Iconoclastia. Condenação de culto e destruição de imagens sacras. Substituição de imagens por pinturas. Restauração do culto as
imagens. Proibição de qualquer discussão a respeito de imagens.
O imperador do
Oriente, Justiniano (527-565),1 conseguira consolidar o próprio
poder graças ao auxílio de um "esquadrão da morte" treinado por ele
próprio. Na prática, tratava-se de um bando de sanguinários que assassinava
todos os seus rivais na corrida pelo trono: o general Vitaliano, o eunuco
Amázio e um número impreciso de aristocratas.2
Uma testemunha da
época comentou: "Até mesmo a mão de Deus, guiada pelo Patriarca, protege
suas iniciativas de erradicar os inimigos da fé".3 De seu longo
reinado, ficaram o imenso Corpus iuris civilis, código que ordena em um
único conjunto de leis orgânicas toda a jurisprudência romana, e a decidida
política de reconquista militar dos territórios ocupados pelos bárbaros.
Mas não se pode esquecer o massacre de Nika,
em janeiro de 532. Durante a partida de uma corrida de bigas no imenso
hipódromo de Constantinopla, o imperador Justiniano e sua mulher, Teodora,
foram vaiados pela multidão que reclamava das excessivas obrigações fiscais. O
protesto transformou-se em um verdadeiro tumulto, que teve como insólitos
aliados líderes de facções de grupos populares e de aristocratas. Justiniano
precisou se refugiar em seu palácio, tal foi o assédio dos revoltosos.
O imperador,
então, ofereceu doações em dinheiro aos líderes e convocou o povo todo para uma
assembleia pública no hipódromo, onde anunciaria importantes novidades.
Os revoltosos,
dessa forma, se reuniram no estádio, onde, em vez do imperador, entraram
soldados do general Narsete, que assassinaram os presentes. Calcula-se que
trinta mil pessoas tenham sido mortas.
Outro episódio
famoso foi a violenta repressão aos rebeldes samaritanos, quando foram mortas
mais de cem mil pessoas.
Talvez menos
conhecida seja a pragmática disposição de 554, que estendeu a legislação
imperial à Itália "liberta" dos bárbaros e que impôs a restituição de
todos os bens desapropriados pelos godos aos aristocratas e à Igreja.
Dentre as
propriedades a serem restituídas, havia também escravos e servos da gleba que
os "bárbaros" haviam alforriado e que, assim, perderiam seu status de
homens livres.4
O programa de
Justiniano pode ser resumido pelo seguinte lema: "Um só Estado, uma só
lei, uma só Igreja".5
A legislação
imperial regulamentava cada aspecto da vida do Império, inclusive o religioso.
Os bispos eram, em todo e qualquer aspecto, funcionários do Estado, com deveres
de funcionários públicos, "assistentes sociais" e magistrados.6 Uma
série de leis regulava, de maneira minuciosa, praticamente cada detalhe da vida
do clero e dos monges, incluídas aí as práticas litúrgicas, como a entoação dos
três cânticos principais do dia nos mosteiros (matutino, laude e vespertino).
Além disso, as penas previstas para os transgressores eram severas: por
exemplo, uma diaconisa que se casasse poderia ser punida com a morte ao lado do
marido, e um monge que abandonasse o hábito era convocado pelo exército.7
As repressões de
Justiniano
Justiniano foi um
tenaz defensor da ortodoxia (é claro que era ele quem decidia o que era
"ortodoxo" e o que não era) e um implacável perseguidor dos hereges e
pagãos.
Um edito de 529
obrigava os súditos ainda não convertidos a se batizarem e se "instruírem
na verdadeira fé dos cristãos". Os desobedientes seriam punidos com o
confisco de todos os bens e a perda de todos os direitos; os batizados que
voltassem a ser pagãos seriam punidos com a morte.8 Contra os
hereges maniqueístas,' eram previstas medidas ainda mais graves: a morte e o
confisco dos bens. A pena de morte também era aplicada aos ex-maniqueístas que
voltassem a professar sua velha religião, que se relacionassem com os antigos
companheiros de fé sem denunciá-los ou que guardassem escritos daquela seita,
em vez de entregá-los às autoridades.10
Quando as tropas
bizantinas reconquistaram a África e a Itália, Justiniano confiscou os templos
de donatistas e arianos e mandou seus clérigos para o exílio.
