  • O quarto, que pelo menos um destes seres seja eterno.
  • O quinto, que este ser seja capaz de criar alguma coisa do nada.
  • O sexto, que este ser seja capaz de interferir no universo depois de criá-lo (e.g. milagres).
  • O sétimo, oitavo e nono, que este ser seja onisciente, onipotente e infinitamente amoroso.

Se, ainda por cima, as pessoas quiserem acreditar no deus de uma religião específica, então passos adicionais são necessários.

Desta forma, quando falamos em deuses, não temos absolutamente nenhuma idéia do que estamos falando (veja argumento inconvincente #1) e ainda temos que assumir a existência de 9 coisas diferentes para chegarmos ao deus em que a maioria das pessoas acredita.

3) Argumento dos livros sagrados

Só porque algo está escrito, não significa que é verdade. Isto é válido para a Bíblia, para o Corão e para qualquer outro livro dito sagrado. Tentar provar a existência do deus de um livro sagrado usando o próprio livro sagrado como “evidência” é argumentação circular.


Quem acredita no livro sagrado de uma religião em geral rejeita os livros sagrados das outras religiões.


4) Argumento dos lugares históricos

Este argumento afirma que, se personagens e lugares históricos são mencionados em lendas antigas, então tudo o mais nessas lendas, incluindo descrições de acontecimentos sobrenaturais, tem que ser verdade. Se este argumento for válido, então tudo o que está na Ilíada, incluindo as intervenções dos antigos deuses gregos, deve ser verdade.


5) Revelações dos profetas

Todas as religiões afirmam ter sido reveladas, em geral por meio de pessoas denominadas “profetas”. Mas como saber se uma “revelação” é realmente uma “mensagem de Deus” e não uma alucinação?


Uma revelação é uma experiência pessoal. Mesmo se uma revelação realmente vier de um deus, não há como provar. As pessoas de uma religião em geral não acreditam nas revelações das outras religiões. Essas revelações muitas vezes se contradizem, portanto com base em quê podemos determinar qual das revelações é a verdadeira?


6) Testemunho pessoal, “abrir o coração”

Isto acontece quando é você mesmo que recebe a revelação ou sente que um deus realmente existe. Você pode até ser sincero e pode ser até que um deus realmente exista, mas sentimentos não provam nada, nem para você e nem para os outros.


Não adianta pedir aos ateus que “abram seus corações e aceitem Jesus” (ou qualquer outro deus). Se nós abandonássemos nosso ceticismo, talvez até sentíssemos alguma inspiração, mas isto seria apenas uma experiência emocional e não teríamos como saber se um deus estaria realmente falando conosco ou se estaríamos apenas alucinando.


Muitos ateus contam histórias sobre como foi maravilhoso quando eles perderam a fé nos deuses, mas, assim como na religião, isto não prova que o ateísmo é verdade.


7) A maioria das pessoas acredita em Deus

É verdade que, ao longo da história, a maioria das pessoas acreditou em pelo menos um deus. Entretanto, popularidade não transforma nada em verdade. Afinal, a maioria das pessoas acreditava que a Terra era o centro do universo.


O número de ateus no mundo está aumentando, atualmente. Talvez um dia a maioria das pessoas seja atéia. Por exemplo, a maioria dos cientistas nos EUA já é atéia. Entretanto, assim como no caso da religião, a popularidade crescente do ateísmo não prova que ele é verdade.


É bem possível que já haja mais ateus do que crentes na Inglaterra e na França. Será que isto quer dizer que Deus existe em toda parte exceto nestes dois países?


8) A evolução não iria favorecer uma falsa crença

Será que a evolução favoreceria uma espécie incapaz de perceber a realidade? Ou uma espécie sujeita a alucinações? Se não, então deve haver um deus, segundo este argumento.


Entretanto, a evolução não favorece o que é verdade. A evolução favorece o que é útil.


Ninguém discorda de que a religião e a crença em deuses foram úteis em alguns casos. “Deus”, assim como Papai Noel, pode ser usado para fazer as pessoas se comportarem direito em troca de uma recompensa. “Deus” também pode ser usado para justificar atos condenáveis que beneficiam seu grupo, como os homens-bomba islâmicos e as Cruzadas. “Deus” pode diminuir seu medo da morte.


Entretanto, na era das armas nucleares, o perigo da crença em deuses supera em muito seus benefícios.


9) A parte de nosso cérebro ligada a Deus

Alguns religiosos argumentam que deve haver um deus, caso contrário, para que teríamos uma parte de nosso cérebro que “reconhece” um deus? Que outra utilidade esta função cerebral teria?


Entretanto, a imaginação é importante para nossa sobrevivência. Podemos imaginar muitas coisas que não são verdade. É um subproduto de nossa capacidade de imaginar coisas que podem ser verdade.


Na verdade, os cientistas estão estudando, de um ponto de vista biológico, por que alguns têm crenças religiosas e outros não. Eles já identificaram substâncias em nosso cérebro que podem nos fazer ter experiências religiosas. A dopamina, por exemplo, tende a nos fazer “ver” coisas que não existem.


Um novo campo científico, a neuroteologia, estuda a religião e o cérebro e já identificou que a parte do cérebro conhecida como lobo temporal pode gerar experiências religiosas.


Outra parte do cérebro, que controla o sentimento de individualidade, pode ser conscientemente desligada durante a meditação, dando a essa pessoa (que perde a noção do limite onde ela termina e onde começa o mundo externo a ela) um sentimento de “fusão” ou “unidade” com o universo.


10) Antigos “milagres” e histórias de ressurreições

Muitas religiões têm histórias de milagres. Assim como os que acreditam numa religião são céticos quanto aos milagres das outras, os ateus são céticos quanto a todas as histórias de milagres.


Eventos extraordinários podem ser exagerados com o tempo e se tornarem lendas milagrosas. Bons mágicos fazem coisas que parecem milagres. As coisas podem ser mal avaliadas e mal interpretadas. Muitas coisas que pareciam milagres no mundo antigo, hoje são facilmente explicadas.


Quanto às ressurreições, os ateus não acham que histórias de gente que ressuscitou dos mortos sejam convincentes. Há muitas lendas assim na literatura antiga e, mais uma vez, a maioria dos religiosos rejeita as histórias de ressurreição das outras religiões.


Muitas religiões afirmam que seus deuses realizaram milagres óbvios e espetaculares há milhares de anos. Por que os milagres não mais acontecem? Os deuses ficaram tímidos? Ou foi o progresso da ciência?


11) “Milagres” modernos de cura e ressurreição

“Milagres” de cura nos dias atuais são um bom exemplo do “Deus das lacunas”. Alguém se cura de uma forma que a ciência não consegue explicar? Claro, “foi Deus”. Deus nunca precisa provar nada. As pessoas sempre assumem que o mérito é dele.


O problema deste argumento é que ele parte do princípio de que sabemos tudo sobre o corpo humano e temos condição de descartar uma explicação científica. Entretanto, o fato é que nosso conhecimento médico é limitado. Por que nunca vemos um verdadeiro milagre, como braços amputados se regenerando instantaneamente?


