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sexta-feira, 14 de junho de 2013

INQUISIÇÃO NA PARAÍBA





Se o teu irmão, filho de tua mãe
ou teu filho ou tua filha, ou tua mulher que repousa sobre o teu seio, ou o amigo a quem amas como à tua alma, te quiser persuadir, dizendo-te em segredo: Vamos, e sirvamos a deuses estranhos (...), não cedas ao que te diz, nem o ouças, nem teus olhos lhe perdoem (...), mas logo o matarás; seja a tua mão a primeira sobre ele, e depois todo o povo lhe ponha a mão. (...)Se ouvires alguns que dizem: Alguns filhos de Belial saírem do meio de ti, e perverteram os habitantes da sua cidade, e disseram: Vamos e sirvamos aos deuses estranhos, que vós não conheceis; informa-te com solicitude e diligência, e, averiguada a verdade do fato, se achares ser certo o que se disse, e que, efetivamente se cometeu tal abominação, imediatamente farás passar à espada os habitantes daquela cidade; e destruí-la-ás com tudo que há nela, até aos gados. Juntarás também no meio das suas praças todos os móveis que nela se acharem, e queimá-los-ás juntamente com a cidade, de maneira que consumas tudo em honra do Senhor teu Deus, e que seja um túmulo perpétuo, e não seja mais reedificada, e não se te pegará às mãos nada deste anátema, para que o Senhor aplaque a ira do seu furor, e se compadeça de ti (...).” (Bíblia Sagrada, Deuteronômio, 13, 6-9 e 12-27. Grifos nossos.),



No ano de 1492 cerca de 93 mil judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos e refugiaram-se em Portugal onde o rei Dom Manuel I, se mostrava mais tolerante com a comunidade judaica. A partir de 1497 os reis católicos pressionaram o reino português na questão do asilo dado aos judeus, o que fez com que Dom Manuel obrigasse a conversão forçada dos judeus. Estes judeus convertidos por decreto passaram a ser conhecidos como cristãos-novos.

Em 1506 o “Pogrom” de Lisboa ou a Matança da Páscoa, resultou na morte de aproximadamente 3000 judeus, incitados pelos prelados onde  são trucidados pelos piedosos católicos em praça pública. 

Essa perseguição ferrenha aos judeus que se deu na época dos descobrimentos, motivou a corrida de muitos judeus para o Novo Mundo, incluindo o Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Pernambuco e Paraíba.

Paraiba Judaica

Desde o século XVI a Paraíba foi um foco de judaísmo. Os cristãos-novos que aqui viviam não eram abastados como os da Bahia ou do Rio de Janeiro, mas também tinham algumas posses. Tiravam sua subsistência da agricultura e possuíam alguns escravos. Seu número cresceu após a expulsão dos holandeses, quando judeus que não quiseram deixar o Brasil penetraram fundo no sertão.

Não demorou muito para que os judeus que fixaram residência por aqui e os paraibanos descendentes de judeus aparecem como suspeitos de judaísmo. O primeiro visitador que a Inquisição mandou ao Brasil no ano de 1595, Heitor Furtado, já teve ordem de investigar a Paraíba. João Nunes, cristão-novo que aí viveu em fins do século XVI, e teve importante papel na colonização local, foi denunciado por ter dito “quando me ergo pela manhã que rezo uma Ave Maria, amarga-me a boca”.

Segundo dados obtidos do site do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, a cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves (João Pessoa), no ano de 1625 – 40 anos de sua fundação, tinha cerca de 80 casas, 3 igrejas e 3 conventos o que, pela proporção, dá par se notar o valor da Igreja durante a colonização.

Pesquisas mais exaustivas poderão esclarecer ainda obscuros ângulos da realidade dos ‘judeus’ da Paraíba. As suspeitas aparentes repetiam as seculares acusações de que “faziam ajuntamentos”, costumavam estar na Igreja com muito pouco acato e reverência no tempo em que se alevantava o “Santíssimo Sacramento” quando falavam uns com os outros, e não traziam livros de rezas nem de contas”.

A chegada aqui do Santo Ofício, em 1595, não teve muita repercussão porque a população era muito pequena, foram cerca de 16 denúncias e os casos mais interessantes foram de bigamia e sodomia, embora tivessem alguns casos judaizantes.

 Na quaresma de 1673, a Inquisição de Lisboa ordenou que se publicasse um edital na igreja de Nossa Senhora das Neves, chamando todos fieis católicos a vir denunciar sob pena de excomunhão. Deviam contar tudo que presenciaram ou “ouviram” contra a Santa Fé Católica. O vigário da Igreja de Nossa Senhora das Neves, padre Francisco Arouche e Abrantes, leu o edital no púlpito. A população se agitou e de boca em boca corria a notícia da excomunhão. Amedrontados, sussurravam que as iras do inferno iriam desabar sobre os cúmplices.

 Acontece então algo surpreendente: apenas oito pessoas se apresentaram perante o vigário para cumprir as ordens da Igreja. Todos repetiram que o faziam por medo. Durante os treze meses que durou o inquérito, de 26 de fevereiro de 1673 a 20 de março de 1674, o vigário ouviu apenas as denúncias desses oito paraibanos. A maioria dos denunciantes pertencia à governança. A população que ouviu a chamada da Igreja não compareceu para denunciar.

Esse fenômeno já se havia passado na Bahia, durante a “grande inquirição” de 1646. Os oito denunciantes repetiram que “ouviram dizer” sobre feitiçarias e superstições, mas principalmente sobre “judaísmo”. Na Paraíba, a heresia judaica se entende durante séculos. Na investida inquisitorial do século XVIII, quando são presos em poucos anos cerca de cinqüenta paraibanos, as evidências sobre as ‘sinagogas’ e as reuniões secretas aumentaram. O Santo Ofício obteve vantagens econômicas com suas prisões, cujo montante ainda não foi avaliado.

Passemos ao século XVIII, onde poderemos focalizar as famílias de judeus da Paraíba.

Posso mostrar-lhe um impresso, de autoria de Sérgio Maia, onde se vê a Capela do Engenho Santo André, e onde foram travadas renhidas batalhas contra os holandeses. Hoje existem apenas ruínas. O Engenho Santo André é hoje a usina de açúcar Santana, no município atual de Santa Rita, Paraíba, disse o professor Carlos André Macêdo Cavalcanti.

