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Talvez o mais simples e fácil de se
compreender seja o argumento da Causa Primeira.
Afirma-se que tudo o que vemos neste
mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais
causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira
se dá o nome de Deus.
Esse argumento, creio eu, não tem
muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa já não é bem o que
costumava ser.
Os filósofos e os homens de ciência
têm martelado muito a questão de causa, e ela não possui nada que se assemelhe
à vitalidade que tinha antes; mas, à parte tal fato, pode-se ver que o
argumento de que deve haver uma Causa Primeira é um argumento que não pode ter
qualquer validade.
Posso dizer que quando era jovem e
debatia muito seriamente em meu espírito tais questões, eu, durante muito
tempo, aceitei o argumento da Causa Primeira, até que, certo dia, aos dezoito
anos de idade, li a Autobiografia de John Stuart Mill, lá encontrando a
seguinte sentença:
“Meu pai ensinou-me que a pergunta
‘Quem me fez?’ não pode ser respondida, já que sugere imediatamente a pergunta subsequente:
‘Quem fez Deus?’”. Essa simples sentença me mostrou, como ainda hoje penso, a
falácia do argumento da Causa Primeira.
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Se tudo tem de ter uma causa, então
Deus deve ter uma causa.
Se pode haver alguma coisa sem causa,
pode ser muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver
validade alguma em tal argumento.
Este é exatamente da mesma natureza
que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o
elefante sobre uma tartaruga, e quando alguém perguntava: “E a tartaruga?”, o
indiano respondia: “Que tal se mudássemos de assunto?”
O argumento, na verdade, não é melhor
do que este. Não há razão pela qual o mundo não pudesse vir a ser sem uma causa;
por outro lado, tampouco há qualquer razão pela qual o mesmo não devesse ter
sempre existido.
Não há razão, de modo algum, para se
supor que o mundo teve um começo. A idéia de que as coisas devem ter um começo
é devida, realmente, à pobreza de nossa imaginação.
Por conseguinte, eu talvez não
precise desperdiçar mais tempo com o argumento acerca da Causa Primeira.
PALESTRA COMPLETA
PALESTRA COMPLETA
Ae querido Romero, visitando este teu blog q aprecio muito meu amigo!!
ResponderExcluirObrigado Gisele.
ResponderExcluirSempre tecendo elogios a minha maneira de pensar.
Adoro Você.
Um beijo no seu coração.
As perfeições existentes são ditas existentes em Ato.
ResponderExcluirAs perfeições que podem vir a existir num sujeito são existentes em Potência passiva. Assim, uma parede branca tem brancura em Ato, mas tem cor vermelha em Potência.
Mudança ou movimento é pois a passagem de potência de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato.
M = PX ---->> AX
Nada pode passar, sozinho, de potência para uma perfeição, para o Ato daquela mesma perfeição. Para mudar, ele precisa da ajuda de outro ser que tenha aquela qualidade em Ato.
Assim, a panela pode ser aquecida. Mas não se aquece sozinha. Para aquecer-se, ela precisa receber o calor de outro ser - o fogo - que tenha calor em Ato.
Outro exemplo: A parede branca em Ato, vermelha em potência, só ficará vermelha em Ato caso receba o vermelho de outro ser - a tinta - que seja vermelho em Ato.
Noutras palavras, tudo o que muda é movido por outro. É movido aquilo que estava em potência para uma perfeição. Em troca, para mover, para ser motor, é preciso ter a qualidade em ato. O fogo (quente em ato) move, muda a panela (quente em potência) para quente em ato.
Ora, é impossível que uma coisa esteja, ao mesmo tempo, em potência e em ato para a mesma qualidade.
Ex.: Se a panela está fria em ato, ela tem potência para ser aquecida. Se a panela está quente em ato ela não tem potência para ser aquecida.
É portanto impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição. É impossível, pois, que uma coisa mude a si mesma.
Tudo o que muda é mudado por outro.
Tudo o que se move é movido por outro.
Se o ente 1 passou de Potência de x para Ato x, é porque o ente 1 recebeu a perfeição x de outro ente 2 que tinha a qualidade x em Ato.
Entretanto, o ente 2 só pode ter a qualidade x em Ato se antes possuía a capacidade - a potência de ter a perfeição x.
Logo, o ente 2 passou, ele também, de potência de x para Ato x. Se o ente 2 só passou de PX para AX, é porque ele também foi movido por um outro ente, anterior a ele, que possuía a perfeição x em Ato.
Por sua vez, também o ente 3 só pode ter a qualidade x em Ato, porque antes teve Potência de x e só passou de PX para AX pela ajuda de outro ente 4 que tinha a qualidade x em Ato. E assim por diante.
PX ---> AX PX (5) ---> AX PX (4) ---> AX PX (3) ---> AX PX (2) ---> AX (1)
Esta seqüência de mudanças ou é definida ou indefinida. Se a seqüência fosse indefinida, não teria havido um primeiro ser que deu início às mudanças.
Noutras palavras, em qualquer seqüência de movimentos, em cada ser, a potência precede o ato. Mas, para que se produza o movimento nesse ser, é preciso que haja outro com qualidade em ato.
Se a seqüência de movimentos fosse infinita, sempre a potência precederia o ato, e jamais haveria um ato anterior à potência. É necessário que o movimento parta de um ser em ato. Se este ser tivesse potência, não se daria movimento algum. O movimento tem que partir de um ser que seja apenas ato.
Portanto, a seqüência não pode ser infinita.
Ademais, está se falando de uma série de movimentos nas coisas que existem no universo.
Ora, esses movimentos se dão no espaço e no tempo. Tempo-espaço são mensuráveis. Portanto, não são movimentos que se dão no infinito.
A seqüência de movimentos em tempo e espaço finitos tem que ser finita.
E que o universo seja finito se compreende, por ser ele material. Sendo a matéria mensurável, o universo tem que ser finito.
Que o universo é finito no tempo se comprova pela teoria do Big Bang e pela lei da entropia. O universo principiou e terá fim. Ele não é infinito no tempo.
Logo, a seqüência de movimentos não pode ser infinita, pois se dá num universo finito.