Foram feitos estudos sobre o efeito das orações no caso de pacientes que não sabiam se alguém estava orando por eles ou não, inclusive pela Clínica Mayo, e não se constatou nenhuma influência das orações sobre a cura.


E fica a pergunta: Afinal, por que temos que implorar a um deus onipotente e infinitamente amoroso que nos cure de doenças e dos efeitos de acidentes naturais que ele mesmo causou?


É o Problema do Mal: se Deus é todo-poderoso e infinitamente amoroso, por que existe o mal, para início de conversa?


No mundo de hoje, as histórias de ressurreição sempre parecem acontecer em países atrasados, em condições não controladas por cientistas. Por outro lado, por que nunca houve ressurreições de pessoas que morreram em hospitais modernos, conectadas a máquinas que indicaram quando as mortes ocorreram?


12) “Céu” (Medo da Morte)


Nem ateus nem religiosos gostam do fato de que vamos todos morrer. Entretanto, este medo não prova que há uma vida após a morte — prova apenas que nós gostaríamos que houvesse. Só que desejos não se tornam automaticamente realidade.


Não há evidências de que um deus exista nem de que ele tenha criado algum lugar para irmos depois da morte. Não há nenhuma explicação sobre o que é esse lugar, onde ele está ou como foi que um deus o criou do nada.


Não há evidências sobre almas, nada sobre a composição de uma alma e nenhuma explicação sobre como uma alma não-material surgiu em um corpo material ou, alternativamente, sobre quando e como um deus faz surgir uma alma num corpo.


Se um óvulo humano fertilizado tem uma alma, o que acontece quando ele se divide para formar gêmeos? Cada um fica com meia alma? Ou havia duas almas no óvulo fertilizado original?


E quando acontece o contrário, ou seja, quando dois óvulos fertilizados se fundem em um único ser humano (uma “quimera”)? Essa pessoa terá duas almas? Ou havia duas meias almas que se fundiram?


Se um bebê de uma semana morre, que tipo de pensamentos ele terá na outra vida? Os pensamentos de um bebê de uma semana? Ou os de um adulto? Se este for o caso, como será possível? De onde virão estes pensamentos adultos e quais serão?.


Não há motivos para se acreditar em que nossa consciência sobrevive à morte de nosso cérebro. A mente não é algo separado do corpo.


Por exemplo, conhecemos as substâncias químicas responsáveis pelo sentimento do amor. As drogas podem alterar nosso humor e assim mudar nossos pensamentos. Danos físicos ao nosso cérebro podem mudar nossa personalidade e nossos pensamentos. Adquirir uma nova habilidade, que envolve pensar, pode mudar fisicamente a estrutura do nosso cérebro.


Algumas pessoas ficam com a doença de Alzheimer no fim de suas vidas. O dano a seus cérebros é irreversível e pode ser detectado por tomógrafos. Essas pessoas perdem a capacidade de pensar, mas continuam vivas. Será que seu pensamento retorna logo em seguida à sua morte, na forma de uma “alma”?


Se as pessoas tivessem que escolher entre um deus e uma vida após a morte, a maioria escolheria a segunda vida e esqueceria Deus. Elas só escolhem acreditar em Deus porque é o único jeito que elas conhecem de realizar seus desejos de uma vida após a morte.


13) Medo do Inferno

Para os ateus, a idéia de inferno parece uma enganação — uma tentativa de levar as pessoas a acreditarem pelo medo naquilo que elas não conseguem acreditar pela razão e pelas evidências.


O único jeito de encarar isto “logicamente” é encontrar a religião que lhe pune mais duramente pela descrença e então acreditar nela. Ótimo, você terá se livrado do pior castigo que existe — mas só se esta for a “verdadeira” religião.


Por outro lado, se ela (e sua punição) não forem verdadeiras — se a religião que ficou em segundo ou terceiro lugar quanto à dureza da punição for a verdadeira religião — então você não se salvou de nada.

Então, qual inferno, de qual religião, é o verdadeiro? Sem evidências, jamais saberemos.


Mesmo entre cristãos há pelo menos 3 infernos diferentes. Na versão tradicional, sua “alma” queimará eternamente. Uma segunda versão diz que um deus de amor não seria tão cruel, portanto sua “alma” apenas deixará de existir.


Uma terceira versão diz que o céu não é um lugar físico, mas apenas a condição de estar para sempre separado de Deus. Acontece que os ateus já estão separados de Deus e vivem sem problemas, portanto esta ameaça não faz sentido para eles. Além disto, como é possível ficar separado de um deus que, supostamente, está em toda a parte?


14) Aposta de Pascal / Fé

Em resumo, a aposta de Pascal diz que temos tudo a ganhar (uma eternidade no céu) e nada a perder se acreditarmos em um deus. Por outro lado, a descrença pode levar-nos a perder o céu e ir para o inferno.

Já vimos que o céu é apenas uma coisa que desejamos que exista e que o inferno é uma enganação, portanto vamos examinar a questão da fé.


A aposta de Pascal assume que uma pessoa possa se forçar a acreditar em alguma coisa. Isto não funciona, pelo menos não para um ateu. Portanto ateus teriam que fingir que têm fé. Só que, de acordo com a maioria das definições de Deus, ele perceberia nossa mentira interesseira. Será que ele nos recompensaria mesmo assim?


A aposta de Pascal também diz que você “não perde nada” por acreditar. Um ateu discordaria. Ao acreditar em Deus sob essas condições, você estaria reconhecendo que está disposto a acreditar em algumas coisas pela fé. Em outras palavras, você estaria aceitando abandonar as evidências como seu padrão para julgar a realidade. Vista desta forma, a fé já não parece tão interessante, não é?


15) Culpando a vítima

Muitas religiões castigam as pessoas por não acreditar. Entretanto, crença exige fé e pessoas como os ateus são incapazes de ter fé. Suas mentes requerem evidências. Assim, devemos punir os ateus por não acreditarem que “Deus” não é uma coisa evidente?


16) O fim do mundo

Assim como no caso do Inferno, esta idéia parece aos ateus servir apenas para levar as pessoas a acreditarem por medo naquilo em que elas não conseguem acreditar pela razão e pelas evidências.

Ao longo dos séculos, houve muitas profecias sobre o fim do mundo. Se sua fé se baseia nisto, pergunte a você mesmo: por quanto tempo você está disposto a esperar — quanto tempo será necessário para você se convencer de que o mundo não vai acabar?


17) Dificuldades da religião

Já se argumentou que as religiões exigem tantos sacrifícios que as pessoas jamais as seguiriam se um deus não existisse. Entretanto, pelo contrário, é a crença em um deus que motiva as pessoas. Um deus não precisa existir para que isto aconteça.


As dificuldades podem até servir como ritual de admissão numa seita, como um meio de se tornar um dos “escolhidos”. Afinal de contas, se soubéssemos que todos seriam salvos, por que nos daríamos ao trabalho de seguir uma religião?


Além disto, a recompensa que a maioria das religiões promete em troca da obediência — um céu — compensa em muito a maioria das dificuldades impostas por elas.


18) Argumento do martírio:

Dizem os crentes que ninguém morreria por uma mentira. Eles ignoram o fato de que as pessoas podem ser enganadas (ainda que com a melhor das intenções) quanto à veracidade de uma religião.