Continuando diz o historiador Carlos André que nesse Engenho Santo André viveu Clara Henriques da Fonseca, condenada pela Inquisição de Lisboa, em 17 de junho de 1731. Era mãe de Antônio da Fonseca Rego, morador no Engenho Velho, município de Santa Rita, condenado em 6 de julho de 1732. Antônio da Fonseca Rego casou com Maria de Valença, natural do Engenho do Meio, também na várzea do rio Paraíba, também condenada pela Inquisição de Lisboa em 17 de junho de 1731 e em 20 de julho de 1756 a cárcere e hábitos perpétuos sem remissão. 

Foram dois processos. São os pais dele Joana Nunes da Fonseca, casada com João Soares Filgueira. O casal já era falecido em 1777. Residia na serra do Martins, Rio Grande do Norte, fugindo da Inquisição portuguesa. São pais dele Florência Nunes da Fonseca, casada com João Francisco Fernandes Pimenta. Abandonando o refúgio da serra do Martins, o casal foi residir em Catolé do Rocha, na Paraíba, no início do século XIX. Três filhas do casal casaram com dois filhos de Antônio Ferreira Maia. Cosma casou com Francisco Alves Maia, ela falecida em 2 de março de 1827, ele falecido em 5 de agosto de 1831. Damiana casou com Manoel Alves Ferreira Maia, foi sua primeira mulher e Maria, a terceira filha dos descendentes judeus, também casou com o cunhado, o viúvo Manoel Alves Ferreira Maia.

Grande parte da família Maia do Catolé do Rocha tem como herança o sangue dos hebreus, que se perpetua através dos tempos em todas as partes do globo terrestre. Américo Sérgio Maia, autor destes apontamentos a que agora me refiro, é descendente de Cosma e Damiana por parte de pai e parte de mãe.

Por aqui vocês vêem a dimensão lírica da História, o emocionante disso tudo, abrangendo um casal e toda uma família vítima da Inquisição, que foi levada para Lisboa e tiveram destinos trágicos.

Mas, a História continua. Quando falo nessa dimensão lírica é para realçar essa capacidade, essa potencialidade, a força que vem da própria vida, que nem a Inquisição, nem o nazismo, nem nenhum regime totalitário é capaz de matar. A vida continua devido a esse impulso lírico.

Vemos também, dentro da História da Paraíba, o deslocamento de famílias, de núcleos familiares daqui da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará para o interior, para o sertão. O que se deu juntamente no século XVIII no momento em que se intensificava o povoamento do sertão.

Assim, quero continuar falando sobre essa família ilustre da Paraíba.

Antônio da Fonseca Rego era filho de Clara Henriques, como vocês viram. Clara Henriques é uma figura que emociona quando a gente passa a vista no rol dos culpados registrados no livro de Anita Levinsky, porque ela emerge como a própria figura da máter dolorosa. Ela era uma senhora de 71 anos, uma matriarca, parente de todo mundo, porque esses cristãos-novos daqui da várzea da Paraíba eles constituíam uma grande família: os Fonseca, os Henriques, Nunes, Pereira, Chaves. Mas todos entrelaçados e descendentes de dois casais que remontam à época dos holandeses. De Ambrósio Vieira, casado com Joana do Rego, que por sinal se multiplicam essa Joana do Rego, de geração em geração e Diogo Nunes Tomaz, casado com Guiomar Nunes, que também tem outra seqüência de Guiomar Nunes.

 Pois bem, Clara Henrique morava no Engenho de Santo André, ali num sítio histórico, e ali toda essa comunidade se reunia. Se eles foram processados, não foram inocentes, porque eles realmente judaizavam. Nas suas reuniões celebravam seus sabás, os jejuns de expiação e todo o ritual do calendário judaico.

Clara Henriques foi uma grande figura e foi presa quando já era viúva; foi para Portugal e não voltou. Deve ter morrido. Antônio da Fonseca Rego foi acusado de judaísmo e feitiçaria. Maria de Valença, que foi processada duas vezes, na primeira foi levada para Portugal em 1731. Quando foi posta em liberdade não pôde voltar e foi acolhida numa casa de cristão-novos, por sinal na casa de um irmão do teatrólogo Antônio José da Silva. Como se sabe, naqueles interrogatórios da Inquisição a pressão era muito grande, e por conta disso ela denunciou o marido, e quando ele chegou lá denunciou o filho Simão, que deveria ter uns 15 anos. Simão depois se tornou um olheiro, um espião a serviço da Inquisição. 

Eu pergunto, prossegue o professor Carlos André, teria sido uma lavagem cerebral? Simão quando foi solto ficou abrigado na mesma casa onde a mãe estava e denunciou que ela estava preparando o jejum da expiação. Justamente quando estavam reunidos na casa de um cunhado, para iniciar o jejum, chega o pessoal da Inquisição e prende todo mundo. É esta a prisão de Clara pela segunda vez, que já não andava boa do juízo. O processo vai para Roma, demora sete anos para voltar para Lisboa, sem uma solução em face da sua doença mental. Como não soubessem o que fazer com ela, mandaram-na para Évora, sendo afinal libertada, tendo morrido na miséria, mendigando nas ruas de Évora.

Simão foi mandado para o Rio de Janeiro e durante a viagem endoideceu, e ficava dizendo que era judeu, talvez por remorso, retornando do Rio para Lisboa.

Tem também o processo de Luiz de Valença. Vamos ter notícia de Luiz de Valença porque ele compareceu no mesmo auto de fé do padre Malagrida, tendo morrido no cárcere.

Com esse relato vocês podem ter uma idéia do que significou a Inquisição na Paraíba. Outra família que também se tem notícia é a de João Inácio Cardoso Darão. Esse conseguiu fugir aqui das perseguições, foi para o Ceará e lá se casou com uma moça da família Alencar, em Barbalha. Depois volta e se refugia em Mari do Seixas, saindo de lá para Pombal. Era uma família de artesãos, que passaram a arte da ourivesaria para os filhos.