É atribuída a ele
a frase: "Para eles, já basta viver!"11 A repressão
provocou uma rebelião de militares arianos na África, mas que foi contida após
poucos meses de luta.
Em uma época em
que os cultos pagãos ainda sobreviviam e os cristãos estavam divididos em
infinitas correntes doutrinárias, é óbvio que não era difícil encontrar um
traço qualquer em algum adversário político que o tornasse "inimigo da
fé". De fato, não poucos expoentes da alta nobreza, acusados de paganismo
ou heresia, foram presos, torturados, mortos ou se suicidaram.12
Outras igrejas
montanistas foram destruídas pelos missionários de Justiniano nas décadas que
se seguiram. Os ossos dos fundadores da seita, guardados e venerados como
relíquias, foram incinerados.13
Com os judeus, no
entanto, Justiniano manifestou uma relativa tolerância. Deixou-os livres para
praticar seu culto, ainda que eles fossem juridicamente inferiores aos
cristãos. Por exemplo, um judeu não podia testemunhar contra um cristão nem
possuir escravos cristãos.
Seus ritos também
eram disciplinados pela lei: os judeus não podiam celebrar sua Páscoa se esta
acontecesse antes da cristã, nem discutir ou interpretar as passagens da
Bíblia. Por lei, deviam acreditar na ressurreição dos mortos, na existência dos
anjos e no juízo universal.14
O imperador, por
outro lado, foi impiedoso com os samaritanos, os "cismáticos" do
judaísmo: privou-lhes do direito de testemunhar e de herdar, e mandou destruir
suas sinagogas.
A perseguição fez
eclodir uma verdadeira revolta na Palestina; em represália, muitos cristãos
foram mortos, e igrejas, incendiadas. "Seguiu-se uma violentíssima
repressão: vilarejo por vilarejo, colina por colina, o país foi reconquistado
em 529 e 530. Mais de cem mil samaritanos foram mortos, muitos fugiram para a
Pérsia, outros se converteram."15 Em 555, uma segunda revolta
foi contida de forma igualmente dura.
Portanto, quando
se tratava de defender a "fé verdadeira", Justiniano não olhava nos
olhos de ninguém. Mas abriu uma exceção para os monofisistas, pois sua mulher
também era monofisista. E, como ela, muitos outros súditos, sobretudo no Egito,
um dos "celeiros" do império. Teve para com eles um comportamento que
oscilava entre repressão e tentativas de reconciliação.
No período entre
527 e 544, alternaram-se concílios, manifestações em praças, exílios,
reintegração de bispos e teólogos mononsistas, intervenções de tropas para
tirar bispos e sacerdotes hereges de seu posto, editos dogmáticos (ou seja,
decretos que impunham posições doutrinárias por lei).16
Em 544, Justiniano
emanou um edito que acolhia, ao menos em parte, as teses monofisistas. O texto,
conhecido como "A condenação dos três capítulos", declarava heréticas
as doutrinas de Teodoro de Mopsuéstia (morto mais de um século antes);
Teodoreto, teólogo; e Ibas de Edessa, acusado de nestorianismo.
Nas primeiras
décadas do século XX, o lema de um político vienense que embarcara no carro do
anti-semitismo era: "Decido eu quem é judeu ou não".17 O
lema de Justiniano (mas também de muitos outros reis e imperadores cristãos
antes dele) poderia ter sido: "Decido eu quem é herege ou não".