A maioria dos grupos que incentivam o martírio promete uma grande recompensa no “céu”, portanto os seguidores não acham que perder a vida seja um sacrifício tão grande.


Será que o fato de que os terroristas que jogaram os aviões no WTC estavam dispostos a morrer por sua fé faz do islamismo a verdadeira religião? E o que pensar de cultos como o Heaven’s Gate, cujos seguidores cometeram suicídio em 1997 acreditando que suas “almas” iriam para uma nave espacial que acompanhava um cometa e onde Jesus os esperava?


19) Argumento do vexame

Alguns crentes argumentam que seu livro sagrado contém passagens que são embaraçosas para sua fé, que essas passagens — e as descrições de eventos sobrenaturais — devem ser verdadeiras, caso contrário não teriam sido incluídas no livro.


Um exemplo clássico na Bíblia é o relato da covardia dos discípulos depois que Jesus foi preso. Entretanto, neste caso e em outros, momentos embaraçosos podem ser incluídos numa história de ficção para criar um clima dramático e tornar o triunfo final do herói muito maior.


20) Falsas dicotomias

Isto acontece quando se cria uma falsa escolha entre “isto ou aquilo” embora, na verdade, haja outras possibilidades. Os cristão conhecem bem esta: “Ou Jesus estava louco ou ele era Deus. Como Jesus disse coisas sábias, então ele não estava louco, portanto ele deve ser Deus, conforme ele disse que era”.


Acontece que estas não são as únicas duas opções. Há uma terceira: “sim, ele disse coisas sábias, mas, ainda assim, estava iludido quando disse que era Deus”. E há uma quarta: “Jesus talvez não tenha dito nada do que lhe é atribuído na Bíblia. Talvez tenham sido os escritores da Bíblia que disseram que ele disse aquelas coisas sábias. E talvez ele nunca tenha afirmado ser um deus e foram os escritores que o transformaram em deus após sua morte”.


Uma quinta possibilidade é que Jesus seja inteiramente um personagem de ficção e que tudo tenha sido inventado pelos autores.


21) Sentido da vida

Este argumento diz que, sem a crença em um deus, a vida não teria sentido. Mesmo se isto fosse verdade, apenas provaria que nós queremos que um deus exista para dar sentido às nossas vidas, e não porque realmente queremos um deus. Mas o fato de que ateus encontram sentido para suas vidas sem acreditar em deuses mostra que essa crença não é necessária.


22) Deus, assim como o amor, é inalcançável

O amor não é inalcançável. Nós definimos “amor” tanto como um tipo de sentimento e como algo que é demonstrado através de ações.


O amor, ao contrário de Deus, é uma coisa física. Conhecemos as reações químicas no cérebro que provocam o sentimento de amor. Além disto, o amor depende da estrutura cerebral. Uma pessoa lobotomizada ou com certos tipos de danos cerebrais torna-se incapaz de sentir amor.


Além disto, se o amor não fosse físico, não ficaria confinado aos nossos cérebros físicos. Nós poderíamos ser capazes de detectar alguma entidade ou força chamada “amor” flutuando no ar.


23) Moral e ética

É a idéia segundo a qual não temos motivos para a moralidade se não houver um deus. Entretanto, já havia códigos morais bem antes da Bíblia: o Código de Hamurabi, por exemplo.


Em Eutífron, um dos diálogos de Platão, Sócrates pergunta a um homem chamado Eutifro se alguma coisa é boa apenas porque Deus diz que é ou se Deus diz que uma coisa é boa porque ela tem bondade intrínseca.


Se algo é bom porque Deus diz que é, então Deus pode mudar de idéia sobre o que é bom. A moral não seria uma coisa absoluta.


Se Deus diz que uma coisa é boa por causa da bondade intrínseca desta coisa, então nós poderíamos encontrar essa bondade intrínseca nós mesmos, sem precisar da crença em Deus.


Os cristãos nem mesmo conseguem entrar num acordo entre si quando se fala em masturbação, sexo antes do casamento, homossexualidade, divórcio, anticoncepcionais, aborto, pesquisa com células tronco, eutanásia e pena de morte. Os cristãos rejeitam algumas das leis morais da Bíblia, como matar crianças desobedientes ou pessoas que trabalham no sábado. Portanto, os cristãos interpretam a Bíblia segundo seus próprios conceitos de moralidade, rejeitando os mandamentos que não consideram éticos.


A verdade é que a maioria das pessoas ignora as coisas que não são éticas em seus livros sagrados e se concentram nos bons conselhos. Em outras palavras, os teístas definem sua própria ética da mesma forma que os ateus fazem.


Até mesmo os animais respeitam uns aos outros e têm um senso de justiça. Já encontramos a parte de nosso cérebro responsável pelos sentimentos de simpatia e empatia — os “neurônios espelhos” — que formam a base de grande parte de nossa ética.


A moralidade é algo que se desenvolveu por sermos criaturas sociais. Baseia-se nas vantagens egoístas que obtemos ao cooperarmos com outros e em suas consequências. Ajudar ao próximo é um ato egoísta que nos traz recompensas evolucionárias (Vide o argumento 25, contra a existência do autruísmo).


Nós também julgamos as ações pelas suas conseqüências, através de tentativa e erro. A melhor fórmula que desenvolvemos é a de permitir o máximo de liberdade a alguém, contanto que não fira outra pessoa ou afete a sua liberdade. Esta concepção moral é a que cria o máximo de felicidade e prosperidade para uma sociedade, e a que beneficia o maior número de pessoas (o maior bem para o maior número). Esta visão inclui a proteção dos direitos das minorias, já que de certa forma somos todos pertencentes a alguma delas.


Já que não há evidência de que algum deus exista, não temos como atribuir a moralidade a um deus. Portanto, muito mais que servir como guia moral, a religião pode ser usada para justificar qualquer atitude. Basta alegar que “Deus me disse para fazer isto”. A melhor maneira de refutar este argumento é descartar totalmente o conceito de deus.


Mesmo que deuses não existam, há quem ache que a crença neles ajuda muitas pessoas a se comportarem, como se ele fosse um policial invisível. Como disse o presidente George W. Bush, “Deus está o tempo todo pesquisando nosso coração e nossa mente. Ele é assim como Papai Noel. Ele sabe se você foi bom ou se foi mau” (08 de Abril de 2007, Páscoa, Fort Hood, Texas).


Queremos realmente basear nossa ética nisto?


Um sistema decente de ética não precisa do sobrenatural para se justificar. Entretanto, a crença no sobrenatural já foi usada para justificar muitas coisas sem ética, como a Inquisição, a perseguição às Bruxas de Salém, o preconceito contra os gays, o ataque ao WTC, etc.


24) Argumento da bondade e da beleza

Alguns religiosos alegam que sem um deus não haveria nem bondade nem beleza no mundo. Entretanto, bondade e beleza são definidos em termos humanos.


Se o ambiente da Terra fosse tão inóspito que a vida não pudesse se desenvolver, nós não estaríamos aqui para discutir o assunto. Portanto, há coisas no ambiente que são favoráveis à existência da vida e nós somos naturalmente atraídos para elas. Nossa sobrevivência depende delas.