Era uma família pequena. João Inácio era casado com Catarina Liberato de Alencar. Deles descende o professor Inácio Tavares de Araújo e José Romero Araújo Cardoso, que é escritor e professor de Geografia em Mossoró. O interessante dessa família é que eles conservaram na memória familiar a sua ascendência judaica e conservam viva  na memória a história de Branca Dias, da Branca Dias da Paraíba..

Segundo o professor Inácio, na memória da família (não tem documento) João Inácio e Francisco se diziam que eram filhos de Simão Dias Cardoso de Araújo, morador no Engenho Velho, nas margens do Gramame. Ora, esse Simão Dias aqui da margem do Gramame é dado, embora não tenha documentação, como pai da própria Branca Dias. Estou apenas passando aquilo que colhi na família.

No rol de culpados de Anita Novinsky nós vamos encontrar um João Almeida, um Inácio Cardoso e um Pedro Cardoso, filhos de Francisco Cardoso. Mas esse Francisco Cardoso era o senhor do engenho, do Engenho Tibiri. Acredito que haja uma relação desses três com essa descendência de  João Inácio Como se vê, a história continua através da família, que é instituição legítima, primeira da sociedade.

No rol dos culpados de Anita Novinsky, vamos encontrar um Manoel Homem, cristão-novo, natural do Engenho das Tabocas e morador no Taipu. Viúvo, senhor de engenho, filho de Antônio de Figueiroa, lavrador de cana. Testemunha: Antônio Nunes Chaves, 12 de maio de 1732. E nada mais consta.

Mas acontece que no volume II, da NOBILIARQUIA PERNAMBUCANA, vamos encontrar o seguinte: e o sobredito, Manoel Homem de Figueiroa, que ainda vive em crescida idade, foi filho de Antônio de Figueiroa, que o era de Jorge Homem Pinto e de sua mulher D. Ana de Carvalho.

Na mesma fonte encontra-se que Antônio de Figueroa teria nascido em 1634 e Jorge Homem Pinto falecido em 1651. Poderíamos fazer uma relação entre esse número Homem constante do rol dos culpados com esse Manoel Homem citado por Borges da Fonseca (fica em aberto o assunto; trouxe-o apenas para ilustrar).

Manoel Homem foi casado com Margarida de Albuquerque, herdeira do Taipu. Dessa descendência se encaminha (faltam alguns zeros) para José Lins do Rego.

 Outra família: Diogo Nunes Tomaz, esse é o segundo nome. Foi casado com D. Vitória Barbalha Bezerra, neta por via materna de Duarte Gomes da Silveira. Ele é um ramo do morgado. Como ela não mostrou arrependimento, foi queimada viva. Ela morava no Engenho Santo André, mas era pernambucana, tanto que lá é tida como heroína, e nós também, porque ela morava aqui. Ele era da vila de Serinhaém, e morador na Paraíba. Lá no rol dos culpados ele é dado sem ofício, já devia ser um homem idoso. Era pai de Diogo Nunes Tomaz, casado com Catarina Ferreira Barreto, que foi preso em 1729 e vemos, através de depoimento, porque não houve inventário, que ele era primo da morgada.

Esse é o Brasil dos 500 anos, o  Brasil das nossas raízes, porque não se pode fazer uma comemoração, escrever-se sobre a nossa história sem a história das nossas famílias, a história dos povoadores desses nossos municípios, porque eles é que realmente fizeram a história.

Sugestão de Leitura
Branca Dias

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Parlamento russo aprova uma nova lei de blasfêmia quando os manifestantes pedem estado laico


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O Parlamento da Rússia aprovou por maioria esmagadora uma nova lei da blasfêmia permitindo penas de prisão de até três anos para "ofender sentimentos religiosos", uma iniciativa lançada na esteira do julgamento contra o anti-Kremlin banda punk Cona motim.

Sob a nova lei proposta, os cidadãos russos teriam de enfrentar um ano de prisão por "intencional" e exibe "públicos" que causam "ofensa aos sentimentos religiosos", e até três anos de prisão por profanar lugares religiosos e apetrechos ".


Mikhail Markelov, um membro do governante partido Rússia Unida, disse: "Nós não estamos falando sobre o termo subjetivo" ofensa religiosa ", que é reconhecidamente difícil de qualificar a lei só pune atos públicos que, obviamente, sair do seu caminho para insultar. uma religião. " Ela disse que a nova lei foi "esculpido à perfeição, e reflete os desejos da maioria da nossa sociedade."

FONTE
VLADIMIR PUTIN

Estamos testemunhando o retrocesso intelectual da Rússia. A Lei da Blasfêmia que imputa pena de até 3 anos a quem proferir palavras que ultrajem a divindade ou a religião nos remete ao antigo Império Romano, quando Teodosio publicou o Edito de Tessalônica no dia 27 de fevereiro do ano 380.

Este filme já assistimos, é de Terror.

Enquanto isso, na cidade de Tomsk, os manifestantes se reuniram para um comício de um Estado laico e liberdade de consciência.

SABER MAIS

QUEM COCHICHA, O RABO ESPICHA



 Мы являемся свидетелями вывода русского интеллигента. Закон о богохульстве, что вменяет штраф в размере до 3-х лет, кто произносит слова, которые возмущение божества или религии приводит нас к древней Римской империи, когда Феодосий издал Указ Солунского 27 февраля этого года 380.

Этот фильм уже видел, это террор.

INQUISIÇÃO TOMMASO CRUDELI


Poeta Italiano,

Em 09 maio 1739 , ele foi preso e trancado em Florence nas prisões da Inquisição em Santa Croce. Depois de 16 meses em condições adversas, entre as muitas, sangrentas tentativas de extorsão por parte do Santo Ofício, em agosto de 1740 Cruel Thomas foi condenado por impiedade  e confinado em sua casa, em Poppi , mas seu físico, já minado pela tuberculose, foi finalmente selado. 

Em 27 março 1745 , ele morreu em Poppi em casa. Sua obra literária foi definido como ' Index e seus irmãos tiveram de desconsiderar todo o trabalho de articulação. Também como resultado da convicção do Crudeli, o Grão-Ducado da Toscana fechou o Tribunal do Santo Ofício em 1743 , timidamente, em 1782 e, finalmente, com a demolição do material de construção.


