Bem, é uma grande honra está aqui.
Parece que eu e meus colegas Christopher e Dan, estamos aqui para
argumentar contra Deus, no estado que acabo de saber que é o mais religioso de
seu país.
Estou encorajado pelo número de mãos levantadas.
Só quero garantir para os que estão aqui, que forem religiosos, que
nossa intenção não é ofendê-los nesta manhã.
Contudo, vou pagar sua hospitalidade dizendo exatamente o que penso
sobre religião.
Sou alguém que passou os últimos dois anos criticando a fé religiosa.
Eu me familiarizei bastante no modo como pessoas de fé defendem seus
Deus.
Na verdade não existe muitas maneiras de se fazer isso. Parece haver
somente três.
Ou você argumenta que uma religião específica é verdadeira, ou você
argumenta que ela é útil, ou você ataca o ateísmo como intolerante, ou ainda
que corrói valores humanos.
A única linha de argumento que a valida a esse debate ou na verdade
qualquer debate, sobre a validação da religião, é o argumento que a religião é
verdadeira, e não se uma religião específica é verdadeira, porque obviamente
todas não podem ser verdadeiras.
Nosso oponente aqui representam duas fés diferentes e mutuamente
incompatíveis.
Jesus foi o Messias?
O rabino Dinesh, provavelmente não vai concordar nesse ponto.
Como Bertrand Roussel apontou há mais de 100 anos, mesmo que soubéssemos
que uma religião era verdadeira, perfeitamente verdadeira, pela multiplicidade
dos fiés, dada a sua incompatibilidade mútua, todos os crentes, deveriam
esperar a danação eterna, simplesmente como questão de probabilidade.
Antes que eu me aprofunde na questão de verdades religiosas, eu quero
ilustrar quão confusa a pessoa deve ser para argumentar que é razoável
acreditar em Deus, porque a religião é útil, ou porque dá sentido a vida, ou
porque faz as pessoas moralmente mais corretas do que seriam sem ela, como o
rabino sugeriu, ou porque fazem essas pessoas mais felizes, enfim qualquer
benefício que você possa imaginar da religião.
Imagine que você está andando na rua e encontre um velho amigo.
Ele parece extremamente feliz e você perguntas quais as novidades. E ele
lhe diz que tudo mudou na vida dele, no dia em que percebeu que estava
destinado a casar com Angelina Jolie.
Pode ocorrer a você perguntar o porque ele acredita nisso. Afinal Angelina
Julie é uma das mais famosas e bela mulher do planeta, não por acaso ela é
casada com Brad Pitt, e eles tem algo em torno de 27 filhos a essa altura.
E se o seu amigo, sentindo seu ceticismo, dissesse “você não entende,
essa crença da sentido a minha vida. Eu sei que meu propósito de vida é ser
marido de Angelina Jolie”.
Se seu amigo dissesse “essa crença me faz uma pessoa melhor, eu sou
agora incrivelmente gentil com crianças”, antecipando que terá que criar os
filhos de Angelina quando Brad for embora.
E se seu amigo dissesse “você pode acreditar no que quiser, mas eu não
quero viver em um universo em que eu não me case com Angelina Jolie”.
Deve ser muito claro a esse ponto, que seu amigo perdeu o juízo. Ele é
provavelmente uma pessoa perigosa e esse é precisamente o tipo de conversa que
passa por conhecimento em círculos religiosos e pode tentar passar por
conhecimento aqui.
Certamente o argumento da moralidade é desse tipo.
Crenças não são como vestuário. Conforto, utilidade e beleza, não podem
ser nossos critérios conscientes para adotá-la.
Para acreditar numa proposição, você tem que crer que há boas razões
para acreditar. E o efeito que essa crença vai ter na sua vida não pode está
entre essas razões.
E isso que é ter o julgamento turvado por um viés.
É por isso que temos expressões como “wyshfull thinking” e “self
Deception”.
Acreditar que há um Deus e também acreditar que você tem tal relação com
sua existência, que se ele não existisse você não acreditaria.