No caso da arte, nós somos naturalmente atraídos por imagens, formas e cores que nos lembram essas coisas. Entretanto, há várias formas de arte, como o cubismo e o surrealismo, que algumas pessoas apreciam e outras detestam.


25) Altruísmo

Às vezes, as pessoas dizem que, sem um deus, não haveria altruísmo e que a evolução só favorece o comportamento egoísta.


Entretanto, podemos dizer que não existe altruísmo e que as pessoas sempre fazem o que elas querem. Se só houver escolhas ruins, elas escolhem aquela que elas detestam menos.


Nossas escolhas se baseiam naquilo que nos dá (aos nossos genes) a melhor chance de sobreviver, o que inclui melhorar nossa reputação na sociedade.


“Altruísmo” para com membros da família beneficia gente que compartilha nossos genes. “Altruísmo” para com amigos beneficia gente que um dia poderá retribuir o favor.


Até mesmo o “altruísmo” para com estranhos tem a ver com a evolução. É um comportamento que surgiu primeiro em tribos pequenas, onde todos se conheciam e uma boa reputação aumentava as chances de sobrevivência do indivíduo. Agora já está entranhado em nosso cérebro como um modo geral de conduta.


26) Livre arbítrio

Dizem que não teríamos livre arbítrio sem Deus, que viveríamos num universo determinístico de causa e efeito e que seríamos meros robôs.


Na verdade, temos muito menos livre arbítrio do que a maioria das pessoas pensa. Nosso condicionamento (nosso desejo biológico de sobreviver e prosperar, combinado com nossas experiências) torna certas “escolhas” muito mais prováveis do que outras. De que outro modo podemos explicar nossa capacidade, em muitos casos, de prever o comportamento das pessoas?


Experiências já mostraram que nosso cérebro “decide” agir antes que nós tenhamos consciência disto! Alguns até dizem que nosso único livre arbítrio é a capacidade de vetar conscientemente as ações que nosso cérebro sugere.


A maioria dos ateus não tem nenhum problema em admitir que o livre arbítrio pode ser uma ilusão.

Este assunto também leva a um paradoxo: se o deus que nos criou conhece o futuro, como nós podemos ter livre arbítrio?


No fim das contas, se nós gostamos da nossa vida, o que importa se temos ou não livre arbítrio? Será que não é apenas nosso ego — nossa saudável autoestima que contribui para a sobrevivência — que foi condicionado a acreditar em que um livre arbítrio verdadeiro é melhor que um livre arbítrio imaginário?


27) Um ser perfeito tem necessariamente que existir

Este argumento, conhecido como o argumento ontológico, foi criado há uns 1.000 anos por Anselmo de Cantuária.


Ele nos pede que imaginemos o mais grandioso ou mais perfeito ser possível. Esta é a concepção de Deus para a maioria das pessoas. Em seguida, ele nos diz que é mais grandioso ou mais perfeito para algo existir do que não existir. Portanto, este ser (Deus) necessariamente tem que existir.


Mas este argumento não leva em conta se é possível que um ser perfeito exista. Ele também parte do princípio de que aquilo que imaginamos passa a existir. Nem tudo o que conseguimos imaginar é possível.


Vamos aplicar esta lógica a um assunto diferente. Imagine um perfeito arranha-céu. Ele permaneceria intacto se terroristas jogassem aviões contra ele. Entretanto, nenhum arranha-céu pode resistir a um ataque desses sem, pelo menos, algum dano. Mas isto contraria nossa premissa de que o arranha-céu tem que ser perfeito, portanto é preciso que exista um arranha-céu indestrutível.


28) Por que é mais provável que Algo exista do que Nada?

Este argumento assume que, sem um deus, não esperaríamos que alguma coisa existisse. Entretanto, não temos a mínima idéia da probabilidade estatística de Algo existir versus Nada.


Em física, sistemas simétricos tendem a ser instáveis. Eles tendem a degenerar em sistemas assimétricos. Ora, o Nada — a ausência de tudo — é perfeitamente simétrico, portanto altamente instável. Portanto Algo é mais estável que Nada, portanto deve ser mais provável que Algo exista que Nada.


Podemos também perguntar, dentro da mesma lógica: “Por que é mais provável que exista um deus do que ele não exista?”. Ou ainda “Quem criou esse deus?”


29) Argumento da Primeira Causa

Este argumento afirma que vivemos num universo de causa e efeito. Segundo esta lógica, é impossível que esta sequência de causas continue infinitamente para trás. Em algum ponto, a coisa tem que parar. Nesse ponto, é preciso haver uma Primeira Causa que não resulte, ela própria, de nenhuma outra causa. Esta Primeira Causa Não Causada, segundo dizem, é Deus.


O universo em que vivemos agora “começou” há uns 13,7 bilhões de anos. Não sabemos se o universo já existia antes de alguma outra forma nem se havia energia/matéria/gravidade/etc. (um mundo natural).


Não sabemos se o mundo natural teve um começo ou se sempre existiu de algum jeito. Se teve um começo, não sabemos se um deus é a única origem possível. Não sabemos se um deus pode ser uma causa incausada. O que causou Deus?


Partículas virtuais aparecem e desaparecem subitamente o tempo todo. A física quântica mostra que pode haver eventos não causados.


30) As “leis” do universo

De onde vieram as “leis” do universo? Uma “lei” da física não passa de uma coisa que acontece de forma regular. É a descrição de um fenômeno. Não é algo decretado por um tribunal celeste.


De acordo com o físico, astrônomo e professor Victor Stenger: “É crença geral que as ‘Leis da Física’ são exteriores à Física. Elas são concebidas como sendo impostas ao universo de fora para dentro ou fazendo parte de sua estrutura lógica. As descobertas recentes da física contestam isto. As ‘leis’ básicas da física são construções matemáticas que tentam descrever a realidade de forma objetiva. As leis da física são exatamente como seria de se esperar se viessem do nada” (ênfase incluída pelo autor).


31) As coisas são exatamente do jeito que deveriam ser

Alguns crentes argumentam que é preciso que os valores das 6 constantes físicas do universo (que controlam coisas como a força da gravidade) estejam dentro de uma faixa limitada para que a vida seja possível. Portanto, como isto não pode ter acontecido “por acidente”, deve ser obra de um deus.


Mais uma vez, este é um argumento do tipo “Deus das lacunas”. Além disto, ele pressupõe que conhecemos tudo a respeito de astrofísica — um campo em que novas descobertas são feitas quase todos os dias. Talvez venhamos a descobrir que nosso universo não seja tão “ajustado”, afinal de contas.


Outra possibilidade é que existam múltiplos universos — separadamente ou como “bolhas” dentro de um universo maior. Cada um desses universos poderia ter suas próprias leis da física. Se houver um número suficientemente grande de universos, aumentam as chances de que pelo menos um deles venha a produzir vida.


Sabemos que é possível que pelo menos um universo exista — nós vivemos nele. Se existe um, por que não vários? Por outro lado, não temos evidências quanto à existência de nenhum deus.


Pois então vamos dar uma olhada na definição mais comum de um deus: eterno, onisciente, onipotente e infinitamente amoroso. Poderia Deus ser de algum outro modo que não fosse exatamente este que ele é?