Recomenda-se a leitura dos livros ou sites quando indicados como fontes. Os posts contidos neste blogger são pequenos apontamentos de estudos.

terça-feira, 11 de junho de 2013

INQUISIÇÃO – GABRIEL MALAGRIDA



Auto-de-fé do Padre Gabriel Malagrida




Gabriel Malagrida foi um jesuíta italiano nascido em Menaggio em 5 de dezembro de 1689,  martirizado em praça pública do Rossio, pelo Santo Ofício sob a acusação de falso profeta e herege em Lisboa, Portugal. Foi enforcado e logo em seguida queimado em um auto-de-fé na noite de 21 de setembro de 1761.

INÍCIO DA VIDA

Foi seminarista aos 12 anos e mostrando-se interessado na vida religiosas, foi mandado para faculdade de Helvética em Milão onde concluiu seus estudos em filosofia e teologia. Enviado ao Brasil como missionário, Gabriel Malagrida chegou na cidade de Belém no estado do Pará em 1721 com o pretexto de aprender o idioma indígena para fins de catequese.

Decorridos dois anos, Malagrida segue para o estado do Maranhão e passa a conviver com os índios que habitavam as margens dos rios Itapicuru e Mearim, sofrendo constantes ameaças dos feiticeiros das tribos onde culparam o jesuíta pelo surto de febre ocorrido nas malocas.

Em 1729 deixou a vida selvagem e foi a convite lecionar no seminário de São Luis onde por seis anos formou novas turmas de futuros missionários jesuítas.

O ano de 1735 é marcado para Malagrida como o início de uma nova era de missões. Sai de São Luis e começa a pregar suas missões populares no sul do estado do Piauí, e demais estados nordestinos. Em Salvador no ano de 1738 funda o convento dos “Convertidos”. De 1741 a 1745 transita pelos estados de Pernambuco e Paraíba, sempre pregando missões populares e tomando a iniciativa de fundar conventos, orfanatos e seminários.

Em 1750 o padre jesuíta protetor dos índios, e semeador do conhecimento em terras brasileiras, volta a Portugal para conseguir fundos para ampliação de sua obra onde foi recebido com entusiasmo pelo Rei de Portugal, Dom João V. No ano seguinte volta para o Maranhão, e atendendo ao pedido da viúva Maria Anna de Áustria, mãe de Dom José I, volta a Portugal em 1754.


Marques de Pombal


A influência do padre Gabriel no Tribunal de Lisboa irritou o poderoso Primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, o futuro Marquês de Pombal. Começou a ver em Malagrida um entrave para seus negócios aqui no Brasil, principalmente no estado do Grão Pará onde Dom Francisco Xavier de Mendonça Furtado era o Governador. O Primeiro-ministro não só conhecia a atividade dos jesuítas na antiga região, incluindo Malagrida, Vieira e Eckart, mas também fez oposição aos missionários contra o projeto de modernização dos nativos com consequência direta na escravização indígena e construção de casas populares ao invés de aldeias. 

Eis que em 1755, Lisboa foi abalada por um grande terremoto. Malagrida aproveitando-se da catástrofe natural faz diversos sermões mostrando a ira de Deus e convocando o povo português a rever os seus costumes. Por outro lado o Primeiro-ministro manda imprimir alguns folhetos explicativos mostrando que o terremoto não passava de causas naturais. Carvalho convence o rei a banir Gabriel Malagrida que ficou confinado na cidade de Setúbal em novembro de 1756.

No exílio Gabriel Malagrida por infelicidade, recebe a visita de várias pessoas entre elas membros da família dos Távoras, de quem Carvalho nutria uma terrível inimizade.


Dom José I, Rei de Portugal

Em setembro de 1758 o rei Dom José I  ao passar durante a noite pelo palácio do Marquês de Távora em direção ao Palácio de Belém, sofreu um atentado na escuridão da noite. Carvalho mandou investigar o atentado e rapidamente dois cocheiros foram presos e torturados. As confissões implicaram o Marquês e a Marquesa de Távora. Deduziu Carvalho ser um complô para matar o rei e substituí-lo com o Duque de Aveiro.

Malagrida que havia voltado do exílio, foi preso e julgado juntamente com outros jesuítas por seu suposto envolvimento na trama. Gabriel Malagrida foi condenado por alta traição, mas não foi executado por este crime, visto que sendo um sacerdote não poderia ser executado sem o consentimento da Inquisição.

Em 1759 o Marquês de Pombal expulsa todos os jesuítas do reino de Portugal e todas as suas colônias confiscando os bens. O chamado terror pombalino remonta a esta época, começaram as expedições de intimações aos inimigos do Marquês de Pombal, seguido de mandado de prisões perpétuas, exílio e até morte.

Gabriel Malagrida foi uma das vítimas. Acusado de escrever dois tratados heréticos na prisão ditados por inspiração divina, que segundo seus acusadores vinham de “vozes angelicais que falavam com ele em sua cabeça”, contendo afirmações ridículas sobre a fé católica.

Esses escritos nunca foram comprovados e se contém tais informações ridículas como dizem os seus acusadores, deve ter sido provocado pelos horrores da prisão, tortura e maus tratos a ele infringidos, o que fez com que ele perdesse a razão nos dois anos e seis meses de prisão. (Enciclopédia Católica)


Em seguida, Carvalho publica dois livros com base nessas transcrições celestiais. O primeiro foi intitulado “O Anti-Cristo e o segundo foi intitulado “A Vida Heróica e Maravilhosa e Gloriosa de Santa Ana”, mãe da virgem Maria.

O irmão de Carvalho, Paulo de Carvalho Mendonça fora nomeado Inquisidor Geral, e “obteve” de Gabriel Malagrida na época com 72 anos, a confissão de culpa de obscenidade e blasfêmia sendo condenado à morte em 21 de setembro de 1761. Seu corpo foi levado para a forca da Praça do Rossio e em seguida, seu corpo foi queimado na fogueira e suas cinzas jogadas no Rio Tejo.