O papa preso
O papa Virgílio
(537-555) se recusou a assinar o edito imperial. As tropas de Justiniano
reagiram tirando-o de Roma para levá-lo à presença do soberano.18
A isso sobreveio
um longo período de "toma-e-dá", de inflamadas conversações entre o
imperador e o papa, que durou anos. Até que, em 551, Justiniano, impaciente,
mandou prender o papa. "Uma tropa armada os cercou e arrancou o papa e os
bispos que estavam com ele da igreja na qual haviam se refugiado. Virgílio, que
os soldados tentaram pegar pela barba e pelos pés, agarrou-se a uma coluna do
altar, que se quebrou, e a mesa do altar o teria esmagado, se seus clérigos não
a tivessem segurado. Os gritos hostis da multidão fizeram a tropa bater em
retirada, obrigando Justiniano a negociar. No dia seguinte, Virgílio, confiando
na promessa solene do imperador de que não lhe seria feito nenhum mal,
concordou em voltar ao palácio de Placídia, mas logo foi feito prisioneiro,
ficando impossibilitado de receber seus clérigos e sendo submetido a várias
vexações."19
Virgílio conseguiu
fugir do palácio-prisão e se refugiou na basílica de Santa Eufêmia, na
Calcedônia. Veio outro período de negociações e "acidentes de
percurso" (as tropas imperiais entraram em Santa Eufêmia e prenderam os
colaboradores do papa), ao final do qual o pontífice concordou em convocar um
concilio ecumênico para dirimir a questão.
O concilio se
reuniu em Constantinopla em 553. Virgílio não compareceu em protesto, pois os
bispos ocidentais estavam sub-representados.
No final, os
bispos presentes aprovaram as teses imperiais e censuraram os atos do papa.20
Teodoro de
Mopsuéstia, morto 125 anos antes, foi declarado "ímpio",
"herege" e excomungado post-mortem. Os clérigos romanos que
apoiavam o pontífice foram exilados ou presos.21 As conclusões do
concilio foram impostas por lei, e os hereges que voltassem atrás da retratação
seriam condenados à morte.22 A validade do II Concilio de
Constantinopla ainda é reconhecida pela Igreja Católica e pela ortodoxa.
Virgílio aprovou, com relutância, a Condenação dos Três Capítulos e morreu,
talvez envenenado, no caminho de volta.23
A nova confissão
de fé, que deveria ter conciliado as várias almas da cristandade, acabou
descontentando a todos. No Egito e na Síria, as Igrejas monofisistas
prosseguiram em suas estradas. Muitos bispos, monges e clérigos católicos
dissidentes foram presos e açoitados. O novo bispo de Roma, Pelágio, enfrentou
a hostilidade geral dos cristãos de Roma e só pôde voltar à cidade com a ajuda
das tropas imperiais.
Na Itália, chegou
a haver um cisma: o bispo de Aquiléia se autoproclamou patriarca e deu vida,
com outros bispos do norte da Itália e da Dalmácia, a uma Igreja autônoma que
duraria mais de um século.24
A heresia monotelista
O imperador do
Oriente, Eráclio (610-641), na tentativa de dar fim às disputas em torno da
natureza de Cristo, que ainda dividiam e enfraqueciam a cristandade, enquanto a
expansão árabe-islâmica já pressionava o Império, criou, junto com o patriarca
de Constantinopla, Sérgio, uma nova doutrina, o monotelismo, imposto por lei.
De acordo com essa
doutrina, Cristo tinha duas naturezas, divina e humana (fato sobre o qual não
se insistia muito, para não desagradar os monofisistas), mas uma só vontade, a
divina. O cerne da questão teológica estava em um campo capaz de encontrar
adeptos tanto por parte dos monofisistas quanto de seus adversários.
A doutrina
monotelista foi aceita pelo papa Onório I, mas rejeitada por seus sucessores.
Para os bispos e teólogos da Igreja de Roma, atribuir a Cristo apenas uma
natureza divina significava reduzir a humanidade e, portanto, diminuir o valor
da Paixão.
Essa decisão
custou ao papa Severino o saque do Palácio de Latrão pelas tropas bizantinas,
além do banimento de toda a corte papal de Roma.25 Em 648, o
imperador bizantino Constante II lançou um edito proibindo todas as contendas a
respeito da vontade de Cristo.