Embora haja alguma margem de tolerância nas condições que permitem existir vida no universo, tradicionalmente as condições para a existência de Deus não variam. Portanto, nosso universo com um deus tradicional é logicamente mais implausível que nosso universo sem um deus. Ele tem que atender a requisitos muito mais estritos.


Claro que ainda podemos perguntar: quem ou o que definiu Deus?

Se o universo foi criado especificamente com o objetivo de abrigar a raça humana, então o enorme tamanho do universo (a maior parte dele hostil à vida) e os bilhões de anos que se passaram até que os humanos surgissem mostram que ele é ridículo e é um enorme desperdício — não o que se poderia esperar de um deus.


32) A Terra é exatamente do jeito que deveria ser

Alguns crentes argumentam que a Terra está justamente no ponto do sistema solar (nem muito quente nem muito frio etc.) que permite que a vida exista. Além disto, ela tem exatamente os elementos necessários (carbono, oxigênio etc.). Essas pessoas afirmam que isto não poderia ter acontecido “por acidente”, portanto deve haver um deus que cuidou desses detalhes.


Este é mais um argumento “Deus das lacunas”. Mas há uma refutação ainda melhor. Se a Terra fosse o único planeta no universo, então seria notável que suas condições fossem “exatamente as necessárias”. Entretanto, a maioria dos religiosos admite que há milhares, se não milhões, de outros planetas no universo. O nosso sistema solar tem oito. Portanto, aumentam muito as chances de que pelo menos um deles tenha as condições para produzir algum tipo de vida.


Podemos imaginar criaturas púrpuras com 4 olhos e respirando dióxido de carbono em outro planeta, muito religiosas, que também cometam o erro de achar que o planeta deles foi especialmente criado para que eles existissem e que há um deus criador à sua semelhança.


33) Criacionismo / Design inteligente

É a idéia, segundo a qual, se não podemos explicar alguma coisa sobre a vida, então “foi Deus” (Deus das lacunas).


Entretanto, se o Gênesis ou qualquer mito da criação religioso similar for verdade, então praticamente todos os campos da ciência estarão errados. Não apenas a biologia como também a química, física, arqueologia, astronomia e ainda suas subdisciplinas como embriologia e genética. Na verdade, poderíamos jogar fora todo o método científico.


Os criacionistas às vezes fazem uma distinção entre “micro” e “macro” evolução — ou seja, eles aceitam que há mudanças dentro de uma espécie, mas não aceitam que uma espécie se transforme em outra.


Mas quais são os mecanismos da microevolução? Eles são: mutação, seleção natural e herança. E quais são os mecanismos da macroevolução? Exatamente os mesmos: mutação, seleção natural e herança. A única diferença é o tempo necessário. Será que alguns genes dizem a si mesmos: “Hmmm, é melhor eu não mudar muito, senão alguns religiosos vão ficar aborrecidos”?


A evolução é a melhor explicação e a única explicação para a qual há evidências: para a idade dos fósseis, para a progressão dos fósseis, para as semelhanças genéticas, para as semelhanças estruturais e para os fósseis transicionais. Sim, há fósseis transicionais. Por exemplo, nós temos uma boa sequência de fósseis para espécies que vão desde os mamíferos terrestres até a baleia, incluindo o basilosaurus, uma baleia primitiva que conservou pequenas pernas traseiras que não tinham função. Ainda hoje, as baleias mantêm os ossos do quadril.


Alguns criacionistas afirmam que essas pernas traseiras atrofiadas talvez fossem úteis para o acasalamento, portanto o basilosaurus seria uma espécie criada totalmente em separado e não uma transição. Mas, se essas pernas traseiras eram tão úteis, por que desapareceram?


Na verdade, as cobras também têm ossos do quadril e às vezes nascem cobras com pernas vestigiais, provando que elas evoluíram de ancestrais répteis que tinham pernas traseiras. Na China, foram encontrados muitos fósseis meio répteis/meio pássaros, provando a transição.


Recentemente se descobriu o fóssil do tiktaalik, que ajudou a preencher uma lacuna entre os peixes e os anfíbios. Foi encontrado no Canadá, exatamente no local e na camada geológica previstos pela evolução.

Por outro lado, se um deus perfeito tivesse criado a vida, nós esperaríamos dele um serviço melhor. Não esperaríamos que 99% de todas as espécies que já existiram se extinguissem. Como disse o biólogo evolucionista Kenneth R. Miller, que é cristão: “se Deus propositalmente projetou 30 espécies de cavalos que mais tarde desapareceram, então Deus é, antes de mais nada, um incompetente. Ele não consegue fazer direito da primeira vez” (“Educators debate ‘intelligent design’”, por Richard N. Ostling, Star Tribune — 23/março/2002, p.B9).


Francis Collins, diretor do Projeto Genoma Humano, evangélico, disse: “O Design Inteligente apresenta o Todo Poderoso como um criador trapalhão, que tem que intervir de tempos em tempos para consertar os problemas de seu plano inicial para criar a complexidade da vida” (“A linguagem de Deus”, pág. 193-194).


Não deveríamos esperar defeitos de nascença se a vida foi criada por um deus perfeito. Não deveríamos esperar um “design burro” tal como uma próstata que incha e estrangula o canal urinário, já que teria sido tão simples passar o canal por fora da próstata. Deus é um designer incompetente ou relaxado?


Se Deus criou toda a vida ao longo de uma semana, então, mesmo com um suposto dilúvio universal, deveríamos encontrar os fósseis totalmente misturados nas camadas geológicas. Não é o que acontece.


Também temos a contradição de que Deus é a favor da vida, mas permite o aborto espontâneo. De um terço a metade dos óvulos fecundados sofre aborto espontâneo, muitas vezes antes mesmo de a mulher perceber que está grávida. Se um deus projetou o sistema reprodutivo humano, isto faz dele o maior dos abortistas.


Podemos então concluir que a evolução científica nos fornece respostas, enquanto que o criacionismo religioso e o “design inteligente” só geram mais perguntas.


34) O universo e/ou a vida violam a segunda lei da termodinâmica (entropia)

A segunda lei da termodinâmica (entropia) afirma que, num sistema fechado, as coisas tendem a uma desordem cada vez maior. Alguns crentes argumentam que, já que o universo e a vida são tão organizados, um deus tem que existir para poder violar esta lei.


Entretanto, o universo não viola a segunda lei da termodinâmica. O universo teve início com o máximo grau de desordem possível para seu tamanho. A partir daí, com sua expansão, mais desordem se tornou possível e, de fato, é o que está ocorrendo.


Apesar do fato de que a desordem como um todo está aumentando no sistema chamado universo, é possível um aumento de ordem em subsistemas, tais como galáxias, sistemas solares e é possível a vida — desde que, na totalidade do universo, a desordem esteja aumentando.


Se um deus criou o universo, deveríamos esperar um início ordenado, não caótico. O fato de que o universo começou com o máximo de desordem significa que não foi um deus que o criou, já que uma criação proposital teria pelo menos alguma ordem.