O auto de fé

(…) que com baraço e pregão seja levado pelas ruas públicas desta cidade  até à Praça do Rossio e que nela morra morte natural de garrote, e que, depois de morto, seja seu corpo queimado e reduzido a pó e cinza, para que dele e de sua sepultura não haja memória alguma” – e assim se cumpriu o fim de Gabriel Malagrida, após muitos meses de duras penas e sofrimentos vários nos cárceres. Acusado de heresia…

Gabriel Malagrida foi o último mártir a ser executado em praça pública em Portugal.

Com a publicação do novo Regimento para a Direção do Conselho Geral do Santo Ofício e Governo das Inquisições, decretado em nome do Inquisidor Geral e Regedor das Justiças, Cardeal da Cunha, que assumira em 1770 o cargo vago pela morte de Paulo de Carvalho, regimento, de inspiração pombalina, proíbe o segredo das testemunhas, os tormentos, as sentenças de morte baseadas no depoimento de uma só testemunha e os autos-de-fé realizados em público, estabelecendo, porém, exceções em que tormentos ou mesmo autos públicos pudessem ser executados em heresiarcas, dogmatistas, sigilistas e outros desvios considerados particularmente perigosos.

Os Autos da Fé poderiam continuar, mas seriam realizados em locais fechados, sem o aparato que até esse momento os caracterizara.

João Pessoa, a capital paraibana, homenageou o Padre Gabriel Malagrida com o nome de uma rua no centro da cidade antiga.

Recomenda-se a leitura dos livros quando indicados como fontes. Os posts contidos neste bloBranca Dias, outra vítima da Inquisição na Paraíbagger são pequenos apontamentos para fins de descristianização.



NOTA
GABRIEL MALAGRIDA também é cultuado na umbanda como – CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS.


. APA citação Ott, M. . (1910) . Gabriel Malagrida In . A Enciclopédia Católica New York:. Robert Appleton CompanhiaRetirado 11 de junho de 2013 a partir de New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/09565c.htm
MLA citação. Ott, Michael. "Gabriel Malagrida." A Enciclopédia Católica. vol. . 9 New York: Robert Appleton Company,1910. 11 de junho de 2013 <http://www.newadvent.org/cathen/09565c.htm>.



sábado, 8 de junho de 2013

INQUISIÇÃO PROTESTANTE NO RIO GRANDE DO NORTE






Em 16 de junho de 1645, o Padre André de Soveral e outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por 200 soldados holandeses e índios potiguares. Os fiéis estavam participando da missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú - no município de Canguaretama (RN). O que motivou a chacina? A intolerância calvinista dos invasores que não admitiam a prática da religião católica: isso custou-lhes a própria vida.



A chacina de Cunhaú

O movimento de insurreição contra o domínio holandês já começara em Pernambuco, mas, na capitania do Rio Grande do Norte, tudo parecia normal. Bastou, porém, a presença de uma só pessoa para que o clima se tornasse tenso: Jacó Rabe, um alemão a serviço dos holandeses. Ele chegara a Cunhaú no dia 15 de julho de 1645.

Rabe era um personagem por demais conhecido dos moradores de Cunhaú. Suas passagens por aquelas paragens eram freqüentes, sempre acompanhado dos ferozes tapuias, semeando por toda parte ódio e destruição. A simples presença de Rabe e dos tapuias era motivo para suspeitas e temores.

"Além dos tapuias, Jacó Rabe trazia, desta vez, alguns potiguares e soldados holandeses. Ele dizia-se portador de uma mensagem do Supremo Conselho Holandês, do Recife, aos moradores de Cunhaú.

No dia 16 de julho, Domingo, um grande número de colonos estava na igreja, para a missa dominical celebrada pelo Pároco, Padre André de Soveral. Jacó Rabe mandara afixar nas portas da igreja um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa.

Como havia um certo receio pela presença de Jacó Rabe, alguns preferiram ficar esperando na casa de engenho.

Chegou a hora da missa. Os fiéis, em grupos de familiares ou de amigos, dirigiram-se à igrejinha de Nossa Senhora das Candeias. Levados apenas por cumprir o preceito religioso, os fiéis não portavam armas, mas só alguns bastões que encostaram nas paredes do pórtico.

O Padre André inicia a celebração. Após a elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor, para a adoração dos presentes, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da Igreja e se deu início à terrível carnificina.

Foram cenas de grande atrocidade: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelo flamengos com a ajuda dos tapuias e potiguares.

Ao perceber que iam ser mesmo sacrificados, os fiéis não se rebelaram. Ao contrário, entre mortais ânsias se confessaram ao sumo sacerdote Jesus Cristo, pedindo-lhe, com grande contrição, perdão de suas culpas, enquanto o Pe. André estava 'exortando-os a bem morrer, rezando apressadamente o ofício da agonia" (Verdonk).


Chacina de Uruaçu

Três meses depois aconteceu o martírio de mais 80 pessoas, e sempre pelas mãos dos calvinistas holandeses. Entre elas estava o camponês Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas, enquanto repetia a frase: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento". Isso aconteceu na Comunidade de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante (a 18 km de Natal).

Contam os cronistas que as notícias dos graves e dolorosos acontecimentos de Cunhaú se espalharam rapidamente por toda a capitania do Rio Grande do Norte e capitanias vizinhas. A população ficou assustada e temia novos ataques dos tapuias e potiguares, instigados pelos holandeses.

Também desta vez tudo aconteceu sob o comando de Rabe, ajudado pelo chefe potiguar Antônio Paraopaba.

Os índios já tinham sido avisados das intenções dos dois e lá estava o chefe potiguar com os seus comandados: mais de duzentos índios, bem armados.

Logo que desceram dos batéis, os flamengos ordenaram aos moradores que se despissem e se ajoelhassem. A um sinal dado por eles, os índios, que estavam emboscados, saíram dos matos e cercaram os indefesos colonos.