O papa Martinho I
reagiu condenando o edito imperial e excomungando o patriarca de
Constantinopla, e também pagou por sua insubordinação: foi preso em 653 sob a
acusação de conspirar contra o Império, levado a Constantinopla, arrastado pela
cidade nu e acorrentado, preso e, finalmente, mandado para o exílio na Criméia,
onde morreu em consequência das privações sofridas em 655.26
Outro adversário
do monotelismo, o monge grego Máximo, o Confessor, foi preso, torturado,
mutilado e depois exilado.27
Apenas em 681, com
o VI Concilio Ecumênico de Constantinopla, encerraram-se as controvérsias sobre
a posição do Filho na Trindade.
Os cristãos destroem imagens sacras
No século VII, os
cristãos se dividem acerca da questão do culto das imagens e se inaugura um
século de guerras, invasões militares, perseguições, revoltas populares.
De um lado, estão
os mosteiros, donos de imensas riquezas, com grande apoio popular graças
exatamente ao culto das imagens sacras. De outro, estão os iconoclastas, que
condenam as imagens sagradas como ídolos e superstições.
Os imperadores do
Oriente temem o poder e a influência dos mosteiros e, assim, se aliam aos
iconoclastas. Quem se rebela contra a nova corrente é perseguido e morto. Nem
os bispos de Roma, tão distante de Constantinopla, conseguem escapar. Enfrentam
várias conjurações e até mesmo expedições militares.
Mas a frota
mandada por Bizâncio para sujeitar o papa afunda em uma tempestade. Deus apóia
o culto das imagens?28
Iconoclastia
A iconoclastia (do
grego eikon, imagem, e klaein, quebrar) consiste em um amplo
movimento que se desenvolveu nos territórios do Império Bizantino, após os
sermões de Serantapico de Laodicéia (cerca de 723). Os iconoclastas se remetiam
às Sagradas Escrituras e, em particular, ao segundo dos dez mandamentos:
"Não farás para ti ídolos nem figura alguma do que existe em cima, nos
céus, nem embaixo, na Terra, nem do que existe nas águas, debaixo da
terra..."29
Os imperadores de
Constantinopla, de imediato, apoiaram o movimento para ganhar a simpatia das
comunidades orientais, próximas do invasor muçulmano, e para limitar o poder
dos mosteiros.
No ano de 725, o
imperador Leão III se declarou contrário à veneração das imagens e publicou
algumas disposições que limitavam seu culto. Vários bispos orientais aderiram
às diretivas imperiais, mas a oposição dos monges provocou, em Constantinopla e
em outras cidades, revoltas populares reprimidas de maneira sanguinária.
A política
iconoclasta dos imperadores de Constantinopla continuaria por mais de sessenta
anos, período em que os adoradores das imagens seriam depostos, perseguidos,
torturados e mortos sem piedade, e em que a questão das imagens teria servido
de pretexto até para uma sangrenta guerra civil.
Em 786, a
imperatriz Teodora convocou um concilio em Constantinopla, com a aprovação do
papa, para restaurar o culto às imagens. A assembleia, no entanto, teve de ser
dissolvida pela rebeldia de algumas tropas iconoclastas.
O concilio se
reuniu depois em Nicéia, onde confirmou a validade do culto às imagens (787).
Mas a iconoclastia seria recrudescida, primeiro durante o brevíssimo reinado de
Constantino IV (deposto e cegado pela própria mãe, Irene), e depois, com maior
estabilidade, sob o imperador Leão V, que subiu ao trono em 813, e seus
sucessores. A adoração às imagens foi restaurada definitivamente em 843.
A iconoclastia
deteriorou gravemente as relações entre o Império Bizantino e a Igreja de Roma.
Os papas se opuseram orgulhosamente a essa doutrina e resistiram às reprovações
de Constantinopla, que tentou em vão submeter a Igreja latina através de
conjurações, ataques-surpresa e expedições militares. As divergências entre o
papa e o imperador acabaram afastando total e definitivamente a cidade de Roma
do controle da administração bizantina.