Também se verifica que a energia gravitacional negativa do universo cancela exatamente a energia positiva representada pela massa, de forma que o total da energia no universo é zero, que é o que seria de se esperar de um universo que veio do Nada por meios naturais. Entretanto, se um deus estivesse envolvido, seria de se esperar que ele tivesse adicionado energia ao universo. Não há evidência disto.


É interessante como os teístas se agarram à segunda lei da termodinâmica em seus esforços para provar a existência de seu deus, mas ignoram totalmente a primeira lei — que diz que a matéria/energia não pode ser nem criada nem destruída — o que refutaria totalmente a existência do deus deles como um ser que pode criar algo do nada.


 Conclusão

Pessoas religiosas têm o difícil, senão impossível, encargo de provar que algum deus existe, sem falar que é a religião deles, entre todas, que é a verdadeira. Se alguma das religiões tivesse evidências objetivas, será que as pessoas não viriam todas correndo aderir a ela, a “verdadeira” religião?

Em vez disto, o que vemos é que as pessoas tendem a acreditar, em graus diferentes, na religião que lhes foi transmitida. Ou então são atéias.



© 2006, 2007 August Berkshire. Nov. 21, 2007
Comentários são benvindos.
Email: augustberkshire [at] gmail.com
Traduzido por Fernando Silva e revisado por Alenônimo com permissão de August Berkshire.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

“VISÕES DISTORCIDAS DA CIÊNCIA E DISCURSOS ANTI-CIÊNCIA”



Palestra proferida por Tomaz Passamani no 22º Encontro da Nova Consciência na cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.




Com frequência uma mesma palavra pode ter significados diferentes para pessoas diferentes. Isso gera problemas de comunicação e desentendimentos. Acredito que esse também seja o caso da palavra “ciência”. Acredito que a imensa maioria ou quase totalidade das pessoas têm uma visão distorcida ou ingênua do que é ciência. Acredito que muitas pessoas usam a palavra “ciência” quando não deveriam usar. Acredito que, infelizmente, muitos acadêmicos, doutores e intelectuais não possuem uma visão completa, inteira e imparcial do que é ciência; mas sim possuem uma visão fragmentada, incompleta e parcial. Eu mesmo com certeza tenho uma visão de ciência que não é completa! Precisarei refletir muito ainda sobre a ciência e sobre o processo de se fazer ciência para um dia ter uma visão mais completa e imparcial do que é ciência!

         A minha visão de ciência é muito similar ao próprio método científico! Para mim a ciência é a melhor ferramenta já inventada para entendermos como o mundo funciona! A ciência é uma empreitada colaborativa que atravessa as gerações! Para mim a ciência é um modo de pensar, uma forma de questionar ceticamente a natureza! A ciência substitui o preconceito particular pela evidência publicamente verificável.

         Vamos explanar sobre algumas distorções comuns associadas a ideia de ciência e questionar se essas visões distorcidas poderiam fazer com que pessoas produzissem discursos contra a “ciência”.

         Uma das visões distorcidas de ciência é considerar ciência como sendo um corpo de conhecimentos imutável e produzido apenas na mente de pessoas geniais. O ensino tradicional de ciências e os meios de comunicação de massa são fontes de visões distorcidas da ciência.

         O ensino tradicional de ciências enfatiza sempre o produto final da atividade científica, apresentando-o como dogmático, imutável e desprovido de suas determinações históricas, político-econômicas, ideológicas e socioculturais.

         Realçam sempre um único processo de produção científica, o método empírico-indutivo, em detrimento da apresentação da diversidade de métodos de produção do conhecimento científico. Introduz ou reforça equívocos, estereótipos e mitificações com respeito às concepções de ciência e tecnologia.

         A apresentação da evolução histórica das ciências naturais permite ao estudante perceber que as ciências estão em constante evolução, e que o conhecimento é construído gradativamente.

         Geralmente, nos livros didáticos, o conhecimento científico é apresentado como algo pronto, acabado, no qual o cientista surge como uma figura estereotipada, de cabelos e jalecos brancos, com respostas para todos os problemas, sem dúvidas ou dificuldades no seu trabalho.

         Entretanto, ao lançar um olhar sobre a história da ciência, pode-se perceber o quanto a compreensão da história das ideias pode auxiliar a entendê-las e como a construção do conhecimento é complexa, sem ser livre das mais diferentes interferências.

         A Ciência não tem respostas definitivas para tudo! A principal característica desta é a possibilidade de ser questionada e de se transformar!

         As ciências naturais não devem ser vistas como as ciências dos conceitos e equações já estabelecidas e, por isso, consideradas verdades absolutas.

         Quem afirma que a Ciência deseja e conspira para ser uma verdade absoluta tem grandes chances de ter uma visão distorcida de ciência!

         A história das ciências nos apresenta uma visão a respeito da natureza da pesquisa e do desenvolvimento científico que não costumamos encontrar no estudo didático dos resultados científicos. Os livros científicos didáticos enfatizam os resultados aos quais a ciência chegou mas não costumam apresentar alguns outros aspectos da ciência. De que modo as teorias e os conceitos se desenvolvem? Como os cientistas trabalham?

         Quais as ideias que não aceitamos hoje em dia e que eram aceitas no passado? Quais as relações entre ciência, filosofia, religião e cultura? Qual a relação entre o desenvolvimento do pensamento científico e outros desenvolvimentos históricos que ocorreram na mesma época?

         A história das ciências não pode substituir o ensino comum das ciências, mas pode complementá-lo de várias formas: o estudo adequado de alguns episódios históricos permite compreender as inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade, mostrando que a ciência não é uma caixa isolada de todas as outras mas sim faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo influências e influenciando por sua vez muitos aspectos da sociedade. Todos conhecem os nomes de Lavoisier, Newton, Galileu, Darwin. Mas o que estava acontecendo no mundo quando eles desenvolveram suas pesquisas? Não existiu nenhuma relação entre o que eles fizeram e aquilo que estava acontecendo em volta deles? É claro que existiu! Mas não costumamos estudar isso, o que resulta na visão distorcida de que a ciência é algo atemporal, que surge de forma mágica e que está à parte de outras atividades humanas.

         O estudo adequado de alguns episódios históricos permite perceber o processo coletivo e gradativo de construção do conhecimento, permitindo formar uma visão mais concreta e correta da real natureza da ciência, seus procedimentos e suas limitações. A ciência não brota pronta, na cabeça de “grandes gênios”. Muitas vezes, as teorias que aceitamos hoje foram propostas de forma confusa, com muitas falhas, sem possuir uma base observável e experimental. Apenas gradualmente as ideias vão sendo aperfeiçoadas, através de debates e críticas, que muitas vezes transformam totalmente os conceitos iniciais. Costumamos dizer que nossa visão do universo, heliocêntrica, foi  proposta por Copérnico no século XVI. No entanto, existe pouca semelhança entre aquilo que aceitamos hoje em dia e aquilo que Copérnico propôs. Também não pensamos como Galileu, por exemplo. A teoria da evolução biológica que aprendemos hoje em dia não é a teoria de Darwin. A aritmética que estudamos atualmente não é a aritmética desenvolvida pelos pitagóricos. Nossa química não é a química de Lavoisier. Nosso conhecimento foi sendo formado lentamente, através de contribuições de muitas pessoas sobre as quais nem ouvimos falar e que tiveram importante papel na discussão e aprimoramento das ideias dos cientistas mais famosos, cujos nomes conhecemos.