Teve início, então, a terrível carnificina, descrita com impressionante realismo pelos cronistas portugueses. Nas descrições, nota-se o contraste entre a crueldade dos algozes e a resignação e o perdão das vítimas:

"Começaram a dar tão desumanos e atrozes tormentos aos homens que já muitos dos que padeciam tomavam por mercê a morte. Mas os holandeses usaram da última crueldade entregando-os aos tapuias e potiguares, que ainda vivos os foram fazendo em pedaços, e nos corpos fizeram anatomias incríveis, arrancando a uns os olhos, tirando a outros as línguas e cortando as partes verendas e metendo-lhas nas bocas..." (Santiago).

A descrição da morte de Mateus Moreira é o ponto mais expressivo de toda a narrativa de Uruaçu e constitui um dos mais belos testemunhos de fé na Eucaristia, confessada na hora do martírio.

"Os algozes arrancaram-lhe o coração pelas costas, e ele morreu exclamando: 'Louvado Seja o Santíssimo Sacramento."




LIVROS PUBLICADOS SOBRE O TEMA

Ao longo dos 354 anos, historiadores, jornalistas e escritores têm feito freqüentes referências ao acontecimento. Três livros merecem destaque: Protomártires do Brasil, do Mons. Francisco de Assis Pereira; 

Terras de Mártires, da jornalista Auricéia Antunes de Lima; 

Mártires de Cunhaú e Uruaçu, do Pe. Eymard L.E. Monteiro.


Recomenda-se a leitura dos livros quando indicados como fontes. Os posts contidos neste blogger são pequenos apontamentos de estudos.
 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

INQUISIÇÃO EM PERNAMBUCO




Em 1593, quando estava a capitania duartina posta em sossego chega do Recife, em 21 de setembro, o visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendoça e seus oficiais procedentes da capitania da Bahia.

O inquisidor demorou-se no Arrecife, como era então denominado o Recife, até o dia 24, quando lhe foi mandado de Olinda um bergantim que o conduziu, pelo rio Beberibe, até o Varadouro onde já estava a sua espera uma grande comitiva, tendo à frente Dom Felipe Moura, então no governo da capitania, e o licenciado Diogo do Couto, ouvidor da vara eclesiástica, com muitos clérigos, o ouvidor-geral do Brasil, Gaspar de Figueiredo Homem, e demais pessoas gradas, além das companhias e bandeiras dos regimentos militares.

Ao desembarcar no Arrecife, como ele denomina no termo de abertura da Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil, o inquisidor pôde comprovar a grandeza da capitania, que em 1583 fora objeto de carta do jesuíta Fernão Cardim, na qual afirmara possuir Pernambuco, entre outras coisas, 66 engenhos com uma produção correspondente a 200 mil arrobas, sendo o seu porto visitado anualmente por mais de 45 navios.

A presença de um representante da Inquisição de Lisboa, em busca de apurar possíveis práticas judaizantes, veio revelar aspectos da vida privada dos habitantes de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, naquele final de século XVI, como se depreende dos depoimentos que integram os volumes das Confissões e Denunciações, cuja edição conjunta vem a ser publicada em 1984. 

Não se trata de descrições da paisagem, da fauna, da flora e dos nativos, comuns nas crônicas dos viajantes e cartas jesuíticas, mas aspectos mais recônditos da vida privada de seus habitantes que, sob ameaças de penas espirituais, traziam para os autos ricas narrativas com respeito ao dia-a-dia de cada um.

De suas narrativas podemos vislumbrar as relações familiares, a vida sexual, os filhos legítimos, legitimados e bastardos, a prática da prostituição e do adultério, casos de bigamia, pecados sexuais contra a natureza (sodomia, pederastia, lesbianismo), batizados, casamentos, festas de igreja, ensino de primeiras letras, tarefas domésticas, a vida no campo e na vila, maneiras de trajar, sistemas de transporte, alimentação, práticas de feitiçarias, procedência do elemento escravo (negros e indígenas), os primeiros advogados, médicos, boticários, as manifestações de música e teatro, a luta contra os índios e contra os corsários. Aspectos interessantes da presença dos corsários de James Lancaster e João Vernner, que aportaram no Recife em 24 de março de 1595, são ali encontrados. Eles permaneceram no Arrecife durante 31 dias e de lá saíram com 15 navios carregados das mais diferentes riquezas, inclusive com as alfaias da igreja do Corpo Santo.

Caracterizou-se a 1ª Visitação do Santo Ofício a Pernambuco pela criação de um "Tribunal da Inquisição em Olinda", como bem observa José Antônio Gonçalves de Mello em sua obra citada. O inquisidor Heitor Furtado de Mendoça, não somente determinou a prisão de alguns denunciados, como também os mandou aos cárceres da Inquisição em Lisboa. Mas, no que diz respeito aos processos "cujas culpas exigissem apenas abjuração de levi", como bigamia, sodomia, blasfêmia e outros, tinha o visitador e seus assessores autoridade suficiente para pronunciar a decisão final.

                            Observa o autor de Gente da Nação, serem "amplos pois, os poderes do tribunal olindense, e as penas por ele impostas eram acatadas por autoridades civis fora do Brasil, inclusive da metrópole, como nos casos de degredo e de galés". 

Justificando o seu raciocínio, Gonçalves de Mello chega a relacionar, com a devida numeração em que os autos se encontram no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 55 processos de réus cujas sentenças foram prolatadas pelo tribunal olindense. 




No que diz respeito a práticas judaizantes, "de todos os cristãos-novos de Pernambuco, nenhuns foram mais acusados perante a mesa do Santo Ofício do que Branca Dias, seu marido Diogo Fernandes e suas filhas do por cerimônias judaicas", segundo observa Rodolpho Garcia em seus comentários às Denunciações. 

Nesse aspecto, grande parte dos depoentes assinalavam a presença do casal como responsável pela instalação de uma sinagoga em terras do Engenho Camarajibe. Embora os dois denunciados não mais pertencessem ao mundo dos vivos, as denúncias terminaram por implicar alguns dos seus descendentes.

Dos filhos de Diogo Fernandes com Branca Dias havia vivos, em 1595, Jorge Dias da Paz (morador na Paraíba), Andresa Jorge, Beatriz Fernandes, que tinha os apelidos de Alcorcovada e Velha, além de uma filha adulterina do marido, havida em uma criada da casa, de nome Brijolândia Fernandes.