UMA PEQUENA CRONOLOGIA
723 - Por volta
desse ano, com os sermões de Serantapico de Laodicéia, ganha espaço entre os
árabes uma doutrina que condena a adoração às imagens sagradas: em breve, a
iconoclastia irá se propagar até Constantinopla.
726 - O imperador
Leão III se pronuncia contrariamente à adoração às imagens e manda retirar a
imagem de Cristo de cima da porta de bronze do palácio imperial. A ordem dá
ensejo a um protesto popular duramente reprimido. Em Roma, o papa Gregório II
condena o edito de Leão III e convida os fiéis da Igreja de Roma a não
segui-lo.
727 - Aproveitando
as divergências que opõem Gregório III e o imperador Leão III, e as rebeliões
populares que eclodem em várias cidades bizantinas, o rei lombardo Liutprando
ocupa Sutri e Ravena, levando o exarco (o governador) Escolástico a fugir.
Sutri, depois, é cedida ao papa. Essa doação é por muitos considerada a
certidão de nascimento do Estado Pontifício.
Em Roma, exércitos
fiéis a Bizâncio tentam matar Gregório II, mas são derrotados pelo povo romano;
o exarco Paulo tenta capturar o papa, mas sua tentativa fracassa com a oposição
das milícias romanas.
728 - O exarco
Paulo se dirige a Roma, mas é derrotado e morto pelos antiiconoclastas. No
mesmo ano, Roma se rebela contra o novo exarco Eutíquio, nomeado pelo imperador
Leão III, separando-se definitivamente de Bizâncio. Os bizantinos, no entanto,
conseguem reconquistar Ravena e tentam ocupar Bolonha, mas são derrotados pelos
lombardos. Liutprando, rei dos lombardos, por sua vez, como defensor da fé
ortodoxa e do papado, toma dos bizantinos a cidade de Classe e vários
territórios na Emília.
729 - Acordo entre
o exarco Eutíquio e o rei lombardo Liutprando. Eutíquio ajuda Liutprando a
sujeitar os duques de Spoleto e Benevento, que, até então, gozavam de uma quase
completa autonomia, em troca de auxílio para reconquistar Roma. Os dois
exércitos, então, dirigiram-se a Roma, mas antes do ataque decisivo o papa
Gregório II conseguiu convencer Liutprando a desistir da empreitada.
730 - Após o
fracasso das tentativas com o clero contrário à iconoclastia, o imperador
bizantino Leão III publica um edito em que ordena a destruição de todas as
imagens cultuadas, depondo o patriarca Germano, que se recusa a aprová-lo. Para
boicotar a igreja itálica antiiconoclasta, ele submete a Sicília e a Calábria à
jurisdição do patriarcado de Constantinopla.
731 - O papa
Gregório II se recusa a reconhecer Germano, o sucessor iconoclasta do patriarca
de Constantinopla, mas pouco tempo depois falece. Sucedido por Gregório III,
que de pronto condena a doutrina iconoclasta; mas os mensageiros encarregados
de levar a decisão a Constantinopla são presos pelo comandante Sérgio na
Sicília.
742 - O novo
imperador Constantino V, em meio à campanha contra os árabes, é atacado e
derrotado por seu cunhado Artavasde, que se proclama imperador, apresentando-se
como o campeão da "adoração às imagens", e é coroado em
Constantinopla. Enquanto o culto às imagens é restaurado na cidade, Constantino
V foge e obtém o apoio incondicional de anatólicos e trácios.
743 - Constantino
V retoma o poder pelas armas, manda cegar Artavasde e seus dois filhos, e se
vinga de seus seguidores.