         Os estudantes de todos os níveis, seus professores e o público em geral possuem uma grande variedade de concepções ingênuas, mal fundamentadas e, afinal, falsas sobre a natureza das ciências e sua relação com a sociedade. Alguns concebem a ciência como a “verdade”, “aquilo que foi provado”, algo imutável, eterno, descoberto por gênios que não podem errar. É uma visão distorcida, já que a ciência muda ao longo do tempo, às vezes de um modo radical, sendo na verdade um conhecimento provisório, construído por seres humanos falíveis e que, por seu esforço coletivo, tendem a aperfeiçoar esse conhecimento, sem nunca possuir a garantia de poder chegar a algo definitivo.

         A reação contra o poder da ciência pode levar a defender uma posição de que todo conhecimento não passa de mera opinião, que todas as ideias são equivalentes e que não há motivo algum para aceitar as concepções científicas. Isso também não é verdade! Essa é outra visão distorcida da ciência!

         Quanto às relações entre ciência e sociedade, há também posições extremas: ou se pensa que a ciência é algo totalmente “puro”, independente do lugar e da época em que se desenvolve; ou, no outro extremo, supõe-se que é um mero discurso ideológico da sociedade onde se desenvolveu, sem nenhum valor objetivo.  Não passam de outras visões distorcidas de ciência! O estudo histórico mostra que nenhuma das duas posições é uma boa descrição da realidade. A ciência não se desenvolve em uma torre de cristal, mas sim em um contexto social, econômico, cultural e material bem determinado. Por outro lado, não é possível explicar os conhecimentos científicos apenas a partir desse contexto: é necessário levar também em conta os fatores internos da ciência, tais como os argumentos teóricos e as evidências experimentais disponíveis em cada momento, em cada época.

         Uma visão mais adequada e bem fundamentada da natureza das ciências, de sua dinâmica, de seus aspectos sociais, de suas interações com seu contexto, certamente trará consequências importantes. O trabalho científico deve ser respeitado mas não venerado, nem desprezado.

         Os meios de comunicação de massa em vez de ajudar a corrigir a visão popular equivocada a respeito de como se dá o desenvolvimento científico contribui para reforçar e perpetuar mitos daninhos a respeito dos “grandes gênios”, sobre as descobertas repentinas que ocorrem por acaso, e outros erros graves a respeito da natureza da ciência. Os equívocos se propagam através das revistas científicas populares, dos jornais, da televisão, da internet, penetram nas salas de aula, são aprendidas e repetidas por outras pessoas. Muitos autores de livros científicos, mesmo com as melhores das intenções, introduzem informações completamente errôneas sobre história da ciência. Não se tem como transformar em “àgua com açúcar” a complexidade histórica real.

         Tais erros passam a visão distorcida que a ciência é feita por grandes personagens; que a ciência é constituída a partir de eventos ou episódios marcantes, que são as “descobertas” realizadas pelos cientistas; que cada alteração da ciência ocorre em uma data determinada e que cada fato independe dos demais e pode ser estudado isoladamente.

         É claro que tais pressupostos são insustentáveis. Quem conhece realmente a história da ciência sabe que as alterações históricas são lentas, graduais, difusas; são um trabalho coletivo e não individual ou instantâneo dos “grandes gênios”, é difícil ou impossível caracterizar em uma só frase ou em poucas palavras o que foi uma determinada mudança científica; e há estreita correlação entre acontecimentos de muitos tipos diferentes, o que torna difícil isolar uma “descoberta” e descrevê-la fora de seu contexto.

         Muitas vezes, até mesmo professores universitários não entendem a natureza da ciência. Ainda há uma crença no método indutivista da investigação científica. Geralmente, professores que não possuem conhecimento o suficiente sobre história e filosofia da ciência transmitem uma visão distorcida do funcionamento da ciência para seus estudantes.

         O estudo cuidadoso da história da ciência pode ensinar muito sobre a natureza da ciência, mas isso só ocorrerá se forem utilizados exemplos históricos reais e não as lendas sem fundamento que são repetidas por quem nunca fez pesquisa histórica.

         Outra falha no ensino de ciências é o uso de argumentos de autoridade para tentar obrigar à aceitação dos conhecimentos científicos. Invocar uma pretensa certeza científica baseada em um nome famoso é um modo de impor crenças e de deixar de lado os aspectos fundamentais da própria natureza da ciência.

         Há uma importante distinção entre conhecimento científico e crença científica. Ter conhecimento científico sobre um assunto significa conhecer os resultados científicos, conhecendo de fato como esse conhecimento é justificado e fundamentado. Crença científica, por outro lado, corresponde ao conhecimento apenas dos resultados científicos e sua aceitação baseada em crença na autoridade do professor ou do “cientista”. A fé científica é simplesmente um tipo moderno de superstição. É muito mais fácil adquiri-la que o conhecimento científico, mas não tem o mesmo valor.

         Há apenas um caminho para se adquirir conhecimento científico. É necessário estudar o contexto científico, as bases experimentais, as várias alternativas possíveis da época, e a dinâmica do processo de descoberta. Apenas desse modo é possível aprender como uma teoria foi justificada e porque foi aceita. Ao mesmo tempo, aprende-se muito sobre a natureza da ciência.
     
         Agora faço a pergunta se seriam essas visões distorcidas de ciência responsáveis por discursos contra a ciência que infelizmente ouvimos dentro das próprias Universidades?

         É bem verdade que vieram das Ciências Humanas várias das maiores e mais importantes tolices contrárias à ciência das últimas décadas: compendiadas em algo vago chamado de “pós-modernismo”, que foi profundamente criticado pelos físicos Alan Sockal e Jean Bricmont. São perspectivas extremamente relativistas que afirmam ser a ciência uma forma de conhecimento tão válida como outra qualquer; como a religião, a mitologia e o senso comum. Além dessa postura, há as acusações usuais injustificadas de que a ciência é “branca”, é “eurocêntrica”, é “burguesa”, é “masculina”, é “cartesiana”, é “positivista”, é “reducionista”, é “mecanicista”, é “racionalista” - e por aí vai. Essas afirmações, muitas delas entronizadas como vanguardistas e apoiadas por governos e periódicos, cumpriram o importante desserviço de desacreditar perante os “cientistas naturais” os “cientistas humanos”. No caso dos “pós-modernos”, muitos dos seus problemas advém do uso inadequado de conceitos das Ciências Naturais nas Ciências Humanas, ou seja, de um falso diálogo entre estas.

         Se as Ciências Humanas possuem algum problema quanto ao método científico tradicional, devem buscar seus próprios argumentos para questionar este, não se valendo de conceitos da Física Moderna. Nem a Mecânica Quântica nem a Teoria da Relatividade invalidam o método científico tradicional.  
           
   
TOMAZ PASSAMANI é

Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A DESCULPA DO CONTEXTO















Considerando as numerosas versões e interpretações da Bíblia, fico surpreso que haja qualquer pessoa na Terra tola o bastante para acreditar que sua interpretação da Bíblia é a correta; que alguém sozinho, de alguma maneira, tropeçou no verdadeiro significado da Bíblia, enquanto todos os outros crentes, não-crentes, ministros, padres, estudiosos e infiéis interpretaram mal, e entenderam mal, a Bíblia.