Muito embora fossem Branca Dias e Diogo Fernandes "já defuntos", as penas da Inquisição recaíram sobre sua filha, Beatriz Fernandes, que, presa em Olinda a 25 de agosto de 1595, foi remetida para Lisboa onde deu entrada nos Estaus (como era chamado o Paço e Cárceres da Inquisição, no Rossio) em 19 de janeiro de 1595. Débil mental e aleijada (daí o seu apelido de Alcorcovada), começou a confessar suas culpas judaicas em 3 de dezembro de 1597; submetida à Câmara de tormento, em 31 de dezembro de 1598, é finalmente condenada por abjuração - culpas no judaísmo - com sentença de excomunhão maior e confisco de todos os seus bens. 

Findo o processo, participou do auto-de-fé de 31 de janeiro de 1599 e, ao contrário do que informa Pereira da Costa (in RIAP, v. VII, n.46, p. 146), não foi condenada à fogueira pois anda vivia, em Lisboa, no ano de 1604. (Processo nº 4580 da Inquisição de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa).

Segundo José Antônio Gonçalves de Mello, 5 em conseqüência dos depoimentos de Beatriz Fernandes, outros filhos e netos do casal de judaizantes foram levados ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa: a sua irmã Andresa Jorge, que ingressou nos Estaus em 16 de dezembro de 1599 (Processo nº 6321), juntamente com uma filha, Beatriz de Souza (Processo nº 4273), e duas sobrinhas, estas filhas de Filipa da Paz, Ana da Costa Arruda (Processo nº 11.116) e Catarina Favela (Processo nº 2304) A última, quando do seu depoimento de 8 de janeiro de 1600, revelou ter 17 anos de idade. Submetidas ao tormento são condenadas como suspeitas de levi na fé e vão ao auto de 3 de agosto de 1603. 

Das quatro implicadas, apenas Andresa Jorge recebe ordens de retornar ao Brasil em 4 de setembro de 1603.

Outra implicada pelo depoimento de Beatriz Fernandes, débil mental, foi a sua irmã por parte de pai, Brijolândia Fernandes (Processo nº 9417), que chegando aos cárceres da Inquisição em 16 de dezembro de 1599 participa do auto-de-fé, com suspeitas de vehementi, de 3 de agosto de 1603.

Quanto a Jorge Dias da paz, citado nas págs. 58, 94, 95, 149 e 151 das Denunciações, não consta haver ou não se conservou processo no cartório da Inquisição de Lisboa.

Em torno de Branca Dias foram criadas várias lendas. Muito embora já houvesse falecido quando da instalação da Visitação do Santo Ofício, em 1593, o seu nome aparece entre as vítimas da Inquisição. Tal afirmativa, encontrada em outros cronistas, vem da lenda que deu origem à denominação do riacho e do açude do prata em terras do subúrbio recifense de Dois Irmãos: Segundo a lenda a denominação viria da prata jogada por Branca Dias, naqueles dois cursos d'água, quando da chegada da Inquisição a Pernambuco.

Rodolpho Garcia, no seu bem elaborado estudo introdutório às Denunciações de Pernambuco, faz referência ao drama histórico Branca Dias dos Apipucos, escrito na segunda metade do século XIX, citado na obra Pernambucanas Ilustres, de Henrique Capitulino Pereira de Mello, publicada no Recife em 1879. 

De Pernambuco, a lenda de Branca passa para a Paraíba onde aparece, em 1905, em O Livro de Branca. O seu autor, José Joaquim de Abreu, diz ter Branca Dias nascido na Paraíba, em 15 de julho de 1734, tendo sido imolada na fogueira da Inquisição, em Lisboa, no auto-de-fé de 20 de março de 1761. Além deste, outros exemplos são relacionados por àquele autor da introdução que faz às Denunciações.

Com base em tal lenda o teatrólogo contemporâneo Dias Gomes escreveu a peça O Santo Inquérito, transformada em programa radiofônico e em especial para televisão, a qual sempre desperta as atenções do grande público em suas diversas montagens.

O edifício do Palácio da Inquisição de Lisboa, chamado de Estaus, era localizado no largo do Rossio. Ocupava toda a área do perímetro delimitado, nos dias atuais, pela praça D. Pedro IV, praça D. João da Câmara, ruas 1º de Dezembro, do Redentor e das Portas de Santo Antão, localizando-se sua frente principal no hoje Teatro D. Maria I.

                            A sua descrição detalhada aparece na obra de Júlio Castilho Lisboa Antiga 7 e nas plantas copiadas do arquivo da Torre do Tombo, desenhada em 1634 por Matheus do Couto, "Arquiteto da Inquisição deste Reino", que incluem os aposentos (planta baixa) dos quatro pavimentos e os dois cadafalsos onde eram suplicados os condenados.

                            As atividades da Inquisição, iniciadas em Lisboa em 1540, prolongaram-se até 1821, quando veio a ser abolida por decreto das Cortes Portuguesas, datado de 31 de março daquele ano. "O terrível tribunal do Santo Ofício, na observação de Pereira da Costa, durante o tempo da sua existência celebrou nos quatro distritos de Lisboa, Évora, Coimbra e Goa, 760 autos-de-fé, em que figuraram 31.349 vítimas, das quais 1.075 foram relaxadas em carne (mortas nas fogueiras) e 638 queimadas em estátua por se acharem ausentes em países estrangeiros onde não podia chegar a autoridade da Inquisição. Nas vítimas da Inquisição, figuram 339 infelizes remetidos do Brasil, alguns dos quais pereceram nas chamas".    



  
Fonte:


Recomenda-se a leitura dos livros quando indicados como fontes. Os posts contidos neste blogger são pequenos apontamentos de estudos.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O QUE É HERESIA


Segundo Leonardo Boff o herege é:
«(…) aquele que se recusa a repetir o discurso da consciência colectiva. (…) Por isso está mais voltado para a criatividade e o futuro do que para a reprodução do passado.».