753 - O rei dos
lombardos, Astolfo, impõe um tributo pessoal aos romanos, a título de
protetorado. Sua recusa a suspender a aplicação do tributo leva o papa a
solicitar o auxílio de Constantinopla para defender Roma, mas o imperador
Constantino V se recusa a intervir. Com a ruptura da paz, os lombardos
dirigem-se a Roma vindos de várias direções, para bloquear todas as vias de
acesso à cidade. Diante do perigo lombardo, o papa envia um peregrino ao rei
dos francos, Pepino, pedindo sua ajuda. Mas o rei Pepino não intervém, o papa
deixa a Itália e, nos primeiros dias do ano seguinte, junta-se ao rei dos
francos em Vetry.
754 - No palácio
imperial de Hieria, na costa adriática do Bósforo, reúne-se um concilio de
bispos favoráveis à iconoclastia ("sínodo acéfalo"), que condena a
adoração das imagens. Após a assembleia, em toda parte as imagens sagradas são
destruídas e substituídas por pinturas de temas profanos. Os dissidentes são
perseguidos sem trégua.
756 - Astolfo mais
uma vez cerca Roma. O papa manda outros embaixadores a Pepino, para pedir
ajuda. Os francos descem até a península, derrotam o exército lombardo e impõem
a Astolfo um novo tratado. O rei lombardo entrega o papa a Pentápolis e
Comacchio e aceita pagar um tributo ao rei dos francos. Pepino dá ao pontífice
os territórios, que se tornam oficialmente "patrimônio de São Pedro",
recusando-se a aceitar o pedido dos embaixadores bizantinos que requeriam a
restituição do exarcado de Ravena.
760 - Trezentos
navios bizantinos chegam à Sicília para atacar a Península Itálica, enquanto a
diplomacia de Constantinopla trabalha fervorosamente para isolar o papa.
767 - Em
Constantinopla, a oposição à iconoclastia se reúne em torno do abade Estêvão de
Auxentios, que, no entanto, é assassinado pelo povo, encorajado pelo imperador.
768 - Sérgio,
filho de Cristóvão, no comando dos lombardos, monta acampamento na colina de
Gianicolo. O papa Constantino é preso, e, para ocupar seu posto, é eleito o
padre Felipe. Mas Cristóvão intervém e faz o povo romano expulsar Felipe,
levando a uma nova eleição regular, na qual é escolhido Estêvão III. A eleição
é acompanhada por novas desordens e uma série de vinganças.
775 - O imperador
oriental Constantino V morre durante uma expedição contra os búlgaros. É
sucedido pelo filho Leão IV, mais moderado e fortemente influenciado pela mulher,
Irene, adepta do culto às imagens.
780 - A morte
prematura de Leão IV leva ao trono seu filho, Constantino VI, de apenas 10
anos. A mãe, Irene assume a regência e se opõe vitoriosamente a uma tentativa
de usurpação por parte dos tios paternos de Constantino, obrigando-os a se
tornarem padres.
784 - Na igreja
dos Santos Apóstolos em Constantinopla é aberto um concilio para restaurar a
adoração às imagens, mas a intervenção dos soldados da guarda, em um primeiro
momento, provoca a dispersão da assembléia. A imperatriz Irene afasta as tropas
iconoclastas da capital com o pretexto de uma campanha contra os árabes e chama
para Constantinopla tropas trácias, fiéis ao culto às imagens.
786 - Inicia-se,
na igreja dos Santos Apóstolos, em Constantinopla, um concilio para retomar a
adoração às imagens, mas a intervenção dos soldados da guarda, em um primeiro
momento, dissolve a assembleia. A imperatriz Irene então afasta as tropas
iconoclastas da capital, com o pretexto de uma campanha contra os árabes, e
convoca tropas trácias, fiéis ao culto às imagens, para ocupar Constantinopla.
787 - Finalmente é
realizado em Nicéia um concilio convocado pela imperatriz bizantina Irene, que
retoma definitivamente — não sem oposição — o culto às imagens.
790 - Eclode, em
Constantinopla, uma grande divergência entre o imperador Constantino VI e sua
mãe, Irene, que gera uma rebelião de iconoclastas contra a imperatriz, que, no
entanto, consegue sufocá-la. Irene, então, tenta legalizar o próprio poder
absoluto, apoiada pelas tropas da capital, mas a decisiva intervenção do
exército da Ásia Menor proclama Constantino IV o único monarca.
797 - O imperador
bizantino Constantino VI, que nesse meio-tempo ganhou o apoio dos ortodoxos e
dos iconoclastas, morre após ter sido cegado por ordem de sua mãe, Irene, que
se torna a única governante do Império. Irene é a primeira imperadora de
Bizâncio e, para conservar a simpatia da população, concede isenções fiscais,
em especial aos mosteiros, levando o sistema financeiro do Estado ao caos.
802 - Para
resolver o problema da coroação do imperador Carlos por parte de Bizâncio, são
enviados a Constantinopla embaixadores do papa e do imperador do Ocidente, com
a missão de pedir a mão da imperadora do Oriente, Irene, de forma a unificar os
dois territórios. Contudo, pouco tempo depois da chegada dos embaixadores, uma
revolta palaciana depõe Irene, que é deportada para Prinkipos e,
posteriormente, para Lesbos, onde morre.
815 - Depois da
Páscoa, tem inicio em Constantinopla um sínodo que anula o Segundo Concilio de
Nicéia e volta à iconoclastia, retomando as perseguições contra os fiéis ao
culto das imagens.
820 - O imperador
de Bizâncio, Leão, o Armênio, é morto por seguidores de um antigo companheiro
seu de armas, Miguel, o Armoriano, que ascende ao trono sob o nome de Miguel
II. Durante seu reinado, as divergências religiosas têm um momento de trégua,
já que ele proíbe qualquer discussão a respeito do culto às imagens.
829 - Sobe ao
trono de Bizâncio o filho de Miguel II, Teófilo, último expoente da
iconoclastia. Em seu reinado, a arte bizantina floresce notavelmente.
837 - João, o
Gramático, tutor do imperador Teófilo e chefe dos iconoclastas, torna-se
patriarca de Constantinopla e dá início a uma severa perseguição aos adoradores
de imagens.
842 - Morre o
imperador de Bizâncio, Teófilo, e a iconoclastia, já pouco popular, rui
definitivamente.
843 - O patriarca
João, o Gramático, é deposto em Constantinopla. Metódio é eleito para assumir
seu lugar, e um sínodo realizado em março proclama solenemente a restauração do
culto às imagens.
Nasce o Estado Pontifício
Pouco depois da
morte de Justiniano, assentaram-se na Itália vizinhos inconvenientes para os
bispos de Roma: os lombardos, que em várias ocasiões ocuparam boa parte da
península.
Em 728, o rei dos
lombardos, Liutprando, tentou tirar vantagem do conflito que opunha a Igreja de
Roma e o Império Bizantino acerca da questão da iconoclastia e, sob o pretexto
de defender o papa, invadiu os territórios bizantinos do exarcado de Ravena e
da Pentápolis (composta por Rimini, Pesaro, Fano, Senigallia e Ancona).30
No mesmo ano, doou à Santa Sé os castelos de Sutri, Bomarzo, Orte e Amélia (o
episódio é conhecido como a "Doação à Santa Sé"). Os territórios em
si não tinham grande valor estratégico, mas foram o primeiro núcleo do que
depois se tornaria o Estado da Igreja.
Nas décadas
sucessivas, entretanto, o reino lombardo se tornou uma ameaça concreta à
independência de Roma. Assim, os papas solicitaram a ajuda dos francos, um povo
germânico que vivia há séculos na antiga Gália.31 No biênio 755-756,
o rei dos francos, Pepino, desceu à Itália a pedido do papa Estêvão II,
derrotou os lombardos que sitiavam Roma e presenteou a Igreja com Ravena, a
Pentápolis e Comacchio. O ato do rei franco não foi uma doação desinteressada,
e sim o pagamento de uma dívida. Alguns anos antes, na verdade, Pepirio era um
simples ministro palaciano (o que hoje chamamos de
"primeiro-ministro") do rei Quilderico III. Deu um verdadeiro golpe
de Estado, com a aprovação prévia do papa. O próprio Estêvão II foi à Gália
para coroá-lo rei, ungindo-o com óleo sagrado, em um rito tirado da Bíblia.32
Carlos Magno,
filho de Pepino, ampliaria os territórios daquilo que, para todos os efeitos,
era um Estado, dando-lhe a forma que manteria por mais de um milênio.
As "Doações de Constantino"
Todos Os
territórios tão generosamente presenteados por Pepino eram, na verdade,
propriedade do imperador de Bizâncio, que, furioso, protestou contra o furto.
Providencialmente, tirou do nada um antigo documento, nada menos que o
testamento assinado do imperador Constantino I. De acordo com o documento,
Constantino, curado da lepra graças à ajuda do papa Silvestre, já havia doado à
Igreja de Roma não só os territórios reconquistados por Pepino, mas toda a
Península Itálica e o primado sobre as igrejas metropolitanas de Antioquia,
Constantinopla, Alexandria e Jerusalém. Eis a razão por que, em dado momento,
Constantino se mudou para Constantinopla: porque dera Roma ao papa.
O documento,
conhecido como "Doação de Constantino" era falso, mas por dois
séculos todos o acreditaram verdadeiro, inclusive os adversários do papa. A
doação justificaria o poder temporal do pontífice durante toda a Idade Média.
Nos séculos seguintes, entre altos e baixos, a Igreja incrementaria suas posses
e sua influência sobre a vida política europeia.
Os papas Gregório
VII (1073-1085) e Inocêncio III (1198-1216) chegariam a teorizar a teocracia,
ou seja, a supremacia do poder da Igreja sobre o dos reis e imperadores. Só em
1440, o humanista Lorenzo Valia conseguiria provar definitivamente que a doação
era uma fraude, em seu tratado De falso credita et ementita Constantini
Donatione.
FONTE
1. Colocamos entre parênteses os anos do
efetivo reinado.
2. Dario Fo, La vera storia di Ravenna, Franco
Cosimo Panini Editore, Modena.
3. Ibid, p. 208.
4. Ambrogio Donini, Storia dei cristianesimo
- dalle orígini a Giustiniano, Teti editore, Milão, p. 331.
5. Ibid, p.
331.
6. Giuseppe
Alberigo - Jean Marie Mayeur, op. cit, p. 375.
7. Ibid.,
p. 374-6.
8. Ibid, p.
377.
9. Vide
Apêndice.
10. Giuseppe Alberigo - Jean Marie Mayeur, op.
cit, p. 381.
11. Ibid.
12. Ibid., p. 378-381.
13. Ibid., p. 381. Outras
informações sobre os montanistas no Apêndice.
14. Ibid., p. 379.
15. Ibid., p. 380. 16.Ibid., p. 382-96.
17. William L Shirer, Storia del Terzo Reich, vol.
1, Einaudi, Turim, 1962 (ou 1971), p. 36-38.
18. Giuseppe Alberigo - Jean Marie Mayeur, op.
cit, p. 397. 19.Ibid., p. 399
20. Ibid., p. 400-3. 21.Ibid., p. 403.
22. David Christie-Murray,
I percorsi delle eresie, Rusconi, Milão, 1998, p. 113-4.
23. Ambrogio
Donini, op. cit., p. 330.
24. Giuseppe Alberigo - Jean Marie Mayeur, op.
cit, p. 403-4.
25. Cronologia Universale UTET.
26. David Christie-Murray, op. cit, p. 116.
27. Ibid., p.
115-6.
28. Vide parágrafo
sobre iconoclastia.
29. A Bíblia
Sagrada, Deuteronômio, 5,8.
30. Estes
territórios formam, aproximadamente, o atual território de Marche e da
Emília-Romana.
31. Os francos
foram evangelizados diretamente por missionários católicos, ao contrário, por
exemplo, dos godos arianos.
32. Alessandro
Barbero, Cario Magno: un padre dell'Europa, Laterza, Roma-Bari, 2000, p.
22-24.
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