Guilhermina, a Boêmia, por alguns
considerada filha do rei boêmio Otocaro I Premysl (ainda que muitos
historiadores contestem essa possibilidade), era uma mulher muito religiosa
que, com seu carisma, atraiu vários seguidores, mais tardes chamados de
"guilherminos" (não confundir com a ordem homônima dos eremitas
seguidores de São Guilherme de Malavalle).
Em 1260, tornou-se
"oblata", ou seja, leiga que morava em convento, em Chiaravalle
(Milão), onde passou a viver de acordo com os ditames do Evangelho e do amor
cristão. Guilhermina passou a pregar a inutilidade dos sacramentos e a recusa
ao sofrimento como via de salvação. Quando morreu, seu corpo foi sepultado no
mosteiro de Chiaravalle, e em volta de sua figura surgiu um culto alimentado
pelos próprios religiosos.
Dois de seus seguidores, Andréa
Saramita e Manfreda de Pirovano, chegaram a afirmar que Guilhermina era o
Espírito Santo em forma de mulher. Esse milagre correspondia, para eles, à
profecia do místico calabrês Joaquim de Fiore, para quem uma mulher se tornaria
papisa, reformaria a Igreja e, após sua morte, haveria uma apocatástase
(reconciliação e salvação de toda a criação), que libertaria toda a humanidade,
inclusive os judeus e muçulmanos.1
A adoração a Guilhermina passou a ser
muito popular e começou-se a falar até de santificação. Manfreda sonhava em
receber sua herança e tornar-se "papisa", mas se esqueceu da
Inquisição. Em 1300, os inquisidores arrancaram a confissão de alguns
seguidores, que testemunharam contra ela, acusada de celebrar uma missa solene
no dia de Páscoa daquele ano. Os inquisidores ordenaram que Guilhermina fosse
declarada herege post-mortem e que seus restos mortais e imagens fossem
queimados. No mesmo ano em que seu corpo foi exumado e entregue às chamas,
Andréa Saramita e Manfreda de Pirovano morreram na fogueira.
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