Para o catolicismo medieval eram consideradas heresias todas as formas de pensamento que não obedecessem estritamente às emanações da hierarquia da Igreja. Ou seja, eram hereges todos os que ousassem sair do controle rígido efetivado pela Igreja, todos os que não aceitassem as orientações, práticas, concepções e preconceitos da Igreja como sendo a verdade «absoluta». Assim, eram hereges todas as pessoas que acreditavam, aceitavam ou mesmo divulgavam quaisquer ideias que se desviassem minimamente da doutrina concebida pela Igreja romana, o que incluía, obviamente, quem ousasse usar perversa e culpadamente a razão em incursões proibidas pela «má» ciência de Agostinho de Hipona.

A Inquisição foi a forma a que a Igreja recorreu para perseguir tudo e todos que não se conformassem aos moldes que esta impunha, nomeadamente que se permitiam ao uso «blasfemo» da razão.

Problema que começou a surgir nos finais do século XII, quando a dita Reconquista da Península Ibérica começou a ter sucesso, (dita Reconquista porque o objetivo foi a recuperação de terras sob domínio árabe às quais os cristãos acreditavam ter direito) graças à fragmentação do califado de Córdoba. Reconquista que pôs os incultos cristãos em contacto com uma civilização cultural e cientificamente muito mais avançada e cujos focos de infecção principal se situaram na Córdoba cosmopolita, elegante e educada, com uma comunidade judaica muito importante de que se destaca um dos seus mais prestigiados filósofos, Maimonides (1135-1204), e na académica Toledo, que expuseram o mundo cristão não só à filosofia aristotélica sem censuras (o que determinou o período seguinte da escolástica) mas também à matemática dita árabe.

E especialmente a matemática porque o crescimento econômico de cidades como Florença, Veneza e Pisa, implicava a existência de conhecimento impossível de satisfazer pelos mistícos scholasticus. Conhecimento que possibilitasse cálculos prosaicos como os envolvidos em empréstimos e juros, preços de revenda, investimentos, custos dos seguros das viagens, etc. As necessidades econômicas ditaram a criação de uma nova instituição educativa: a Botteghe ou Scuole d’abaco (Escola de Ábaco), cujo primeiro Maestri d’abaco (mestre de ábaco, ou cálculo) foi, provavelmente, o famoso Fibonacci da série que tem o seu nome ou Leonardo de Pisa (ca. 1175-1250).

Estas escolas, dirigidas a um público diverso desde filhos dos mercadores, aspirantes a funcionários públicos a aspirantes a pintor (Piero della Francesca frequentou uma escola de Ábaco), escultor ou arquitecto, ensinavam essencialmente a matemática indo-árabe. Fibonacci estudou com um mestre árabe e, tal como Fibonacci, cada vez mais europeus se atreviam a algo proibido até então: usar os neurónios para algo mais que lucubrações sortidas sobre Deus e os Evangelhos.

Assim a Igreja precisava de um «cão de fila», a Inquisição, que exercesse não só uma severa vigilância sobre o comportamento dos fiéis, assegurando que não eram contaminados com toda a produção cultural e inovações científicas que o contacto com os infiéis catalizou, como controlar e tentar cercear toda esta produção intelectual anti-cristã. Na verdade, a Igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do Papa. As novas propostas filosóficas ou científicas eram examinadas (e cortadas radicalmente) pela Inquisição, exame que mais tarde, depois da invenção da prensa por Gutenberg que dificultou o trabalho inquisitoral, culminou na criação do Index auctorum et librorum prohibitorum, o catálogo dos livros cuja leitura era proibida aos católicos, sob pena de excomunhão.

                  A origem da Inquisição remonta ao século IV, quando se iniciam as perseguições contra os hereges. Nesta época, o movimento ainda não era institucionalizado, e no período que vai dos séculos VI ao IX o seu poder era restrito. A partir do século X, a Inquisição vai assumindo um papel cada vez mais importante. Com o IV Concílio de Latrão, de 1216, o papa Inocêncio III estabelece o metodo inquisitio e após o Concílio de Toulouse, em 1229, a sua organização foi formulada, sendo oficializada em 1231 pelo Papa Gregório IX. Inserido num cenário ainda de poder eclesiástico absoluto e soberano este Tribunal é instaurado essencialmente para perseguir os hereges que começavam a incomodar os alicerces do poder da Igreja católica. 

               Em 1252 o poder da Inquisição é reforçado com a santificação da tortura pelo Papa Inocêncio IV que no Ad Extirpanda, diz que os hereges «podem ser torturados a fim de revelar os próprios erros e acusar os outros, como se faz com os ladrões e salteadores» e em que propõe que os heréticos irrecuperáveis devem ser queimados vivos na fogueira. Na prática, um testemunho era suficiente para justificar o envio para a câmara de tortura do acusado e quanto mais débil a evidência do crime, mais severa era a tortura.

O Manual dos Inquisidores, o Directorum Inquisitorum (escrito em 1376 por Nicolau Eymerich e revisto e ampliado em 1576 por Francisco de la Peña) é uma compilação da praxis da Inquisição desde a sua criação formal, um tratado dividido em três partes: a) o que é a fé cristã e seu enraizamento; b) a perversidade da heresia e dos hereges; c) a prática do ofício do inquisidor que importa perpetuar, dá conta, na secção b), que:

«Aplicar-se-á, do ponto de vista jurídico, o adjectivo de herético em oito situações bem definidas. São heréticos:

a) Os excomungados;
b) Os simoníacos;
c) Quem se opuser à Igreja de Roma e contestar a autoridade que ela recebeu de Deus;
d) Quem cometer erros na interpretação das Sagradas Escrituras;
e) Quem criar uma nova seita ou aderir a uma seita já existente;
f) Quem não aceitar a doutrina romana no que se refere aos sacramentos;
g) Quem tiver opinião diferente da Igreja Romana sobre um ou vários artigos da fé;
h) Quem duvidar da fé cristã.»

Nestas oito alíneas cabem todos os que não aceitavam de cruz o que a Igreja de Roma determinava ou qualquer um que se considerasse ter ofendido os costumes (as tradições ainda tão invocadas hoje em dia) e a fé cristã da Santa Madre Igreja, para além dos culpados do costume: judeus, cristãos novos, marranos, sodomitas e bruxas (boa parte parteiras que, inspiradas pelo demo, ajudavam parturientes a «escapar» ao castigo ordenado pelo Senhor de parirem em dor).