Como a suposta utilidade da religião se encaixaria nesse esquema?
Não se encaixa!
Reornemos à questão da verdade. É muito comum as pessoas dizerem que
não há conflito entre religião e ciência, porque elas se relacionam com
assuntos diferentes. E isso é uma mentira.
Religião e ciência ambas fazem afirmações sobre como o mundo é. E fazem
afirmações incompatíveis sobre a realidade e elas fazem tais afirmações
baseadas em padrões muito diferentes de evidências e maneira de argumentar.
Deveria se muito claro que há um conflito, um conflito perfeito entre
exigir boas evidências para o que você acredita e estar satisfeito com uma
evidência ruim, ou com nenhuma evidência.
Então religião e ciência conflitam porque não há como separar as
verdades de ambas.
A afirmação de que Jesus nasceu de uma virgem, é a afirmação central do
cristianismo, e também é uma afirmação sobre biologia. A afirmação de que ele
ressuscitou dos mortos, é uma afirmação sobre história. E é uma afirmação sobre
sobrevivência humana à morte. É aparentemente uma afirmação sobre o voou humano
sem a ajuda da tecnologia.
Judeus, cristãos e muçulmanos, discordam de muitas coisas, mas todos
concordam que no dia do juízo final, toda pessoa que já viveu vai ressuscitar
fisicamente.
Quais leis da física isso violaria?
Nós sentimos tentados a dizer todas!
Se as afirmações básicas das religiões são verdadeiras, a ciência é tão
cega para essa realidade oculta, e as leis da natureza não são suscetíveis a
essas modificações sobrenaturais, que torna toda empreitada da ciência ridícula.
Se, por outro lado, as afirmações básicas das religiões são falsas, a
maioria das pessoas desse planeta está profundamente confusa sobre a natureza
da realidade. E envolvidos por medos e esperanças irracionais.
E muitas pessoas desperdiçam suas vidas e espalham essa ilusão, na
maioria das vezes com resultados trágicos. Parece-me que nenhuma pessoa que
pense pode ficar indiferente entre os dois lados dessa dicotomia.
Costuma se a imaginar que descrente como eu, deve está, em princípio,
fechado a vida espiritual.
Isso não é verdade, você pode ter uma vida ética e espiritual profunda,
sem mentir para si mesmo, ou a seus filhos, sobre a natureza da realidade.
Sem fingir saber coisa que você não sabe. Não há nada que impeça um
descrente de experimentar o êxtase e o amor transcendente, arrebatamento e
admiração.
Na verdade não há nada que impeça um descrente de ir a uma caverna e
praticar meditação, por um ano como os místicos.
O que os descrentes não costumam fazer são afirmações injustificadas e
injustificáveis, sobre a natureza do cosmo e sobre a origem divina de certos
livros, na base dessas experiências.
Essa é uma diferença que faz notar.
Eu quero sugerir, que o quer que seja verdade sobre nossas
circunstâncias em termo de ética e espiritualidade pode ser descoberto agora e
pode ser ensinado numa linguagem compatível com nosso crescente entendimento
científico do mundo e da mente humana.
Quaisquer descobertas que ainda estão para ser feitas para maximizar o
bem-estar humano, podem ser discutidas em uma linguagem que não é completa
afronta a tudo que aprendemos nos últimos 2000 anos.
E se filiar uma religião da Idade do Ferro, como cristianismo, judaísmo
e islamismo, é fazer uma afirmação tácita de que isso é impossível, e que não
há, de fato, uma maneira de entender nossas circunstâncias, usando as
ferramentas do nosso entendimento moderno do mundo.
E que algumas medidas de superstição é necessária, alguma medida dessa
mitologia, e que nós temos que mentir um pouco. A questão é que podemos depositar
nossa confiança apenas num diálogo humano. E a questão é você quer depositar em
um diálogo do século XXI, onde temos toda a literatura e ensinamentos do mundo
disponíveis, ou você quer depositar num diálogo do século do século I ou século
VII, como preservado em um dos nossos livros sagrados?
Muito obrigado.
Sam Harris
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