Emmett F. Fields



Crenças e seus Perigos

Vant Vaz




De uma vez por todas acredito que alguns não estão entendendo exatamente a gravidade do que está acontecendo no Brasil em relação às ideologias, sejam religiosas, sejam políticas. Modelo do que já vem acontecendo em outros países, principalmente EUA, desde fins do Século 19.

Vou tentar mostrar um pouco do que é perceptível e que se pode detectar quando paramos seriamente para profundas reflexões sobre o assunto. Evitarei termos técnicos e não quero propor análises acadêmicas e não me valerei do endosso das pesquisas que já revelam algumas realidades que para a maioria se esconde, ou não é compreendida.

Começo em relação às crenças, ou da maioria delas, já que existem as que defendem o respeito e a tolerância por outras formas de ver o mundo. Não vou, portanto generalizar, mas tratarei da parte que largamente predomina e é assustadora.

Quando por exemplo vemos no Brasil que as pessoas são respeitadas, avaliadas e endossadas mais por suas ideias e crenças do que por suas ações e honestidade. Em um país como nosso em que uma pessoa que se assume gay, que é ateu ou cético, ou que diz não ter religião ou professar outra crença que não seja cristã jamais são aceitos na esfera política, jamais ganhariam eleições para Prefeito, Governador e Presidente da República mesmo que fossem pessoas habilitadas, preparadas, honestas e idôneas. Onde por acaso se fosse permitido decidir que tipo de moralidade e religiosidade deveriam ser seguidos pelo povo brasileiro e tornado Lei levando-se em conta o que povo gostaria, com certeza teríamos pena de morte, redução de maioridade penal, perseguição e punição dos homossexuais, ensino do cristianismo em todas as escolas (a briga seria mais por que tipo de cristianismo) num retorcimento dos valores humanos e da democracia que seria exatamente o apelo da grande maioria por uma teocracia ao invés de entenderem que liberdade tem a ver mais com o princípio da reciprocidade e respeito às diferenças, desde que estas não causem danos aos outros.

Quando vemos pessoas esbaforidas gritando valores e regras morais e atacando outras formas de viver e ver o mundo que não coincidam ou entrem em acordo com suas crenças, que ao invés de cultivar a aproximação entre as pessoas, as afasta e as faz rebanho, grupos fechados, que adoecem as pessoas e cultivam o medo, ou às promessas de redenção, cura, prosperidade que não exigem nada mais do que compromisso com sua fé e sua cotidiana participação em igrejas e templos, enriquecendo patrimônios de instituições religiosas e de seus líderes a partir das doações e dízimos dos fiéis. Quando faço esta crítica quero deixar claro que não ajo por preconceito, pois quero mesmo compartilhar este mundo com pessoas das mais diversas culturas e crenças, não estaria nem mesmo escrevendo isso aqui se não fosse este avanço de ideias que remontam a Idade Média.

Quando uma crença se apoia que a redenção de toda a humanidade virá do fogo no fim dos tempos, de um julgamento a partir da seleção de pessoas que irão ser salvas e que só o mundo por vir importa, com certeza poderá fazer com que as pessoas esqueçam-se de seu papel neste mundo, já que para elas este mundo está perdido. Justamente por isso não existem movimentos religiosos de larga escala pedindo e clamando por justiça social, educação, saúde, cuidados ambientais, proteção da vida e da natureza, ou contestam os políticos e os governos. Elas na verdade até desejam isso, pelo menos é o que parece quando as ouvimos com suas profecias e citações bíblicas, que o fim será glorioso e algo que os faria felizes. Como alguém poderia ser feliz e desejar o dia do Juízo Final? Não confiaria jamais em pessoas que pensam assim e assumissem lideranças.

Na verdade tais crenças reforçam o status quo dos governos (mesmo em regimes de opressão e ditadura) e seus líderes exortam os seus seguidores a não se envolverem e tomarem partido. Apenas quando lançam seus candidatos. Alguém sabe por que, por exemplo, as instituições religiosas são isentas de impostos se acumulam bens e riquezas, pagam seus funcionários e não são fiscalizadas? Sim, é verdade, são mesmo importantes aliadas dos governos e do Estado. Além da questão do voto, haveria também a importância da manutenção da ordem, do silêncio e infelizmente de ‘manter ovelhas’ apaziguadas diante dos lobos. Sim, ideias e crenças podem fazer isso, ideias e crenças podem inclusive fazer com que grupos inteiros se suicidem ou promovam chacinas a mando de seus líderes. Assim como difundir ideias histéricas e preconceituosas contra outras pessoas e grupos.

Não se trata, como quer fazer parecer alguns, de “liberdade de expressão” e nem muito menos é inofensivo o que alguns líderes religiosos pregam. Assim como ninguém quer discriminar os que de pronto discriminam. Tais pessoas podem, infelizmente, dizerem o que quiserem em suas casas e templos, mas na medida em que queiram impor isso ao mundo, que queiram modelar a moralidade de todo um país e do mundo a partir de um livro que existe há milênios e que hoje não exatamente aceito por todos, assim como cabe à dúvida de sua veracidade, vejo como um perigo para a liberdade logo adiante. Além disso, tentam se valer de discursos pseudocientíficos para ilustrar seus argumentos, mas combatem a ciência que entra em contradição com suas cosmogonias e teologia. No entanto, para seus fins, a ciência não é esquecida ou escanteada, de fato nunca puderam contestar a eficácia da mesma. Mas querem que as pessoas não aprendam ciência e filosofia, estimulam a ignorância. Porque provavelmente a ciência e a filosofia ameaçam as verdades teológicas.

Porque me incomodo com isso? Porque não gosto de ser enquadrado, não gosto de ser odiado, perseguido, julgado injustamente e nem muito menos quero ser obrigado a todo canto que eu vou a ver e ouvir estas pessoas, nas ruas, nas escolas, universidades, televisão, rádio, está em tudo que é lugar. Quanto às primeiras partes, sei que não será possível mudar, mas a segunda sim, porque também vivo neste mundo, pago impostos e quero ir e vir tranquilamente sem ter uma legião de fanáticos no meu pé. Não gosto deste tipo de “amor” que para mim parece hipócrita e se assemelha com o ódio, pois para mim quem acredita que uma pessoa só é boa por acreditar em Jesus, é um tolo e infelizmente está longe da verdade.

Nem mesmo toda a riqueza e opulência satisfazem os que seguem esta cartilha da indústria religiosa, eles querem se meter em tudo, querem dominar tudo. Para mim, perdoem-me os que neles acreditam, caso exista o mal, seriam estes os apóstolos do diabo.

Sinceramente, acreditar em algo deve ser respeitado, ter crenças poderia ser algo menos ofensivo, mas ao questionar aquilo que fere a ideia de liberdade de outra pessoa, respeito que deveria ser igual para todas elas, deve ser algo que devemos todos fazer.


Vant Vaz

Coletivo Tribo Éthnos

Membro da Academia de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP)