quinta-feira, 16 de março de 2017

PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS - O ARGUMENTO DA CAUSA PRIMEIRA




Bertrand Russel


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Talvez o mais simples e fácil de se compreender seja o argumento da Causa Primeira.

Afirma-se que tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se dá o nome de Deus.

Esse argumento, creio eu, não tem muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa já não é bem o que costumava ser.

Os filósofos e os homens de ciência têm martelado muito a questão de causa, e ela não possui nada que se assemelhe à vitalidade que tinha antes; mas, à parte tal fato, pode-se ver que o argumento de que deve haver uma Causa Primeira é um argumento que não pode ter qualquer validade.

Posso dizer que quando era jovem e debatia muito seriamente em meu espírito tais questões, eu, durante muito tempo, aceitei o argumento da Causa Primeira, até que, certo dia, aos dezoito anos de idade, li a Autobiografia de John Stuart Mill, lá encontrando a seguinte sentença:

“Meu pai ensinou-me que a pergunta ‘Quem me fez?’ não pode ser respondida, já que sugere imediatamente a pergunta subsequente: ‘Quem fez Deus?’”. Essa simples sentença me mostrou, como ainda hoje penso, a falácia do argumento da Causa Primeira.
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Se tudo tem de ter uma causa, então Deus deve ter uma causa.

Se pode haver alguma coisa sem causa, pode ser muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver validade alguma em tal argumento.

Este é exatamente da mesma natureza que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o elefante sobre uma tartaruga, e quando alguém perguntava: “E a tartaruga?”, o indiano respondia: “Que tal se mudássemos de assunto?”

O argumento, na verdade, não é melhor do que este. Não há razão pela qual o mundo não pudesse vir a ser sem uma causa; por outro lado, tampouco há qualquer razão pela qual o mesmo não devesse ter sempre existido.

Não há razão, de modo algum, para se supor que o mundo teve um começo. A idéia de que as coisas devem ter um começo é devida, realmente, à pobreza de nossa imaginação.

Por conseguinte, eu talvez não precise desperdiçar mais tempo com o argumento acerca da Causa Primeira.


PALESTRA COMPLETA


3 comentários:

  1. Ae querido Romero, visitando este teu blog q aprecio muito meu amigo!!

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  2. Obrigado Gisele.
    Sempre tecendo elogios a minha maneira de pensar.
    Adoro Você.
    Um beijo no seu coração.

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  3. As perfeições existentes são ditas existentes em Ato.

    As perfeições que podem vir a existir num sujeito são existentes em Potência passiva. Assim, uma parede branca tem brancura em Ato, mas tem cor vermelha em Potência.

    Mudança ou movimento é pois a passagem de potência de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato.

    M = PX ---->> AX

    Nada pode passar, sozinho, de potência para uma perfeição, para o Ato daquela mesma perfeição. Para mudar, ele precisa da ajuda de outro ser que tenha aquela qualidade em Ato.

    Assim, a panela pode ser aquecida. Mas não se aquece sozinha. Para aquecer-se, ela precisa receber o calor de outro ser - o fogo - que tenha calor em Ato.

    Outro exemplo: A parede branca em Ato, vermelha em potência, só ficará vermelha em Ato caso receba o vermelho de outro ser - a tinta - que seja vermelho em Ato.

    Noutras palavras, tudo o que muda é movido por outro. É movido aquilo que estava em potência para uma perfeição. Em troca, para mover, para ser motor, é preciso ter a qualidade em ato. O fogo (quente em ato) move, muda a panela (quente em potência) para quente em ato.

    Ora, é impossível que uma coisa esteja, ao mesmo tempo, em potência e em ato para a mesma qualidade.

    Ex.: Se a panela está fria em ato, ela tem potência para ser aquecida. Se a panela está quente em ato ela não tem potência para ser aquecida.

    É portanto impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição. É impossível, pois, que uma coisa mude a si mesma.

    Tudo o que muda é mudado por outro.

    Tudo o que se move é movido por outro.

    Se o ente 1 passou de Potência de x para Ato x, é porque o ente 1 recebeu a perfeição x de outro ente 2 que tinha a qualidade x em Ato.

    Entretanto, o ente 2 só pode ter a qualidade x em Ato se antes possuía a capacidade - a potência de ter a perfeição x.

    Logo, o ente 2 passou, ele também, de potência de x para Ato x. Se o ente 2 só passou de PX para AX, é porque ele também foi movido por um outro ente, anterior a ele, que possuía a perfeição x em Ato.

    Por sua vez, também o ente 3 só pode ter a qualidade x em Ato, porque antes teve Potência de x e só passou de PX para AX pela ajuda de outro ente 4 que tinha a qualidade x em Ato. E assim por diante.

    PX ---> AX PX (5) ---> AX PX (4) ---> AX PX (3) ---> AX PX (2) ---> AX (1)

    Esta seqüência de mudanças ou é definida ou indefinida. Se a seqüência fosse indefinida, não teria havido um primeiro ser que deu início às mudanças.

    Noutras palavras, em qualquer seqüência de movimentos, em cada ser, a potência precede o ato. Mas, para que se produza o movimento nesse ser, é preciso que haja outro com qualidade em ato.

    Se a seqüência de movimentos fosse infinita, sempre a potência precederia o ato, e jamais haveria um ato anterior à potência. É necessário que o movimento parta de um ser em ato. Se este ser tivesse potência, não se daria movimento algum. O movimento tem que partir de um ser que seja apenas ato.

    Portanto, a seqüência não pode ser infinita.

    Ademais, está se falando de uma série de movimentos nas coisas que existem no universo.

    Ora, esses movimentos se dão no espaço e no tempo. Tempo-espaço são mensuráveis. Portanto, não são movimentos que se dão no infinito.

    A seqüência de movimentos em tempo e espaço finitos tem que ser finita.

    E que o universo seja finito se compreende, por ser ele material. Sendo a matéria mensurável, o universo tem que ser finito.

    Que o universo é finito no tempo se comprova pela teoria do Big Bang e pela lei da entropia. O universo principiou e terá fim. Ele não é infinito no tempo.

    Logo, a seqüência de movimentos não pode ser infinita, pois se dá num universo finito.

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